terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Jô Soares entrevista o Arqueólogo e Teólogo Rodrigo Pereira

No último dia 30 de novembro, Jô Soares entrevistou o Teólogo e Arqueólogo da USP, Rodrigo Pereira da Silva. Rodrigo no decorrer da entrevista revelou suas descobertas realizadas em sítios arqueológicos na região da Palestina encontrando diversos instrumentos, objetos e artefatos  da antiguidade oriental, inclusive alguns são supostamente relacionados ao período de Cristo. Além disso, Rodrigo mencionou como viviam os povos daquela região descrevendo parte de sua cultura e seus vários hábitos cotidianos.
Confiram a entrevísta na íntegra abaixo e tirem suas conclusões:


Parte um

  
Parte dois

 
Parte 03

domingo, 5 de dezembro de 2010

Valores éticos na Escola Pública


Próximo ao final do ano letivo, nós professores, comumente percebemos mudanças comportamentais e de condutas por parte de alguns estudantes. As salas de aulas voltam a ter um número admissível de alunos, a atenção e concentração retornam, os horários escolares voltam a serem cumpridos e tolerados, os docentes ficam mais belos e recebem considerações de estimas e apreço excessivas. O que promove na juventude essas mudanças vertiginosas de seus padrões de condutas? (Cf. texto Valores Sociais: Escola Pública e Igreja)
Imagens do filme: A Corrente do Bem.
                Para entendermos as alterações comportamentais de vários discentes é necessário fazermos uma revisão sobre conceitos cruciais e fundamentais para a vida em sociedade, sobretudo, por meio da ética. Desde o alvorecer da vida urbana na Mesopotâmia, os habitantes das primeiras cidades passaram a receber um conjunto de padrões de condutas a serem seguidos subjetivamente e coletivamente, consistiam nos valores morais. Para a consolidação desses valores morais era necessário que cada habitante compreendesse bem as regras sociais, caso contrário, seria julgado conforme as leis existentes da sua cidade. O julgamento consistia numa análise da falta, crime ou transgressão cometida pelo indivíduo, esse diagnóstico era executado por pessoas qualificadas ou algo parecido. Para o indivíduo não incorrer em pena, era necessário um comportamento enraizado na observação dos valores éticos e morais, essa capacidade sempre esteve acessível às pessoas, contudo, são poucas àquelas capazes de fazer julgamentos precisamente éticos. Muitas pessoas agem por impulsos ou a partir de imposições ideológicas de outras, não agindo de modo satisfatório, quando fazem evitam muitos infortúnios e problemas comuns na sociedade. Ser ético neste modelo de humanidade vigente está se tornando cada vez mais insólito. E falando de Escola Pública percebemos um problema ainda maior.
Os docentes, em alguns casos, deviam imaginar como seria suas próprias aulas!
                O ano letivo inicia-se, em geral, nas primícias de fevereiro e se estende até o final de dezembro. Os professores possuem uma carga horária concernente a sua formação acadêmica, por exemplo, um professor (a) de história leciona 80 aulas por ano em cada turma. Cada série tem em média dez disciplinas, algumas ultrapassam esse montante, sendo assim, é obrigatório que os discentes possuam pelo menos 75% de frequência e obtenham ao final do ano letivo 24 pontos para concluírem o ano letivo, caso contrário, serão reprovados, desde que em pelo menos três disciplinas, pois existe uma exceção. Por exemplo, se um discente for reprovado em apenas duas disciplinas é conferido ao aluno uma nova oportunidade de recuperação nestas disciplinas apenas no próximo ano letivo, isso se chama progressão parcial. Todas essas exigências e orientações escolares são os valores morais exigidos para que pelo menos se tenha uma educação frutífera, digna e de qualidade.
                Lamentavelmente existem outras legislações da própria Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco cujo teor permite a violação dos valores éticos e morais da Educação Pública de qualidade. Por exemplo, é permitida aos discentes a oportunidade de realizarem a recuperação final sem possuir média alguma! Digamos que um aluno não tenha efetuado as avaliações dos quatro bimestres, neste caso, possui média zero, mesmo assim lhe é conferida uma oportunidade de fazer a recuperação final e ser aprovado se obter uma nota igual ou superior a seis. Muitos discentes são aprovados por este método. Alguns dizem – inclusive – para que estudar se só é necessário passar na recuperação final! Como se isso não bastasse existe ainda uma condição especial: se algum estudante da oitava Série do Ensino Fundamental ou 3ª série do Ensino Médio for reprovado será concedida uma nova oportunidade em janeiro, a prova especial. Ademais, como havia falado antes, um estudante deve possuir um total de 24 pontos ao final do ano letivo, todavia, se atingir 22,5 pontos, a Secretaria de Educação exige a aprovação deste discente, isso decorre do arredondamento da média 5,6 para 6,0. Ser aluno da rede pública Estadual de Pernambuco é gozar de inúmeros privilégios. Na década de 1990 era exigida a soma de pelo menos 16 pontos ou mais para realizar a recuperação final, caso contrário, o estudante seria reprovado.
                Nos tempos atuais os valores éticos e morais no âmbito escolar estão temporariamente ausentes ou talvez abandonados. Um docente que seja sensivelmente profissional e dedicado nas suas atribuições e responsabilidades é frequentemente ofendido pessoalmente e em alguns casos publicamente como presenciei nesta semana. Será que é cruento ser dedicado e exigir uma produção científica de qualidade aos discentes? Que preço temos que pagar pelo ato de lecionar com hombridade e honestidade? A Escola Pública por ser uma instituição social popular não deve ter um ensino proficiente?
                Em geral, no final de ano os pais, responsáveis e tutores comparecem à Escola para ouvir dos docentes sobre o infrutífero ano letivo de seus filhos (as). Quando agem eticamente, procuram ouvir dos educadores os motivos da frustração escolar e cobram explicações aos filhos. Àqueles que dispensam o rigor da ética elucidam milhares de problemas pessoais e sociais e fazem um grande clamor para que os professores em hipótese alguma reprove seu filho (a). Por exemplo, esta semana ouvi uma história parecida de uma garota que nos últimos dias estava chorando bastante porque ficou em recuperação e que estava aflita e desesperada com receio da eminente reprovação. Contudo, esta garota, que conheço bem, passou o ano letivo desprezando as aulas e priorizando a desatenção e realização de coisas desnecessárias a vivência escolar. Apenas neste momento ela percebeu que estava errada, mas se tivesse agido antes – pelo menos – com prudência e ética teria evitado e compreendido que suas lágrimas foram geradas por atos próprios.
                Um Educador que é comprometido muitas vezes sofre retaliações e comentários pungentes de próprios colegas de trabalho, alguns proferem discursos enaltecendo que a falha ou insucesso escolar é culpa do atual Sistema Educacional. Já ouvi, a título de exemplo, docentes dizerem que aprovaram alunos para não vê-los importunando-os no próximo ano letivo. Que não desejam ser o único professor (a) no qual o referido discente foi reprovado. Que evitam ficar com muitos alunos em recuperação porque é mais trabalhoso no final de ano. Outros aprovam sabendo-se que os educandos não possuem os conhecimentos mínimos exigidos na sua disciplina. Além de outras bizarrices. Tudo isso ocorre com receio da reação dos discentes e seus pais ou por omissão ética? A ética parece-me que pediu Licença sem Vencimento. Vamos ser sinceros ou éticos: a maioria de filhos de professores não estuda em Escolas Públicas! Por quê? O que dizer então de colegas de trabalho que atribuem notas pelo caderno em dia ou atualizado. Que falar de avaliações em dupla e pesquisadas? Há casos de discentes que estão fazendo o Ensino Médio à distância! A Escola Pública também entrou na modalidade de Ensino à Distância. Ética, por onde você anda?
                Cada profissional possui seus métodos de trabalho e de avaliação pertinentes a sua situação didática e conforme também a prática pedagógica, porém, os vestibulares, concursos públicos e privados não são pesquisados nos dias de sua realização ou são? Necessita-se obviamente de um conhecimento pelo menos básico sobre tais disciplinas. Para isso basta um processo de ensino-aprendizagem minucioso e de qualidade.
Aparentemente a ética que existe na concepção de várias pessoas: estudantes e profissionais da educação é uma ética enterrada no eu primeiro, do benefício pessoal. Diversas pessoas imaginam que ética é algo que possa lhe beneficiar da algum modo, não é assim, o conceito ético vai muito além. Ser ético é agir de maneira prudente e ser norteado pelos valores morais impostos à sua função, sabendo distinguir o correto do equívoco. O estágio de comiseração que muitos docentes sentem por alguns alunos aprovando-os em seguida, mesmo que não saibam minimamente da sua disciplina, é o descumprimento dos valores éticos e morais inerentes à Escola. A vida extraescolar é bem diferente da pregada por algumas pessoas, o sentimento de pena é inexistente na atual sociedade, por exemplo, patrões não sentem pena de seus funcionários, pelo contrário, sentem desprezo. Ninguém se sensibiliza se algum candidato (a) chorar por não ser aprovado em algum concurso público ou vestibular é a vida real que está lá fora. A ética compreendida por alguns discentes é semelhante. Muitos alunos não se importam se forem aprovados sem conhecimento algum. O que lhes interessa é o certificado de conclusão de curso. A ética na qual essas pessoas se valem é aquela de favorecimento subjetivo. Para outros, Professor que ensina com rigor e é exigente não presta, começam a atribuir inúmeras alcunhas pejorativas. Professor bom é aquele que não faz nada! Já ouvi isso várias vezes.
Ao escrever este texto torno-me Advogado do Diabo como alguns podem definir – para aqueles que desconhecem a ética, é claro – ou quiçá, um mero ser que tenta enxergar o mundo com os óculos da realidade na qual faço parte e vivencio. Quando falei no início desse opúsculo sobre ser ético nesse modelo de sociedade é muito incomum me referi às pessoas que são ofendidas, contrariadas e repudiadas por suas ações guiadas pelos valores éticos e morais, quem age deste modo procura uma existência firmada nos valores da cidadania e de uma sociedade mais justa e humana. Quem é enquadrado como diferente, anormal e qualquer outro pseudônimo, talvez tenha recebido essas ofensas porque ainda acredita na possibilidade de existência de uma verdadeira civilização arraigada nos valores éticos e morais, aqueles mesmos criados pelos gregos.