quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ensino Público, ontem e hoje - Considerações


Dias atrás ouvi com bastante atenção a uma enquete formulada pelo Programa de Hiram Carvalho, da Rádio Jornal de Caruaru, que trazia a seguinte discussão: O ensino público da atualidade é melhor ou pior que o ensino do passado? Os ouvintes que participaram da discussão foram unânimes: o ensino do passado era bem superior! Enquanto Educador e Professor de História há pelo menos sete anos, tenho a mesma impressão e sinto-me convocado a dar a minha contribuição para tal debate. O ensino público de décadas atrás era mais eficiente, sem sombra de dúvida, apesar de vivermos a Era da informação, mas vale ressaltar que informação não é conhecimento! Quando eu estudava no Ensino Fundamental (1º grau), por exemplo, era exigida uma disciplina rígida, frequência e um maior rigor nos estudos, coisa que – parece-me – foi esquecida ou consumada nos tempos atuais. No meu entender, a postura política de nossos governantes nas últimas décadas foi a maior responsável pelo quadro atual, assim também como novas concepções pedagógicas que insistem em oferecer milhares de oportunidades aos discentes. A média do ano letivo em questão (quando estudante) era sete (7,0), além disso, para ficar em recuperação final era necessário o acúmulo de 18 pontos anuais, neste caso, quem no ano letivo não obtivesse os 18 pontos não teria direito de realizar a recuperação, estaria reprovado (a). Essa prática se estendia também para o Ensino Médio (na época 2º Grau). Quem era aluno tinha – necessariamente – um comprometimento maior com sua educação, estimulando seu bom senso e aguçando a sua responsabilidade para passar no ano letivo, até por que, quem era reprovado (a), pelo menos na minha época, na minha cidade e conforme nossos valores era considerada uma pessoa fracassada, que levou pau, a família ficava arrasada e frustrada com o desempenho de seu filho. Nesta época áurea, os pais ou responsáveis tinham um papel fundamental na Educação de seus filhos. Porém, passaram-se os anos e a escola goza atualmente de muita flexibilidade e regalias cujo estímulo é a acomodação, desinteresse e facilitação de aprovação do ano escolar. Vamos analisar a Escola Pública de Pernambuco.
            Desde 1996, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB), mudou-se radicalmente os parâmetros educacionais no Brasil. O aluno (educando) passaria a gozar de uma série de fatores (Direitos) cujo objetivo, era melhorar o desempenho na relação de ensino e aprendizagem, contudo, apareceram, doravante a oportunidade de o educando ter o privilégio de passar de ano mesmo sendo reprovado (a) em até duas disciplinas, foi a instauração da Progressão Parcial. Todas as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais deveriam ser norteadas a partir destes parâmetros. Em Pernambuco, por exemplo, o discente passou a gozar de uma série de benefícios cuja implementação favoreceu práticas de desânimo, acomodação e desestímulo as práticas educativas. Obviamente que a intenção da LDB era fortalecer a qualidade do Ensino em nosso país, todavia, o que se observou foi o inverso, falo neste caso, de nossa realidade em Pernambuco. A média no nosso Estado foi reduzida para seis (6,0), doravante cada discente deve possuir ao longo do ano letivo 24 pontos para sua aprovação. Porém, em Pernambuco, com 22,5 (pontos e meio) o aluno deve ser aprovado, pois, sua média foi 5,6 o que a SEDUC (Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco) orienta aos docentes que arredondem as notas para seis (6,0). Se esta fosse à única medida ou reforma no Estado seria admissível, mas, atualmente o discente goza de várias oportunidades ao longo do ano letivo. Na década de 80 e 90 era necessário o acúmulo de um determinado número de pontos para o aluno ter a oportunidade de realizar a recuperação e esta recuperação era única, chamada na época de Recuperação Final, atualmente, o discente tem o Direito de fazer uma recuperação bimestral, neste caso, em cada bimestre (vale ressaltar que são quatro), sendo assim, a cada bimestre, nós professores temos o Dever de oferecer uma recuperação em cada atividade avaliativa ou avaliação que realizamos por bimestre. Quanta oportunidade nossos alunos gozam! Não sou autossuficiente a ponto de negar que todos têm Direito a novas chances ou oportunidades, contudo, a minha filosofia me permite enxergar a realidade de maneira bem diferente: na sociedade brasileira atual as exigências são maiores e não vejo estas mesmas oportunidades em Concursos Públicos, Vestibulares, ENEM e em qualquer processo seletivo. Ainda não conheço um Vestibular ou qualquer outro processo seletivo que ofereça novas oportunidades àqueles que foram desclassificados! Nas sociedades hodiernas não basta ser apenas bom, você tem que ser ótimo ou muito bem qualificado na sua área de atuação para assumir uma oportunidade de emprego ou ser exitoso numa seleção de qualquer Universidade Pública ou de outra natureza.
            O que incomoda a categoria docente – nos últimos anos – não é meramente a realização de todas essas oportunidades aos discentes, mas a compreensão de que houve um efeito colateral nessas medidas adotadas pela SEDUC/PE, a qual estimulou a maioria dos nossos educandos a ficarem demasiadamente desinteressados, acomodados e com um desprezo enorme pelo ensino público. Hoje em dia quando realizamos qualquer atividade avaliativa como um fórum, seminário, debate, aplicação de questões houve-se aos montes as gloriosas e redundantes frases: Professor (a), quando é a recuperação? Vai ter reensino? e etc. Quem contestar tal realidade faça uma entrevista ou pesquisa com qualquer discente e docente que os mesmos decerto vão ratificar incontestemente a veracidade dessas afirmações.
            Ademais, há um problema ainda maior e danoso na vivência escolar: a maioria dos educandos adotam praticas ineficientes de estudo. Muitos discentes não dispõem de método de pesquisa salutares a consumação do conhecimento. Por exemplo, não leem com frequência nem revistas, jornais, livros ou textos de qualquer natureza, quando fazem pesquisas insistem em memorizar e decorar os temas pesquisados, apesar da orientação de vários professores em como se efetuar uma pesquisa científica, não fazem as tarefas extraclasses, não respeitam os calendários de atividades avaliativas e provas, não pesquisam cotidianamente e a mais agravante de todas: só realizam seus estudos na véspera ou no dia dos exames (atividades, testes ou avaliações). Em geral, os estudantes só estudam mediante pressões dos docentes – apesar dessa cobrança ser rotineira, frequente e constante, percebemos também uma falta de acompanhamento dos pais ou responsáveis por estes adolescentes. Na verdade, é uma série de fatores que tem favorecido para a grande queda no ensino público nas últimas décadas em nosso Estado. Parece-me que a situação dos demais Estados do Brasil não é diferente.
            A qualidade do Ensino Público caiu bastante nas últimas décadas – isso é inegável – e fico feliz que a população está percebendo essa situação e começa a se mobilizar para reivindicar de seus governantes ações urgentes cuja prática proporcione uma grande Reforma na Educação Pública, não apenas em Pernambuco, mas em todo o Brasil.
            Mas, ainda estou bastante pessimista – me perdoem a franqueza –, enquanto um Profissional de Educação, com curso superior, continuar recebendo a metade de um salário de um policial Militar que porta apenas o Ensino Médio, talvez essa reforma política benéfica ao Ensino Público Estadual esteja bastante longínqua.

4 comentários:

  1. Gostei de sua observação!Deixando minha opinião:
    O que o Estado quer é alfabetizar mais pessoas, mesmo que sacrifique a qualidade - se é que tem - do ensino. Por outro lado nossa sociedade muda tão rápido que exige que as "coisas" sejam instantâneas, e a educação não fica de fora. E depois o que acontece? O que estamos passando agora: apagão de mão de obra, Pernambuco é um ótimo exemplo, o Complexo de Suape só tem gente de fora! Ah, mas o que vale é formar e contabilizar, eles que ralem e corra atrás!
    Por último, já estamos deixando a era da informação, estamos na era do conhecimento ou na Terceira Onda (Alvin Toffler). Um bom exemplo de país que vive a Terceira Onda é EUA onde 2/3 da população trabalha com conhecimento. Outros países surfam nas três!

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  2. Obrigado pela participação na discussão.
    Contudo, concordo com sua opinião concernente a prática de estabelecer uma educação para saber contar e falar o mínimo possível. Contudo, discordo quanto a era da do conhecimento como você mencionou, apesar de se valer de exemplo e outra sociedade que não a nossa (a americana), Francis Bacon dizia "Saber é poder" e nós brasileiros ainda estamos muito atrás de outros países, isso é inegável, somos uma das sociedade onde menos se ler no mundo, média de 3,5 livros por ano. Que absurdo, né?

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  3. Um coméntário de fato muito interessante, pois o mesmo mostra o ensino e sua realidade, concordo plenamente na parte que diz(o discente goza de várias oportunidades ao longo do ano letivo.)Porque será que eles se acomoda tanto?, a unica resposta é que sabem que tem chances e que vão passar sem precisar se esforçar isso é um absurdo; é certo uma aluno que não vai a escola fazer uma prova e no final do ano passar?lógico que não! e o prendizado onde está nesse aluno na nota que ele atingiu pra passar, isso é totalmente errado vivemos em um mundo moderno onde a maior arma é conhecimento e conhecimento gera conhecimento!, somos aprendizes;e como dizia Aristóteles:É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

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