terça-feira, 24 de novembro de 2009

Beber um pouco de filosofia é salutar

No mundo dominado pela ciência, técnica – filha da ciência – novas tecnologias, globalização e dinheiro é bastante comum várias pessoas valorizarem coisas inúteis e prescindíveis que não servem para a sociedade, de uma maneira geral. As pessoas estão sendo influenciadas peremptoriamente pelas mídias e outros meios de comunicação de massa que são aparatos reprodutores de ideologias de grandes multinacionais monopolistas, onde a verdadeira relevância do indivíduo consiste no seu potencial de consumo. Muitas pessoas não sabem, mas estão sendo manipuladas de forma inconsciente pela mídia e globalização. Isso pode parecer estranho, mas merece uma análise em dados plausíveis e verossímeis de nossa sociedade. Minha preocupação é fundamentada, principalmente, pela juventude que está sendo facilmente “moldada” pela TV e outras mídias. Perscrutando os estudantes das Escolas públicas e privadas percebe-se que a concepção de valor dos jovens brasileiros está atualmente bastante afetada. É freqüente ouvir nas salas de aulas os estudantes “preocupados” com os participantes de reality shows, como por exemplo, Big Brother Brasil ou A Fazenda, programas que não fornecem contribuição alguma, extasiados ainda com o itinerário e enredo das telenovelas, acompanham diariamente a vida de “famosos” ou “estrelas” como se auto-denominam e a importância prioritária, a educação e a perspectiva de vislumbrar o futuro, fica no plano secundário ou até mesmo terciário. Os adolescentes estão consumindo cada vez mais álcool, cigarros e outras drogas que afetam o desempenho mental e escolar. E não sabem desses riscos.

Mas, para que serve então a filosofia diante de todos estes fatos corriqueiros?


Os seres humanos, de modo geral, perderam a capacidade de se admirar com os acontecimentos banais, comuns e cotidianos. Para a maioria dos brasileiros os acontecimentos diários são normais e não há nada de errado na sociedade. Tudo vai bem! Em outras palavras, as pessoas estão se tornando todos “iguais”, apesar das diferenças culturais e geográficas. Os brasileiros – apesar do hibridismo cultural – estão se transformando em meros seres passivos e reprodutores de outros “valores” que são vendidos diariamente e assimilados de forma inconsciente a partir dos meios de comunicação. A filosofia se torna necessária e importante, neste caso, devido a sua insistência de explicação dos fatos e fenômenos ocorridos naquela sociedade. Conhecer o funcionamento dos fenômenos e acontecimentos naturais ou antrópicos é um dos interesses da filosofia e para conhecer algo é preciso delimitar um objeto que deseja ser conhecido. A curiosidade faz parte do instinto humano, assim também como a consciência define as ações e práticas humanas, contudo, na sociedade dominada pela ciência, novas tecnologias, globalização e capitalismo as pessoas estão perdendo a capacidade de se “admirar” e sensibilizar-se com as coisas mais banais. Do ponto de vista filosófico essa atitude reproducionista é perigosa e nociva aos humanos. Nós humanos recorremos a um “instrumento” que os demais animais do planeta não dispõem, a consciência. Essa capacidade de articular pensamentos torna os seres humanos soberbos no planeta Terra, mas na sociedade contemporânea algumas pessoas estão perdendo essa capacidade intrínseca humana. Pensar utilizando à lógica e a razão são meios imprescindíveis aos humanos, neste caso, a filosofia se torna utilitária porque fornece subsídios para uma compreensão da própria natureza humana.


O domínio pujante da internet, Orkut, MSN, twitter só reforça a supremacia das novas tecnologias em detrimento da cultura e valores humanos. Os jovens estão se tornando mais dependentes de tais plataformas virtuais e “esquecem” de conhecer o mundo no qual vivem. As pessoas estão perdendo essa postura de investigar o que ainda não foi explicado de forma plausível e satisfatória, tampouco se questionam sobre a natureza da verdade. O que interessa ao verdadeiro filósofo é a incapacidade de se acostumar com a realidade a sua volta. Para o filósofo, nada é comum, verdadeiro e indiscutível, o real e virtual não se confundem. O que importa é a postura de vê o que os outros não conseguem enxergar. Todavia, aqueles que não priorizam o hábito de ler, escrever, estudar, pesquisar, debater são facilmente influenciados pelas ideologias impositivas do capitalismo. Os brasileiros lêem em média dois livros anuais, bem abaixo dos americanos, cinco livros; e dos europeus, oito livros anuais. Isso corrobora e facilita a imposição de valores desnecessários que são imbuídos – principalmente – na juventude, que é mais facilmente penetrável.


Muitas vezes fico divagando em meus pensamentos sob as atitudes de alguns jovens que ficam priorizando festas de várias naturezas em detrimento de seu crescimento intelectual. O que é mais importante: delinear o futuro, seguir uma profissão ou curtir tênues e efêmeros momentos festivos que não contribuem em nada para a natureza humana. Platão há 24 séculos condenava as pessoas que valorizavam os “prazeres” em detrimento do enriquecimento cultural e filosófico. Platão tinha razão, qual a contribuição de se beber em demasia? Fumar cigarros amentolados? Se preocupar com a vida de pessoas teoricamente famosas que ganham milhares de salários mínimos, reforçando a má distribuição de renda no Brasil? Qual a relevância de reality shows que mostram apenas pessoas confinadas dentro de uma casa ou “curral”?


Beber filosofia pode evitar todos estes males mencionados acima. Não conheço pessoas que se dedicaram a estudar e desvelar conhecimentos que não obtiveram sucesso em suas vidas. Quando me refiro a sucesso não estou enaltecendo a valorização de aquisição de bens materiais, mas pertinente a realização profissional e pessoal. Os brasileiros, de modo geral, precisam ter “abertura” para visibilizar a sociedade na qual vivem e não simplesmente ser meros consumidores de valores culturais imbuídos pela globalização e o capitalismo. Para ser filósofo não é necessário cursar um curso superior, muito menos se submeter a aulas de filosofia, para desenvolver a prática filosófica cabe ao ser humano estimular a capacidade de se “espantar” com as coisas ou fenômenos mais comuns da sociedade.


Filosofia não faz mal, viver no mundo imerso no desconhecimento pode ser letal.

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