quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Cuide bem dos mestres!
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Beber um pouco de filosofia é salutar
sábado, 10 de outubro de 2009
O grande macaco
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Lagoa Santa – um apêndice sobre o povoamento das Américas

A arqueologia é uma ciência que surgiu na Europa e se espalhou para os demais continentes esporadicamente, sendo assim, a arqueologia só surgiu aqui no Brasil sob a forma de capacitação e mais tarde graduação em meados da década de 1960 através de uma parceria do Governo Francês e Brasileiro, denominada na época de Missão Franco-brasileira. Vários arqueólogos Franceses vieram ao Brasil capacitar os novos arqueólogos, dentre os franceses a arqueóloga Annette Laming Emperaire teve grande influência e destaque no mapeamento de novos sítios arqueológicos brasileiros. Em 1974/75 Annette Laming e sua equipe escavando a gruta Lapa vermelha IV, no município de Pedro Leopoldo, fizeram uma das descobertas mais importantes de toda humanidade, o fóssil de um esqueleto humano, na verdade de uma mulher, que mais tarde foi denominada de Luzia. A descoberta por si só pode soar simples para a comunidade científica, porém, amostras de ossos de Luzia foram enviadas para datação e o resultado “mexeu” com aqueles arqueólogos, Luzia havia morrido há pelo menos 11 mil anos! Além disso, Luzia foi posteriormente analisada por antropólogos especializados na craniometria, mais um choque: Luzia possuía um crânio com as características australo-melanésio, isso significa que Luzia não se parecia em nada com os índios brasileiros atuais, que possuem herança genética e morfológica dos povos mongolóides: chineses, japoneses, esquimós e etc. Luzia se parecia com os povos aborígenes da África e Austrália. Antes da datação e reconstituição da face de Luzia a arqueóloga Annette Emperaire havia falecido após pouco tempo da descoberta, na época foi uma perda lamentável desta intrépida arqueóloga que deu sua contribuição para expansão da arqueologia in loco e no Brasil. Devido a tais descobertas que abalaram toda a comunidade científica mundial Lagoa Santa passou de um mero município Brasileiro, para um epicentro de estudos sobre o povoamento do continente Americano.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Arte rupestre no Brasil pré-histórico
O território que atualmente é conhecido como Brasil, nosso país, abriga uma miríade de sítios arqueológicos com vários registros rupestres. Em praticamente todos os Estados brasileiros existem sítios arqueológicos e, mais especificamente, com artes rupestres. Arte rupestre consiste no registro de abstrações, como por exemplo, idéias, representações simbólicas, rituais, cerimoniais, lúdicas, cenas cotidianas de caça e pesca, coleta de frutos, raízes e tubérculos, cenas de execuções, cópula sexual e etc. sobre um determinado suporte rochoso. Alguns estudiosos do assunto contestam o conceito de “arte rupestre” preferindo o termo registro rupestre, contudo, embora exista tal discussão acadêmica sobre a nomenclatura mais adequada não há como negar o fascínio na execução dessas abstrações. Mas quem foram os autores de tais grafismos (pinturas e gravuras) nos suportes rochosos do nosso país? Já foram publicadas diversas teorias sobre o assunto, algumas inclusive, imprecisas e incoerentes, como as que atribuem a autoria dos grafismos a Egípcios, Fenícios, Gregos, Hebreus, Atlântidas e outros povos do Mediterrâneo e Oriente. Contudo, tais afirmações são questionáveis e facilmente refutadas pela arqueologia. Não há dúvidas sobre os autores dos grafismos no solo brasileiro, nossos ancestrais indígenas. Os índios que habitavam a região conhecida hoje como Brasil já pintavam as paredes de alguns suportes rochosos a mais de 12.000 AP. Todavia, as pesquisas ainda são preliminares e não conclusivas, digamos que os estudos sobre o assunto ainda são incipientes, em outras palavras, tal estudo encontra-se num estágio embrionário, falta muito para se descobrir sobre a verdadeira antiguidade dessa prática autóctone.
Na Europa há mais de 30 mil anos o homem já “decorava” as paredes de algumas cavernas, sobretudo Lascaux, na França e Altamira, na Espanha, entretanto, aqui no Brasil, a Arqueóloga Niéde Guidon, acredita que a prática de registrar nas paredes pode ser mais remota ainda, inclusive Niéde encontrou em São Raimundo Nonato, no Piauí, através de escavações, camadas estratigráficas com parte de painéis caídos contendo pinturas rupestres que foram datadas em 23 mil anos. No entanto, Enquanto na Europa, o homem pré-histórico apreciava representar zoomorfos (animais), aqui no Brasil, a preferência era a representação de antropomorfos (seres humanos), zoomorfos (animais) e fitomorfos (vegetais). As regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste se destacam pelas grandes concentrações de sítios arqueológicos com muitos registros rupestres. Os Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte são conhecidos pela arqueologia por sua variedade de grafismos. A região Amazônica também possui sítios com registros rupestres, todavia, é uma região vastíssima e de difícil acesso devido à floresta densa, sendo assim, as pesquisas ainda são tênues e preliminares.
No litoral brasileiro existem pouquíssimos registros rupestres, isso devido à ausência de suportes rochosos. Os poucos sítios conhecidos são chamados de sambaqui, que na língua Tupi significa amontoado de conchas. As regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste, interior do nosso país, são bastante conhecidas pelas inúmeras deformidades no relevo e acidentes geográficos, formando cânions, morros, vales, chapadas, matacões, planícies, planaltos, várzeas, cuestas e etc. Esses acidentes geográficos ou geomorfológicos serviam de abrigo para as comunidades nômades indígenas que, ocasionalmente, necessitavam de abrigo para descanso, realizar suas refeições, fabricar utensílios líticos, sepultar seus mortos e moradia. Onde há alguma caverna, furna, lapa, abrigo sob rocha, geralmente se encontra registros rupestres ou vestígios de cultura material de habitações remotas. Isso não é uma regra, mas a maioria das descobertas de sítios arqueológicos pré-históricos com pinturas rupestres são realizadas em cavernas ou abrigos sob rocha, no entanto, tem-se comprovado também que alguns indígenas levantavam acampamentos a céu aberto. O que torna o trabalho do arqueólogo bastante difícil pela exposição dos sítios aos efeitos do intemperismo.
Como os nativos fabricavam tais pigmentos e pintavam as paredes dos abrigos sob rocha? A resposta a esse questionamento varia bastante. O que se sabe até o momento é que os pigmentos eram obtidos de alguns minerais colhidos nos locais ou noutras regiões. A cor vermelha, por exemplo, o mais presente na arte rupestre brasileira era retirado da hematita que é um mineral que contém bastante ferro, este mineral, muitas vezes, era triturado ou dissolvido em água e acrescido de resinas vegetais formando uma pasta na tonalidade vermelha, também os índios usavam o óxido de ferro (conhecido popularmente como ferrugem) aplicando diretamente nos suportes rochosos com o uso dos dedos ou usando galhos e folhas como pincéis. Em alguns casos, esquentava-se o pigmento para obter uma tonalidade mais escura. Nos painéis com pinturas, em alguns sítios, observa-se uma policromia de pigmentos, várias cores utilizadas nas rochas. Brancas, amarelas e pretas são as mais destacadas. O branco e amarelo são obtidos de argilas, porém a cor preta era obtida por ossos queimados (calcinados) e triturados formando um pigmento escuro.
Como os arqueólogos afirmam que os registros rupestres são tão antigos? O que corroboras tais pesquisas? Alguns pigmentos, componentes de uma determinada pintura, podem ser datados através de um exame em laboratório, chamado pela comunidade científica de C-14, carbono 14. Este exame é realizado em laboratórios da França e em outros países. Segundo Walter Neves, um exame de C-14 custa em média $ 1.000 dólares. Tal exame consiste na retirada de um fragmento de matéria orgânica que será analisada em laboratório, concluindo, portanto, a antiguidade daquele determinado fragmento.
As pesquisas sobre a arte rupestre brasileira estão ainda no começo, existem poucas publicações do gênero, sobretudo registros rupestres. Além disso, nossos arqueólogos são poucos, proporcionalmente a dimensão de nosso país. A pesquisa arqueológica é bastante onerosa, faltando muitas vezes, investimento dos setores públicos e privados na consolidação das prospecções (escavações).
A arte rupestre é um documento do nosso passado, consistem na antiguidade de nossos ancestrais, os verdadeiros latifundiários dessas terras. Qualquer painel com pinturas e gravuras rupestres deve ser protegido e preservado. Todavia, o que se observa é um desrespeito enorme com tais registros da nossa história. É com bastante freqüência o uso de vandalismo e predatorismo praticados por pessoas que desconhecem o valor contido nos grafismos. A arte rupestre brasileira deve ser enaltecida como um registro do passado, um alfabeto autóctone que está paulatinamente caindo no esquecimento.
“O problema é que o conhecimento sobre a pré-história brasileira e sua arte rupestre vem sendo construído a passo de formiga. A passo gigante, avançam sobre o patrimônio arqueológico as ameaças de destruição”.
(André Prous, Arqueólogo UFMG)