segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Ética e moral



           Ética e moral são os valores mais desejados para a consolidação de uma vida plena, harmoniosa e feliz. Em outras palavras, a convivência humana para ser prazerosa e pacífica as pessoas necessitam guiar-se – desejavelmente e impreterivelmente – por esses valores nobres. Mas afinal, o que são valores? O que é ética e moral? Ética e moral são a mesma coisa? Por que as pessoas – em nosso país – desprezam tanto os valores éticos e morais? Essas e outras questões serão analisadas neste texto do ponto de vista histórico e filosófico. Vale salientar que essa temática não é simples e de fácil compreensão devido as mudanças que os valores éticos e morais assumem no decorrer do tempo histórico.

            O que são valores? Segundo as filósofas Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins é “O que deve ser objeto de referência ou de escolha” [...] “é o que vale” [...] “Ser desejável ou desejado”. Conforme exposto, os valores devem ser motivo de referência para as nossas vidas, pois os valores são transmitidos pela família, sociedade, comunidade, etnia, país e cultura na qual estamos inseridos. Os valores são legados pelas gerações pretéritas e servem de modelos para nos comportamos – principalmente – da melhor maneira possível em nossa sociedade. Os valores variam de cultura para cultura e também no tempo e espaço geográfico. Isso significa que não existem valores inamovíveis, invariáveis, cristalizados, em geral, são transformados pelo tempo histórico. Em resumo, podemos arriscar em dizer que os valores são aquilo que conferimos enorme importância. Alguns exemplos de valores: justiça, honestidade, respeito, caráter, alteridade, empatia e etc. Ética e moral são valores e como muitos filósofos destacam: são valores nobres.

           O nosso país é categorizado como de terceiro mundo e em desenvolvimento, apesar de estarmos entre as dez maiores economias do mundo, temos inúmeros problemas de ordem social e econômica. Uma das maiores fragilidades da população brasileira – sem sombra de dúvida – é o desrespeito, desprezo e desdém pelos valores éticos e morais. Sociedades mais avançadas como os países de primeiro mundo e desenvolvidos como Japão, Coréia do Sul, França, Inglaterra, Alemanha e EUA não possuem índices elevados de desigualdade social e econômica como os nossos. O reflexo desse crescimento econômico produz efeitos e alcança a sociedade sob a forma de educação de qualidade, IDH desejável, infraestrutura satisfatória e ausência ou índices baixíssimos de desigualdade social. A soma desses e outros fatores culmina na construção de uma sociedade mais ética. Estudos demonstram que os valores éticos e morais são mais elevados em sociedades com boas estruturas sociais e econômicas. Além da predominância da ética como parâmetro para a convivência humana, as pessoas desses países respeitam mais as legislações e normas estabelecidas pelos governos, famílias, comunidades e qualquer outra organização social. Mas, o que é a moral?

            A moral consiste nos costumes de um determinado grupo humano. Quando nascemos vamos aos poucos nos familiarizando e adequando-se com a moral de nossa comunidade. A moral é também definida como as regras de conduta, legislações, princípios norteadores e parâmetros estabelecidos pelo grupo. Vale destacar que a moral é externa ao indivíduo, em geral, não cabe ao indivíduo definir o que pode e não pode, mas a coletividade é quem determina as exigências a serem seguidas pelo ser. Podemos inferir que os reais objetivos da moral consistem em ordenar e organizar a vida em sociedade. Façamos agora as seguintes reflexões: imaginem se as pessoas quisessem fazer o que bem entendessem em suas vidas? Como seria a vida em uma sociedade sem a manutenção de regras? A resposta seria: um caos, uma desordem. Podemos traduzir a moral como um princípio para reger de forma harmoniosa a sociedade ou controlar a vida social como os regimes totalitários e despóticos revelados pela História. Alguns exemplos de moral: horários, semáforos, fardamentos, legislações, sistema penitenciário, preços, filas, placas indicativas, lixeiros, enfim, a moral está instituída em vários segmentos da sociedade. A moral está presente na família, em escolas, no trabalho, nas religiões, no trânsito, nos esportes, no campo, na zona urbana e em qualquer forma de organização social. Segundo o filósofo Clóvis de Barros Filho “As nossas sociedades são cada vez mais carentes de moral e necessitadas de repressão”. Isso ocorre em grande medida, pela omissão das pessoas em respeitar suas legislações. Como exemplo contundente, recentemente em nosso país algumas multas de trânsito foram elevadas monetariamente em razão dos altos índices de pessoas alcoolizadas conduzindo veículos e motocicletas de forma indevida. Essas e outras medidas, muitas vezes, são necessárias como tentativa de coibir os abusos de algumas pessoas. Mas, o que é ética?

            A palavra ética deriva do grego Ethos e significa morada, residência. Consiste também em costumes e, sobretudo, condução da vida. A ética se resume em tornar a convivência humana ainda melhor. Conforme exposto acima, sociedades com altos índices de desenvolvimento econômico, em geral, as atitudes éticas são mais presentes, perceptíveis e sentidas no cotidiano. A qualidade de vida – nestes lugares – é superior em razão de comportamentos mais éticos por parte de sua população. A ética, em alguns centros universitários, já é ensinada como ciência ou componente curricular de grande peso, isso só reforça e corrobora sua relevância social. A ética, podemos arriscar em dizer, é maior que a moral, pois a mesma faz críticas aos princípios morais estabelecendo uma análise sobre os parâmetros normativos de algumas sociedades. A atitude ética transubstancia-se de fato no agir eticamente, comportar-se apoiado (a) nas decisões mais justas e sábias possíveis, sem causar danos ou prejuízos as pessoas e a sociedade. Ser ético significa, antes de tudo, pensar no coletivo, no social, na manutenção plena de uma sociedade cada vez mais justa e reta. Três palavras são indissociáveis da ética: caráter, idoneidade e índole. Essas palavras significam agir com justiça, com prudência, com temperança e, na menor das hipóteses, pensar não apenas em si, mas na humanidade como um conjunto. Nossos pais, quando ainda somos jovens, com frequência nos repetem alguns discursos e um deles se resume em valores éticos: tenha vergonha na cara! Vergonha na cara significa, ter ética, fazer uma reflexão com muita profundidade sobre algumas de nossas faltas, erros e atitudes reprováveis e, quando passamos por essa ilação, estamos de fato, usando a ética como referência. Portanto, a ética é uma atitude, ação ou comportamento que deve partir de nosso interior, de dentro de nós, a partir de nossa consciência para agir com decência, aliás, decência significa também, agir eticamente. Ser ético (a), significa, antes de tudo, respeitar as outras pessoas – independentemente das suas diferenças –, ter empatia pelo próximo, ser altruísta em suas ações e comportar-se permeado pela alteridade. Portanto, ética se resume num modelo de conduta aceitável e desejado por todos.

Vimos ainda pouco que a moral consiste no cumprimento das exigências estabelecidas pelas sociedades. Por exemplo, jogar lixo na lixeira, a lixeira é a moral, nossa atitude consciente de jogar o lixo apenas na lixeira – independentemente de existir uma por perto – é uma manifestação da ética. Para guiar automóvel e motocicleta é necessário possuir habilitação (moral), ter consciência e refletir sobre não conduzir veículos automotores é uma atitude ética. Não fumar é uma instrução normativa, decidir se fumo ou não diante de pessoas não fumantes é um julgamento ético. A moral se reflete nas regras e, sobretudo, no cumprimento destas exigências, a ética se manifesta sob a forma de conscientização do agir. A moral é exterior, por ser definida pela sociedade; a ética é interior, deve partir de nossa consciência de justo e injusto, certo e errado, devo ou não devo, posso ou não posso, enfim, consiste na pura ação norteada pela prudência e pelas boas maneiras que aprendemos com as pessoas cautas.

Os termos ética e moral podem ser semelhantes, mas assumem posturas diferentes nas sociedades. Cada um age conforme suas peculiaridades, seus atributos e inerências. Em resumo, ética e moral são formas distintas de comportar-se socialmente e não resta a menor dúvida que são de extrema importância para a construção de sociedades mais fortes, pacíficas e com índices elevados de qualidade de vida. Para a existência de sociedades mais éticas é necessário o respeito a moral e ao comportamento – de fato – ético. Apenas assim podemos nos aproximar da definição de humanidade. Humanidade significa agir humanamente e, ser humano, consiste em agir racionalmente e prudentemente diante do coletivo, só assim atingiremos o ápice de uma convivência profícua e digna de seres humanos, seres que pensam.



REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. 3ª edição – São Paulo: Editora Moderna, 2005.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. 2ª edição – São Paulo: Editora Moderna, 2013.

FILHO, Clóvis de Barros. Educação, moral e ética. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=U2sdHjPKcKQ

Acesso em 06/11/2017.

8 comentários:

  1. É correto afirmar que desde o nosso nascimento, estamos em um processo evolutivo para nos tornarmos seres éticos e morais, sem deixar os valores de lado? Pense bem, nascemos e vivemos com certos costumes que posteriormente irão vir de nossos parentes; nossa família. Nesses costumes, temos algum objeto (ou algo) que deve ser a nossa referência para o reconhecimento dentro da própria família (algo sentimental, passado de geração em geração). E para mantermos isso seguro, devemos conduzi-lo da melhor maneira possível, incluindo a convivência humana mais agradável para diminuir os riscos de um possível acidente envolvendo o objeto e alguma pessoa, para que futuramente possamos passar esse mesmo objeto para algum descendente. Então, a ética e moral estão lado a lado nesse caso? Com um significado maior por conta dos valores estarem mantidos nessa mesma situação.

    Grato, belíssimo texto!

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    1. Ética e moral são valores, e muito nobres, diga-se. Porém, não podemos afirmar que são evolutivos, pois, algumas pessoas se tornarão éticas enquanto a enorme maioria caminha para o inverso. A aquisição dos valores éticos e morais depende muito da vontade do ser. Ética e moral são valores indissociáveis, um depende do outro, podemos dizer que são harmônicos. Vale salientar que as atitudes éticas se dão, na maioria das vezes, pelo exemplo, por atitudes respeitáveis e louváveis que são realizadas no cotidiano. A ética não depende de alguém olhando os nossos atos, ela atua prontamente vinda de nossas próprias ações, sem querer fazer nenhuma média com a sociedade. As atitudes éticas e morais não precisam de holofotes.

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    2. Belíssima e grandiosa resposta, obrigado por atender minha dúvida e por sempre aumentar o meu conhecimento, grato!

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  2. Boa noite. Para suscitar...
    Que caminhos e projetos adotar para conscientizar melhor nossos jovens acerca da ética e da moral? Numa cidade pequena como a nossa, como melhor formar cidadãos frente às demandas ecológicas, por exemplo?Visto que vemos tantos ambientes sujos ( escolas, ruas, pracas, Rio, terrenos...).

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    1. Li num texto do filósofo André Comte-Sponville que a maior virtude é aprendida através do exemplo. Os caminhos mais retos que podem ser utilizados pelas pessoas mais jovens deve iniciar-se a partir das famílias. As famílias possuem um papel decisivo na construção de seres éticos e morais. Fomos vítimas de uma "formação" que quando cometíamos alguma falta a moral vinha sob a forma de algo doloroso. A geração Z que lidamos no cotidiano precisa ler mais, ter exemplos de atos desejáveis, corretos e justos com maior intensidade. Vivemos num mundo que quando uma pessoa acha uma carteira no chão e devolve a pessoa, essa notícia sai na mídia. Portanto, envolve todo um processo social que deve iniciar no seio da família. Ficou faltando no meu texto um destaque à natureza, preservar a natureza, jogar o lixo no devido lugar, não desmatar demasiadamente, são todas questões éticas. Acredito que cidades limpas são consequências de uma boa educação familiar e escolar. Os países de primeiro mundo como o Japão, os estudantes possuem lixeiros próprios sob suas carteiras escolares. Começa na família e se estende na escola. Portanto, penso que o ato de sujar ruas, florestas e rios está muito relacionado com a poluição que algumas pessoas têm em suas mentes.

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  3. Ou seja o texto fala em educar ou melhor humanizar o ser humano, que ao passar dos tempos pré-hitoricos parece que a evolução do ser que pensa parou de evoluir, ocorrendo uma grande necessidade de aprendizagem voltada dos princípios éticos e morais,onde temos direitos como também deveres e acima de tudo o respeito,que nos alcança através da educação familiar e escolar com qualidade.

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    1. Aparentemente paramos de evoluir intelectualmente, olhando sob a perspectiva de que com a inteligência alcançada pelos humanos, deveríamos ter uma qualidade de vida bem melhor. Mas o mundo capitalista, ou melhor, as pessoas capitalistas estão cada vez mais pensando unicamente em suas existências, embora isso possa significa a destruição de uma floresta, a poluição de um rio e prejuízos enormes para uma sociedade. As questões éticas e morais devem ser mais debatidas, pois os valores humanos caíram em desuso em consequência da supremacia das tecnologias. A soma desses e outros fatores alcança a educação familiar e escolar, que na minha concepção, está bastante fragilizada.

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  4. O seu texto ficou mesmo não falando em questões ambientais. Ele é abrangente e sua resposta enfatiza algo que talvez seja a principal causa dos problemas éticos desta nova geração: a falta de exemplos. Sua lembrança do destaque midiático dado a quem é honesto é a face de uma sociedade caótica em valores, como a honestidade. Muito boa discussão. Obrigado.

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