sábado, 3 de dezembro de 2011

Não nascemos prontos

    Recentemente, li um grande livro do filósofo Mário Sérgio Cortella, seu título: Não nascemos prontos – provocações filosóficas. Este livro possui como teor uma enormidade de provocações filosóficas que se traduzem na nossa realidade, sobretudo a brasileira. Não tenho interesse aqui de descrever ou fazer uma resenha sobre o livro, mas acalorar ainda mais a discussão sobre a temática, visto que, como professor e ser humano percebo a necessidade de realização de debates sobre o tema para fornecer mais subsídios àqueles que se consideram prontos. Contudo, este texto não pretende nem esgotar nem encerrar o tema, mas apenas contribuir com a problemática.

    Quem conhece ou já conheceu alguém que sempre estava com a verdade, com a razão ou sempre certo? Noutras palavras, quantas pessoas conhecemos cujo se consideram que já estão prontas? Quem nunca presenciou em conversas ou debates atos de intransigência, irredutibilidade ou arrogância por parte de algumas pessoas? O que há em comum nessas posturas, sem sombra de dúvidas, é o perfil de um ser que acredita que já está pronto.

    O ser humano é o animal que necessita ser educado para se tornar humano. Penso que não há dúvidas sobre essa afirmativa, pois, quando nascemos precisamos – acima de tudo – de nossos semelhantes para conviver, neste caso, somos também animais sociais como defendia Aristóteles. Desde o nascimento temos que aprender a conhecer as coisas deste mundo, coisas como falar, andar, comer e desenvolver – principalmente – a linguagem escrita e simbólica. Falar, andar, comer e aprender são verbos indissociáveis dos seres humanos, isso indica que antes de tudo, somos inacabados, falta sempre uma coisa para se contemplar o absoluto – se é que existe algo absoluto! O super-homem, mulher-maravilha são apenas mitos diante de nossa realidade que é de carne e osso ou de meros seres mortais, somos seres que quando isolados somos fadados à morte. Segundo Kant apud Comte-Sponville: Homem só pode tornar-se homem pela educação. [...] ele é apenas o que a educação faz dele. Se houver alguma dúvida ou refutação sobre a frase Kantiana, ainda não conheço, pois invariavelmente da cultura que o indivíduo nasça ele será iniciado conforme a educação do grupo, embora, algumas culturas ou países ocidentais se considerem superiores intelectualmente, humanamente ou tecnologicamente. Nas demais culturas, todas elas têm em comum a educação, independemente do conceito de educação de cada uma delas.

    Quem se considera inteligente é antes de tudo prepotente ou arrogante. Paulo Freire já alertava: não há um saber maior do que o outro há saberes diferentes. Segundo Mário Sérgio Cortella, O ser humano é tão arrogante que não admite ser chamado de animal. Outro dia, estava dando uma aula sobre o darwinismo e falei que nós humanos éramos mais uma espécie de animal no mundo, quando fui interpelado por uma estudante que disse: e nós somos animais, é? As pessoas que se consideram prontas devem acordar deste sono profundo que é a ignorância, lembro aqui que o emprego de ignorância não se refere a uma pessoa sem modos, sem educação, mas tão somente uma pessoa que ignora a sua própria realidade. Ainda segundo Cortella, ele diz que um ser arrogante é aquela pessoa que se considera pronta ou acabada.  Não estamos prontos nem mesmo próximos de nossa morte. Alguém pode inquirir: então quando estaremos prontos? Talvez jamais, repito aqui o que tenho falado em minhas aulas: nascemos, vivemos e morremos e jamais vamos saber o que é a humanidade, o planeta terra, nem mesmo de onde viemos.
A humildade pode ser considerada uma virtude, mas se a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros (Comte-sponville). A humildade como sempre defendia o filósofo grego Sócrates era o reconhecimento de que nada sabemos, se utilizarmos essa lógica podemos nos perguntar: quão imenso e infinito é nosso universo, será que seremos capazes de desvendarmos o que é o universo? Quem somos nós? Ainda não possuímos uma resposta convincente sobre de onde viemos, quem somos e para onde vamos. Nem o mito, nem a religião, nem a filosofia e nem mesmo a ciência foram capazes de nos responder com exatidão a essas questões.
    
Se não sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos, porque se considerar pessoas prontas ou acabadas? A título de exemplo, tenho mais de 300 alunos e conheço alguns que se consideram pessoas prontas, vou explicar o porquê. Estamos vivenciando o IV bimestre, a última unidade antes do término do ano letivo, tenho vários estudantes que já estão aprovados desde o III bimestre e tenho percebido que apenas alguns se consideram pessoas prontas, Por quê? Estes estudantes não estão mais frequentando as aulas, não estão participando das atividades escolares cotidianas, por quê? Acreditam que já estão prontas, acabadas, não existe mais necessidade de estudar no último bimestre, isso significa que a educação para estes já foi contemplada, obtida. Sabemos que nenhum saber é autossuficiente, absoluto ou completo. Existe outros casos semelhantes nos quais alguns estudantes creem que a conclusão do Ensino Médio já é o bastante e param de estudar. A meu ver, a educação é um aparato inerente ao ser humano e não pode ser desassociado dele, neste caso, desde o nosso nascimento até a nossa morte necessitamos incessantemente da educação.
    Por que se considerar uma pessoa como inteligente, sábia, completa se nenhuma das áreas de conhecimentos existentes foi esgotada? Nenhum conhecimento humano – até onde sei – foi atingido, encerrado e finalizado. O saber, o conhecimento e a audácia de procurar respostas são inesgotáveis. Muitas pessoas definem o conhecimento ou saber como a busca ou procura pela verdade, mas convenhamos, até hoje não se sabe o que é de fato a verdade. A medicina, por exemplo, nos surpreende diariamente com novas descobertas, as diversas ciências existentes – no mais das vezes – chocam a humanidade com suas descobertas, as revelações das diversas áreas de saberes ocorrem frequentemente e nunca acabam. Não temos nem convicção nem mesmo certeza do que seja o sol, por que se orgulhar de coisas que ainda não foram esgotadas? O planeta Terra ainda não foi desvendado nem há de ser encerrado pelas descobertas humanas, pois, a Terra é repleta de mistérios, segredos e muitos descobrimentos ainda estão por vir. Reconheçamos as nossas limitações no campo do conhecimento ou dos conhecimentos, se temos essa consciência por que admitir que sejamos sábios se os maiores sábios reconhecem que não sabem de quase nada!
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar. [...] Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. (CORTELLA, 2010. p. 13)
    Sócrates foi um grande exemplo de simplicidade, humildade, prudência e consciência que jamais se considerou um sábio, as pessoas lhe atribuíam essa qualidade, mas Sócrates reconhecia suas limitações – por isso ele foi considerado um sábio –, esse sabia que o ser humano é falível, passível de erro e necessitado de respostas. Não somos infalíveis, muito pelo contrário, nossos atos, ações e comportamentos são falíveis e se temos essa sã consciência, isso significa que não estamos prontos nem agora nem talvez no futuro. E você, já está pronto?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia do Professor


No último dia 15 de outubro milhares de Professores foram homenageados por todas as pessoas deste país que enalteceram o labor desta profissão, renderam e rasgaram muitos elogios e reconheceram o verdadeiro valor e papel que possuem os docentes na formação dos indivíduos. Nas mídias surgiram várias mensagens de homenagem, reconhecimento, estima e apreço que foram estampadas em outdoors, jornais, revistas semanais, na internet, na televisão e etc., Cada mensagem belíssima que penetra na alma, confesso que me senti ainda mais orgulhoso, agradecido e reconhecido pelo que faço na vida cotidiana. Contudo, há muitas contradições, divergências, incoerências e atitudes paradoxais pelos que emitiram tais elogios, desta forma isso me suscitou a fazer uma breve ponderação sobre a docência.
            Por que os professores de todo o país só são homenageados apenas no dia 15 de outubro? Por que o ofício de professor que é considerada uma das profissões mais importantes existentes são tão desvalorizados pela sociedade, Secretarias de Educação, Ministério da Educação e estudantes? Por que um professor (com nível superior) recebe um dos piores salários, inclusive menor do que o de um policial militar? Essas questões são difíceis de responder, mas não intangíveis.
            No dia 15 de outubro recebi diversas mensagens por e-mail, redes sociais, Secretaria de Educação, sindicato, estudantes e etc., essas mensagens eram contidas por votos de reconhecimento e apreço pelo ofício que desempenho – como mencionei no primeiro parágrafo –, entretanto, nos demais 364 dias do ano não somos reconhecidos como importantes, magnânimos, fundamentais e acima de tudo como mestres! Não guardo e nem carrego rancor pela profissão que exerço, pelo contrário, tenho muita estima, motivação e perspectivas otimistas para as próximas gerações de docentes, todavia, essa é a maneira como enxergo o nosso ofício e tenho depoimentos de colegas cujo pensamento é semelhante.
            Quando mencionei que o ofício de professor é bastante difícil me referia ao ensino público, cujo desprezo pelos governantes é latente à opinião pública, mas não a nós, docentes. As condições nas quais trabalhamos diariamente são deficientes, inadequadas e em estado que desestimulam a relação entre ensino e aprendizagem. As salas de aulas estão superlotadas, números de funcionários desproporcionais, no verão os ventiladores não dão contam das demandas climáticas, em algumas escolas os livros didáticos são insuficientes, cadeiras desconfortáveis, material didático limitado, baixos salários que promovem a desmotivação e etc., somado a tudo isso uma jornada de trabalho extenuante.
            Os discentes, em geral, sentem desprezo pelo nosso ofício, é bastante comum nas salas de aula estudantes lendo revistas de fofocas, revistas de cosméticos, quando o docente entra na sala não é percebido, estudantes que dormem e demonstram sonolência justamente na aulas, alunos portando equipamentos eletrônicos em simultaneidade as aulas, isto é, em resumo é o império da indisciplina, do descaso, da desobediência e do desrespeito a uma ou a profissão mais urgente da humanidade. Mas nem tudo está perdido: no dia dos professores estes estudantes nos homenageiam.  Apesar disso, é preciso observar e registrar que existem estudantes cujo nos reconhecem, prestigiam e valorizam a nossa profissão, entretanto, esse índice ainda é muito baixo se avaliado proporcionalmente ao número de estudantes por sala de aula.
            A Secretaria de Educação de Pernambuco (SEDUC) reconhece que nos desvaloriza com maestria, pois, permite que um professor possa exercer dois vínculos. É permitido um professor trabalhar em duas escolas (sob a forma de contrato ou concurso público), isso não ocorre devido a lacunas na jornada de trabalho, mais é um reconhecimento de que o nosso salário é insuficiente, deficiente e limitado. Entendo dessa forma. Se o nosso salário fosse autossuficiente não haveria a necessidade de trabalhar em vários locais e como ocorre, noutras cidades, gerando excessivo cansaço físico e mental aos docentes além de queda na qualidade das aulas. O Governo pode se defender refutando essas ideias alegando ou insinuando que a permissão de um profissional da educação assim como o profissional da saúde ter a permissão de trabalhar em dois locais distintos é uma concessão regulamentada por Lei Federal, porém isso não se justifica se visto pela lógica. Um professor em início de carreira trabalhando em duas escolas distintas acumula mensalmente um salário equivalente a um policial militar também em início de carreira. Então, seguindo esta lógica, um professor trabalha em duas escolas e recebe um salário equivalente a de um policial militar com apenas um vínculo. Na semana passada o Governador de São Paulo, por exemplo, vetou uma Lei aprovada pela Assembleia Legislativa daquele Estado a qual permitia que os professores de São Paulo tivessem Direito à meia entrada, Kassab não aprovou. Por que? Por valorizar seus professores? Além disso, a Secretaria de Educação nos desvaloriza ainda mais ao nos conceder um bônus para aquisição de livros nas bienais. Duzentos reais o valor deste bônus, então ainda seguindo a lógica, recebemos do Governo do Estado 100 reais por ano para ampliarmos nossos conhecimentos! Que valorização. A Secretaria de Educação pode evocar que é competência e obrigação dos docentes adquirir seus livros, concordo, mas nosso salário não fornece esse privilégio. Como se isso ainda não bastasse, está em discussão pelo Ministério da Educação a ampliação da jornada de trabalho dos docentes, existe uma proposta do MEC para aumento dos dias letivos que são atualmente 200 dias para 220 dias letivos! O que dizer?
            Para finalizar, a comunidade escolar está muito ausente e alguns casos omissa de sua competência e responsabilidade diante de seus filhos (as). A maioria dos estudantes está tendo uma educação isolada, apenas escolar, a família – ultimamente – está sonegando seu papel e compromisso mais urgente que é acompanhar o acesso, desempenho e formação da educação de seus tutelados. Reuniões de pais e responsáveis – por exemplo – pouco menos de 50% dos responsáveis comparecem as eventuais reuniões. Verificação de desempenho e andamento da construção do conhecimento nas diversas ciências fornecidas pela escola são poucos (as) aqueles (as) que verificam os resultados, isto é, os pais – no mais das vezes – não cumprem com sua competência principal de acompanhamento das médias e se os estudantes estão estudando como deviam não apenas na escola, mas também em casa. Recebemos muitas visitas de pais e responsáveis aqui na escola, em geral, no final de ano quanto a situação de seus estudantes – muitas vezes – é irreversível, em outras palavras, os pais e responsáveis só aparecem quando os filhos estão iminentes à reprovação e para solicitar de nós docentes que deem um jeito para que seus filhos possam ser aprovados, mesmo que o conhecimento não tenha sido alcançado.
            Tenho orgulho de ser professor, jamais em minha juventude eu havia imaginado em ser professor, mas reconheci que sou feliz e realizado em repassar meus conhecimentos – ainda incipientes – para meus educandos, porém, amor, orgulho, gratidão por si só não são suficientes para o exercício do ofício de professor. Falta muita coisa, e até onde sei, se depender de nossos governantes capitalistas, neoliberais e acima de tudo demagogos profissionais, essa mudança que tanto Paulo Freire defendeu e reivindicava está distante!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ensino Público, ontem e hoje - Considerações


Dias atrás ouvi com bastante atenção a uma enquete formulada pelo Programa de Hiram Carvalho, da Rádio Jornal de Caruaru, que trazia a seguinte discussão: O ensino público da atualidade é melhor ou pior que o ensino do passado? Os ouvintes que participaram da discussão foram unânimes: o ensino do passado era bem superior! Enquanto Educador e Professor de História há pelo menos sete anos, tenho a mesma impressão e sinto-me convocado a dar a minha contribuição para tal debate. O ensino público de décadas atrás era mais eficiente, sem sombra de dúvida, apesar de vivermos a Era da informação, mas vale ressaltar que informação não é conhecimento! Quando eu estudava no Ensino Fundamental (1º grau), por exemplo, era exigida uma disciplina rígida, frequência e um maior rigor nos estudos, coisa que – parece-me – foi esquecida ou consumada nos tempos atuais. No meu entender, a postura política de nossos governantes nas últimas décadas foi a maior responsável pelo quadro atual, assim também como novas concepções pedagógicas que insistem em oferecer milhares de oportunidades aos discentes. A média do ano letivo em questão (quando estudante) era sete (7,0), além disso, para ficar em recuperação final era necessário o acúmulo de 18 pontos anuais, neste caso, quem no ano letivo não obtivesse os 18 pontos não teria direito de realizar a recuperação, estaria reprovado (a). Essa prática se estendia também para o Ensino Médio (na época 2º Grau). Quem era aluno tinha – necessariamente – um comprometimento maior com sua educação, estimulando seu bom senso e aguçando a sua responsabilidade para passar no ano letivo, até por que, quem era reprovado (a), pelo menos na minha época, na minha cidade e conforme nossos valores era considerada uma pessoa fracassada, que levou pau, a família ficava arrasada e frustrada com o desempenho de seu filho. Nesta época áurea, os pais ou responsáveis tinham um papel fundamental na Educação de seus filhos. Porém, passaram-se os anos e a escola goza atualmente de muita flexibilidade e regalias cujo estímulo é a acomodação, desinteresse e facilitação de aprovação do ano escolar. Vamos analisar a Escola Pública de Pernambuco.
            Desde 1996, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB), mudou-se radicalmente os parâmetros educacionais no Brasil. O aluno (educando) passaria a gozar de uma série de fatores (Direitos) cujo objetivo, era melhorar o desempenho na relação de ensino e aprendizagem, contudo, apareceram, doravante a oportunidade de o educando ter o privilégio de passar de ano mesmo sendo reprovado (a) em até duas disciplinas, foi a instauração da Progressão Parcial. Todas as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais deveriam ser norteadas a partir destes parâmetros. Em Pernambuco, por exemplo, o discente passou a gozar de uma série de benefícios cuja implementação favoreceu práticas de desânimo, acomodação e desestímulo as práticas educativas. Obviamente que a intenção da LDB era fortalecer a qualidade do Ensino em nosso país, todavia, o que se observou foi o inverso, falo neste caso, de nossa realidade em Pernambuco. A média no nosso Estado foi reduzida para seis (6,0), doravante cada discente deve possuir ao longo do ano letivo 24 pontos para sua aprovação. Porém, em Pernambuco, com 22,5 (pontos e meio) o aluno deve ser aprovado, pois, sua média foi 5,6 o que a SEDUC (Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco) orienta aos docentes que arredondem as notas para seis (6,0). Se esta fosse à única medida ou reforma no Estado seria admissível, mas, atualmente o discente goza de várias oportunidades ao longo do ano letivo. Na década de 80 e 90 era necessário o acúmulo de um determinado número de pontos para o aluno ter a oportunidade de realizar a recuperação e esta recuperação era única, chamada na época de Recuperação Final, atualmente, o discente tem o Direito de fazer uma recuperação bimestral, neste caso, em cada bimestre (vale ressaltar que são quatro), sendo assim, a cada bimestre, nós professores temos o Dever de oferecer uma recuperação em cada atividade avaliativa ou avaliação que realizamos por bimestre. Quanta oportunidade nossos alunos gozam! Não sou autossuficiente a ponto de negar que todos têm Direito a novas chances ou oportunidades, contudo, a minha filosofia me permite enxergar a realidade de maneira bem diferente: na sociedade brasileira atual as exigências são maiores e não vejo estas mesmas oportunidades em Concursos Públicos, Vestibulares, ENEM e em qualquer processo seletivo. Ainda não conheço um Vestibular ou qualquer outro processo seletivo que ofereça novas oportunidades àqueles que foram desclassificados! Nas sociedades hodiernas não basta ser apenas bom, você tem que ser ótimo ou muito bem qualificado na sua área de atuação para assumir uma oportunidade de emprego ou ser exitoso numa seleção de qualquer Universidade Pública ou de outra natureza.
            O que incomoda a categoria docente – nos últimos anos – não é meramente a realização de todas essas oportunidades aos discentes, mas a compreensão de que houve um efeito colateral nessas medidas adotadas pela SEDUC/PE, a qual estimulou a maioria dos nossos educandos a ficarem demasiadamente desinteressados, acomodados e com um desprezo enorme pelo ensino público. Hoje em dia quando realizamos qualquer atividade avaliativa como um fórum, seminário, debate, aplicação de questões houve-se aos montes as gloriosas e redundantes frases: Professor (a), quando é a recuperação? Vai ter reensino? e etc. Quem contestar tal realidade faça uma entrevista ou pesquisa com qualquer discente e docente que os mesmos decerto vão ratificar incontestemente a veracidade dessas afirmações.
            Ademais, há um problema ainda maior e danoso na vivência escolar: a maioria dos educandos adotam praticas ineficientes de estudo. Muitos discentes não dispõem de método de pesquisa salutares a consumação do conhecimento. Por exemplo, não leem com frequência nem revistas, jornais, livros ou textos de qualquer natureza, quando fazem pesquisas insistem em memorizar e decorar os temas pesquisados, apesar da orientação de vários professores em como se efetuar uma pesquisa científica, não fazem as tarefas extraclasses, não respeitam os calendários de atividades avaliativas e provas, não pesquisam cotidianamente e a mais agravante de todas: só realizam seus estudos na véspera ou no dia dos exames (atividades, testes ou avaliações). Em geral, os estudantes só estudam mediante pressões dos docentes – apesar dessa cobrança ser rotineira, frequente e constante, percebemos também uma falta de acompanhamento dos pais ou responsáveis por estes adolescentes. Na verdade, é uma série de fatores que tem favorecido para a grande queda no ensino público nas últimas décadas em nosso Estado. Parece-me que a situação dos demais Estados do Brasil não é diferente.
            A qualidade do Ensino Público caiu bastante nas últimas décadas – isso é inegável – e fico feliz que a população está percebendo essa situação e começa a se mobilizar para reivindicar de seus governantes ações urgentes cuja prática proporcione uma grande Reforma na Educação Pública, não apenas em Pernambuco, mas em todo o Brasil.
            Mas, ainda estou bastante pessimista – me perdoem a franqueza –, enquanto um Profissional de Educação, com curso superior, continuar recebendo a metade de um salário de um policial Militar que porta apenas o Ensino Médio, talvez essa reforma política benéfica ao Ensino Público Estadual esteja bastante longínqua.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pedra do Ingá submersa

A pedra do ingá, monólito incrustado com inscrições de povos que habitaram a pré-história da Paraíba é um dos sítios arqueológicos mais enigmáticos e intrigantes do mundo. Fica localizada no município paraibano de Ingá, e o monólito - um lajedo - nas imediações do rio bacamarte. Em maio deste ano, devido as fortes chuvas na região a Pedra de Ingá ficou submersa. Conferir vídeo abaixo:


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Horário pra que?


No domingo, assisti uma reportagem no Domingo Espetacular, programa da Rede Record de Televisão que me causou estranheza, era uma reportagem sobre a inquietação de diversos públicos, no Brasil, pelo atraso na realização de shows de vários cantores e bandas nacionais. Esta insatisfação parece que virou rotina na vida de várias pessoas do nosso país, fãs de Luan Santana, Claudia Leite e outros artistas nacionais se tornaram – ultimamente – mas exigentes nos horários de realização dos eventuais shows. Os protestos tinham em comum o entoamento das conhecidas “vaias”, pelo demasiado atraso no começo das apresentações. Fiquei feliz pelas vaias, nada contra os mencionados artistas, mas pela percepção de cidadania de algumas pessoas neste país, embora poucas. Quando compramos algum bilhete ou entrada para qualquer evento, show ou algo parecido, temos o devido direito de ser atendidos com a realização do evento conforme o horário determinado e anunciado para sua consumação. Já ouvi, por exemplo, diversas pessoas dizerem: “os atrasos em eventos no Brasil são coisas rotineiras, naturais e bastante comuns”, mas, a meu ver não devemos contornar e considerar um ato de desrespeito como algo “natural” e “comum”. Com frequência digo a meus alunos (as) “não podemos confundir desonestidade com esperteza”! Cito exemplos parecidos: pessoas que furam filas, estacionam em local proibido, não utilizam cinto de segurança, emporcalham as ruas, emitem muitos ruídos acima dos permitidos... são fatos corriqueiros de nosso país, porém, são ao mesmo tempo ações incoerentes e que afasta-nos o conceito de cidadania.

            Voltando a discussão, é lamentável a postura antiética de certos artistas nacionais: quem não foi para um show de qualquer cantor (a) ou banda e este show não começou com uma, duas ou três horas de atraso? Qual seria o motivo desse desrespeito, ato antiético e leviano ocasionado pelos nossos Ídolos?  Será que por que somos fãs temos o Direito de termos nossos Direitos negados ou soterrados por nossos heróis e heroínas? Isso acontece em todo o mundo ou somente no Brasil? São questões que devemos tentar elucidar.

            Devemos resgatar o conceito de cidadania. O cidadão que vai a um determinado evento e este atrasa pode exigir uma indenização por danos morais, infelizmente, poucas pessoas sabem disso ou quando sabem não exigem dizendo frases como deixa isso pra lá, isso não vale à pena ou as coisas por aqui sempre foram assim. Talvez este seja um belo exemplo para o paradoxo que se encontra em nosso país: somos a oitava economia do mundo – um dos países mais confiáveis de se investir – ao mesmo tempo temos terríveis índices de desenvolvimento humanos, má distribuição de renda e uma educação pública de péssima qualidade, que contradição. 

            Somente no Brasil vemos tal prática, em geral, os artistas se atrasam a suas apresentações devido à realização de vários shows numa mesma noite (quanta ganância). Isso ocorre, parece-me, apenas no Brasil. Já fui a diversos shows, atualmente, não vou mais, por que não posso admitir tal ato de imoralidade e desrespeito como esse. Será que vale a pena ficar duas, três ou quatros horas a fio esperando por um artista cujo cachê ultrapassa os R$ 300.000,00 (Luan Santana) numa única apresentação, sacrificando meu sono e sabendo que no dia seguinte tenho que trabalhar para receber um dos piores salários mínimos do mundo. Alguma coisa está errada.

            Em 2007, 2009 e em abril deste ano assisti a apresentações de bandas de rock internacionais – Scorpions, Iron Maiden e novamente Iron Maiden e um fato me causou estranhamento – neste caso positiva –, o horário de inícios dos respectivos shows. Os três eventos tinham o horário dos shows nos ingressos, como é comum, porém, as apresentações começaram com uma incrível pontualidade! Que respeito, sutileza e demonstração de cidadania. Casos semelhantes foram observados nas apresentações de outros artistas internacionais, no Brasil, este ano: Madonna, U2, Paul MacCartney, AC DC entre outros. Há algo errado, por que os artistas internacionais respeitam o horário de suas apresentações começando suas apresentações com pontualidade enquanto nossos artistas nos desrespeitam, iniciando seus shows com muito atraso? A resposta não é fácil e óbvia, mas pode ser obtida analisando as práticas.

            A maioria dos brasileiros fala diariamente que são cidadãos, que possuem Direitos civis, políticos e sociais, contudo, o que não menciona-se é sobretudo, a ausência de espírito de cidadania. Nossa Educação Pública é péssima, ineficiente e não tem formado – como deveria – cidadãos críticos e ativos de sua polis (cidade, em grego), o conceito de moral é esmigalhado pela maioria dos brasileiros, a ética é uma definição de poucos, isso pode ser ratificado pela insegurança de muitas pessoas sobre os conceitos de ética e moral (façam esta pesquisa). Retornando ao tema, as atrações internacionais, frequentemente quando se apresentam por aqui costumam realizar apenas uma única apresentação por noite, prática bem diferente da conferida pelos artistas nacionais que fazem duas ou três apresentações por noite. Desrespeito, cobiça, ganância, aproveitar o momento de sucesso? A meu ver, falta de ética, moral e generosidade! 

            Existe uma enorme contradição na vida cotidiana da maioria dos brasileiros, vamos aos fatos: podemos chegar atrasados em nosso trabalho? O que acontece quando faltamos ou nos atrasamos a um dia de trabalho? O que ocorre ao atrasarmos no início de uma partida de futebol? O árbitro aguarda que o estádio comporte uma plateia razoável, para assim, iniciar a partida? Quando participamos de uma palestra e por uma eventualidade nos atrasamos, o palestrante aguarda a nossa chegada para começar? Quando chegamos atrasados na Escola (pública ou privada) os professores nos aguardam para começar as aulas? Se alguém chegar atrasado à realização de concursos públicos e vestibulares, os portões dos locais de realização das provas nos serão abertos? E se atrasarmos para um consulta médica? Creio que estes exemplos, por si só, são suficientes para uma boa reflexão.

            Comumente, somos impelidos a ter hábitos diários norteados por valores éticos e morais, caso contrário, somos julgados por nossas ações errôneas, o que não aceito e concordo é que só agora as pessoas perceberam que nossos artistas nos desrespeitam, não se importam se estamos aguardando o início dos shows na chuva, frio e calor, não se desculpam pelos atrasos. Quanta leviandade, desonestidade, desonra e insensatez aos seus fãs. E apesar de tudo isso, após as vaias, quando os artistas se apresentam e concluem suas apresentações às pessoas saem dizendo: “que show maravilhoso, inesquecível, foi bom, ótimo e nota dez”!
 
            Encerro essa tênue análise com duas frases: uma é do filosofo brasileiro Mário Sérgio Cortella: “Respeito, significa olhar para trás, para seu passado”, e a outra é do filósofo Rousseau: “faz para o outro aquilo que queres que os outros te façam”.

domingo, 31 de julho de 2011

O fim dos professores

“Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a  ignorância."                                    (Derek Bok, ex-presidente da Universidade de Harward)


(Não tem nada que um político não possa fazer para piorar a vida do povo e melhorar o seu bolso.)
O ano é 2.209 D.C. - ou seja, daqui a duzentos anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando?

A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:

– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.

– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?

– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.

– E como foi que eles desapareceram, vovô?

– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.

Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.

Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos
passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas(PRESIDENTE DE UMA NAÇÃO) – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.

Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de “educação libertadora” que nin
guém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior – os milicos ou os tais dos subversivos. – Não conheço essa palavra. O que é um milico, vovô?

– Era, meu filho, era, não é.. Também não existem mais...
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