quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia do Professor


No último dia 15 de outubro milhares de Professores foram homenageados por todas as pessoas deste país que enalteceram o labor desta profissão, renderam e rasgaram muitos elogios e reconheceram o verdadeiro valor e papel que possuem os docentes na formação dos indivíduos. Nas mídias surgiram várias mensagens de homenagem, reconhecimento, estima e apreço que foram estampadas em outdoors, jornais, revistas semanais, na internet, na televisão e etc., Cada mensagem belíssima que penetra na alma, confesso que me senti ainda mais orgulhoso, agradecido e reconhecido pelo que faço na vida cotidiana. Contudo, há muitas contradições, divergências, incoerências e atitudes paradoxais pelos que emitiram tais elogios, desta forma isso me suscitou a fazer uma breve ponderação sobre a docência.
            Por que os professores de todo o país só são homenageados apenas no dia 15 de outubro? Por que o ofício de professor que é considerada uma das profissões mais importantes existentes são tão desvalorizados pela sociedade, Secretarias de Educação, Ministério da Educação e estudantes? Por que um professor (com nível superior) recebe um dos piores salários, inclusive menor do que o de um policial militar? Essas questões são difíceis de responder, mas não intangíveis.
            No dia 15 de outubro recebi diversas mensagens por e-mail, redes sociais, Secretaria de Educação, sindicato, estudantes e etc., essas mensagens eram contidas por votos de reconhecimento e apreço pelo ofício que desempenho – como mencionei no primeiro parágrafo –, entretanto, nos demais 364 dias do ano não somos reconhecidos como importantes, magnânimos, fundamentais e acima de tudo como mestres! Não guardo e nem carrego rancor pela profissão que exerço, pelo contrário, tenho muita estima, motivação e perspectivas otimistas para as próximas gerações de docentes, todavia, essa é a maneira como enxergo o nosso ofício e tenho depoimentos de colegas cujo pensamento é semelhante.
            Quando mencionei que o ofício de professor é bastante difícil me referia ao ensino público, cujo desprezo pelos governantes é latente à opinião pública, mas não a nós, docentes. As condições nas quais trabalhamos diariamente são deficientes, inadequadas e em estado que desestimulam a relação entre ensino e aprendizagem. As salas de aulas estão superlotadas, números de funcionários desproporcionais, no verão os ventiladores não dão contam das demandas climáticas, em algumas escolas os livros didáticos são insuficientes, cadeiras desconfortáveis, material didático limitado, baixos salários que promovem a desmotivação e etc., somado a tudo isso uma jornada de trabalho extenuante.
            Os discentes, em geral, sentem desprezo pelo nosso ofício, é bastante comum nas salas de aula estudantes lendo revistas de fofocas, revistas de cosméticos, quando o docente entra na sala não é percebido, estudantes que dormem e demonstram sonolência justamente na aulas, alunos portando equipamentos eletrônicos em simultaneidade as aulas, isto é, em resumo é o império da indisciplina, do descaso, da desobediência e do desrespeito a uma ou a profissão mais urgente da humanidade. Mas nem tudo está perdido: no dia dos professores estes estudantes nos homenageiam.  Apesar disso, é preciso observar e registrar que existem estudantes cujo nos reconhecem, prestigiam e valorizam a nossa profissão, entretanto, esse índice ainda é muito baixo se avaliado proporcionalmente ao número de estudantes por sala de aula.
            A Secretaria de Educação de Pernambuco (SEDUC) reconhece que nos desvaloriza com maestria, pois, permite que um professor possa exercer dois vínculos. É permitido um professor trabalhar em duas escolas (sob a forma de contrato ou concurso público), isso não ocorre devido a lacunas na jornada de trabalho, mais é um reconhecimento de que o nosso salário é insuficiente, deficiente e limitado. Entendo dessa forma. Se o nosso salário fosse autossuficiente não haveria a necessidade de trabalhar em vários locais e como ocorre, noutras cidades, gerando excessivo cansaço físico e mental aos docentes além de queda na qualidade das aulas. O Governo pode se defender refutando essas ideias alegando ou insinuando que a permissão de um profissional da educação assim como o profissional da saúde ter a permissão de trabalhar em dois locais distintos é uma concessão regulamentada por Lei Federal, porém isso não se justifica se visto pela lógica. Um professor em início de carreira trabalhando em duas escolas distintas acumula mensalmente um salário equivalente a um policial militar também em início de carreira. Então, seguindo esta lógica, um professor trabalha em duas escolas e recebe um salário equivalente a de um policial militar com apenas um vínculo. Na semana passada o Governador de São Paulo, por exemplo, vetou uma Lei aprovada pela Assembleia Legislativa daquele Estado a qual permitia que os professores de São Paulo tivessem Direito à meia entrada, Kassab não aprovou. Por que? Por valorizar seus professores? Além disso, a Secretaria de Educação nos desvaloriza ainda mais ao nos conceder um bônus para aquisição de livros nas bienais. Duzentos reais o valor deste bônus, então ainda seguindo a lógica, recebemos do Governo do Estado 100 reais por ano para ampliarmos nossos conhecimentos! Que valorização. A Secretaria de Educação pode evocar que é competência e obrigação dos docentes adquirir seus livros, concordo, mas nosso salário não fornece esse privilégio. Como se isso ainda não bastasse, está em discussão pelo Ministério da Educação a ampliação da jornada de trabalho dos docentes, existe uma proposta do MEC para aumento dos dias letivos que são atualmente 200 dias para 220 dias letivos! O que dizer?
            Para finalizar, a comunidade escolar está muito ausente e alguns casos omissa de sua competência e responsabilidade diante de seus filhos (as). A maioria dos estudantes está tendo uma educação isolada, apenas escolar, a família – ultimamente – está sonegando seu papel e compromisso mais urgente que é acompanhar o acesso, desempenho e formação da educação de seus tutelados. Reuniões de pais e responsáveis – por exemplo – pouco menos de 50% dos responsáveis comparecem as eventuais reuniões. Verificação de desempenho e andamento da construção do conhecimento nas diversas ciências fornecidas pela escola são poucos (as) aqueles (as) que verificam os resultados, isto é, os pais – no mais das vezes – não cumprem com sua competência principal de acompanhamento das médias e se os estudantes estão estudando como deviam não apenas na escola, mas também em casa. Recebemos muitas visitas de pais e responsáveis aqui na escola, em geral, no final de ano quanto a situação de seus estudantes – muitas vezes – é irreversível, em outras palavras, os pais e responsáveis só aparecem quando os filhos estão iminentes à reprovação e para solicitar de nós docentes que deem um jeito para que seus filhos possam ser aprovados, mesmo que o conhecimento não tenha sido alcançado.
            Tenho orgulho de ser professor, jamais em minha juventude eu havia imaginado em ser professor, mas reconheci que sou feliz e realizado em repassar meus conhecimentos – ainda incipientes – para meus educandos, porém, amor, orgulho, gratidão por si só não são suficientes para o exercício do ofício de professor. Falta muita coisa, e até onde sei, se depender de nossos governantes capitalistas, neoliberais e acima de tudo demagogos profissionais, essa mudança que tanto Paulo Freire defendeu e reivindicava está distante!