quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Valores sociais: Escola Pública e Igreja


Todos os povos viventes do planeta Terra desde os períodos mais remotos da humanidade até os tempos atuais possuem diversos conjuntos de normas, leis, códigos éticos e morais, além de uma miríade de valores. Em geral, os valores são transmitidos pelos mais velhos aos seus descendentes e assim por diante numa corrente contínua. Existem muitos valores, como por exemplo, religiosos, econômicos, sociais, familiares, pessoais, materiais e etc. Os valores sociais representam a importância e representatividade que os seres humanos atribuem aos objetos, pessoas e diversas coisas. Todavia, os juízos de valores são os atos ou julgamentos emitidos e estabelecidos pelos seres humanos aos mesmos objetos e pessoas. Por exemplo, para algumas pessoas seu carro é mais valioso do que muitos seres humanos. Seu dinheiro é mais valioso do que as desigualdades sociais e fome existente. Em algumas culturas, a cruz é um símbolo sagrado importante de uma religião, noutras é apenas um adorno. Desse modo, pretendo através deste breve texto, analisar como atualmente os jovens atribuem seus juízos de valores no âmbito das Instituições Sociais – sobretudo, na Escola Pública – e nas instituições religiosas, as Igrejas cristãs.
                As Escolas Públicas, em geral, possuem instalações bem localizadas nos centros urbanos ou em suas proximidades, assim também como as Igrejas, porém, os prédios onde se realizam as aulas semanais são comumente e constantemente depredadas e pichadas várias vezes ao ano. Carteiras escolares, janelas, portas, fechaduras, lousas, bebedouros e lâmpadas são destruídos sem razão alguma pelos seus próprios usuários. Só este ano na Escola Estadual Corsina Braga, foram destruídas mais de cento e cinquentas lâmpadas fluorescentes. Pelo contrário, as Igrejas, em geral, são preservadas em sua integridade, sofrendo ocasionalmente um ato de vandalismo.
                Os estudantes, com frequência, chegam atrasados nos horários de aulas, às vezes entram apenas na segunda aula do dia, isso, por exemplo, virou um fato corriqueiro. Muitas vezes, não percebem a chegada, nem tampouco a presença do professor no recinto. O docente quando aparece na Escola e se encaminha para seu local de trabalho percebe que muitos discentes meneiam suas cabeças em sinal de desdém, desprezo e desrespeito. Outros dizem frases como: por que o senhor (a) veio? Por que não ficou em casa? Esse (a) professor (a) nunca falta ou adoece. Além de outras opiniões mais ofensivas.  Alguns alunos (as) no decorrer das aulas viram de costas, leem jornais, revistas de cosméticos, são desatenciosos, além de tudo isso, não trazem os livros didáticos e justificam que não trouxeram os livros didáticos porque são muito pesados. Estes mesmos discentes faltam bastante as aulas do ano letivo. Aparentemente, sentem desprezo pela Escola Pública. Nas Igrejas, por exemplo, os fiéis, em geral, chegam com antecedência, ocupam seus lugares sentados, e caso não haja espaço, ficam de pé. Quando o Sacerdote ou Pastor entra, todos ficam de pé em ato de reverência e apreço. Ademais, geralmente, os fiéis trazem seus livretos litúrgicos ou mesmo o seu livro sagrado, a Bíblia.
                Um (a) professor (a) em sala de aula, frequentemente, é interrompido (a) pela falácia, zombaria, mau comportamento, toques de celulares e o desinteresse dos discentes. Mesmo que o docente utilize diversos recursos tecnológicos e outras ferramentas pedagógicas para dinamizar e estimular o aprendizado e também o interesse do alunado sofre várias consequências negativas. Os discentes, por exemplos, ficam inquietos, consultam diversas vezes o relógio para verificar quanto tempo de aula ainda resta. Até parece que estão sendo torturados psicologicamente. Nas Igrejas, pelo contrário, o silêncio repousa, a voz do vigário ressoa tranquilamente e é captada pelas aurículas dos fiéis. Os Sacerdotes ou Pastores podem até negar ao uso de microfone que são ouvidos em todo templo. É incomum ouvir conversas paralelas, fiéis de costas, pessoas lendo jornais, revistas, celulares tocando ou quaisquer ruídos nas Igrejas. A Missa ou Culto pode durar duas horas que os fiéis não reclamam, estão em sintonia com o que está acontecendo. Apesar de que as Missas Católicas possuem o mesmo formato de hoje, há pelo menos, mil anos! Ninguém reclama da redundância.
                Nas Escolas existem vários regimentos, um deles, exige o fardamento escolar, cujo objetivo é fornecer segurança aos próprios estudantes, pois, protege a entrada de pessoas estranhas à Escola. Muitos alunos não respeitam tal exigência. Adentram nas salas de aula com sandálias, shorts, saias curtas, blusas regatas, decotadas, e em alguns casos, com as costas descobertas. Nas Igrejas, existem normas para as vestimentas e são obedecidas. Os fiéis respeitam com obediência as exigências, usam calças compridas, saias longas, blusas moderadas e alguns homens recolhem até mesmo seus chapéus. A maioria dos fiéis usam as suas melhores roupas para assistirem as cerimônias religiosas, as chamadas roupas de domingo.
                Se porventura, um (a) professor (a) faltar às aulas, os discentes ficam em euforia, comemoram entre si a ausência dos mestres. Se um docente enviar um substituto, os alunos se recusam a assistir as aulas. Todos saem da escola numa felicidade interminável. São poucos os discentes que procuram se informar junto à Direção da Escola o motivo da ausência docente. Nas Igrejas, pelo contrário, se um Padre ou Pastor faltar à cerimônia religiosa os fiéis ficam extremamente preocupados, procuram informações plausíveis sobre a causa do não comparecimento dos homens de Deus. Caso um sacerdote precise se ausentar e não puder realizar a celebração religiosa, um substituto é delegado, os fiéis jamais reclamam!
                Ao término do ano letivo, se algum discente for reprovado os pais comparecem a Escola – em alguns casos – pela primeira vez no ano letivo, para cobrar dos docentes explicações do insucesso escolar do seu filho. Em geral, a culpa do fracasso escolar é responsabilidade do Professor (a). Nos últimos anos, os docentes sofrem comumente o buillyng, em outras palavras, agressões físicas e morais de discentes e de seus pais ou responsáveis. São efeitos da atual valorização social da Escola Pública. Do outro lado, geralmente, é muito raro ouvir-se queixas de desvios de condutas pelos sacerdotes e pastores – excetuando-se a pedofilia, é claro – mas, se algum membro de uma determinada família passa mal ou sofrem de diversos problemas, as pessoas são orientadas e aconselhadas a frequentar ainda mais as missas e cultos. Os Padres e Pastores são multiusos, podem solucionar muitos problemas sociais e familiares na concepção destas pessoas.
                Alunos (as) que concluíram o Ensino Médio – antigo segundo grau – em geral, quando reencontram seus predecessores mestres, não os reconhecem, não falam nem mesmo com eles ou desviam de itinerário. O reconhecimento do trabalho docente e seu legado na formação intelectual do jovem, muitas vezes, não são explicitados. Noutros casos, fazem até sinais religiosos como proteção. As pessoas, comumente, quando reencontram um padre ou pastor prestam homenagens, apertam-se as mãos, cumprimentam-se de diversas formas e ficam muitos felizes pelo reencontro.
                Este pequenino texto não pretende ofuscar e deturpar os valores religiosos, nem tampouco, pedir que os fiéis deixem de acreditar em suas crenças religiosas, mais estabelecer uma tênue avaliação dos juízos de valores sociais que hodiernamente são consumados pela maioria das pessoas. As Escolas formam e preparam as mentes dos jovens para os desafios que serão enfrentados nas suas vidas, ensinando-se valores éticos e morais não apenas aos jovens, mas também a toda comunidade escolar. Nas Escolas repassam-se milhares de temas imprescindíveis aos problemas cotidianos da humanidade. A Escola é flexível, muda-se constantemente o teor das aulas e ensinamentos, coisa que não acontece nas Igrejas. O que é inaceitável é o descrédito pelo qual a Escola Pública e seus verdadeiros FIÉIS representantes atravessam e enfrentam, sua desvalorização social é ingente e, pelo que percebi, está em ascensão. É preciso um resgate histórico do seu verdadeiro valor social, a Escola é o segundo local no qual as pessoas são preparadas – o primeiro é a família –, nela as pessoas entram com muitas dúvidas, quando saem possuem muitas respostas em mãos. As verdades que antes eram inquestionáveis, indubitáveis fora da Escola, quando entram nos recintos escolares são quebradas e rompidas pelos martelos fornecidos pelo método escolar e científico, a sabedoria.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Papa que não é pop

Esta semana o Papa Bento XVI proferiu um discurso repudiando os países que institucionalizaram através de Leis a descriminalização do aborto. O Papa pediu ainda aos fiéis católicos que votem com acuidade e esmero em candidatos – do Brasil – que são a favor do aborto. Com tais palavras, o Papa Bento conscientemente ou não, favoreceu ao Candidato José Serra, pois a Candidata Dilma Rousseff foi alvo de várias calúnias e difamações sobre a sua posição religiosa e, sobretudo, na questão do aborto.
            O conservadorismo da Igreja Católica atravessa séculos, a mesma Instituição religiosa que acenou para a realização das cruzadas, interditou o casamento de seus sacerdotes, condena o casamento entre pessoas do mesmo sexo, vedou qualquer exposição teórica de que a terra era redonda e defendia com veemência o geocentrismo, promoveu inúmeras sentenças de morte e tortura sobre a efígie da Inquisição, assentiu na conquista da América aos povos infiéis – índios – permitindo a execução dos mesmos em caso de resistência à verdadeira religião, esconde do público que os Papas quando falecidos são mumificados – mumificação é um rito fúnebre egípcio e pagão – ocultou e selou sob uma lápide os inúmeros casos de pedofilia de seus principais representantes em todo o planeta. Como se isso não bastasse, a Igreja ainda é contrária aos meios anticoncepcionais que evitam em muitos casos a gravidez indesejada e a defesa contra variadas doenças sexualmente transmissível.
            A meu ver, a Igreja Católica está bastante ressentida com a laicidade do Estado. Por mais de um milênio a Igreja deteve o primeiro lugar da humanidade como a instituição religiosa e também política de maior importância dentre todas. Controlava as decisões políticas e espirituais de milhões de pessoas. Era a regência do governo teocrático. Com o advento do renascimento, iluminismo e a formação dos Estados Nacionais a Igreja Católica percebeu que seu poder político estava se esvaindo. O Estado se tornou laico, houve a ruptura entre Estado e Igreja, política e religião. Isso quer dizer que nenhuma nação ou país deve – doravante – possuir credo religioso oficial, pois a premissa básica do Estado é a de que as pessoas devem possuir liberdade de expressão, crença, política, ideológica, econômica e social. Com este rompimento o Estado fortaleceu-se devido à descrença no conservadorismo como modelo ideal a ser seguido. Novas descobertas científicas só foram possíveis graças à separação entre Estado e Igreja. O conservadorismo é uma prisão, as pessoas demasiadas conservadoras são intolerantes, despóticas e dogmáticas. O Discurso do Papa Bento XVI soa semelhante. O conservadorismo fecha as portas da liberdade subjetiva. A mesma Igreja que se diz dialógica possui seu poder espiritual e político hodierno através do derramamento de muito sangue. A Igreja Católica deseja recuperar e manter o poder religioso e ideológico sobre as pessoas. Digo que Ela é intolerante pela ausência de humildade em reconhecer que as pessoas são livres para agir e pensar propriamente. A Igreja Católica está inquieta, o Islamismo já se tornou a maior religião monoteísta do planeta, isso deve incomodar bastante a Roma. Vamos aos fatos.
            Entre os séculos XI e XIII ocorreram às guerras que posteriormente foram denominadas de Cruzadas. Consistiam em guerras entre as duas maiores religiões da época – Cristianismo e Islamismo – muitas pessoas morreram em nome da religião católica que desejava retomar o controle político da cidade santa, Jerusalém. Essa era a ideia difundida entre os camponeses, artesãos, comerciantes e guerreiros, mais na verdade, o objetivo central da guerra era a obtenção de mais terras (naquele período o que mais possuía valor eram as terras), controle de rotas comerciais e etc. A igreja disseminou uma ideologia falsa entre os fiéis para que os mesmos aderissem e apoiassem à campanha militar, sobretudo, incutindo na mente das pessoas a inverdade de que os muçulmanos eram hereges. Milhares de pessoas morreram em nome da Igreja Católica a partir de palavras intencionais proferidas pelos seus representantes.
            Muitos teólogos discutem-se sobre se a interdição dos sacerdotes ao matrimônio foi benéfica ou não para o cristianismo. O Celibato foi instituído pela primeira vez no século XII, neste caso, ficou assim instituído que os padres não podiam se casar. A Igreja defende que os sacerdotes devem casar-se apenas com Deus, dedicando-se exclusivamente a religião cristã. Mas Segundo Léo Huberman (1986):

Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a Igreja adquiria mais e mais terras. Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários. (Grifo meu)

            A razão da proibição dos casamentos aos seus sacerdotes era meramente econômica. A Igreja não deseja perder parte de suas terras, em outras palavras, parte de sua fortuna. Devemos ressaltar que, ainda segundo Huberman, a Igreja detinha de 20 a 30% das terras férteis da Europa naquele período. Perder suas terras significava perder poder. Vale salientar que na Idade Média a acumulação das riquezas eram medidas através da quantidade de terras. Outra postura intolerante do Papa é sobre o homossexualismo e sua eventual regularização através da união conjugal. Em alguns países a união entre pessoas do mesmo sexo é permitida, como por exemplo, na Argentina. Talvez o Papa não saiba, mas o homossexualismo é mais antigo do que a própria Igreja Católica. Existem cenas em pinturas rupestres espalhadas em abrigos sob rocha de todo o planeta reproduzindo cópulas sexuais entre parceiros do mesmo sexo há pelo menos 12 mil anos atrás. O discurso da Igreja Católica é repleto de contradições, enquanto Ela condena e repudia os homossexuais e lésbicas como posturas inadequadas e impróprias à sociedade, seus sacerdotes, em muitos casos, cometeram os mesmos delitos velados a sua função. Ela concomitantemente condena a homossexualidade e oculta casos de pedofilia cometidos por seus humildes representantes, os sacerdotes. Que contradição.
            Ainda na Idade Média, a Igreja Católica conferia a si própria como a única fonte do saber autêntico e verdadeiro. Filósofos, curandeiros, teóricos e intelectuais da época foram perseguidos, aprisionados, julgados e condenados à tortura ou morte. Qual foi o crime? Procurar a verdade sobre os fatos! Dizer, por exemplo, que a Terra era redonda e que o sol era o centro do universo eram crimes gravíssimos. Crimes passíveis de pena de morte. Galileu Galilei, Menocchio, Giordano Bruno entre outros, são apenas exemplos dessas pessoas que tiveram que negar o resultado de suas pesquisas, caso contrário, seriam executados em praça pública. Alguns negaram suas pesquisas como um meio de resistência a intolerância da Igreja na perspectiva de preservarem suas próprias vidas, outros, contudo, mantiveram sua ética e moral acima de tudo, e mesmo assim foram condenados a fogueira. Era a Inquisição fazendo suas vítimas. Tudo isso em nome da religião cristã.
            A conquista da América foi outro episódio cruento. No período da Descoberta do novo continente os colonizadores se depararam com povos estranhos, que praticavam hábitos incomuns aos seus olhares. Quando a Igreja soube da descoberta mandaram emissários (Jesuítas) para catequizar aquelas pessoas, pois, segundo a Igreja, aqueles povos não possuíam alma, nem tampouco religião, foram chamados de infiéis. O processo de encontro entre as culturas do Velho e Novo Mundo foi muito sangrento, muitos povos indígenas foram impelidos a seguir a religião cristã à força, caso contrário, seriam punidos e torturados diante de todos (as). O interesse da Igreja Católica era conseguir mais fiéis para sua religião a qualquer custa, contudo, não temos dados plausíveis sobre o número de vítimas, mais temos uma projeção:

O século XVI veria perpetrar-se o maior genocídio da história da humanidade. [...] A expansão do cristianismo é muito mais importante para Colombo do que o ouro, e ele se explicou sobre isso, principalmente numa carta destinada ao papa. [...] Sem entrar em detalhes, e para dar somente uma ideia global (apesar de não nos sentirmos totalmente no direito de arredondar os números em se tratando de vidas humanas), lembraremos que em 1500 a população do globo deve ser da ordem de 400 milhões, dos quais 80 habitam as Américas. Em meados do século XVI, desses 80 milhões, restam 10. Ou, se nos restringirmos ao México: às vésperas da conquista, sua população é de aproximadamente 25 milhões; em 1600, é de 1 milhão. (TODOROV, 1999: p. 06, 11, 158. Grifo meu)
           
            Se as estimativas de Tzvetan Todorov estiverem corretas, foram exterminados mais ou menos 70 milhões de vidas no Novo Mundo. Vale salientar que nem todos foram exterminados, alguns índios foram vítimas das doenças alijadas pelos colonizadores e também pelos trabalhos forçados (escravismo) nos minérios. Mesmo assim, um genocídio maior do que o número de vítimas da Segunda Guerra mundial. Tal genocídio ocorreu aqui na América apoiado pela Igreja Católica e desencadeado pelas coroas portuguesa e espanhola.
            Segundo a Revista Americana National Geografic, os Papas quando falecidos são submetidos à mumificação. Isso é muito contraditório para a Igreja. Mumificação é um rito fúnebre característico dos egípcios – embora pesquisas recentes de arqueólogos comprovam que as múmias mais antigas até então descobertas foram aos dos Chinchorros, povo que habitava o deserto do Atacama –, mas os egípcios não eram pagãos segundo a própria Igreja? Ainda segundo a National Geografic, os Papas após a cerimônia religiosa são velados e depositados em ataúdes de mármore e colocados no subsolo da Basílica de São Pedro. Muitos católicos não sabem disso.
            Talvez o maior abalo sofrido ultimamente pela Igreja Católica tenha sido as sucessivas acusações de pedofilia cometidas por seus sacerdotes. Recentemente, a mídia impressa e audiovisual divulgou milhares de casos envolvendo padres que abusaram sexualmente de crianças em vários países do planeta. Aqui no Nordeste, o caso de maior repercussão foi o do Monsenhor de Arapiraca que foi filmado realizando relações sexuais com adolescentes que eram seus sacristãos. Decerto, se o casamento fosse permitido entre os sacerdotes esses casos hediondos de pedofilia, quiçá, não ocorressem.
            A maior polêmica de todas refere-se ao aborto. O Papa Bento XVI em nome da Igreja defende a proibição do aborto em qualquer hipótese, mesmo em casos de incesto – quando um pai abusa sexualmente da filha – e estupro. Para a Igreja, quem cometer o aborto, médicos, parteiras, farmacêuticos e a mãe devem ser excomungados da religião cristã. O tema inegavelmente é muito polêmico, mas é anterior em milênios a própria Igreja Católica. Antropólogos, historiadores e arqueólogos já comprovaram que a prática do aborto é remotíssima. Ocorre há milhares de anos. No período pleistocênico que é o período compreendido entre o alvorecer da humanidade até 12 mil anos atrás, os humanos praticavam o aborto. É preciso enfatizar que a interdição de vida não era um ato malévolo, mas um meio de garantir a sobrevivência do grupo. Supõe-se que as mulheres da pré-história concebiam em média de quatro a cinco filhos, mas esse ciclo ocorria mediante a geração de um filho a cada quatro anos. Isso era necessário por questões de sobrevivência e manutenção da própria espécie. Por exemplo, caso uma mulher tivesse um filho com pouco mais de um ano e por uma eventualidade engravidasse novamente, fazia-se o aborto para promover a sobrevivência do primeiro filho (a). Casos semelhantes a estes foram observados na etnia Yanomami da Amazônia. O antropólogo americano Chagnon estudando os hábitos dos Yanomami presenciou o parto de uma mulher, mas em seguida a própria mãe matou o recém-nascido. Interrogada sobre o motivo do infanticídio de sua criança ela lhe respondeu que não desejava tirar o leite do filho mais velho. Esse ato não é de crueldade, mas uma forma de sobrevivência ao grupo. Os gregos também praticavam o aborto, sobretudo, em Esparta onde as crianças recém-nascidas com defeitos físicos ou mentais eram abandonadas na floresta ou jogadas de um penhasco. A prática do aborto é remotíssima, antecede em milênios a própria Igreja Católica. Obviamente, no mundo de hoje, criou-se a pecha em atribuir o aborto como um crime terrível. Não pretendo justificar o aborto como uma prática admissível, mas estou apenas analisando historicamente a sua prática na humanidade! Segundo matéria recente do Jornal O Globo, estima-se que a cada dois dias uma mulher morre vítima de um aborto clandestino. A Igreja está condenando a admissão do aborto em casos de risco de morte da mãe e em casos de estupro. É preferível o aborto nos hospitais nestas situações do que a realização de abortos na clandestinidade onde existe maior risco de morte para as mães.
            O Papa Bento XVI não é pop por esses motivos, ele e sua Igreja defendem com veemência valores e tradições que, a meu ver, estão em milênios ultrapassados, ficaram para trás. Padecem do olhar etnológico, antropológico, sociológico e histórico das culturas espalhadas pelo nosso planeta. Não existe apenas a religião cristã no mundo, inclusive, o cristianismo é um amálgama (mistura) de paganismo, judaísmo e helenismo (gregos) assim como a maioria das culturas existentes. Não há em todo o planeta uma única cultura puritana. A Igreja católica é muito conservadora nesse sentido, emitem posicionamentos sem fundamentos éticos, morais e científicos sobre os fatos, incorrendo, muitas vezes, num discurso dogmático, intolerante, despótico e ultrapassado. A Igreja desconhece outros conhecimentos que não os religiosos, são irredutíveis com a ciência que deu mais contribuições significativas à humanidade do que a própria Igreja. O Papa e seu séquito deseja que as pessoas não possuam racionalidades próprias, quer comandar até mesmo o pensamento e a mente das pessoas, como se apenas a religião fosse a única e inquestionável verdade. O Filósofo Francês André Comte-Sponville defende que “a ignorância restringe a liberdade das pessoas, mas só o conhecimento é capaz de libertar as pessoas”. O discurso do Papa Bento XVI é repleto de incertezas, incoerências, desconhecimento histórico e acima de tudo ultraconservador. Nietzsche dizia que a moral é o medo. Há milênios é isso que a Igreja Católica tem pregado a seus fiéis, o medo.