terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cachoeirinha acolhe deputados que votaram contra a educação


            No pleito que se aproxima, a população de Cachoeirinha, aparentemente, acolheu de braços abertos deputados estaduais que votaram contrariamente a proposta de aumento salarial e valorização dos professores e Profissionais da Educação da Rede Pública Estadual. Os Deputados João Fernando Coutinho e Esmeraldo Santos, ambos de outras cidades. Os dois deputados juntamente com mais trinta e dois (total de 34) votaram na Assembléia Legislativa do nosso Estado a favor do Governador Eduardo Campos, vetando medidas que favoreciam o desenvolvimento e melhorias na Educação pública de Pernambuco. Os vencimentos dos professores que antes eram de 60% foram reduzidos para 20%, o Plano de Cargos e Carreiras (PCC) foi modificado implicando em perdas significativas para os Servidores Públicos e Profissionais da Educação de Pernambuco.
            Em Cachoeirinha, além do acolhimento de boa parte da população, os automóveis, casas residenciais e comerciais, bicicletas, e fachadas foram decoradas com propagandas político partidárias destes candidatos, inclusive, há casas que receberam dinheiro, ofertas de emprego e bens materiais pela propaganda de tais políticos. Os dois candidatos a reeleição em suas propagandas sonoras expõem obras e realizações que, coincidentemente só revelaram nestes meses que antecedem a eleição, obras como a construção de uma nova caixa d’água para aumentar o abastecimento e fornecimento de água, evitando assim o racionamento, a construção da Academia das cidades, obras que por mero acaso só apareceram e foram conferidas a tais deputados, neste período. O que chama a atenção também é que a maioria dos políticos quando realizam obras públicas, com financiamento de nossos impostos (verbas públicas, erário) anunciam como se fossem construções pessoais, faraônicas e não sociais e coletivas. Lembrando que as nossas cidades não dispõem de proprietários, mais apenas de regentes, governantes, intendentes, que de antemão, obedecem (em teoria) à vontade e interesses coletivos. A Compesa é uma empresa estatal, isso é notório, contudo, as obras são realizadas sem intermédio ou aval de qualquer deputado, depende apenas da administração interna, só em casos excepcionais (que não é o caso da construção de uma mera caixa d’água) é realizada uma plenária para discussão. O Deputado João Fernando Coutinho juntamente com o seu pai o Candidato a deputado federal Augusto Coutinho está anunciando que foi responsável pela pavimentação de várias ruas de bairros em Cachoeirinha. Outra coincidência, que só foi mencionada no período eleitoral. Vale ressaltar que tais deputados só apareceram em Cachoeirinha neste período eleitoral. No período de exercício de seus respectivos mandatos, os deputados e candidatos a reeleição praticamente não visitaram nossa cidade, aparecendo, fortuitamente somente agora. Coincidência?
            Cachoeirinha é uma cidade que tem um grande artesanato, sobretudo, produção e confecção de artefatos cunhados em couro e aço, além de uma crescente produção de queijos e derivados do leite, possui também, a segunda maior feira de gado do interior de Pernambuco, mesmo assim, as obras públicas que são realizadas por aqui se resumem a pavimentação de ruas. Isso é muito pouco para uma cidade que tem um crescimento econômico irrisório. Obras de maior relevância como Saneamento público, Segurança, melhorias na educação, capacitação de jovens, infra-estrutura, valorização e concessão de créditos aos artesãos locais são medidas políticas efêmeras ou mesmo inexistentes! Nossa cidade dispõe de provavelmente 20 mil habitantes e temos como prioridade pavimentação de ruas. Cachoeirinha não dispõe de creche, teatros, cinemas, quadras públicas, Projetos de desenvolvimento sustentáveis, estádio de futebol público, cooperativas para defesa de interesses de artesãos e produtores de queijo, resumindo, nossa cidade não cresce por insuficiência econômica, mas por políticas públicas nocivas ao desenvolvimento local.
            Se porventura tais deputados forem reeleitos não acredito que estes venham trazer benefícios para nossa cidade e demais cidades, pois, as expensas que estes deputados investem para reeleição não serão suprimidas pelos salários que irão receber na Assembléia Legislativa. O que esperar de um deputado que nada fez por sua cidade natal – Esmeraldo Santos – de São Caetano? Quais as perspectivas de um deputado egresso de cidades que foram gravemente atingidas pelas enchentes de 2010 – João Fernando – de Água Preta?
            Os dois deputados juntos tiveram pouco mais de sessenta (60) mil votos na última eleição, é uma votação muito expressiva, porém, perguntem aos moradores das cidades que auferiram votos a tais políticos sobre as obras, benefícios, investimentos e recursos públicos angariados por eles aos municípios visitados e apoiados, decerto, a resposta será negativa. O que é mais estarrecedor é que há profissionais da Educação que vão votar nesses respectivos candidatos!
            Devemos ter muita cautela na escolha dos nossos representantes públicos, pois, serão quatro  e oito anos de poder (deputados e senadores, respectivamente). Para não incorrer em erros, precisamos analisar com acuidade o currículo de cada candidato para assim evitarmos os políticos torpes que sempre aparecem no período eleitoral.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ficha limpa, política suja


O Projeto Ficha Limpa tem sido aclamado por muitos brasileiros como uma conquista da Democracia Nacional, porém, o Projeto em si não é suficiente para elucidar o problema da corrupção política em nosso país. Há décadas a política brasileira permanece a mesma, mudando apenas a roupagem, ademais, a prática hedionda é sempre a mesma. A política nacional se parece mais com um ritual lúgubre do que uma conquista democrática.
No próximo dia 03 de outubro serão escolhidos os novos (?) ou velhos conhecidos da República Brasileira, Deputados Estaduais, Deputados Federais, Senadores, Governadores e o (a) presidente do Brasil. Em média o salário dos Deputados Estaduais ultrapassa R$ 18.000, além de vários benefícios mensais; Deputados Federais recebem proventos acima de R$ 24.000, além de auxílio moradia, combustível, assessores e etc., que custam aos cofres públicos em média R$ 98.000 por cada Deputado Federal, somando isso às 513 cadeiras que são ocupadas! Um Senador recebe em média R$ 24.000. Governadores Estaduais e o Presidente da República recebem salários próximos aos dos deputados federais.
Será que o projeto Ficha Limpa vai solucionar o problema da corrupção política brasileira? Um projeto de Lei é suficiente para dirimir as ações ilícitas cometidas por nossos representantes públicos? Acho improvável que uma única medida seja necessária para extirpar fraudes, desvios e ações nocivas a democracia brasileira. Nosso país tem leis suficientes para combater e punir corruptos, contudo, nossa Justiça promove poucas punições aos verdadeiros culpados.
A solução caberia ao Poder Judiciário promover punições a todos àqueles que cometeram atos ilícitos contra o tesouro público (erário), só assim, pode-se aventar a possibilidade de construção de uma política pura, limpa e imaculada. Nos Estados Unidos, por exemplo, um político que exerça qualquer cargo público, caso cometa alguma irregularidade administrativa ou pessoal será condenado da mesma maneira que um civil. A Justiça Norte-americana não é sublime nem tampouco perfeita, mas ela é mais rígida e exemplar do que a nossa. Na Islândia, é muito raro encontrar nas manchetes diárias alguma notícia sobre corrupção política. Aqui no Brasil, por exemplo, existem leis protecionistas a deputados, senadores e outras esferas políticas que conferem armaduras a esses parlamentares, deduzindo-se a partir daí que são seres intocáveis. No Poder Judiciário, por exemplo, um juiz que for a litígio e julgado culpado, sofre como pena a aposentadoria compulsória cujo castigo é um mero salário de R$ 12.000.
Deixando a questão salarial de lado, quando menciono política suja me refiro às irregularidades rotineiras promovidas pelos nossos representantes públicos. O Ficha Limpa é uma exigência hodierna, todavia, as ações de compra de votos, troca de favores, manipulação de concursos públicos, desvios de verbas públicas são bastante banais. Em geral, nas 5.564 cidades brasileiras ocorrem ou ocorreram irregularidades administrativas promovidas pelos políticos. É muito freqüente os políticos pagarem aos cidadãos por seus votos, assim também como quitação de contas de água e eletricidade atrasadas de pessoas mais pobres e carentes, troca de votos por bens materiais como telhas, tijolos, cimento, cestas básicas, remédios, consultas médicas e etc., isso apenas reforça o desestímulo e descrédito no qual a política brasileira atravessa. Muitas pessoas dizem que todo político é ladrão ou corrupto. Não é bem assim, não devemos atribuir uma generalização a um grupo de pessoas que cometeram atos de corrupção em detrimento dos políticos honestos. Para se escolher bem um candidato é preciso adotar o mesmo critério que as empresas avaliam quando vão contratar seus funcionários, examinar a vida do indivíduo.
Tenho observado também que, em geral, os representantes públicos (Vereadores, prefeitos, Deputados estaduais e federais, governadores e etc.) descendem de famílias burguesas e ricas da cidade ou região. A maioria dos prefeitos do Estado de Pernambuco são pessoas egressas de famílias nobres ou são grandes empresários da região. Coincidência ou mero acaso? Porque então gasta-se tanto nas eleições brasileiras? Sabendo-se que o retorno é inferior ao valor no qual foi investido! Vale salientar que o Brasil possui uma das campanhas eleitorais mais dispendiosas do mundo. Tudo isso se consolida na manutenção de oligarquias políticas e empresariais com interesses semelhantes. Não é mero acaso que a maioria das mídias: impressa, radiofônica e audiovisual pertence a políticos, isso torna a legitimação de seus interesses mais fáceis de serem obtidos. Posso estar errado, equivocado ou mesmo enganado, mas não acredito que empresários e pessoas abastadas vão trabalhar em benefício das classes sociais mais pobres. A história tem mostrado o contrário, as nações desenvolvidas (países de primeiro mundo) têm crescido mediante a exploração dos países subdesenvolvidos. Existem empresas multinacionais ou brasileiras que realizam ações beneficentes, mais, em geral, há interessem latentes por trás de tais ações. Basta conferir o filme Quanto vale ou é por quilo.
Outra ação prejudicial ao conceito de democracia se realiza na maioria das cidades brasileiras, o voto por indicação. É muito freqüente as pessoas votarem em parlamentares mediante indicação de políticos locais. Nesta eleição que se aproxima, por exemplo, os prefeitos e vereadores assim como outros interessados, trabalham colhendo votos para seus deputados estaduais e federais. Isso é um absurdo. O povo, neste caso, não está exercendo a sua cidadania e democracia, pelo contrário, está negando-a. quem vota por indicação não vota por si próprio, mais conforme a vontade do político local, que, neste caso, recebe muito dinheiro em troca da eleição de seus candidatos.
            Em cidades com menos de 100 mil habitantes virou rotina as pessoas priorizarem os interesses individuais e familiares acima dos coletivos. A população pensa, em primeiro lugar, na realização pessoal, como por exemplo, galgar um emprego público, um cargo de confiança, uma direção de Escola, Hospital ou alguma Secretaria conferida pelo político local, isso, na verdade, se traduz na troca de favores políticos. A partir daí, o político pode (mas, não devia) dizer a quem você deve votar, estampar panfletos e propagandas de seu candidato em sua casa, automóvel, bicicleta e no próprio corpo e exigir que acompanhe as carreatas, passeatas e palestras dos referidos candidatos. Eis a corrupção na sua forma mais sublime. Em que essas ações podem prejudicar os interesses da sociedade em questão? Não me cabe a resposta, mais como vai a Educação, Saúde, Segurança, Saneamento, Emprego, Economia e outros segmentos de sua cidade? Se tudo acima flui bem, estou mais uma vez equivocado!
A política nacional só vai se libertar das correntes da corrupção para um modelo democrático e, sobretudo, promissor a partir do momento que o povo saber o significado da palavra ALTERIDADE e também: deixar de vender seu voto, não admitir dinheiro em troca de propagandas políticas, se negar a votar em deputados estaduais e federais por indicação de prefeitos, não aceitar presentes políticos, contestar ofertas duvidosas de empregos e cargos comissionados. Deste modo, pode-se construir uma sociedade de verdade, enobrecendo os valores éticos e morais.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Professores desvalorizados, desmoralizados e injustiçados


Nos últimos doze anos os Professores da Rede Pública Estadual de Pernambuco padecem economicamente, moralmente e politicamente. Jamais houve em todo o Estado de Pernambuco políticas públicas tão nocivas ao exercício da docência como as que vivenciamos nas últimas gestões governamentais. Os professores do nosso Estado sofreram diversas perdas políticas antes conquistadas pelo reconhecimento e valorização da profissão que exerciam, mas esse quadro mudou bastante nos últimos anos. A gestão do Governador Jarbas Vasconcelos (oito anos, diga-se) foi terrível para o funcionalismo público de modo geral, o qual cortou gratificações, congelou salários e reduziu o Plano de Cargos e Carreiras do Servidor Público, o atual Governador Eduardo Campos, que em campanha política pregava o resgate e revalorização de nossa categoria apenas reproduziu a política da desvalorização e promoveu políticas despóticas e ditatoriais calando e até mesmo ameaçando os professores que desejavam aderir à última greve por reajuste salarial.
            Ademais, nós professores de Pernambuco estamos entres os três piores salários pagos a profissionais da Educação no Brasil, segundo informações publicadas no site do próprio Ministério da Educação (MEC). O então Governador Eduardo Campos alega que paga o piso salarial estabelecido sob a forma de Lei, porém, isso não ocorre. Na cabeça do Governador o piso está sendo pago, mas o que acontece na verdade é que o governador incorporou a nossa gratificação que antes era de 60% aos vencimentos, noutras palavras, Eduardo Campos reduziu nossa gratificação de 60% para 20%, somando, nosso salário líquido não atinge o piso salarial. Se isso não bastasse, o ex-secretário de Educação do Estado de Pernambuco, Danilo Cabral, promoveu uma das piores gestões educacionais da história de Pernambuco, conferindo aos discentes o comodismo e desinteresse em estudar. Parece estranho culpar o Secretário de Educação pelo fracasso Escolar do aluno, mais, o aluno da rede pública pode passar de ano letivo mesmo que não tenha adquirido nota alguma em todo o ano letivo. Parece um absurdo, mas temos a Instrução Normativa que regulamenta essa prática abusiva. Imagine um aluno faltoso, que não comparece as aulas regulares nem tampouco participa do ano letivo pode passar de ano com apenas uma nota seis (6) adquirida na recuperação final. Não preciso nem comentar mais sobre isso! O Secretário ainda criou as Escolas de Referência, atualmente chamadas de Escolas Integrais, em outras palavras, Escolas Modelo, onde os profissionais de Educação recebem 150% a mais que os professores do Ensino Regular. Então, neste caso, deduz-se que no Estado de Pernambuco existe uma Escola que funciona e é boa e decente (Integral) e a que não serve (Regular) onde os professores recebem uma mixaria como salário e são os únicos responsáveis pelo fracasso escolar do discente. A segregação é promovida pela própria Secretaria de Educação que cria uma Escola com profissionais supervalorizados e outra com profissionais segregados. Para complicar ainda mais a desmoralização dos professores da rede pública, o atual Secretário de Educação Nilton Nunes, acrescentou ao ensino regular Professores Itinerantes que possuem a incumbência de ministrar aulas em caso de falta ou ausência dos professores efetivos. Esses professores recebem um salário quase idêntico aos dos professores efetivos, o que reforça a teoria de que a política do atual governo é muito paradoxal, contraditória. O Governo alega que não há dinheiro para reajuste salarial dos docentes, mas contrata servidores com um salário próximo aos dos servidores efetivos. Dá para acreditar? Vale salientar que não tenho nada contra os professores itinerantes, são profissionais como eu, porém minhas críticas são as políticas educacionais do atual governo.
            Os professores são fiscalizados por Técnicos (as) Educacionais, função criada no último concurso público (2008), se isso também não bastasse, os (as) referidos (as) funcionários (as) têm um salário quarenta por cento (40 %) acima dos professores efetivos! Os docentes que se aposentam após longínquas jornadas de trabalho se aposentam com salários inferiores aos dos (as) técnicos (as) educacionais (as) que são recentes no Estado, parece até brincadeira de mau gosto.
            Se os nossos problemas fossem apenas burocráticos e políticos seriam poucos aos que ainda enfrentamos no dia-a-dia escolar. Diariamente os professores são ofendidos por alunos (as) de todas as formas. Desde comentários como porque o senhor (a) veio hoje? Porque não ficou em casa? Lá vem aquele (a) chato (a), se as ofensas fossem apenas morais, ainda seria tênue, mais existem casos de ameaças e agressões físicas em todas as Escolas da Rede Pública Estadual. Nossas Escolas não possuem seguranças, nem tampouco vigilantes. Enfrentamos salas de aulas superlotadas, discentes desinteressados, descompromissados, indisciplinados, e em alguns casos sem perspectiva de vida. Isso não é uma regra geral, mas isso ocorre em todas as Escolas do nosso Estado. Uma das orientações e obrigações da própria Secretaria de Educação é que o número máximo de discentes por sala de aula são 40 para (Ensino Fundamental) e 45 (Ensino Médio), porém, estes números ficam apenas no papel. Tenho, por exemplo, salas de aula com 58 alunos!
            Para um professor que tem a função de professar ensinamentos a fim de se conceber algum saber fica muito difícil de trabalhar nestas condições. Além do mais, temos que lecionar 28 aulas por semana para completar nossa carga (que peso, hein) horária de 200 horas/aulas mensais, para se obter assim, um salário de menos de mil reais. Recebemos apenas seis (6) reais por hora/aula.
Não sou sociólogo, antropólogo, nem economista, mas não é preciso de graduação para se constatar que devido a esses dissabores, muitos docentes estão abandonando a sala de aula para obter meios mais amenos e menos desgastantes de sobrevivência ou então, continuar no exercício apenas cumprindo horário sem nenhum comprometimento pedagógico com seu ofício.
Portanto, enquanto houver políticos descomprometidos com a Educação Pública não apenas Estadual mais também brasileira estamos cada vez mais afundados na desvalorização, desmoralização e imbuídos a frustração profissional e pessoal.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

QUAL A UTILIDADE DA FILOSOFIA?


Não é fácil responder a esse questionamento. Para quem conhece, ou melhor, dizendo, pratica um pouco de filosofia deve saber que para a Filosofia não dá respostas concretas, definitivas, indissolúveis e inquestionáveis. Para solucionar esta indagação seria possível de antemão outra pergunta: o que é a utilidade?
            Promovi este debate mediante a posicionamentos e opiniões emitidas por muitos alunos do Ensino Médio que se perguntam com muita freqüência para que serve a filosofia? E muitos deles respondem: é uma disciplina chata; ninguém entende filosofia; é uma coisa de loucos (as); esses comentários são em decorrência do conceito de utilidade formulada pelos discentes. Útil é aquilo que tem uma finalidade prática; é aquilo que sabemos para que sirva. Ademais, para a maioria dos alunos do Ensino Médio a concepção de valor restringe-se a pergunta célebre: o que eu ganho com isso (filosofia)? Freqüentemente, os alunos só realizam as atividades do ano letivo mediante a seguinte pergunta: vale quantos pontos essa atividade? Ou vale nota? Porém, essas definições podem ser definidas como conceitos formulados pela sociedade capitalista, neoliberal e globalizada.

Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis. (CHAUÍ, 2000)

            Atualmente, as pessoas estão atribuindo valores a bens materiais em detrimento do espiritual, digo que, os indivíduos supervalorizam seus automóveis, motocicletas, celulares, casas, equipamentos eletrônicos e vestimentas de modo que a sabedoria, neste caso a espiritualidade, fica descartada. Para algumas pessoas é mais válido possuir riqueza do que saber o que é a sociedade; é mais importante ir ao Shopping Center do que conhecer de maneira sábia o que é o mundo? Quem somos nós? De onde viemos? Para muitos, esses questionamento são atitudes de pessoas loucas, diferentes, radicais ou comunistas!
            A filosofia quando surgia no século VI a. C., na Grécia antiga, tinha o propósito de desvelar questões antes e jamais imaginadas pelos indivíduos. A civilização grega naquele período era explicada pelos mitos, de modo que ninguém ousaria em questionar. Com o aparecimento dos primeiros filósofos novas indagações fluíram pondo dúvidas sobre as explicações mitológicas, nascendo assim a filosofia. A filosofia no cerne de seu nascimento era uma maneira nova de pensar a realidade, sobretudo, todos os fenômenos naturais e humanos a partir da razão, que naquele tempo era definida como lógica. Segundo Gianfranco Morra (2001) A lógica ensina as formas do raciocínio; a filosofia enquanto lógica ensina a bem raciocinar. Mas esta arte pode ser usada com fins benéficos ou maléficos.
            A concepção de utilidade da filosofia formulada pelos sofistas consistia no fornecimento de instrumentos persuasivos aos interessados em obter vitórias pessoais ou dos grupos nas assembléias. Lembrando que os ensinamentos dos sofistas aos iniciados ou alunos eram realizados mediante pagamentos de seus pais ou tutores. Esta definição de utilidade aplicada à filosofia não se encaixa na prática filosófica. Mas, porém ela persiste até os nossos dias. As pessoas pagam por aulas de auto-escola, judô, informática e diversos serviços, todavia, essa aplicabilidade está isenta de filosofia. Esta prática abusiva foi muito rebatida e combatida por muitos filósofos gregos:

Foi exatamente contra essa concepção utilitarista da filosofia que Sócrates e Platão reagiram. Eles não negam a utilidade lógica da filosofia, mas consideram que a filosofia é muito mais que um método de pensamento. Ela não é estudada com finalidade profissional, como quando se quer aprender um ofício, mas “por cultura, como convém a um homem livre”. (MORRA, 2001)

A filosofia de Sócrates era muito distinta daquela difundida pelos sofistas. Para Sócrates uma vida não examinada não valia à pena ser vivida, neste caso filosofia distingue-se bastante da concepção religiosa e mitológica de mundo, essa nova cosmologia formulada pelos primeiros filósofos definiu os novos pilares do saber racional. Pela primeira vez, temos informações através dos textos que nos foram legados de que a humanidade rompe ao saber religioso e mitológico priorizando um saber mais humano, refletido e acima de tudo racional, é o brotar da filosofia. Ainda Gianfranco Morra (2001) define que a filosofia mostra então sua utilidade enquanto é a capacidade especificamente humana de refletir sobre a vida.

“O homem – escreve Pascal – não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água bastam para matá-lo. Mas, ainda que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e conhece a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso. Toda a nossa dignidade, consiste, pois, no pensamento. [...]

Pela primeira vez, os gregos desenvolvem um método novo de iniciar investigações dos fenômenos naturais e humanos, isso torna a filosofia extremamente útil, visto que, ela desenvolve e constrói novos conceitos da realidade, embora nenhum desses conceitos seja definitivo ou indiscutível, mas ensina o homem a raciocinar e a sermos humanos. Àqueles que fazem da filosofia um saber prático destinado a algumas finalidades políticas, religiosas, econômicas e sociais estão cometendo o equívoco de atribuir uma utilidade específica a filosofia, neste caso filosofia deixa de útil para se tornar inútil.
            Muitos filósofos quando emitiram definições acerca da filosofia priorizaram que é um meio pelo qual se obtém a arte do bem-viver. Neste caso, filosofia torna-se um saber desinteressado do mundo seguindo critérios próprios de investigação que não podem ser comparados em hipótese alguma ao método científico desenvolvido e praticado pela ciência. As teorias sistematizadas pela ciência são concretizadas por realizações através da técnica, que cria um fim prático para sua utilização, isso não ocorre com a filosofia. Essa utilidade não se encaixa no perfil da prática filosófica.

Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não seriam os conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou ético. A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinarnos a virtude, que é o princípio do bem-viver. (CHAUÍ, 2000)

            A filósofa brasileira Marilena Chauí defende que a filosofia tem a finalidade de colocar a experiência cotidiana em questionamento, desenvolvendo uma reflexão filosófica sobre os acontecimentos mais corriqueiros que muitas vezes não indagamos, mas é preciso utilizar um método lógico de raciocínio evitando-se a formulação de opiniões como acho que e, priorizar afirmações do tipo eu penso que. Nesse sentido a filosofia se torna um instrumento de investigação crítico que consiste no exame minucioso das ações humanas. Em outras palavras nossas crenças e opiniões devem alcançar uma visão crítica de si mesmas.
            O filósofo de São Paulo, Paulo Ghiraldelli Jr., afirma com certa redundância que a filosofia é a desbanalização do banal, neste caso a filosofia é o saber crítico das práticas cotidianas que para a maioria dos humanos são comuns, inquestionáveis e normais demais para se contrariar ou mesmo examiná-las. Desse modo, a filosofia é muito útil para contemplarmos de maneira plausível a busca pela verdade, o que na verdade, falta a muitas pessoas.
            O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. Hegel dizia que a religião é para todos, mas a filosofia não. Neste caso, filosofia não é um saber soberbo, sublime, tampouco pujante, mas é uma maneira de encarar a realidade seguindo critérios rigorosos, racionais e, sobretudo reflexivos. Não discordo daquelas pessoas que ignoram a filosofia, mas vendo as ações humanas diariamente, fico muito preocupado com àqueles que ainda não conhecem a filosofia como deviam conhecer.
            Concluo, portanto, este texto com a reflexão de Marilena Chauí (2000) sobre a indagação da utilidade ou inutilidade da filosofia:

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.