quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Política para idiotas


Estão próximas as eleições municipais e junto com elas aparecem quem estavam sumidos, os políticos impudicos e incautos além de alguns eleitores idiotas. Nas cidades com menos de cinquenta mil habitantes a redundância, o mais do mesmo, o sempre aconteceu assim se repetem. Parece até que são as mesmas eleições. Entretanto, a mediocridade, insensatez, leviandade e outras coisas absurdas dominam o cenário e são agraciadas por alguns eleitores que não passam de idiotas sem ideologia política e compreensão de fato do que é política. Quando falo da palavra idiota não me refiro aos eleitores de modo geral, mas são aqueles cujo ato é resumido em três palavras: falta de inteligência. O filósofo Mário Sérgio Cortella escreveu em parceria com o filósofo Renato Janine Ribeiro um livro que devia ser lido por todos: Política para não ser idiota, diante do que li escrevo as reflexões que considero fundamentais logo a seguir.

A expressão Idiota deriva de idiótes, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política. [...] Vale lembrar que, para a própria sociedade grega – nossa mãe antiga, idosa, agora um pouco desprezada –, não haveria liberdade fora da política. Quer dizer, o idiota não é livre porque toma conta do próprio nariz, pois só é livre aquele que se envolve na vida pública, na vida coletiva. (CORTELLA; RIBEIRO, 2011. p. 07 – 09)

Julguei imprescindível essa conceituação de Cortella e Janine para se evitar distorções da palavra idiota conforme seu emprego atual. Então, como ficou claro nas entrelinhas da citação, o idiota é aquele que se ocupa apenas dos interesses privados, particulares e pessoais, mas vou além a me aventurar ao dizer que o idiota é também aquele ser cuja política é incompreensível. O conceito grego de política se resumia em todos participarem da vida pública da cidade, aqueles que desprezavam a participação ativa aos destinos da cidade eram considerados idiótes. Transpondo-se para a nossa realidade, o mundo contemporâneo vigente, e mais especificamente o cenário municipal vemos muitos idiotas. Vemos muitas, milhares de pessoas filiadas ao maior partido político da atualidade, o PIP. Como dizia o pai da Escritora Lya Luft, Partido do Interesse Próprio, o maior partido político brasileiro, não resta dúvidas. Quem é filiado ao PIP, segundo a definição grega e dos filósofos mencionados se enquadram no perfil de idiótes. Em nossa cidade conheço inúmeras pessoas que se preocupam exclusivamente e unicamente em si e em interesses privados de suas famílias. Mas alguém pode se defender dizendo que se trata de um determinismo social ou darwinismo social, em outras palavras, seria a luta pela sobrevivência. Elimino tais prerrogativas valendo-se dos princípios básicos da própria seleção natural, para sobreviver à competição imposta pelo ambiente é fundamental competência, obstinação, qualificação e não se entregar a corrupção e a submissão pessoal, econômica e social.
Não é preciso ir muito longe no tempo para resgatar as conquistas dos estudantes do final da década de 1980 onde os quais obtiveram grande feitos para a consolidação da democracia em nosso país. E, ao mesmo tempo é repugnante ver nos tempos atuais a metamorfose da democracia em interesses privados. A política nas cidades com dimensões pequenas é desprezível e sem vivacidade. Os idiotas estão em toda parte, conheço inúmeras pessoas que dizem não ver a hora disso tudo terminar, outros dizem que odeiam política, esses são sem a menor dúvida os idiótes. Isso explica por que a cidades não crescem e se desenvolvem, os cidadãos com perfil de idiotas, não estão nem aí para os destinos da cidade, desde que consigam o que comer, beber e onde morar!
Os interesses privados dominam o cenário local, pessoas vendem os seus mais honrados bens, o voto, trocam o voto por dinheiro, comida, bebidas, dentaduras, materiais de diversas naturezas, cargos públicos, remédios, viagens e por uma série de coisas que muitos conhecem. Outros votam num determinado candidato para garantir o emprego do cunhado, da irmã, do pai e de vários familiares, outros são impedidos de participar e exercerem o direito democrático, caso contrário, perdem seus empregos, é o exercício do coronelismo e do voto do cabresto em pleno século XXI. Os idiotas são também, é claro, aqueles políticos que gastam vultosas somas em dinheiro para serem eleitos, o que incorre em corrupção, mas que no Brasil, passa despercebido ou algum padrinho: deputado põe a mão e arquiva os processos de corrupção conhecidos pela cidade.
Os estudantes que foram cruciais para a consumação da democracia neste país perderam o rumo, ou será a cabeça? Os estudantes de outrora que foram decisivos para a mudança nos rumos deste país, atualmente são atraídos para as palestras pela festa, pelas bebidas alcoólicas, pela insanidade – no mais das vezes –, nem escutam as propostas dos políticos, apenas aguardam o desfile carnavalesco pelas ruas da cidade ao ritmo de muita música agressora e do álcool. E não param por ai, as redes sociais foram contaminadas pelos idiótes, que assumem os interesses subjetivos ferindo a democracia constituída ofendendo os oponentes – eleitores opostos com visões antagônicas que é um dos princípios da democracia – com mensagens ofensivas e altamente agressivas chamando os outros de ignorantes, brutos, derrotados e coisas do tipo, pura ignorância e falta de inteligência desses seres.
A soberania do idiótes, alcançou até mesmo pessoas ligadas à Educação, isso mesmo, da Educação, que tem realizado atos incoerentes aos princípios éticos e morais fundamentais, o respeito, a tolerância, a cidadania e a compreensão da diversidade inexiste em algumas pessoas deste setor, embora não todas, mas um grupo cujo lema resume-se a defender o cargo que ocupa, pois, existe o receio ou temerosidade de perderem o emprego caso o político não se perpetue no poder.
Outra característica indigna nas cidades pequenas é a rede de intrigas que se instala neste período. Vizinhos não se falam mais até o término da campanha política, amigos e amigas mudam seus comportamentos, tudo isso em nome da política local ou de sua ausência – obviamente –, colegas que trabalham no mesmo ambiente de trabalho falam-se menos e em alguns casos só se for mesmo necessário, gestores escolares tratam funcionários com posicionamentos políticos antagônicos com indiferença e para resumir, as pessoas deixam de lado amizades construídas por décadas em razão da prática do idiótes. Além disso, muitos mudam suas convicções filosóficas e ideológicas em nome da promessa de cargos de chefia (cargos de confiança) na crença vã de que estão fazendo pura política. Isso soa ou parece com o renascimento da Idade das Trevas, onde as pessoas não tinham liberdades de expressão e nem tampouco convicção política.
Para finalizar, considero também a existência de cidadãos dignos e prudentes no seio de nossa sociedade, pessoas compromissadas com o desempenho e melhorias do bem comum da maioria. Quando escrevi este texto isso não significa dizer que sou um ser perfeito, muito pelo contrário, tenho consciência de que sou incompleto, necessito aprender bastante para viver neste mundo, mas há de se convir de que enquanto existirem os idiótes na cidade e ainda perceber a sua ampliação e crescimento exponencial, a possibilidade de construção de uma sociedade cristalizada em princípios mais justos e humanitários, éticos e morais fica cada vez mais distante. Encerro essas reflexões com as palavras do filósofo francês André Comte-Sponville (2006) A filosofia não existe para descrever, mas para compreender.