quinta-feira, 2 de julho de 2009

Lagoa Santa – um apêndice sobre o povoamento das Américas

O município de Lagoa Santa fica localizado a pouco mais de 40 km de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, de nome simples e até desconhecido da maioria dos Brasileiros, mas para a comunidade científica, principalmente arqueólogos e paleontólogos, é uma região rica em vestígios materiais e imateriais dos primeiros americanos. A região que compreende a cidade de Lagoa Santa, assim como os municípios de Pedro Leopoldo, Matozinhos, Prudente de Morais, Vespasiano, Funilândia e Confins são repletos de serras e maciços rochosos, denominados localmente de carste. O carste de Lagoa Santa, como foi definido as formações rochosas locais são ricas em vestígios de cultura antrópica remotíssima e refugos de fósseis de animais extintos, principalmente megafauna. Vale ressaltar que nesta região existem mais de quinhentas cavernas catalogadas até o momento, não obstante, o carste é um cenário de uma vegetação exuberante e mista de cerrado, florestas, matas decíduas e semidecíduas, estas últimas são floras semelhantes à caatinga nordestina. Na primeira metade do século XIX, Lagoa Santa recebeu a visita do naturalista e paleontólogo Dinamarquês Peter Lund (1801 – 1880). Segundo alguns biógrafos de Lund o motivo de sua vinda ao Brasil foi devido a problemas de saúde, Lund estava muito vulnerável ao clima temperado e frio da Dinamarca. Sendo assim, Peter Lund veio para a região dos trópicos para estabilizar e restabelecer sua saúde. Todavia, Lund era um intrépido aventureiro e amante de arqueologia e paleontologia, não poderia deixar de conhecer a região do carste de Lagoa Santa. Lund fez incursões e prospecções nas cavernas de Lagoa Santa em meados da primeira metade do século XIX. No início foi muito difícil, não se achava vestígios nem artefatos, mas depois de algum tempo seu trabalho foi recompensado com a descoberta de fósseis de seres humanos e animais. Mais tarde sua descoberta tornou-se impar em toda comunidade científica mundial, Lund havia descoberto numa camada de sedimentos o que era inimaginável no século XIX, a possibilidade de coexistência de humanos e animais da megafauna. Em meados do século XIX a teoria aceita consistia na chegada do homem no continente americano em tempos recentes, não ultrapassando 6 mil anos, todavia, segundo a comunidade científica, principalmente européia, não havia a possibilidade de existência de megafauna na América do Sul. Lund através de suas escavações encontrou refugos fósseis de seres humanos e preguiça gigante além de um crânio de cavalo selvagem. Tais descobertas ecoaram em todo o mundo enaltecendo a região de Lagoa Santa como um cenário importantíssimo para desvendar o mistério sobre o povoamento das Américas. Muitos arqueólogos e paleontólogos europeus aventaram a possibilidade de que tais fragmentos ósseos (antrópicos e animais) poderiam de sido colocados in situ por intermédios de erosões naturais e enxurradas, no entanto, Peter Lund percebeu que em ambos fósseis o nível de fossilização era o mesmo, corroborando a sua teoria de contemporaneidade de homens e megafauna na América do Sul. Segundo Walter Neves, Bioantropólogo e Diretor do Centro de Estudos Evolutivos da USP, megafauna são animais que possuem mais de 44 kg. No entanto, a megafauna descoberta no carste de Lagoa Santa consistia em animais enormes, hoje extintos, como por exemplo, preguiça gigante (Eremoterium), tatu gigante (gliptodonte), tigre de dentes de sabre (smilodon) e etc. Essas descobertas são evidências plausíveis que permitiram recuar em mais de 7 mil anos a teoria do povoamento das Américas, a partir de tais achados a teoria anterior precisou ser reformulada em no mínimo 12 mil anos como o possível período de penetração humana no continente americano. Em resumo as descobertas de Peter Lund renderam vários fósseis de megafauna, mais de 250 amostras de esqueletos humanos os quais permitiram compreender como eram realizados os ritos fúnebres e o modo de vida daqueles antepassados. Sem dúvida, foram descobertas importantíssimas para a história da humanidade. Após anos de dedicação e pesquisas na região de Lagoa Santa, Peter Lund retornou a Dinamarca cessando momentaneamente as pesquisas naquela região, que só foram retomadas algumas décadas mais tarde. Um dos aspectos que contribuíram para a paralisação das pesquisas foram o esgotamento dos recursos financeiros e a debilitação da saúde de Lund. Muitos artefatos, ossos e vestígios coletados na região de Lagoa Santa estão no Museu Dinamarquês de Zoologia.

A arqueologia é uma ciência que surgiu na Europa e se espalhou para os demais continentes esporadicamente, sendo assim, a arqueologia só surgiu aqui no Brasil sob a forma de capacitação e mais tarde graduação em meados da década de 1960 através de uma parceria do Governo Francês e Brasileiro, denominada na época de Missão Franco-brasileira. Vários arqueólogos Franceses vieram ao Brasil capacitar os novos arqueólogos, dentre os franceses a arqueóloga Annette Laming Emperaire teve grande influência e destaque no mapeamento de novos sítios arqueológicos brasileiros. Em 1974/75 Annette Laming e sua equipe escavando a gruta Lapa vermelha IV, no município de Pedro Leopoldo, fizeram uma das descobertas mais importantes de toda humanidade, o fóssil de um esqueleto humano, na verdade de uma mulher, que mais tarde foi denominada de Luzia. A descoberta por si só pode soar simples para a comunidade científica, porém, amostras de ossos de Luzia foram enviadas para datação e o resultado “mexeu” com aqueles arqueólogos, Luzia havia morrido há pelo menos 11 mil anos! Além disso, Luzia foi posteriormente analisada por antropólogos especializados na craniometria, mais um choque: Luzia possuía um crânio com as características australo-melanésio, isso significa que Luzia não se parecia em nada com os índios brasileiros atuais, que possuem herança genética e morfológica dos povos mongolóides: chineses, japoneses, esquimós e etc. Luzia se parecia com os povos aborígenes da África e Austrália. Antes da datação e reconstituição da face de Luzia a arqueóloga Annette Emperaire havia falecido após pouco tempo da descoberta, na época foi uma perda lamentável desta intrépida arqueóloga que deu sua contribuição para expansão da arqueologia in loco e no Brasil. Devido a tais descobertas que abalaram toda a comunidade científica mundial Lagoa Santa passou de um mero município Brasileiro, para um epicentro de estudos sobre o povoamento do continente Americano.

5 comentários:

  1. Caros leitores, para realizar comentários basta preencher a caixa de texto e selecionar o perfil:
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  2. Mais uma dica, para comentar no Blog, você precisa ter um e-mail de preferência do Google (tipo gmail, ig ou outros) e selecionar o perfil CONTA DO GOOGLE ou postar um comentário como ANÔNIMO.
    Obrigado.

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  3. Ótima Matéria, gostei, sempre visito, seria legal uma matéria sobre regiões de Pernambuco, aguardando...

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  4. Obrigado por acompanhar com freqüência o blog. Fico feliz por isso. Em breve estarei publicando matéria sobre a História de Pernambuco, assim também como matéria sobre sítios arqueológico em nosso Estado. A próxima matéria será sobre os últimos dias de Pompéia e Herculano, ainda esta semana. Obrigado pela fidelidade.

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  5. elizabete karine 1°e.g. ''a''15 de março de 2010 às 07:35

    adoeri a materia

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