sábado, 12 de fevereiro de 2011

Como surgiram os nomes dos meses do ano?

Nosso calendário é regido por deuses, imperadores e números romanos


Antes de Roma ser fundada, as colinas de Alba eram ocupadas por tribos latinas, que dividiam o ano em períodos nomeados de acordo com seus deuses. Os romanos adaptaram essa estrutura. De acordo com alguns pensadores, como Plutarco (45-125), no princípio dessa civilização o ano tinha dez meses e começava por Martius (atual março). Os outros dois teriam sido acrescentados por Numa Pompílio, o segundo rei de Roma, que governou por volta de 700 a.C.

Os romanos não davam nome apenas para os meses, mas também para alguns dias especiais. O primeiro de cada mês se chamava Calendae e significava "dia de pagar as contas" - daí a origem da palavra calendário, "livro de contas". Idus marcava o meio do mês, e Nonae correspondia ao nono dia antes de Idus. E essa era apenas uma das diversas confusões da folhinha romana.

Até Júlio César (100 a.C.-46 a.C.) reformar o calendário local, os meses eram lunares (sincronizados com o movimento da lua, como hoje acontece em países muçulmanos), mas as festas em homenagem aos deuses permaneciam designadas pelas estações. O descompasso, de dez dias por ano, fazia com que, em todos os triênios, um décimo terceiro mês, o Intercalaris, tivesse que ser enxertado.

Com a ajuda de matemáticos do Egito emprestados por Cleópatra, Júlio César acabou com a bagunça ao estabelecer o seguinte calendário solar: Januarius, Februarius, Martius, Aprilis, Maius, Junius, Quinctilis, Sextilis, September, October, November e December. Quase igual ao nosso, com as diferenças de que Quinctilis e Sextilis deram origem ao meses de julho e agosto. Quando e como isso aconteceu, você descobre lendo o quadro abaixo.

Folhinha milenar
Divisão do ano é basicamente a mesma há 20 séculos

Janeiro


Januarius era uma homenagem ao deus Jano, o senhor dos solstícios, encarregado de iniciar o inverno e o verão. Seu nome vem daí: ianitor quer dizer porteiro, aquele que comanda as portas dos ciclos de tempo.

Fevereiro

O nome se referia a um rito de purificação, que em latim se chamava februa. Logo, Februarius era o mês de realizar essa cerimônia. Nesse período, os romanos faziam oferendas e sacrifícios de animais aos deuses do panteão, para que a primavera vindoura trouxesse bonança.

Por que 28 dias?

Até 27 a.C., fevereiro tinha 29 dias. Quando o Senado criou o mês de agosto para homenagear Augusto, surgiu um problema: julho, o mês de Júlio César, tinha 31 dias, e o do imperador, só 30. Então o Senado tirou mais um dia de fevereiro.

Março

Dedicado a Marte, o deus da guerra. A homenagem, porém, tinha outra motivação, bem menos beligerante. Como Marte também regia a geração da vida, Martius era o mês da semeadura nos campos.

Abril

Pode ter surgido para celebrar a deusa do amor, Vênus. Na primeiro dia do mês, as mulheres dançavam com coroas de flores. Outra hipótese é a de que Aprilis tenha se originado de aperio, "abrir" em latim. Seria a época do desabrochar da primavera.

Maio

Homenagem a Maia, uma das deusas da primavera. Seu filho era o deus Mercúrio, pai da medicina e das ciências ocultas. Por esse motivo, segundo escreveu Ovídio na obra Fastos, Maius era chamado de "o mês do conhecimento".

Junho

Faz alusão a Juno, a esposa de Júpiter. Se havia uma entidade poderosa no panteão romano, era ela, a guardiã do casamento e do bem-estar de todas as mulheres.

Julho

Chamava-se Quinctilis e era simplesmente o nome do quinto mês do antigo calendário romano. Até que, em 44 a.C. o Senado romano mudou o nome para Julius, em homenagem a Júlio César.

Agosto

Antes era Sextilis, "o sexto mês". De acordo com o historiador Suetônio, o nome Augustus foi adotado em 27 a.C., em homenagem ao primeiro imperador romano, César Augusto (63 a.C.-14 d.C.).

Setembro a dezembro

Para os últimos quatro meses do ano, a explicação é simples: setembro vem de Septem, que em latim significa "sete". Era, portanto, o sétimo mês do calendário antigo. A mesma lógica se repete até o fim do ano. Outubro veio de October (oitavo mês, de octo), novembro de November (nono mês, de novem, e data do Ludi Plebeii, um festival em homenagem a Júpiter) e dezembro de December (décimo mês, de decem).

E o ano bissexto?
Dia extra a cada quatro anos corrige distorção

Ao adotar o calendário solar, em 44 a.C., Júlio César criou o
ano de 365 dias e um quarto. Por causa dessa diferença, a cada quatro anos era necessário atualizar as horas acumuladas com um dia extra. O problema do calendário juliano é que, na verdade, um ano tem 11 minutos e 14 segundos a menos do que se estimava. Por isso, em 1582, o papa Gregório XIII (1502-1585) anulou dez dias do calendário e determinou que, dos anos terminados em 00, só seriam bissextos os divisíveis por 400. E o nome "bissexto" tem uma explicação curiosa: em Roma, celebrava-se o dia extra no sexto dia de março, que era contado duas vezes.

Fonte: Revista Aventuras na História
http://historia.abril.com.br/cotidiano/como-surgiram-nomes-meses-ano-493925.shtml

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Artefato mais antigo do mundo é exposto

Estatueta de mamute de 35 mil anos produzida por Neandertais está ao alcance do público em museu na Alemanha.
Artefato de mamute supostamente confeccionado pelos neandertais.

Mettman, uma pacata cidade de menos de 40 mil habitantes, na região da Renânia do Norte, na Alemanha, ganhou fama mundial quando ali foram encontrados os vestígios do homem de Neandertal – nome, aliás, da formação rochosa do local. Agora, o Museu Neandertal da pequena Mettman traz outra relíquia do mundo pré-histórico: uma escultura de um mamute 35 mil anos de idade. Acredita-se ser a mais antiga obra de arte do mundo.

O pequeno artefato, feito de marfim, foi descoberto na caverna de Vogelherdhöhle, na região de Baden-Württemberg. A peça está atualmente em exibição no museu como parte de uma exposição sobre mamutes, em cartaz até maio. A mostra, dedicada aos animais da Era do Gelo, reúne dois bebês mamutes que foram mumificados em geleiras eternas, assim como dois esqueletos completos e uma família dos animais, reconstituída em tamanho natural.

Fonte: Site da Revista História Viva
http://www2.uol.com.br/historiaviva/noticias/artefato_mais_antigo_do_mundo_em_exposicao.html

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Consumir para existir


Final de ano as coisas sempre se repetem. As tradições permanecem inalteradas. As famílias brasileiras, por exemplo, buscam prazeres supérfluos mediante a compra de inúmeros presentes que teoricamente oferecerão felicidade aos seus entes queridos. O período natalino juntamente com o réveillon são as datas mais esperadas e comemoradas pela maioria dos habitantes do nosso planeta e também pelo comércio e indústria, todavia, muitas pessoas não percebem os interesses obscuros, latentes e gananciosos de várias empresas capitalistas que estendem seu poderio manipulador de mentes e costumes através dos meios de comunicação. Nestas datas o comércio fica em júbilo mediante o apetite de milhares de consumidores eufóricos de todas as idades, em busca de comprar e gastar bastante dinheiro, cujo objetivo é auferir uma maior autoestima pessoal, familiar e profissional. Trabalhadores assalariados, funcionários públicos, bancários, todas as classes sociais buscam saciar sua sede sagaz por presentes nestas datas efêmeras. Tais pessoas acreditam que o simples fato de presentear os amigos, familiares e cônjuges irá satisfazer e valorizar ainda mais as relações pessoais e profissionais. Isso é um equívoco induzido pelo sistema capitalista. 

O capitalismo alimenta o espírito das pessoas através de ilusões e falsas sensações de prazer e felicidade que supostamente podem ser obtidas por meio da aquisição de inúmeros bens materiais. As coisas, objetos, presentes (bens de consumo) tornam-se instrumentos indispensáveis para a consolidação da felicidade dos seres humanos. Pode-se inferir que o paradigma de felicidade só pode ser obtido mediante a compra de vários bens materiais, essa é a ideologia defendida pelos capitalistas. Essa falsa sensação de bem-estar disseminada pelo capitalismo esconde interesses pecuniários de seus idealizadores. Como o sistema capitalista consegue tal proeza de induzir os seres humanos a consumir bens de consumo sem uma reflexão?  Através de sua maior força, a mídia. Os meios de comunicação conseguem transmitir os valores capitalistas sob a forma de milhares de propagandas diárias e repetitivas que invadem as mentes humanas tornando os seres humanos em meros reprodutores e consumidores de produtos e bens de consumo. O modelo de felicidade impelido pelo capitalismo consiste na ideia de quantos mais bens materiais você puder dispor mais feliz será, noutras palavras, se no seu natal não houver Peru Sadia... 

Frei Betto escreveu algo parecido:

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é  o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é  que, em geral, não se chega!

                No mês de dezembro o 13º salário praticamente não é destinado a causas mais salutares ao assalariado, em geral, o bônus salarial fica disperso pelo comércio mais próximo a sua residência. Quem possui sapatos tem a necessidade de comprar mais modelos, pois a tendência – moda – determina e impõe que você deve trocar os calçados, sua geladeira não lhe serve mais, pois, o ideal são aquelas nas quais tira-se água diretamente da porta, o fogão de quatro bocas deve ser substituído por um de seis, caso já exista o de seis, deve-se trocar por um de inox, seu celular que antes era de um chip está ultrapassado, a tecnologia proporcionou o de dois chips e, agora não serve mais, pois já existe o com três chips! Os computadores devem ser trocados com bastante frequência, visto que os ideais são os portadores do processador i3 da Intel. Seu automóvel ficou velho, vamos comprar um novo, pois o vizinho é mais feliz, tem em sua garagem um carro mais novo que o seu. Só neste ano, a título de exemplo, apesar das iniciativas e favorecimento do governo na redução do IPI, foram vendidos 3,5 milhões de automóveis, quase a metade da população do Uruguai. Natal e réveillon as pessoas devem passar de roupas novas, caso contrário, o ano vindouro pode-se tornar um péssimo agouro. Além de tudo isso, para se ter um excelente final de ano é preciso o consumo de muita bebida alcoólica, caso contrário, a festa não será animada e proveitosa.

                Em geral, o que há em comum a todos os comportamentos acima mencionados sobre diversas posturas dos seres humanos? O ato de não pensar no que fazem sem pensar! Karl Marx, em 1844 já alertava: “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós”. Os bens materiais que hodiernamente são consumidos em todo o mundo ganharam status de seres vivos, pois o valor simbólico atribuído a diversos objetos como celulares, computadores, carros, casas, roupas, calçados e etc., possuem mais valores que os demais seres humanos. Façam um teste pessoal, na sensação de prazer e bem-estar quando se entra num supermercado, shopping Center ou qualquer loja física ou virtual para consumir ou até mesmo contemplar os nossos desejos e sonhos de consumo. É uma sensação de devaneio, idílica, nos sentimos, comumente, extasiados e felizes momentaneamente. Contudo, quando saímos de tais recintos, constatamos que a felicidade se esvaiu. É essa a ilusão que o capitalismo apetece nos seres humanos. Somos destinados a consumir para uma existência humana mais prazerosa e requintada. A maioria dos seres humanos são acarretados pelos sentimentos de frustração e impotência, quando não possuem a capacidade econômica e social de consumir os bens materiais tão desejados. As pessoas, atualmente, estão adoecendo com mais frequência, estresse, depressão e a síndrome do comprador compulsivo são as patologias psicológicas mais fomentados pelo capitalismo, cujo sistema propõe que sua felicidade está ao lado das coisas, dos bens materiais, caso contrário, é um impotente. Por isso, as pessoas entram na criminalidade, jamais houve na história da humanidade tantos índices de violência e furtos ocasionados de morte, o latrocínio. O que é mais importante é uma carteira repleta de dinheiro ou um celular do que a vida do portador! É mais interessante ser rico do que possuir inteligência. 
Hoje, não importa o seu nível de conhecimentos, de ler com frequência, de priorizar a busca pelo desconhecido, o que é mais importante é a quantidade de bens materiais que se dispõe. Para confirmar tais assertivas, vamos pensar no ocorre, em geral, com as pessoas: quando você sai para alguma festa ou evento, a primeira preocupação que se tem é como sair vestido, com quais roupas e sapatos, isso só ocorre pelo receio da reação das demais pessoas ao lhe verem vestido. O atendimento dispensado a uma pessoa que chega de automóvel a qualquer evento é diferente do que chega de ônibus ou após uma longa caminhada. Vejam as reações dos vendedores das lojas quando entramos para consumir, estampam sorrisos, caso não compremos nada, os vendedores mudam de humor instantaneamente. Tudo isso são a teias do capitalismo.
                Um fato é inegável, apesar dos diversos desejos de feliz ano novo que com frequência ouvimos, em geral, as pessoas entram no mês de janeiro sempre endividadas. As despesas realizadas no período natalino sempre chegam ao mês seguinte com a exigência de pagamento. Caso não sejam saldadas, vem os transtornos com os serviços de proteção ao crédito.
                O que desejo mostrar é o nível social e econômico criado a partir de interesses meramente pecuniários das grandes empresas multinacionais que tornam os valores éticos e morais extintos enquanto enaltecem que o modelo ideal de cidadão é aquele no qual podemos comprar, gastar e consumir com bastante ânsia, caso não estejamos nesse patamar, somos impelidos pelo mesmo sistema a habitar cada vez mais os espaços marginais da sociedade, a periferia econômica e social.
               

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Jô Soares entrevista o Arqueólogo e Teólogo Rodrigo Pereira

No último dia 30 de novembro, Jô Soares entrevistou o Teólogo e Arqueólogo da USP, Rodrigo Pereira da Silva. Rodrigo no decorrer da entrevista revelou suas descobertas realizadas em sítios arqueológicos na região da Palestina encontrando diversos instrumentos, objetos e artefatos  da antiguidade oriental, inclusive alguns são supostamente relacionados ao período de Cristo. Além disso, Rodrigo mencionou como viviam os povos daquela região descrevendo parte de sua cultura e seus vários hábitos cotidianos.
Confiram a entrevísta na íntegra abaixo e tirem suas conclusões:


Parte um

  
Parte dois

 
Parte 03

domingo, 5 de dezembro de 2010

Valores éticos na Escola Pública


Próximo ao final do ano letivo, nós professores, comumente percebemos mudanças comportamentais e de condutas por parte de alguns estudantes. As salas de aulas voltam a ter um número admissível de alunos, a atenção e concentração retornam, os horários escolares voltam a serem cumpridos e tolerados, os docentes ficam mais belos e recebem considerações de estimas e apreço excessivas. O que promove na juventude essas mudanças vertiginosas de seus padrões de condutas? (Cf. texto Valores Sociais: Escola Pública e Igreja)
Imagens do filme: A Corrente do Bem.
                Para entendermos as alterações comportamentais de vários discentes é necessário fazermos uma revisão sobre conceitos cruciais e fundamentais para a vida em sociedade, sobretudo, por meio da ética. Desde o alvorecer da vida urbana na Mesopotâmia, os habitantes das primeiras cidades passaram a receber um conjunto de padrões de condutas a serem seguidos subjetivamente e coletivamente, consistiam nos valores morais. Para a consolidação desses valores morais era necessário que cada habitante compreendesse bem as regras sociais, caso contrário, seria julgado conforme as leis existentes da sua cidade. O julgamento consistia numa análise da falta, crime ou transgressão cometida pelo indivíduo, esse diagnóstico era executado por pessoas qualificadas ou algo parecido. Para o indivíduo não incorrer em pena, era necessário um comportamento enraizado na observação dos valores éticos e morais, essa capacidade sempre esteve acessível às pessoas, contudo, são poucas àquelas capazes de fazer julgamentos precisamente éticos. Muitas pessoas agem por impulsos ou a partir de imposições ideológicas de outras, não agindo de modo satisfatório, quando fazem evitam muitos infortúnios e problemas comuns na sociedade. Ser ético neste modelo de humanidade vigente está se tornando cada vez mais insólito. E falando de Escola Pública percebemos um problema ainda maior.
Os docentes, em alguns casos, deviam imaginar como seria suas próprias aulas!
                O ano letivo inicia-se, em geral, nas primícias de fevereiro e se estende até o final de dezembro. Os professores possuem uma carga horária concernente a sua formação acadêmica, por exemplo, um professor (a) de história leciona 80 aulas por ano em cada turma. Cada série tem em média dez disciplinas, algumas ultrapassam esse montante, sendo assim, é obrigatório que os discentes possuam pelo menos 75% de frequência e obtenham ao final do ano letivo 24 pontos para concluírem o ano letivo, caso contrário, serão reprovados, desde que em pelo menos três disciplinas, pois existe uma exceção. Por exemplo, se um discente for reprovado em apenas duas disciplinas é conferido ao aluno uma nova oportunidade de recuperação nestas disciplinas apenas no próximo ano letivo, isso se chama progressão parcial. Todas essas exigências e orientações escolares são os valores morais exigidos para que pelo menos se tenha uma educação frutífera, digna e de qualidade.
                Lamentavelmente existem outras legislações da própria Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco cujo teor permite a violação dos valores éticos e morais da Educação Pública de qualidade. Por exemplo, é permitida aos discentes a oportunidade de realizarem a recuperação final sem possuir média alguma! Digamos que um aluno não tenha efetuado as avaliações dos quatro bimestres, neste caso, possui média zero, mesmo assim lhe é conferida uma oportunidade de fazer a recuperação final e ser aprovado se obter uma nota igual ou superior a seis. Muitos discentes são aprovados por este método. Alguns dizem – inclusive – para que estudar se só é necessário passar na recuperação final! Como se isso não bastasse existe ainda uma condição especial: se algum estudante da oitava Série do Ensino Fundamental ou 3ª série do Ensino Médio for reprovado será concedida uma nova oportunidade em janeiro, a prova especial. Ademais, como havia falado antes, um estudante deve possuir um total de 24 pontos ao final do ano letivo, todavia, se atingir 22,5 pontos, a Secretaria de Educação exige a aprovação deste discente, isso decorre do arredondamento da média 5,6 para 6,0. Ser aluno da rede pública Estadual de Pernambuco é gozar de inúmeros privilégios. Na década de 1990 era exigida a soma de pelo menos 16 pontos ou mais para realizar a recuperação final, caso contrário, o estudante seria reprovado.
                Nos tempos atuais os valores éticos e morais no âmbito escolar estão temporariamente ausentes ou talvez abandonados. Um docente que seja sensivelmente profissional e dedicado nas suas atribuições e responsabilidades é frequentemente ofendido pessoalmente e em alguns casos publicamente como presenciei nesta semana. Será que é cruento ser dedicado e exigir uma produção científica de qualidade aos discentes? Que preço temos que pagar pelo ato de lecionar com hombridade e honestidade? A Escola Pública por ser uma instituição social popular não deve ter um ensino proficiente?
                Em geral, no final de ano os pais, responsáveis e tutores comparecem à Escola para ouvir dos docentes sobre o infrutífero ano letivo de seus filhos (as). Quando agem eticamente, procuram ouvir dos educadores os motivos da frustração escolar e cobram explicações aos filhos. Àqueles que dispensam o rigor da ética elucidam milhares de problemas pessoais e sociais e fazem um grande clamor para que os professores em hipótese alguma reprove seu filho (a). Por exemplo, esta semana ouvi uma história parecida de uma garota que nos últimos dias estava chorando bastante porque ficou em recuperação e que estava aflita e desesperada com receio da eminente reprovação. Contudo, esta garota, que conheço bem, passou o ano letivo desprezando as aulas e priorizando a desatenção e realização de coisas desnecessárias a vivência escolar. Apenas neste momento ela percebeu que estava errada, mas se tivesse agido antes – pelo menos – com prudência e ética teria evitado e compreendido que suas lágrimas foram geradas por atos próprios.
                Um Educador que é comprometido muitas vezes sofre retaliações e comentários pungentes de próprios colegas de trabalho, alguns proferem discursos enaltecendo que a falha ou insucesso escolar é culpa do atual Sistema Educacional. Já ouvi, a título de exemplo, docentes dizerem que aprovaram alunos para não vê-los importunando-os no próximo ano letivo. Que não desejam ser o único professor (a) no qual o referido discente foi reprovado. Que evitam ficar com muitos alunos em recuperação porque é mais trabalhoso no final de ano. Outros aprovam sabendo-se que os educandos não possuem os conhecimentos mínimos exigidos na sua disciplina. Além de outras bizarrices. Tudo isso ocorre com receio da reação dos discentes e seus pais ou por omissão ética? A ética parece-me que pediu Licença sem Vencimento. Vamos ser sinceros ou éticos: a maioria de filhos de professores não estuda em Escolas Públicas! Por quê? O que dizer então de colegas de trabalho que atribuem notas pelo caderno em dia ou atualizado. Que falar de avaliações em dupla e pesquisadas? Há casos de discentes que estão fazendo o Ensino Médio à distância! A Escola Pública também entrou na modalidade de Ensino à Distância. Ética, por onde você anda?
                Cada profissional possui seus métodos de trabalho e de avaliação pertinentes a sua situação didática e conforme também a prática pedagógica, porém, os vestibulares, concursos públicos e privados não são pesquisados nos dias de sua realização ou são? Necessita-se obviamente de um conhecimento pelo menos básico sobre tais disciplinas. Para isso basta um processo de ensino-aprendizagem minucioso e de qualidade.
Aparentemente a ética que existe na concepção de várias pessoas: estudantes e profissionais da educação é uma ética enterrada no eu primeiro, do benefício pessoal. Diversas pessoas imaginam que ética é algo que possa lhe beneficiar da algum modo, não é assim, o conceito ético vai muito além. Ser ético é agir de maneira prudente e ser norteado pelos valores morais impostos à sua função, sabendo distinguir o correto do equívoco. O estágio de comiseração que muitos docentes sentem por alguns alunos aprovando-os em seguida, mesmo que não saibam minimamente da sua disciplina, é o descumprimento dos valores éticos e morais inerentes à Escola. A vida extraescolar é bem diferente da pregada por algumas pessoas, o sentimento de pena é inexistente na atual sociedade, por exemplo, patrões não sentem pena de seus funcionários, pelo contrário, sentem desprezo. Ninguém se sensibiliza se algum candidato (a) chorar por não ser aprovado em algum concurso público ou vestibular é a vida real que está lá fora. A ética compreendida por alguns discentes é semelhante. Muitos alunos não se importam se forem aprovados sem conhecimento algum. O que lhes interessa é o certificado de conclusão de curso. A ética na qual essas pessoas se valem é aquela de favorecimento subjetivo. Para outros, Professor que ensina com rigor e é exigente não presta, começam a atribuir inúmeras alcunhas pejorativas. Professor bom é aquele que não faz nada! Já ouvi isso várias vezes.
Ao escrever este texto torno-me Advogado do Diabo como alguns podem definir – para aqueles que desconhecem a ética, é claro – ou quiçá, um mero ser que tenta enxergar o mundo com os óculos da realidade na qual faço parte e vivencio. Quando falei no início desse opúsculo sobre ser ético nesse modelo de sociedade é muito incomum me referi às pessoas que são ofendidas, contrariadas e repudiadas por suas ações guiadas pelos valores éticos e morais, quem age deste modo procura uma existência firmada nos valores da cidadania e de uma sociedade mais justa e humana. Quem é enquadrado como diferente, anormal e qualquer outro pseudônimo, talvez tenha recebido essas ofensas porque ainda acredita na possibilidade de existência de uma verdadeira civilização arraigada nos valores éticos e morais, aqueles mesmos criados pelos gregos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Valores sociais: Escola Pública e Igreja


Todos os povos viventes do planeta Terra desde os períodos mais remotos da humanidade até os tempos atuais possuem diversos conjuntos de normas, leis, códigos éticos e morais, além de uma miríade de valores. Em geral, os valores são transmitidos pelos mais velhos aos seus descendentes e assim por diante numa corrente contínua. Existem muitos valores, como por exemplo, religiosos, econômicos, sociais, familiares, pessoais, materiais e etc. Os valores sociais representam a importância e representatividade que os seres humanos atribuem aos objetos, pessoas e diversas coisas. Todavia, os juízos de valores são os atos ou julgamentos emitidos e estabelecidos pelos seres humanos aos mesmos objetos e pessoas. Por exemplo, para algumas pessoas seu carro é mais valioso do que muitos seres humanos. Seu dinheiro é mais valioso do que as desigualdades sociais e fome existente. Em algumas culturas, a cruz é um símbolo sagrado importante de uma religião, noutras é apenas um adorno. Desse modo, pretendo através deste breve texto, analisar como atualmente os jovens atribuem seus juízos de valores no âmbito das Instituições Sociais – sobretudo, na Escola Pública – e nas instituições religiosas, as Igrejas cristãs.
                As Escolas Públicas, em geral, possuem instalações bem localizadas nos centros urbanos ou em suas proximidades, assim também como as Igrejas, porém, os prédios onde se realizam as aulas semanais são comumente e constantemente depredadas e pichadas várias vezes ao ano. Carteiras escolares, janelas, portas, fechaduras, lousas, bebedouros e lâmpadas são destruídos sem razão alguma pelos seus próprios usuários. Só este ano na Escola Estadual Corsina Braga, foram destruídas mais de cento e cinquentas lâmpadas fluorescentes. Pelo contrário, as Igrejas, em geral, são preservadas em sua integridade, sofrendo ocasionalmente um ato de vandalismo.
                Os estudantes, com frequência, chegam atrasados nos horários de aulas, às vezes entram apenas na segunda aula do dia, isso, por exemplo, virou um fato corriqueiro. Muitas vezes, não percebem a chegada, nem tampouco a presença do professor no recinto. O docente quando aparece na Escola e se encaminha para seu local de trabalho percebe que muitos discentes meneiam suas cabeças em sinal de desdém, desprezo e desrespeito. Outros dizem frases como: por que o senhor (a) veio? Por que não ficou em casa? Esse (a) professor (a) nunca falta ou adoece. Além de outras opiniões mais ofensivas.  Alguns alunos (as) no decorrer das aulas viram de costas, leem jornais, revistas de cosméticos, são desatenciosos, além de tudo isso, não trazem os livros didáticos e justificam que não trouxeram os livros didáticos porque são muito pesados. Estes mesmos discentes faltam bastante as aulas do ano letivo. Aparentemente, sentem desprezo pela Escola Pública. Nas Igrejas, por exemplo, os fiéis, em geral, chegam com antecedência, ocupam seus lugares sentados, e caso não haja espaço, ficam de pé. Quando o Sacerdote ou Pastor entra, todos ficam de pé em ato de reverência e apreço. Ademais, geralmente, os fiéis trazem seus livretos litúrgicos ou mesmo o seu livro sagrado, a Bíblia.
                Um (a) professor (a) em sala de aula, frequentemente, é interrompido (a) pela falácia, zombaria, mau comportamento, toques de celulares e o desinteresse dos discentes. Mesmo que o docente utilize diversos recursos tecnológicos e outras ferramentas pedagógicas para dinamizar e estimular o aprendizado e também o interesse do alunado sofre várias consequências negativas. Os discentes, por exemplos, ficam inquietos, consultam diversas vezes o relógio para verificar quanto tempo de aula ainda resta. Até parece que estão sendo torturados psicologicamente. Nas Igrejas, pelo contrário, o silêncio repousa, a voz do vigário ressoa tranquilamente e é captada pelas aurículas dos fiéis. Os Sacerdotes ou Pastores podem até negar ao uso de microfone que são ouvidos em todo templo. É incomum ouvir conversas paralelas, fiéis de costas, pessoas lendo jornais, revistas, celulares tocando ou quaisquer ruídos nas Igrejas. A Missa ou Culto pode durar duas horas que os fiéis não reclamam, estão em sintonia com o que está acontecendo. Apesar de que as Missas Católicas possuem o mesmo formato de hoje, há pelo menos, mil anos! Ninguém reclama da redundância.
                Nas Escolas existem vários regimentos, um deles, exige o fardamento escolar, cujo objetivo é fornecer segurança aos próprios estudantes, pois, protege a entrada de pessoas estranhas à Escola. Muitos alunos não respeitam tal exigência. Adentram nas salas de aula com sandálias, shorts, saias curtas, blusas regatas, decotadas, e em alguns casos, com as costas descobertas. Nas Igrejas, existem normas para as vestimentas e são obedecidas. Os fiéis respeitam com obediência as exigências, usam calças compridas, saias longas, blusas moderadas e alguns homens recolhem até mesmo seus chapéus. A maioria dos fiéis usam as suas melhores roupas para assistirem as cerimônias religiosas, as chamadas roupas de domingo.
                Se porventura, um (a) professor (a) faltar às aulas, os discentes ficam em euforia, comemoram entre si a ausência dos mestres. Se um docente enviar um substituto, os alunos se recusam a assistir as aulas. Todos saem da escola numa felicidade interminável. São poucos os discentes que procuram se informar junto à Direção da Escola o motivo da ausência docente. Nas Igrejas, pelo contrário, se um Padre ou Pastor faltar à cerimônia religiosa os fiéis ficam extremamente preocupados, procuram informações plausíveis sobre a causa do não comparecimento dos homens de Deus. Caso um sacerdote precise se ausentar e não puder realizar a celebração religiosa, um substituto é delegado, os fiéis jamais reclamam!
                Ao término do ano letivo, se algum discente for reprovado os pais comparecem a Escola – em alguns casos – pela primeira vez no ano letivo, para cobrar dos docentes explicações do insucesso escolar do seu filho. Em geral, a culpa do fracasso escolar é responsabilidade do Professor (a). Nos últimos anos, os docentes sofrem comumente o buillyng, em outras palavras, agressões físicas e morais de discentes e de seus pais ou responsáveis. São efeitos da atual valorização social da Escola Pública. Do outro lado, geralmente, é muito raro ouvir-se queixas de desvios de condutas pelos sacerdotes e pastores – excetuando-se a pedofilia, é claro – mas, se algum membro de uma determinada família passa mal ou sofrem de diversos problemas, as pessoas são orientadas e aconselhadas a frequentar ainda mais as missas e cultos. Os Padres e Pastores são multiusos, podem solucionar muitos problemas sociais e familiares na concepção destas pessoas.
                Alunos (as) que concluíram o Ensino Médio – antigo segundo grau – em geral, quando reencontram seus predecessores mestres, não os reconhecem, não falam nem mesmo com eles ou desviam de itinerário. O reconhecimento do trabalho docente e seu legado na formação intelectual do jovem, muitas vezes, não são explicitados. Noutros casos, fazem até sinais religiosos como proteção. As pessoas, comumente, quando reencontram um padre ou pastor prestam homenagens, apertam-se as mãos, cumprimentam-se de diversas formas e ficam muitos felizes pelo reencontro.
                Este pequenino texto não pretende ofuscar e deturpar os valores religiosos, nem tampouco, pedir que os fiéis deixem de acreditar em suas crenças religiosas, mais estabelecer uma tênue avaliação dos juízos de valores sociais que hodiernamente são consumados pela maioria das pessoas. As Escolas formam e preparam as mentes dos jovens para os desafios que serão enfrentados nas suas vidas, ensinando-se valores éticos e morais não apenas aos jovens, mas também a toda comunidade escolar. Nas Escolas repassam-se milhares de temas imprescindíveis aos problemas cotidianos da humanidade. A Escola é flexível, muda-se constantemente o teor das aulas e ensinamentos, coisa que não acontece nas Igrejas. O que é inaceitável é o descrédito pelo qual a Escola Pública e seus verdadeiros FIÉIS representantes atravessam e enfrentam, sua desvalorização social é ingente e, pelo que percebi, está em ascensão. É preciso um resgate histórico do seu verdadeiro valor social, a Escola é o segundo local no qual as pessoas são preparadas – o primeiro é a família –, nela as pessoas entram com muitas dúvidas, quando saem possuem muitas respostas em mãos. As verdades que antes eram inquestionáveis, indubitáveis fora da Escola, quando entram nos recintos escolares são quebradas e rompidas pelos martelos fornecidos pelo método escolar e científico, a sabedoria.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Papa que não é pop

Esta semana o Papa Bento XVI proferiu um discurso repudiando os países que institucionalizaram através de Leis a descriminalização do aborto. O Papa pediu ainda aos fiéis católicos que votem com acuidade e esmero em candidatos – do Brasil – que são a favor do aborto. Com tais palavras, o Papa Bento conscientemente ou não, favoreceu ao Candidato José Serra, pois a Candidata Dilma Rousseff foi alvo de várias calúnias e difamações sobre a sua posição religiosa e, sobretudo, na questão do aborto.
            O conservadorismo da Igreja Católica atravessa séculos, a mesma Instituição religiosa que acenou para a realização das cruzadas, interditou o casamento de seus sacerdotes, condena o casamento entre pessoas do mesmo sexo, vedou qualquer exposição teórica de que a terra era redonda e defendia com veemência o geocentrismo, promoveu inúmeras sentenças de morte e tortura sobre a efígie da Inquisição, assentiu na conquista da América aos povos infiéis – índios – permitindo a execução dos mesmos em caso de resistência à verdadeira religião, esconde do público que os Papas quando falecidos são mumificados – mumificação é um rito fúnebre egípcio e pagão – ocultou e selou sob uma lápide os inúmeros casos de pedofilia de seus principais representantes em todo o planeta. Como se isso não bastasse, a Igreja ainda é contrária aos meios anticoncepcionais que evitam em muitos casos a gravidez indesejada e a defesa contra variadas doenças sexualmente transmissível.
            A meu ver, a Igreja Católica está bastante ressentida com a laicidade do Estado. Por mais de um milênio a Igreja deteve o primeiro lugar da humanidade como a instituição religiosa e também política de maior importância dentre todas. Controlava as decisões políticas e espirituais de milhões de pessoas. Era a regência do governo teocrático. Com o advento do renascimento, iluminismo e a formação dos Estados Nacionais a Igreja Católica percebeu que seu poder político estava se esvaindo. O Estado se tornou laico, houve a ruptura entre Estado e Igreja, política e religião. Isso quer dizer que nenhuma nação ou país deve – doravante – possuir credo religioso oficial, pois a premissa básica do Estado é a de que as pessoas devem possuir liberdade de expressão, crença, política, ideológica, econômica e social. Com este rompimento o Estado fortaleceu-se devido à descrença no conservadorismo como modelo ideal a ser seguido. Novas descobertas científicas só foram possíveis graças à separação entre Estado e Igreja. O conservadorismo é uma prisão, as pessoas demasiadas conservadoras são intolerantes, despóticas e dogmáticas. O Discurso do Papa Bento XVI soa semelhante. O conservadorismo fecha as portas da liberdade subjetiva. A mesma Igreja que se diz dialógica possui seu poder espiritual e político hodierno através do derramamento de muito sangue. A Igreja Católica deseja recuperar e manter o poder religioso e ideológico sobre as pessoas. Digo que Ela é intolerante pela ausência de humildade em reconhecer que as pessoas são livres para agir e pensar propriamente. A Igreja Católica está inquieta, o Islamismo já se tornou a maior religião monoteísta do planeta, isso deve incomodar bastante a Roma. Vamos aos fatos.
            Entre os séculos XI e XIII ocorreram às guerras que posteriormente foram denominadas de Cruzadas. Consistiam em guerras entre as duas maiores religiões da época – Cristianismo e Islamismo – muitas pessoas morreram em nome da religião católica que desejava retomar o controle político da cidade santa, Jerusalém. Essa era a ideia difundida entre os camponeses, artesãos, comerciantes e guerreiros, mais na verdade, o objetivo central da guerra era a obtenção de mais terras (naquele período o que mais possuía valor eram as terras), controle de rotas comerciais e etc. A igreja disseminou uma ideologia falsa entre os fiéis para que os mesmos aderissem e apoiassem à campanha militar, sobretudo, incutindo na mente das pessoas a inverdade de que os muçulmanos eram hereges. Milhares de pessoas morreram em nome da Igreja Católica a partir de palavras intencionais proferidas pelos seus representantes.
            Muitos teólogos discutem-se sobre se a interdição dos sacerdotes ao matrimônio foi benéfica ou não para o cristianismo. O Celibato foi instituído pela primeira vez no século XII, neste caso, ficou assim instituído que os padres não podiam se casar. A Igreja defende que os sacerdotes devem casar-se apenas com Deus, dedicando-se exclusivamente a religião cristã. Mas Segundo Léo Huberman (1986):

Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a Igreja adquiria mais e mais terras. Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários. (Grifo meu)

            A razão da proibição dos casamentos aos seus sacerdotes era meramente econômica. A Igreja não deseja perder parte de suas terras, em outras palavras, parte de sua fortuna. Devemos ressaltar que, ainda segundo Huberman, a Igreja detinha de 20 a 30% das terras férteis da Europa naquele período. Perder suas terras significava perder poder. Vale salientar que na Idade Média a acumulação das riquezas eram medidas através da quantidade de terras. Outra postura intolerante do Papa é sobre o homossexualismo e sua eventual regularização através da união conjugal. Em alguns países a união entre pessoas do mesmo sexo é permitida, como por exemplo, na Argentina. Talvez o Papa não saiba, mas o homossexualismo é mais antigo do que a própria Igreja Católica. Existem cenas em pinturas rupestres espalhadas em abrigos sob rocha de todo o planeta reproduzindo cópulas sexuais entre parceiros do mesmo sexo há pelo menos 12 mil anos atrás. O discurso da Igreja Católica é repleto de contradições, enquanto Ela condena e repudia os homossexuais e lésbicas como posturas inadequadas e impróprias à sociedade, seus sacerdotes, em muitos casos, cometeram os mesmos delitos velados a sua função. Ela concomitantemente condena a homossexualidade e oculta casos de pedofilia cometidos por seus humildes representantes, os sacerdotes. Que contradição.
            Ainda na Idade Média, a Igreja Católica conferia a si própria como a única fonte do saber autêntico e verdadeiro. Filósofos, curandeiros, teóricos e intelectuais da época foram perseguidos, aprisionados, julgados e condenados à tortura ou morte. Qual foi o crime? Procurar a verdade sobre os fatos! Dizer, por exemplo, que a Terra era redonda e que o sol era o centro do universo eram crimes gravíssimos. Crimes passíveis de pena de morte. Galileu Galilei, Menocchio, Giordano Bruno entre outros, são apenas exemplos dessas pessoas que tiveram que negar o resultado de suas pesquisas, caso contrário, seriam executados em praça pública. Alguns negaram suas pesquisas como um meio de resistência a intolerância da Igreja na perspectiva de preservarem suas próprias vidas, outros, contudo, mantiveram sua ética e moral acima de tudo, e mesmo assim foram condenados a fogueira. Era a Inquisição fazendo suas vítimas. Tudo isso em nome da religião cristã.
            A conquista da América foi outro episódio cruento. No período da Descoberta do novo continente os colonizadores se depararam com povos estranhos, que praticavam hábitos incomuns aos seus olhares. Quando a Igreja soube da descoberta mandaram emissários (Jesuítas) para catequizar aquelas pessoas, pois, segundo a Igreja, aqueles povos não possuíam alma, nem tampouco religião, foram chamados de infiéis. O processo de encontro entre as culturas do Velho e Novo Mundo foi muito sangrento, muitos povos indígenas foram impelidos a seguir a religião cristã à força, caso contrário, seriam punidos e torturados diante de todos (as). O interesse da Igreja Católica era conseguir mais fiéis para sua religião a qualquer custa, contudo, não temos dados plausíveis sobre o número de vítimas, mais temos uma projeção:

O século XVI veria perpetrar-se o maior genocídio da história da humanidade. [...] A expansão do cristianismo é muito mais importante para Colombo do que o ouro, e ele se explicou sobre isso, principalmente numa carta destinada ao papa. [...] Sem entrar em detalhes, e para dar somente uma ideia global (apesar de não nos sentirmos totalmente no direito de arredondar os números em se tratando de vidas humanas), lembraremos que em 1500 a população do globo deve ser da ordem de 400 milhões, dos quais 80 habitam as Américas. Em meados do século XVI, desses 80 milhões, restam 10. Ou, se nos restringirmos ao México: às vésperas da conquista, sua população é de aproximadamente 25 milhões; em 1600, é de 1 milhão. (TODOROV, 1999: p. 06, 11, 158. Grifo meu)
           
            Se as estimativas de Tzvetan Todorov estiverem corretas, foram exterminados mais ou menos 70 milhões de vidas no Novo Mundo. Vale salientar que nem todos foram exterminados, alguns índios foram vítimas das doenças alijadas pelos colonizadores e também pelos trabalhos forçados (escravismo) nos minérios. Mesmo assim, um genocídio maior do que o número de vítimas da Segunda Guerra mundial. Tal genocídio ocorreu aqui na América apoiado pela Igreja Católica e desencadeado pelas coroas portuguesa e espanhola.
            Segundo a Revista Americana National Geografic, os Papas quando falecidos são submetidos à mumificação. Isso é muito contraditório para a Igreja. Mumificação é um rito fúnebre característico dos egípcios – embora pesquisas recentes de arqueólogos comprovam que as múmias mais antigas até então descobertas foram aos dos Chinchorros, povo que habitava o deserto do Atacama –, mas os egípcios não eram pagãos segundo a própria Igreja? Ainda segundo a National Geografic, os Papas após a cerimônia religiosa são velados e depositados em ataúdes de mármore e colocados no subsolo da Basílica de São Pedro. Muitos católicos não sabem disso.
            Talvez o maior abalo sofrido ultimamente pela Igreja Católica tenha sido as sucessivas acusações de pedofilia cometidas por seus sacerdotes. Recentemente, a mídia impressa e audiovisual divulgou milhares de casos envolvendo padres que abusaram sexualmente de crianças em vários países do planeta. Aqui no Nordeste, o caso de maior repercussão foi o do Monsenhor de Arapiraca que foi filmado realizando relações sexuais com adolescentes que eram seus sacristãos. Decerto, se o casamento fosse permitido entre os sacerdotes esses casos hediondos de pedofilia, quiçá, não ocorressem.
            A maior polêmica de todas refere-se ao aborto. O Papa Bento XVI em nome da Igreja defende a proibição do aborto em qualquer hipótese, mesmo em casos de incesto – quando um pai abusa sexualmente da filha – e estupro. Para a Igreja, quem cometer o aborto, médicos, parteiras, farmacêuticos e a mãe devem ser excomungados da religião cristã. O tema inegavelmente é muito polêmico, mas é anterior em milênios a própria Igreja Católica. Antropólogos, historiadores e arqueólogos já comprovaram que a prática do aborto é remotíssima. Ocorre há milhares de anos. No período pleistocênico que é o período compreendido entre o alvorecer da humanidade até 12 mil anos atrás, os humanos praticavam o aborto. É preciso enfatizar que a interdição de vida não era um ato malévolo, mas um meio de garantir a sobrevivência do grupo. Supõe-se que as mulheres da pré-história concebiam em média de quatro a cinco filhos, mas esse ciclo ocorria mediante a geração de um filho a cada quatro anos. Isso era necessário por questões de sobrevivência e manutenção da própria espécie. Por exemplo, caso uma mulher tivesse um filho com pouco mais de um ano e por uma eventualidade engravidasse novamente, fazia-se o aborto para promover a sobrevivência do primeiro filho (a). Casos semelhantes a estes foram observados na etnia Yanomami da Amazônia. O antropólogo americano Chagnon estudando os hábitos dos Yanomami presenciou o parto de uma mulher, mas em seguida a própria mãe matou o recém-nascido. Interrogada sobre o motivo do infanticídio de sua criança ela lhe respondeu que não desejava tirar o leite do filho mais velho. Esse ato não é de crueldade, mas uma forma de sobrevivência ao grupo. Os gregos também praticavam o aborto, sobretudo, em Esparta onde as crianças recém-nascidas com defeitos físicos ou mentais eram abandonadas na floresta ou jogadas de um penhasco. A prática do aborto é remotíssima, antecede em milênios a própria Igreja Católica. Obviamente, no mundo de hoje, criou-se a pecha em atribuir o aborto como um crime terrível. Não pretendo justificar o aborto como uma prática admissível, mas estou apenas analisando historicamente a sua prática na humanidade! Segundo matéria recente do Jornal O Globo, estima-se que a cada dois dias uma mulher morre vítima de um aborto clandestino. A Igreja está condenando a admissão do aborto em casos de risco de morte da mãe e em casos de estupro. É preferível o aborto nos hospitais nestas situações do que a realização de abortos na clandestinidade onde existe maior risco de morte para as mães.
            O Papa Bento XVI não é pop por esses motivos, ele e sua Igreja defendem com veemência valores e tradições que, a meu ver, estão em milênios ultrapassados, ficaram para trás. Padecem do olhar etnológico, antropológico, sociológico e histórico das culturas espalhadas pelo nosso planeta. Não existe apenas a religião cristã no mundo, inclusive, o cristianismo é um amálgama (mistura) de paganismo, judaísmo e helenismo (gregos) assim como a maioria das culturas existentes. Não há em todo o planeta uma única cultura puritana. A Igreja católica é muito conservadora nesse sentido, emitem posicionamentos sem fundamentos éticos, morais e científicos sobre os fatos, incorrendo, muitas vezes, num discurso dogmático, intolerante, despótico e ultrapassado. A Igreja desconhece outros conhecimentos que não os religiosos, são irredutíveis com a ciência que deu mais contribuições significativas à humanidade do que a própria Igreja. O Papa e seu séquito deseja que as pessoas não possuam racionalidades próprias, quer comandar até mesmo o pensamento e a mente das pessoas, como se apenas a religião fosse a única e inquestionável verdade. O Filósofo Francês André Comte-Sponville defende que “a ignorância restringe a liberdade das pessoas, mas só o conhecimento é capaz de libertar as pessoas”. O discurso do Papa Bento XVI é repleto de incertezas, incoerências, desconhecimento histórico e acima de tudo ultraconservador. Nietzsche dizia que a moral é o medo. Há milênios é isso que a Igreja Católica tem pregado a seus fiéis, o medo.