sábado, 20 de março de 2010

A cultura fomentada pela mídia e a globalização


Você possui cultura? Muitas pessoas acham que aquele que detém cultura é o ser culto, intelectual ou aquele que produz belos discursos. Isso não é verdade. Para muitos, cultura se refere a um nível educacional, sendo assim, culto é quem possui intelecto; inculto é aquele que não dispõe de uma inteligência básica (popular). Para a antropologia não existe o uso dos termos culto e inculto, pelo contrário, segundo os antropólogos não há culturas superiores e inferiores, existem variedades culturais. Desta maneira, fica mais fácil identificar que todo e qualquer ser vive e produz alguma variedade cultural. Por exemplo, um povo indígena é inferior culturalmente há uma sociedade urbana e tecnológica? Claro que não. Existem diferenças substanciais nessas duas organizações sociais, uma possui hábitos mais primários e tradicionais do que a outra, o que não transforma as pessoas que vivem nas cidades em seres majestosos, superiores ou mesmo soberbos. Deste modo, segundo Tylor (1871) Cultura [...] É aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Outro antropólogo, Herkovits (1948) define cultura como a parte do ambiente feita pelo homem. Apesar de estes conceitos terem sidos criados nos séculos XIX e XX os conceitos contemporâneos pouco diferem destes. Atualmente existem mais de 250 conceitos de cultura. Porém, a maioria deles são bem parecidos. O sociólogo Pedrinho Guareschi (2003) define que cultura é tudo o que o homem faz. [...] Assim, cultura é maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de se comunicar etc.
Portanto, ser culto é realizar qualquer variedade de sua cultura. Nós brasileiros, por exemplo, temos o português como língua, uma culinária à base de feijão com arroz enquanto noutros países como os asiáticos a culinária é regada principalmente ao arroz.

Essa idéia difundida de que a cultura é de poucos é falsa e enganosa, é necessário que as pessoas se libertem desses grilhões ideológicos que são produzidos pela mídia e principalmente pela globalização. O fenômeno da globalização apareceu no final da década de 1980 com a abertura econômica da Rússia, sob o Governo de Mikhail Gorbachev que abriu as portas da nação socialista para o sistema capitalista. Outra evidência da disseminação da globalização e do capitalismo foi a queda do muro de Berlim, efeito que solapou definitivamente a ruína do sistema socialista em toda a Europa. Então o que aconteceu com a cultura após estas alterações sócio-econômicas? Com a expansão da globalização vários povos foram atingidos por essa onda migratória de outras culturas, sobretudo através da internet, a qual tornou as fronteiras e limites geográficos transponíveis. Sendo assim, a maioria dos povos e nações do planeta sofreu e sofre diariamente o fenômeno da aculturação – assimilação de elementos culturais de outros grupos sociais a partir do contato constante e regular entre as diversas culturas. Isso favoreceu a fraqueza de algumas culturas. Desta maneira

Quando essa cultura é destruída o povo fica desprotegido e facilmente pode ser dominado e até destruído. Todo povo se afirma como povo na media em que consegue produzir essa fortificação, que fica sendo a razão mesma de seu existir. Por isso se diz que a cultura é a alma dum povo. Povo sem cultura é povo sem alma, sem identidade. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, as ações desencadeadas pela globalização produziram uma destruição massiva das culturas espalhadas pelo mundo. Atualmente, todas as pessoas têm acesso a informações as mais diversas possíveis, contudo muitas dessas informações escondem ideologias capitalistas e mercantilistas de empresas multinacionais que desejam tornar todo e qualquer ser humano num mero consumidor em potencial. Hoje nosso planeta é dominado pela indústria cultural.  Mas o que é essa indústria cultural?

A partir da segunda Revolução Industrial no século XIX e da predominância das regras do mercado capitalista, as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia da indústria cultural. Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens foram submetidos à idéia de consumo, como produtos fabricados em série. As obras de arte se transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, onde a maioria dos bens artísticos NÃO são criados para a contemplação, para a busca do belo, e, sim, para obtenção de lucros. (OLIVEIRA; COSTA, 2007. Grifo meu)


Diversos autores apontam que na verdade existe um quarto poder, a mídia. Além dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo aparece o mais forte de todos, os meios de comunicação de massa (MCM). Essa hipótese se sustenta e pode ser considerada plausível e admissível. No cenário político, por exemplo, Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores e demais parlamentares que são eleitos com freqüência, em geral, possuem algum meio de comunicação de massa: jornais impressos, rádios, revistas e principalmente, emissoras de TV. Esse aparato informativo tornasse numa ferramenta decisiva na formação da opinião pública. Quem assistiu ao documentário Muito Além do cidadão Kane, da BBC (1993), constatou que o poder da mídia é fortíssimo. Fernando Collor, por exemplo, foi uma campanha ardilosa de manipulação e alienação na qual a maioria dos brasileiros foram enganados pelas mensagens ocultas transmitidas pela Rede Globo. A Globo foi decisiva também na ascensão e queda do Regime Militar, boicotou por duas vezes a campanha de Lula, evitou que o grupo da Editora Abril fosse concedida uma licença de criação de uma nova emissora de TV, foi determinante na prática das discotecas no nosso país a partir das cenas exibidas pela novela Dancing Days, além disso, a Globo está entre as dez maiores emissoras de Televisão do planeta e tem uma cobertura nacional de 99,9% do território brasileiro. É muito domínio para apenas uma única emissora de TV, somado a tudo isso, diga-se que as Organizações Globo possuem 70% da receita em publicidade do país, possui jornais, revistas, editora, provedores de internet, uma TV por assinatura (SKY) e centenas de emissoras afiliadas espalhadas pelo Brasil.

A indústria cultural se manifesta dessa forma, os grandes empresários estão espalhados por toda parte, vendendo seus produtos através dos meios de comunicação massivos em detrimento da cultural local. Mas como se forma e expande a indústria cultural?

Quando se assiste a um filme, ou se vê uma novela, não é o roteiro, ou o enredo a única coisa a que se assiste ou se vê. Como pano de fundo está todo um conjunto cultural: um tipo de moradia, de decoração, uma maneira de comer, de vestir, de se relacionar, um tipo de carro, de casa, um tipo de diversão, em resumo, uma maneira diferente de se viver, isto é, um padrão cultural diferente. Esse pano de fundo é o que realmente fica na mente das pessoas e leva à mudança dos padrões culturais. É uma transmissão ou mudança de cultura que se dá quase inconscientemente. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, o fenômeno da globalização exporta costumes, hábitos e valores de outros lugares para fronteiras longínquas. Os brasileiros, por exemplo, ouvem numa estação de rádio com freqüência música americana, norueguesa, européia, asiática e etc. quando uma cantora ou cantor internacional realiza shows no Brasil os ingressos se esgotam em poucos dias, as pessoas tomam diariamente refrigerante americano, andam em carros americanos (Chevrolet, Ford), italianos (Fiat), Franceses (Peugeot, Renault), japoneses (Honda, Kia, Suzuki), alemães (Wolkswagen, Mercedez, BMW), nossos clubes de futebol vestem camisas confeccionas e desenhadas por empresas multinacionais: adidas e puma (alemãs), umbro (inglesa), lotto, diadora e kappa (italianas), reebok, nike e Wilson (americanas), nossa língua portuguesa sofre incrementos de palavras exógenas como pizza, hambúrguer, cheesebúrguer, web, cyber, download, MSN, Orkut,novas  Esses clubes perderam e perdem diariamente torcedores para equipes de outras regiões como o Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético MG e etc. esse é o autêntico fenômeno da indústria cultural. O que mais impressiona é que na medida que essas equipes exógenas são campeãs, no Nordeste, Norte e restante do país as pessoas realizam verdadeiras festas de comemoração a conquista de campeonatos. O mesmo não ocorre com os clubes locais! 

entre outras. Então, dá para notar que nossa cultura padece com o tempo, não há como resistir aos efeitos da globalização, principalmente, a partir dos meios de comunicação de massa. A cultura local deixa de lado suas canções e cultuam outras, as pessoas mudaram seus hábitos alimentares devido a propaganda de comidas, não existe no Brasil, infelizmente, um carro autêntico brasileiro, as pessoas perderam os valores familiares e afetivos devido ao uso com freqüência da internet, as vestimentas utilizadas por nós são cópias de tendências regadas à nova moda, os clubes locais perderam parte de sua torcida para os times do sul do país e também para equipes de outros países como: Real Madri, Barcelona, Manchester, Chelsea, Arsenal, Liverpol, Milan, Internazionale. Ainda ontem, no jornal da globo, passou uma matéria sobre torcedores do flamengo na Paraíba que foram as bares de João Pessoa assistir ao jogo. Isso não acontece com as equipes paraibanas como o Autoesporte, o Treze e o Campinense.

Mas, será que existe alguma maneira das pessoas evitarem os efeitos culturais impostos pela indústria cultural? Há sim. Para se evitar tais males é necessário que as pessoas evitem assistir TV com freqüência (o brasileiro assiste TV, em média, cinco horas por dia), ler livros comumente, debater com colegas sobre qual o interesse das propagandas que são veiculadas nos rádios, TV, jornais e revistas. Valorizar sua cultura de maneira proficiente, evitando-se assim, a alienação consumista que é a premissa crucial e fundamental dos meios de comunicação massivos e dos grandes empresários. Evitar os males causados pela indústria cultural, globalização e mídia é uma tarefa dificílima, mas existe um elixir capaz de sanar esse perigo eminente, a educação.

2 comentários:

  1. Olá professor!Como vai?
    Sou graduada em História e estudante de pós-graduação em História do Brasil também pela FAFICA.Parabéns pelo artigo do blog. Gosto de trabalhar com arte,cultura e imagens, escrevi recentemente um artigo sobre propaganda nazista e penso em escrever minha monografia sobre a influência da mídia na cultura pernambucana. Acredito que é uma discussão produtiva e interessante. Essa abordagem o blog ajudou e reforçou o que pretendo escrever.
    Abraço, Valéria

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  2. Olá Valério, estou bem. Obrigado por ler o texto.
    Acredito que você tem um vastíssimo material para publicar sua monografia, mas posso lhe sugerir a leitura de um antropólogo gaúcho que trabalha a questão da mídia, seu nome Pedrinho Guareschi que, inclusive, tem um site próprio com seus artigo: www.pedrinhoguareschi.com.br, tenho igualmente muito orgulho de ter sido aluno da FAFICA.
    Cordialmente, meus agradecimentos.
    Chico.

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