quarta-feira, 19 de junho de 2013

A Era da impaciência



Quem conhece a história da humanidade sabe que nós seres humanos enfrentamos ao longo dos tempos várias transformações de ordem social, econômica, religiosa e tecnológica. Segundo a teoria evolucionista do naturalista inglês Charles Darwin os seres vivos se modificam fisicamente e biologicamente conforme as condições climáticas e geográficas. A maior modificação que a humanidade enfrenta, sem dúvida é o comportamento, já fomos pessoas que dependiam da caça e pesca para se manter vivos, desenvolvemos a agricultura e o pastoreio de animais cuja mudança maior foi a convivência em cidades, construímos enormes Impérios organizados administrativamente e militarmente, criamos a arte, manifestações humanísticas, religiosas e renascentistas que fomentaram e ampliaram o desenvolvimento tecnológico com vistas à contemplação e a lucratividade. As primeiras vilas tornaram-se cidades fortificadas graças à ação da classe burguesa cujo papel foi crucial na consolidação da expansão marítima e das grandes navegações. A Idade Moderna (séculos XV – XVIII) foi o período onde ocorreram inúmeras mudanças que moldaram o cenário do mundo contemporâneo como o renascimento, iluminismo, Revolução Francesa e etc. A Europa viveu turbulências sociais com a migração da população camponesa para as cidades isso tudo somado, em razão da Revolução Industrial. Depois veio o imperialismo dos continentes asiático e africano. Enfim, o mundo passou por diversas transformações de diversas ordens e dimensões, como mencionado acima, mais que culminaram num mundo contemporâneo capitalista, globalizado e ordenado, sobretudo, pelos meios de comunicação de massa e pela devastadora tecnologia que produziu na sociedade o comodismo, a preguiça e a assaz inutilização frequente da razão.

            Alguns teóricos já definiram o cenário hodierno como a Era do conhecimento, Era da informação e também Era da tecnologia, mas nosso enfoque aqui é fazer uma breve reflexão filosófica de um cenário latente pouco percebido pelas pessoas cujas vidas, rotinas e tarefas diárias as tem tornado pessoas ávidas pela pressa, correria e, principalmente, impaciência. Nossa reflexão parte do pressuposto de uma tentativa de compreender as razões que possibilitaram aos seres humanos serem impacientes e intolerantes com tamanha frequência. Se vivemos na Era do conhecimento por que algumas pessoas não fazem uso da sabedoria? Por que as pessoas caem em discussões, conflitos, escaramuças por coisas tão simples de resolver? Se estamos na era da tecnologia por que inúmeras pessoas estão segregadas de seu uso? Para algumas religiões e correntes filosóficas umas das virtudes da humanidade é a paciência, saber esperar e aguardar o momento necessário para agir. Nossa análise se concentrará na reflexão dos comportamentos humanos cujas ações se classificam como atos impacientes e intolerantes.

            O primeiro parágrafo apresentou superficialmente algumas mudanças comportamentais ao longo de milênios, entretanto, nos últimos cinquenta anos a humanidade passou pelas maiores transformações econômicas, tecnológicas e sociais de toda a história humana. O desenvolvimento econômico e tecnológico foram os responsáveis por tais alterações. A tecnologia e a mídia tiveram um papel essencial na construção dos novos valores éticos, morais e comportamentais das massas. Tradições, costumes e culturas sólidas foram trituradas, fracionadas e suprimidas com a infiltração e assimilação de novos elementos culturais trazidos pelas torrentes e enxurradas de valores capitalistas que atendem aos interesses e anseios da poderosa classe burguesa. Os interesses particulares tomaram conta das mentes desprotegidas, alterando substancialmente o modo de viver das pessoas na atualidade.

            No mundo contemporâneo, mais especificamente no Brasil, as famílias mudaram de comportamento e perfis éticos e morais em razão das circunstâncias do cenário atual. Em tempos passados, os pais tinham um papel fundamental na construção da educação de seus filhos. Passavam mais tempos com as crianças, tomavam café da manhã, almoçavam, jantavam e ficavam juntos com uma maior frequência. Nesses momentos importantíssimos, os pais repassavam seus valores às crianças, transmitiam lições que deviam ser postas em prática fora do lar. Noções de educação, de como se comportar na escola e na sociedade, respeitar e ouvir os mais velhos, ensinamentos de cautela e prudência diante das pessoas. E uma das lições mais importantes que nossos pais nos transmitiam era a de se pronunciar no momento certo, aguardar a sua vez, não se antecipar, em outras palavras, consistia no ensino de ser paciente, ter autocontrole, ser atencioso (a) e saber se concentrar. Considero como lições vitais e essenciais à vida em sociedade. Porém, nosso mundo mudou bastante e a configuração do trabalho seguiu os mesmos passos, os filhos saem de casa para estudar antes dos pais, em geral, não almoçam mais juntos e, talvez também não jantem. Quando se reencontram já é noite, bastante tarde e os filhos e pais estão com fadiga acumulada, cansaço exaustivo da rotina diária e neste caso, a maioria dos pais não transmitem seus valores éticos e morais aos filhos, não por omissão, mas em razão do novo cenário social que se formou. Alguns pais chegam em casa e seus filhos estão dormindo e vice-versa. As crianças se tornaram seres impacientes por causa dessa injusta rotina diária. Passam o dia inteiro sem a presença dos pais, precisam ser educadas por outras pessoas, possuem uma série de compromissos apesar da idade tenra, precisam estudar, ter aulas de balé, dança, natação, academia de ginástica e vivem um tempo desnecessário em frente a TV e nas redes sociais jogando fora um tempo precioso para desenvolverem a arte da paciência, da prudência, da concentração e principalmente, meditar. Em outras palavras, a sociedade ensina aos mais jovens a serem impacientes, a não concluir as tarefas, pelo contrário, ensinam a fazer várias tarefas simultaneamente – multitarefas – a sociedade impõe à juventude a ideia de ganhar tempo, serem frenéticos, ágeis e na maioria das vezes, impingem os jovens ao não pensar, não perceber o processo de conclusão das coisas. Quem age desmedidamente, apressadamente, obviamente usa a razão de forma imprudente.

            Na Escola percebemos cada vez mais a presença de pessoas jovens com um nível alto de impaciência, desatenção, descontrole, distração e ávidos por pressa, isso não é culpa da juventude, mas dos determinismos impostos pela sociedade capitalista e seus mecanismos de alienação: mídias, tecnologias, incentivo ao consumo e ao entretenimento. Em outras palavras, as pessoas estão atribuindo valor ao que não possui valor humano, assim como Karl Marx alertava: os humanos se tornaram coisas e as coisas se tornaram humanas. Os estudantes estão perdendo o sentido e o conceito de processo, perderam a noção de historicidade, de como as coisas se constituem e se consolidam e, em razão disso, querem tudo de forma instantânea, rápida, de imediato. A ideia de processo que faço uso consiste nas etapas de construção dos valores, dos bens de consumo, da correspondência salarial, de como o conhecimento é adquirido, enfim, são os estágios necessários para a estruturação das coisas. Os estudantes quando impelidos pelos educadores a realizarem pesquisam recorrem – em sua enorme maioria – as fontes de pesquisas mais rápidas e práticas, no caso, a internet. Por que isso ocorre? Talvez pela impaciência. Pesquisar é uma etapa que exige concentração e uma leitura rigorosa e os nossos jovens perderam essa capacidade de ler vagarosamente, de não se contentar com a primeira leitura, mas a realidade é outra, preferem a fonte mais eficaz? e, neste caso a mais acessível possível. Quando os docentes recebem estas pesquisas ou realizam avaliações dos estudantes – no mesmo átimo – perguntam aos docentes se o resultado será divulgado ainda naquele dia. Isso é o exercício pleno da impaciência, do imediatismo, querer que tudo saia o mais rápido possível, à maneira da celeridade. É raro algum estudante entender que os docentes têm outras turmas, que precisam corrigir outras atividades além destas, isso é também incompreensão de processo. Processo demanda paciência e o inverso, culmina na inquietude.

            Está se tornando cada vez mais comum o uso frequente de academias de ginástica, existe uma preocupação enorme com a estética corporal, comportamento impingido a partir da exibição da novela malhação. Basta fazer uma pesquisa com dados estatísticos com o número de academias no Brasil antes e depois da exibição da novela na década de 90 e confirmar esta suposição. Os jovens se preocupam bastante com a estrutura corporal, é uma das exigências estéticas em vigência, nossa sociedade toma como padrão corpos bonitos, temos que possuir corpos esculturais cuja maior expressão é a beleza e o reconhecimento social. São poucos que reconhecem que malham para melhorar a saúde e bem-estar, a assaz maioria zela – prioritariamente – pela estética. Mas, o que isso tem a ver com o tema? A juventude perdeu a noção e percepção de processo, as pessoas querem agilidade, ganhar tempo é a bola da vez, possuir um belo corpo o mais rápido possível é o lema. Recorrem a esteroides e anabolizantes, suplementos com componentes químicos duvidosos, drogas que agilizam e promovem a aquisição de massa muscular de modo mais célere. A impaciência predomina, o processo de malhação deve ser instantâneo e isso só prejudica a própria saúde.

            Vemos exemplos de atos impacientes até mesmo nas filas das agências bancárias, lotéricas, supermercados e qualquer organização deste tipo. As pessoas quando veem filas enormes tecem comentários negativos, repudiando a existência das filas. Por que isso ocorre? Não estamos sozinhos no mundo, por isso a demanda é o crescimento das filas, dos trânsitos, dos engarrafamentos e coisas parecidas, afinal de contas a demanda demográfica é de crescimento. O Brasil é quinto país no ranking mundial em acidentes de trânsito e, uma das causas é o consumo de bebidas alcoólicas e imprudência. Todavia, outro fator responsável por esses índices alarmantes é a impaciência, pressa, correria para se chegar ao local desejado. Muitas pessoas sofreram acidentes e perderam suas vidas em razão da impaciência, da pressa por algo indefinido e muitas vezes não se perguntam por que agem assim. Quem é lento nas estradas, rodovias e ruas recebem imediatamente protestos pelos motoristas ávidos pela velocidade, imbuídos pela inquietude e impaciência. Muitos motoristas não respeitam os limites de velocidade, sinalizações, semáforos e faixas de pedestre por que não são pacientes, isso é um problema que tem se agravado pelo país. E, não temos aulas de meditação na escola como defende Frei Betto.

            As tecnologias tiraram a paciência de vez dos humanos através de suas invenções que ao invés de facilitar a vida das pessoas, tornando ainda mais impacientes, descomedidas e seus atos são irrefletidos. O celular, por exemplo, deseducou bastante nós humanos. Quando alguém percebe uma chamada não atendida, essa por sua vez, fica ansiosa querendo saber quem ligou. Na sala de aula o celular se tornou um problema, os estudantes estão conferindo mais atenção aos celulares que aos educadores. As pessoas, em geral, preferem fazer uma ligação que ir de encontro às outras pessoas, isso se reflete na impaciência, economia de tempo, deixar de realizar um encontro real para se consolidar num encontro virtual. A TV passou pelo mesmo processo de evolução tecnológica, antes os mais velhos, tinham que se levantar do sofá para mudar de canal, atualmente, o controle remoto faz isso por nós. Porém, as pessoas tem uma oferta enorme de canais e mudamos com uma enorme impaciência de canal procurando algo para nos satisfazer. O filósofo Mario Sergio Cortella diz que a TV a cabo e os controles remotos servem para não assistirmos nada. Nos legaram como comportamento a ansiedade e impaciência. O mesmo ocorre com as câmeras digitais. Antes – com as câmeras analógicas – devíamos tirar fotografias e levar o filme para ser revelado, um exercício de paciência, processo, hodiernamente, as pessoas fazem fotos e de imediato já conferem o resultado e, se não for de seu agrado, tiram outra fotografia. Antes ouvíamos músicas via cassete, disco vinil e CD, mas hoje temos o mp3 que serve para nos deseducar, nos tornar impacientes. As pessoas compram mp3 com centenas de músicas e, sua maioria não consegue ouvir as mesmas. Vejo com frequência as pessoas não ouvindo uma música inteira, passando-se para a seguinte, isso é impaciência, ausência de processo.

            Poderia enumerar milhares de exemplos cotidianos que se assemelham e se encaixam no tema aqui discutido, a impaciência. Mas, para não se alongar muito, convido as pessoas cujo dia a dia é permeado por estas ações nocivas ao seu bem-estar a lerem um pouco mais sobre filosofia, a refletir e indagar por que estamos nos comportando tão erradamente, a tentar elucidar estes conflitos que afligem de forma degenerativa nossa convivência e é ao mesmo passo assustador o número de pessoas doentes com depressão, doença que na minha adolescência não ouvi falar e era desconhecida da população. Entretanto, na geração atual é comum. Nos anos 90, o sistema capitalista ainda era tênue e fraquinho em relação ao século XXI. É cada vez banal expressões como tédio, dia chato/ruim e coisas parecidas, é o exercício da impaciência, inquietude e desconcentração. Deve ser horrível proferir tais negativas e não tentar reverter esse quadro, essa situação desesperadora. Essas pessoas precisam de ajuda, precisam encontrar a si mesmas, precisam meditar, refletir e inquirir a si mesmos sobre o mal que lhes afligem. O primeiro passo pode ser dado, é preciso iniciativa, perseverança e destreza e a fundamentalmente, ação. Aristóteles, filósofo grego, admirava a verdade, neste caso, a verdade soa como a busca da compreensão da realidade, este pode ser o caminho. Destarte, está se tornando comum as pessoas não aceitarem a perda, a derrota, ouvir um não, em outras palavras, muitas pessoas não sabem perder e, no mais das vezes, a derrota parece ser algo letal, degenerativo e inaceitável, isso é a ausência, a falta de autocontrole, prudência, cautela e, sobretudo, paciência. O tema é extenso, essas breves reflexões não encerram a discussão, é vital e necessária a construção de correntes humanas que desenvolvam atividades de fortalecimento ou até mesmo de fundamento de uma das maiores virtudes humanas, a paciência. Os asiáticos dizem: fazer paciência e não ter paciência. Isso significa que é um erro crer que algumas pessoas possuem mais paciência que outras, pelo contrário, necessitamos fazer a paciência, pois, paciência é um exercício, não passa de um conceito, de uma ideia na nossa mente. Portanto, precisamos urgentemente criar movimentos para a inserção de aulas de meditação no currículo escolar e estimular as autoridades competentes a promoverem mais opções de lazer e eventos culturais que cativem, estimulem e fomentem na juventude brasileira a arte da prudência, do saber esperar e aguardar e fazer a paciência um conceito onipresente na vida de nós, seres humanos.

terça-feira, 2 de abril de 2013

A mídia como corpo docente - Mario Sergio Cortella


sábado, 16 de março de 2013

Heleno Araújo expõe a dura realidade do Ensino Público em Pernambuco



O vídeo gravado na última Reunião do Conselho deliberativo dos representantes regionais, municipais e demais associados do Sintepe (Sindicato dos trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco) na sede do órgão, em Recife revela o quadro atual da educação pública no Estado. Heleno Araújo faz duras críticas ao Governo opressor de Eduardo Campos revelando estudos recentes de Institutos, entidades e Universidades dedicadas aos estudos educacionais com ênfase na qualidade do ensino público no país e conseqüentemente, em Pernambuco. O líder sindical foi bastante objetivo ao demonstrar que a qualidade do ensino no Estado caiu bastante e que a propaganda governamental mostra outra realidade, que, de fato não é a real!
Confiram o vídeo e compartilhem aos demais educadores do Estado de Pernambuco.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Quem é você?



Quem é você? Muitas pessoas já fizeram e receberam essa mesma indagação ao longo de suas vidas. O que a torna especial é seu caráter filosófico, epistemológico e principalmente de autoconhecimento. Quando emitimos essa pergunta queremos conhecer o outro, o desconhecido, o desvelado e não ultrajar ou desdenhar com a outra pessoa. É um sentimento de empatia, alteridade e preocupação humanitária. Porém, existe o lado contrário dessa questão: você sabe com quem está falando? Quando as pessoas emitem essa interpelação estão se colocando num patamar de superioridade, supremacia e soberba sem igual. É a mesma coisa que colocar um dedo em riste diante da face do outro num tom de altivez, bravura e imortalidade sem precedentes. Muitos seres humanos foram afrontados por tal pujança, sentimento de distinção social, religiosa, econômica, política e ideológica. Pessoas desse tipo se colocam num estágio maior, de magnanimidade e creem que são especiais. Costumam ver os outros como se fossem pequenos, irrelevantes e simples mortais. Pegando as assertivas e provocações filosóficas do filósofo Mário Sérgio Cortella: quem disse que sou melhor que os outros? Que a melhor religião é a que pratico? Que o melhor partido político é o que eu sigo? Que sou melhor que os outros por que disponho de dinheiro? Essas questões servem de esboço e ponto inicial para uma autoavaliação sobre a questão de quem somos nós, o outro e etc. Quem não conhece ou já viu atitudes e comportamentos onde alguns seres humanos ultrajam e menosprezam os outros pela sua condição social, econômica ou intelectual?
            Essas questões são válidas para se avaliar o quadro atual da sociedade brasileira que enfrenta uma séria crise de valores éticos e morais em decorrência da supervalorização da prepotência e arrogância que são virtudes – ou melhor, não virtudes – condenadas desde a antiguidade pelo filósofo grego Sócrates. O que dignifica o homem não é o carro ou moto que ele possui; o que torna um ser humano importante não é a vestimenta que ele traz consigo, os restaurantes que ele frequenta, a casa onde reside nem o nome que carrega. Um ser humano é especial e importante a partir do momento que reconhece suas limitações, quando percebe-se que é um ser mortal, quando se cria, inova e deixa legado e não somente vive e se entrega aos vícios. Sócrates já alertava a mais de dois mil anos: algumas pessoas não são sábias por que pensam que são sábias, mas sábios são aqueles que sabem de que não sabem de nada. O que Sócrates defendia em tempos pretéritos era a humildade, simplicidade e arte da prudência, virtudes tangíveis e desejáveis por sua excelência. Pessoas que imaginam (pois, na verdade, não pensam como deveriam) serem especiais e proeminentes em relação aos demais mortais estão caminhando para o abismo dos vícios, desejos e paixões, que na verdade, os colocam num estágio de inferioridade intelectual, epistemológica e filosófica. Ninguém é especial por vestir um terno com gravata, por possuir uma carteira gorda e recheada de cédulas e cartões de crédito, por ocupar um cargo de chefia ou ser muito bem remunerado. Isso só frutifica e ratifica o demérito filosófico e racional desses seres que se acham únicos e insubstituíveis. A entrega à estética, por exemplo, só carrega o indivíduo à estagnação cultural, social e intelectual. A estética não passa da alimentação de uma virtualidade, de uma assaz ilusão egocêntrica. O mundo que vivemos, isso é óbvio – apenas para os críticos, pudicos e conscientes de si é o real e não o virtual. A pessoa que diz: você sabe com quem está falando? Vive no mundo da fantasia, da imaginação supérflua, do faz de conta, da paralisia racional e filosófica. Em que mundo nós vivemos?
            Para finalizar, essas inferências servem de discussão para o conceito de egocentrismo, do Eu acima de tudo e das constelações, para refletir por que algumas pessoas deixam de se autoavaliar, de pedir conselhos e orientações para questões que envolvem a humanidade, a natureza e o cosmos. E, como dizia Fernando Pessoa: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. [...] Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena. Os orgulhosos, egocêntricos, as pessoas do Eu acima de tudo, os que supervalorizam seus nomes, suas contas bancárias, seus automóveis, seus bens materiais estão aqui apenas para viver, enquanto os humildes e simples, os que se orgulham de criar, inovar e acima de tudo, Ser, serão para sempre eternizados e os que se entregam aos vícios sociais, econômicos e estéticos, esquecidos!
            Confiram o vídeo abaixo.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Retratos da seca no Nordeste



A região Nordeste do Brasil atravessa uma das piores secas de sua história, isso se deve, segundo alguns sertanejos apoiados na desinformação e no senso comum a um castigo divino, conforme suas crenças, Deus deixou de lado o povo do Nordeste, mas haverá em breve uma redenção, uma remissão de seus pecados. Deixando as crenças religiosas de lado, os problemas que a região Nordeste enfrenta são políticos e não divinos. Os nordestinos, de certa maneira, são responsáveis pela atual situação, por suas escolhas irrefletidas nas eleições pretéritas. Os nordestinos, por incrível que pareça, ainda não sabem escolher de modo auspicioso seus representantes legais, ainda não possuem critérios rigorosos em selecionar pessoas de boa índole e com boas intenções em sanar os problemas que afligem toda a população desta região. Continuam escolhendo pessoas ligadas a plutocracia, ao empresariado ou mesmo comerciantes ilustres do município ou da região. Apesar das condições geográficas desfavoráveis em recursos hídricos, isso não quer dizer que a região nordeste é um caso insolúvel cujos nossos destinos já foram ou estão traçados, isso é uma inverdade. Os problemas de seca e má distribuição dos recursos hídricos são políticos, infelizmente, devido à baixa escolaridade da maioria dos nordestinos que é outra realidade da omissão política, as pessoas não dispõem de uma visão crítica da realidade que os cercam. Não leem e não conseguem enxergar, interpretar e compreender as origens de suas dificuldades por si sós. Boa parte da população nordestina não teve ou não frequentou boas escolas e também a qualidade do ensino foi e ainda é bastante precária, por isso os nordestinos são eternamente gratos as “pessoas” que suprem sua escassez de água com a provisão de carros pipas, limpeza de açudes e barreiros, construção de poucas cisternas e outros “benefícios”, que na verdade, são benefícios para os ajudantes e não aos ajudados. Aos mais esclarecidos, isso se traduz na conhecida “indústria do voto”, que é na verdade, a troca de favores entre os políticos locais e regionais aos eleitores. O que recebe o benefício, embora seja obrigação, atribuição e missão dos políticos, estes últimos fazem um elo de ligação e submissão aos menos esclarecidos trocando favores (sua obrigação) por votos.
            Cabe aqui uma menção aos povos mesopotâmicos e aos egípcios que foram civilizações fantásticas e impressionantes por suas realizações envolvendo técnicas racionais que só agora, à luz de diversas ciências estão sendo compreendidas. Os mesopotâmios e egípcios estavam à frente das civilizações atuais? Sobretudo dos nordestinos? Nada disso. O que há de comum entre as civilizações do crescente fértil e da Antiguidade Oriental em relação ao nordeste do Brasil? Estas civilizações enfrentavam os mesmos problemas e até mesmo piores que os nordestinos. Estavam cercados por desertos, terras inférteis e cadeias de montanhas que dificultavam a vida nestas regiões, mesmo assim, os mesopotâmios e egípcios usaram da razão e conhecimentos matemáticos para solucionar tais adversidades climáticas e geográficas. Criaram os primeiros canais de irrigação da história, em algumas cidades da Antiguidade Oriental – por exemplo – esses povos trouxeram águas dos rios Tigre, Eufrates e Nilo que ficavam a quilômetros de distância para o abastecimento de suas necessidades mais salutares. Favorecendo a vida e sobrevivência desses povos em regiões áridas. Então, por que o mesmo não é feito na região nordeste do Brasil? É notório que atualmente os seres humanos gozam de mais tecnologias que no período da Antiguidade Oriental, mas, creio, não utilizam de modo eficiente e em proveito da coletividade, isso em razão da crescente e expansiva “indústria do voto”.
            O maior problema da região nordeste é político, ausência de pessoas compromissadas com os problemas do povo nordestino, insuficiência de seres altruístas com as dificuldades dos mais necessitados, corrupção em excesso e exploração da ignorância dos iletrados. Nossos políticos – toda regra tem exceções – quando assumem seus cargos não cumprem o que foi prometido em campanha, se ausentam (somem), deixam de participar dos eventos religiosos, se isentam totalmente e integralmente de suas responsabilidades como gestores públicos. Não criam projetos em benefício do povo (talvez não saibam como fazer um projeto), passam a tratar mal as pessoas que cobram iniciativas e perseguem os eleitores de oposição. Os princípios democráticos são esquecidos ou soterrados, as legislações vigentes são “rasgadas” e o caudilhismo domina majestosamente. Creio que esses problemas afetam ainda mais as dificuldades inerentes a seca no nordeste. Nossos vereadores, em sua maioria, possuem baixa escolaridade e passam quatro anos de seu mandato levando doentes aos médicos, isso não é função de vereador (a), de pessoas do poder legislativo, isso são incumbência e tarefas do poder municipal, estadual e federal, mas como as pessoas da região nordeste carecem de informação e conhecimentos para perceberem tais irregularidades permanecem em silêncio, vivem de braços cruzados, na imobilidade e passividade banal e culpam as divindades pelo período de seca na região. O papel exercido pelos nossos políticos é de total irresponsabilidade e descumprimento da Constituição Federal, dos Direitos Humanos e demais legislações correntes que existem para o benefício do povo brasileiro e não tão somente de uns poucos ou de um grupo específico, a plutocracia.
            A transposição do Rio São Francisco quando divulgado foi motivo de alegria e felicidade para os habitantes da região nordeste, o povo dessa região acendeu o lume da esperança para o problema da falta d’água na região, mas como foi noticiado recentemente, os políticos mais uma vez apunhalaram o povo com a divulgação de várias irregularidades, desvios de verbas públicas, atrasos enormes nas obras e denúncias de superfaturamento nos serviços prestados de algumas empreiteiras que pertencem a alguns políticos. Talvez, esses políticos deviam ler mais história e ver as soluções tomadas pelos povos da antiguidade oriental e clássica em lidar com problemas de falta d’água e suprimento de recursos hídricos para aprenderem a como agir de forma racional e não imprudente. Os moradores da Ilha de Samos na Grécia antiga criaram um sistema de abastecimento de água que passava por baixo de uma montanha, levando água limpa e potável a cidade de Samos sem o uso de energia elétrica e bombas hidráulicas, pois naquela época não existiam! Os romanos criaram uma rede de aquedutos que traziam água limpa de enormes distâncias para abastecer as fontes e casas termais. Então, por que a região nordeste enfrenta tamanha dificuldade no abastecimento de água? Culpa de Deus ou de nossos medíocres políticos?
            O problema da seca na região nordeste só será solucionado quando o povo perceber que os políticos da atualidade são seres mentecaptos e imaginam que o poder é seu e não do povo. Alguns políticos se defendem dizendo que a região nordeste sofre com carência de recursos financeiros, cortes de verbas federais, redução das receitas, isso não é verdade, como demonstrou em recente artigo a Economista Tania Bacelar revelou o que já era conhecido de alguns leitores, a região nordeste é a área geográfica que mais cresceu economicamente nos últimos anos, aumentando substancialmente as receitas e engordando um pouco mais os cofres públicos, o que soterra as desculpas esfarrapadas de nossos míseros políticos. Como é possível uma cidade da dimensão de Jucati (com pouco de mais de 10 mil habitantes) trazer atrações musicais que passam dos R$ 100 mil em média cada show enquanto a cidade sofre com inúmeros problemas sociais? Cidades do sertão pernambucano trouxeram várias atrações musicais – chamadas de peso – para alegrar ou ocultar uma realidade de miséria ao custo de mais de R$ 200 mil. O que é mais vantajoso para uma cidade? Trazer uma banda como Aviões do Forró ou construir pelo mesmo valor uma escola, creche, PSF, banheiro público ou projetos sociais que gerem renda a população? O problema é que nossos representantes, o poder legislativo e executivo não usam de modo racional as verbas públicas, não suprem as maiores carências de suas cidades e isso tem elevado os problemas do nordeste ao quadro atual.
            Para finalizar, resta saber se continuaremos a por a culpa nas entidades divinas para sempre ou é melhor cairmos na real e acordarmos dessa penumbra que tem afetado bastante o humilde povo do Nordeste? O nordeste tem jeito, tem correção, basta copiar o exemplo dos antigos, é possível melhorar a situação do menos esclarecidos iluminando o desconhecimento, a cegueira intelectual com a promoção de uma educação pública digna e de qualidade social, saber escolher de forma objetiva e seletiva nossos representantes substituindo os políticos desatenciosos, irresponsáveis por seres ciosos, honestos e zelosos do patrimônio público e erário, cobrar publicamente iniciativa de nossos vereadores, prefeitos, deputados e governadores colocando-os na parede, pois os políticos são os nossos servos (funcionários) e não o contrário! Não devemos se prostrar diante dos políticos como a maioria faz, mas fazer com que os nossos representantes se prostrem diante do povo!

Mário Sérgio Cortella - Eu maior

Quem somos nós? O que é felicidade? Podemos ser felizes sozinhos? Assistam ao vídeo e tirem suas próprias conclusões.