Que é filosofia? Para que serve a
filosofia? Qual a importância da filosofia para minha vida? O que ganho
estudando filosofia? Todos estes questionamentos brotam das pessoas que tem o
primeiro contato com a “matéria”, “disciplina”, “ciência” ou qualquer outra
definição do componente curricular filosofia oferecido no ensino médio. O
ensino de filosofia é ofertado na Educação Básica apenas no ensino médio – na
maioria das escolas – na etapa final de uma longa jornada educativa de nossa
juventude. O ensino fundamental, como é notório, é a maior etapa educacional de
nossas vidas, mas o componente curricular filosofia é inexistente ou foi
removido do currículo escolar pelo Ministério da Educação ou Secretarias
estaduais de Educação. Na Rede Pública Estadual de Pernambuco, a título de
exemplo, o componente curricular filosofia inexiste no Ensino Fundamental e se
resume a apenas uma aula semanal nas três séries do Ensino Médio. Em resumo,
isso significa que o componente curricular é “irrelevante”, sem peso educativo
ou oferece um “risco” ou “perigo” as (aos) estudantes deste país como pensam
muitos (as) filósofos (as). Decerto o risco filosofia não é para a juventude,
mas a soma deste ensino pode resultar na promoção, formação e emancipação de
mentalidades das pessoas mais jovens em possibilitar formar seres, pessoas e
indivíduos com olhares, pensamento e ações de cunho crítico é de fato um
perigo, uma ameaça, mas não aos (as) jovens e sim, aos nossos representantes. Tornar
os seres pensantes neste país parece que é um imenso risco bem comum, basta
olhar o nível de prioridades nas políticas públicas deste país quando o assunto
é educação.
Quando leciono filosofia nas séries
iniciais do ensino médio repito com frequência a frase kantiana: “Ninguém
aprende filosofia, o que se aprende é a filosofar”! Os (as) estudantes ficam
atônitos (as) diante desta assertiva, como assim não aprenderemos filosofia? Na
medida que as aulas prosseguem a maioria percebe que a filosofia não é um saber
pronto, acabado, com definições estáveis, cristalizadas e indiscutíveis. Além
disso, filosofia não é algo que se refere unicamente a vida estudantil, a
carreira escolar. Qualquer ser pode filosofar, independentemente do nível
educacional, da questão socioeconômica, da formação cultural, da localização
geográfica, enfim, isso significa que o ato de filosofar é acessível a qualquer
ser, desde que este ser deseje se imiscuir com as benesses que a filosofia
promove.
Etimologicamente, a palavra
filosofia significa amor a sabedoria.
Amar a sabedoria, o conhecimento, a busca por respostas racionais, a
curiosidade por saberes e o rompimento com a obviedade aparente das respostas
imediatas e instantâneas. Neste caso, a filosofia não é uma ciência, pois as
ciências têm objetos específicos de investigação, por exemplo, o oftalmologista
estuda a visão, o veterinário cuida da “saúde” dos animais. A filosofia não tem
objeto específico, ela investiga as produções humanas, as concepções de mundo,
o que os humanos fazem, constroem, pensam e imaginam. Sócrates, filósofo
ateniense foi considerado o precursor dessa “nova” maneira de enxergar e perceber
as coisas que envolviam os seres humanos, a ele foi atribuída a seguinte frase:
“sábio é aquele que conhece os limites da sua própria ignorância”. Sabedoria
para Sócrates é ser humilde, simples e reconhecer que todo o conhecimento
acumulado em nossas vidas será insignificante, insatisfatório, limitado. A
filosofia está em todos os lugares, não há tempo específico para sua existência
– excetuando-se o seu aparecimento na Grécia antiga no século VI a. C. – ela
permanece viva, atuante e “incomodando” muitas pessoas até hoje. A filosofia
não possui vida própria, ela toma forma e se materializa a partir da
observância e discussão de assuntos cotidianos, banais e do dia a dia que
envolve as pessoas. Desde assuntos banais até complexos. Começa no plano
discursivo e dialético e consuma-se nas ações e atitudes comportamentais. Como
já foi exposto, a área de atuação da filosofia se resume as realizações
humanas, mas essas realizações são àquelas da banalidade. O propósito do
conhecimento filosófico – se é que existe – concentra-se em promover a
autonomia intelectual das pessoas, o desenvolvimento crítico nos seres, o
aprimoramento da capacidade de percepção da realidade. Em outras palavras, o
papel do conhecimento filosófico é induzir
as pessoas a separarem o real do ilusório, romper as correntes da ignorância
que muitos seres carregam sem perceber, indo mais distante, quebrando a
alienação que muitos humanos vivem imersos. Nestes termos, filosofar é dar
sentido à vida e existências, é dar prioridade a razão, a racionalidade, a
inteligibilidade e acima de tudo, ampliar as consciências e reflexões humanas.
Aprender a filosofar não é uma
tarefa fácil e que se alcança de forma rápida, espontânea e célere. O ato de
filosofar é fruto de uma prática exaustiva, rigorosa, laboriosa e que exige do
ser um processo de maturação lento e de longo prazo. Para filosofar exige-se
uma leitura de mundo mais eficiente, mas para lermos o mundo de modo mais
objetivo é vital tornar a leitura da palavra um hábito constante e recorrente,
assim como defendia Paulo Freire. Ler livros ou textos de autores clássicos e
de filósofos (as) aguça o saber, desperta a curiosidade, aumenta o senso
crítico, estimula e instiga a autonomia intelectual e racional do ser. Quando
um humano se imiscui com o conhecimento filosófico – em geral – sua postura
diante do mundo melhora, se torna um ser mais participativo, exigente e sai dos
modelos e padrões instituídos pela nossa sociedade. É uma prática comum nas
sociedades capitalistas tornar os seres humanos iguais, com hábitos em comum e,
dessa forma, facilitar o processo de alienação e de consumo dos produtos
capitalistas. Como seria menos danoso se o projeto capitalista se resumisse a
apenas isso, mas vai além, tentam até mesmo controlar suas mentes, seus
pensamentos e seus gostos através de vários aparatos, sobretudo, pela mídia,
meios de comunicação e redes sociais. Aprender a filosofar insta os seres a se
tornarem diferentes da massa padronizada, autênticos, genuínos e com vida
própria. Libertando das amarras dos vícios, dos prazeres, das ilusões, das
aparências e das ideologias dominantes que pairam sobre nós.
Aprender a filosofar é um estímulo
ao pensamento ordenado, organizado e sistemático, desenvolvendo a elucubração
de problemas cotidianos e complexos, induzindo e priorizando a emancipação
intelectual contra o comodismo, quietude e adormecimento das ideias. Quem não
filosofa neste mundo vive com a mente anestesiada, estagnada, inerte e sem “vida”
ou como em outros casos, a mente é um mero aparelho reprodutor de ideologias e
modismos empregados por interesses particulares. O ato de filosofar, como foi
exposto acima, é acessível a qualquer ser, mas para isso ocorrer o ser deve
desenvolver uma atitude de estranhamento com o banal e cotidiano, deixando de
enxergar a realidade como algo comum e imutável. Filosofar é, antes de tudo,
uma maximização do uso da consciência, é o agigantamento e melhorias da
capacidade intelectiva humana.
Para finalizar, aprender a filosofar é uma necessidade diante do mundo
que vivemos, cada vez mais hostil e difícil de se viver em razão dos seres
perderem as “rédeas” de suas próprias consciências e reflexões caindo nas
armadilhas “sedutoras” da ignorância, do orgulho, da intolerância e atos
indesejáveis em nossa sociedade. A capacidade humana de pensar e agir de modo
coerente e eficiente está perdendo espaço para a “soberania” do mundo virtual,
do domínio e necessidades cada vez maiores das tecnologias, dos dispositivos
eletrônicos assumindo tarefas que deviam ser nossas. A soma destes fatores gera
uma sociedade dependente, alienada e com poucos estímulos ao pensamento
racional. Resta-nos a alternativa de valorizar o ato de filosofar e tornar
hábito procurar respostas e não se contentar somente nas primeiras explicações
e elucidações que nos aparecem como salvadoras e redentoras. É preferível viver
inquieto (a) do que viver imerso num mundo de certezas! Encerro este fragmento
de consciência com a frase de Montesquieu: É
necessário estudar muito para saber um pouco.