quarta-feira, 10 de março de 2010

Exclusão religiosa


O Brasil é um país que se destaca hodiernamente no cenário nacional e internacional pela sua economia estável e forte. Além disso, o Brasil é reconhecido por outras culturas como o país do carnaval e futebol, como afirmou um jogador da Seleção da África do Sul que desembarcou no nosso território na segunda-feira. O Brasil também possui outras titulações nocivas a efígie dos brasileiros, país dos corruptos, da desigualdade social, segundo no mundo em má distribuição de renda e, principalmente, a nação dos preconceitos e da discriminação social. Uma forma de discriminação latente ou evidente praticada diariamente no nosso território é a exclusão religiosa. No Brasil, ser adepto de outra crença religiosa ou mesmo ser ateu, será vítima de manifestações preconceituosas. Nosso país é cristão, a maioria das pessoas segue a religião Católica Apostólica Romana ou são evangélicos, que em alguns casos, também são vítimas da maioria esmagadora dos Católicos. Os Evangélicos são comumente chamados pelos católicos de protestantes, essa definição é uma alcunha manifesta de discriminação religiosa. Esse preconceito é irrisório se comparado pelos ultrajes sofridos pelos negros que cultuam divindades africanas. Quando um negro estiver participando de algum ritual afro é denominado de catimbozeiro. Quem é prosélito da umbanda é praticante de vudu. Na verdade, os negros que seguem e cultuam suas divindades maternas africanas não realizam tais ritos com intenção de lançar feitiços, bruxarias ou qualquer cerimônia religiosa para fins maléficos. Isso é um preconceito que é cometido por aqueles que desconhecem a cultura afro. Quem já participou de um show de afoxé? Quem já viu uma cerimônia no terreiro? Quem já esteve numa cerimônia numa comunidade quilombola? As pessoas que participaram de tais rituais se encantam, além da beleza dos rituais, o expectador poderá desconstruir todos os estereótipos construídos por pessoas desinformadas e preconceituosas. As cerimônias mencionadas acima, não possuem a funcionalidade de fazer o mal as pessoas, mas é uma forma de manifestação religiosa, assim como que é católico e vai a Missa ou ao evangélico que vai ao culto.

Os adeptos da cultura afro são apenas algumas vítimas da ignorância, intolerância e preconceito religioso. Imaginem quem é muçulmano, judeu e espírita no Brasil o quão estas pessoas sofrem diariamente pela discriminação lhes auferida. Quem é muçulmano, em geral é terrorista; quem é judeu, possui a macula seguir a religião daqueles que condenaram e mataram Cristo; e quem é espírita acredita em entidades fantasmagóricas!
Essas práticas, evidentemente, não são comuns a todos brasileiros, mas infelizmente são muito freqüentes na nossa sociedade. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos está escrito:

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. (Artigo 2º; grifo meu)

Qualquer forma de discriminação, intolerância ou preconceito é condenada e considerada uma postura inaceitável internacionalmente. Esta Lei que foi proclamada em 1948 atinge a maioria dos países até então conhecidos, mas porque algumas pessoas são relutantes e intolerantes em alguns cultos religiosos diferentes dos seus? É uma pergunta difícil de se responder. Mas não impossível.

O calendário que a maioria dos países seguem é o calendário cristão. Este calendário foi formulado pelo Papa Gregório que em 1582 convocou um conjunto de astrônomos para ajustar o calendário definido pelo monge Dionísio. Já se passaram 428 anos desde a reforma gregoriana e alguns países, por isso, seguem os feriados definidos pela Igreja Católica. Mas o Estado não é laico? Sim. O Estado não deve seguir credo religioso algum, já que nem todos são iguais num mesmo Estado! Já pensou se todos seguissem a mesma religião? Onde estaria então a liberdade de pensar?

Minha preocupação é nesse sentido, a exclusão religiosa está se difundindo muito rápida e chegou às Escolas públicas. Como eu havia falado o Estado é laico, então a Escola também é laica! Em muitas escolas observa-se símbolos religiosos católicos em sua maioria em detrimento das demais religiões conhecidas e praticadas. Isso não devia ocorrer. Como as Escolas podem ser formadoras de cidadãos críticos se ferem um regimento Universal que é a liberdade religiosa e de culto? Quando não há aula devido a um feriado religioso, este feriado é católico. Como ficam os evangélicos, judeus, muçulmanos, espíritas e comunidades religiosas afro nesta situação? É isso que eu desejo mostrar, nosso país é um poço de exclusão religiosa. Imagine, por exemplo, um condenado por assalto que vai ao tribunal, ele deve realizar juramentos no livro cristão, a Bíblia. E se esse condenado fosse um muçulmano, espírita, quilombola ou judeu?
A lei que exalta a igualdade entre todos os seres humanos não é apenas internacional, na nossa Constituição de 1988 lê-se:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. (Artigo 5º; inciso VI; grifo meu)

Portanto, a liberdade de culto é aberta a todas as pessoas, desde que estas se sintam no seu direito de gozo religioso sem sofrer qualquer preconceito, discriminação ou intolerância por parte de outros. A maioria das religiões seguidas e cultuadas no Brasil é originária de outros continentes, não há uma religião puramente brasileira, sendo assim, se a religião que você cultua é exógena não há motivo algum para atos de repreensão.

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