terça-feira, 4 de maio de 2010

Avatar e a realidade




O filme Avatar entrou para a história do cinema como o filme mais assistido do planeta. Para o cinema foi um sucesso de bilheterias em todo o mundo, contudo, o que há de extraordinário neste filme produzido e dirigido por James Cameron? O mesmo Diretor de Titanic se superou nesta superprodução, mais o que impressionou a todos os povos do planeta neste filme? Será que os multivariados efeitos especiais foram suficientes para captar a atenção dos cinéfilos de todos os países? Foi o elenco? Será que foi a história ou romance bem elaborada e documentada do filme o seu macro sucesso? 



Segundo o dicionário Aurélio, avatar significa, transformação, transfiguração, desse modo, entende-se que James Cameron utilizou-se de crenças indígenas, sobretudo, mitologias de alguns povos indígenas da Amazônia para compor o enredo de seu filme. O mundo mágico e simbólico de algumas etnias indígenas é permeado por ritos e cerimônias que envolvem a transfiguração ou encarnação de seres mortos e divindades no corpo dos xamãs. Isso acontece com a ingestão de algumas plantas alucinógenas, no Nordeste, por exemplo, alguns povos indígenas entram em transe após o consumo da jurema. No filme a transfiguração ocorria por meio da tecnologia de ponta.

Na verdade, não há nada de extraordinário, pujante, fabuloso naquele filme que merecesse uma audiência e atenção de milhões de pessoas em todo o globo. A humanidade se deixa impressionar por coisas que são sensacionalizadas pela mídia sem direito a defesa, no filme não foi diferente. Quem faz apologias a filmes de faroeste americano deve ter percebido a analogia dos filmes sobre o velho oeste americano e Avatar. Quem assistiu a filmes de faroeste, decerto sempre ficava de lado dos mocinhos (cowboys) que atiravam sem pensar naqueles autóctones selvagens e brutos. O cinema norte-americano tem esse poder manipulador de dominar a mente e ideologia das pessoas, no caso do faroeste, os índios estavam apenas se defendendo e realizando uma contenda em proteção de suas terras. No caso de Avatar foi um pouco parecido, só que numa época bem tardia e noutro planeta. O cenário do filme reproduz diversas práticas sociais bem comuns na contemporaneidade: capitalismo, imperialismo, colonialismo, globalização, etnocentrismo, além da soberba supremacia política, econômica, militar e tecnológica norte-americana. O filme retrata a colonização de um novo planeta, chamado no filme de Pandora, a mesma prática que os Estados Unidos fizeram com os Mexicanos ao imporem uma condição intransigente de anexação dos Estados do Novo México e Texas, ademais, porque existem tantas ONG’s americanas instaladas na Floresta Amazônica? Seria uma política preservacionista da maior floresta do mundo? Ledo engano quem pensa dessa maneira. Os EUA são os maiores poluidores do planeta, são os soberanos na emissão de gazes nocivos a camada de ozônio e aceleradores do efeito estufa. Dessa maneira, qual a finalidade da NASA? É apenas um laboratório de pesquisas científicas que pretendem ampliar os seus conhecimentos sobre o nosso sistema solar? Ou, quem sabe, seria a consolidação do filme Avatar, visto que o planeta Terra na atual condição está fadado à destruição pela própria espécie humana, sobretudo, pelo consumismo incontrolável produzido pelo capitalismo.

O filme de James mostra uma política capitalista e imperialista por parte do Governo americano, os interesses são monetários numa reserva de um mineral muito precioso e mais valorizado do que os diamantes terráqueos. Isso é capitalismo. As destruições aceleradas das reservas naturais para atendimento das enormes demandas das indústrias e dos grandes empresários geram este esgotamento dos recursos naturais (matérias-primas) cuja utilidade é fabricar mais bens de consumos para abastecer o grande mercado consumidor dos grandes centros urbanos. A extração dos recursos naturais, sobretudo, a coleta de minério é semelhante no continente africano, quem assistiu ao filme Diamante de sangue viu a realidade do filme Avatar aqui no planeta Terra. Vários países africanos estão em guerra civil atualmente devido à extração de diamantes naquele continente, gerando fome, mortalidade infantil, doenças contagiosas, como a AIDS, e a morte de milhares de pessoas em nome da extração de diamantes.


O capitalismo é destruidor, avassalador, antropofágico, não respeita a cultura de outros povos, pelo contrário, destrói gerações de povos em nome da lucratividade, como no caso do filme, no Brasil temos o nosso próprio Avatar made in situ, é o caso polêmico de Belo Monte, no Pará. O que muitos capitalistas não se preocupam é que os povos de organizações sociais mais simples, primárias, como os indígenas, por exemplo, não dependem necessariamente de uma moeda para sobrevivência, muito menos de bolsa de valores, pelo contrário, o que rege a vida dessas pessoas (lembrando que também são seres humanos) é a bolsa natural, a mãe natureza. Para muitos índios, principalmente aqueles que ainda não foram influenciados pelo poder tentador do capitalismo, dinheiro não tem valor, para eles, o que importa é preservar a natureza, é esse ecossistema que lhes provém de recursos para sua própria sustentabilidade, carros, TV’s, motocicletas, jóias, isso não significa nada, o que vale realmente nesse sistema social é você respeitar a comunidade, se preocupar com o bem-estar do próximo, com a segurança de todos, não na individualidade como ocorre no filme e na vida real da maioria de todos os seres humanos que foram influenciados pelo sistema capitalista. Os índios não possuem espelhos, eles não precisam, do que vale os espelhos? Servem para embelezamento, vaidade, para os povos indígenas não servem para nada, quem se olha no espelho procura um embelezamento padrão e aceitável em toda a sociedade, mais uma prática capitalista, diga-se, para os índios sua identidade é construída pela coletividade. A identidade indígena é com a Terra e não com bens materiais. A concupiscência para os índios não serve para nada, nosso exemplo brasileiro reproduz essa prática, Belo Monte, é uma Terra que tem significado para aqueles povos indígenas, por isso que é difícil o entendimento pelos grandes empresários e multinacionais, para um adepto do capitalismo, qualquer lugar, recanto que lhe ofereça conforto e prazer é aprazível, para os índios sua identidade foi construída ao longo de gerações e suas características são fixadas a Terra, não ao dinheiro. Muitos povos indígenas são mais felizes do que moradores de Nova York, Tóquio ou São Paulo, eles não foram vítimas da falsa ilusão que é vendida pelo capitalismo. Possuir bens móveis e imóveis não é sinônimo de felicidade e sucesso profissional, pelo contrário, causa dependência, que mais tarde, segundo Frei Betto vai gerar depressão e frustração. E aqueles que não conseguem romper esta virtualidade promovida pelo capitalismo, decerto, vão procurar um analista.

No filme Avatar, pelo menos isso foi mostrado de maneira realista, o modo de vida de povos indígenas que quando ameaçados por seres extraterrestres, unem-se e juntam suas forças com várias etnias para se defender do invasor de suas terras. A grande recorrência é que o inimigo é o mesmo dos filmes de faroeste, o temível e destruidor povo norte-americano. 

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