terça-feira, 10 de agosto de 2010

Professores desvalorizados, desmoralizados e injustiçados


Nos últimos doze anos os Professores da Rede Pública Estadual de Pernambuco padecem economicamente, moralmente e politicamente. Jamais houve em todo o Estado de Pernambuco políticas públicas tão nocivas ao exercício da docência como as que vivenciamos nas últimas gestões governamentais. Os professores do nosso Estado sofreram diversas perdas políticas antes conquistadas pelo reconhecimento e valorização da profissão que exerciam, mas esse quadro mudou bastante nos últimos anos. A gestão do Governador Jarbas Vasconcelos (oito anos, diga-se) foi terrível para o funcionalismo público de modo geral, o qual cortou gratificações, congelou salários e reduziu o Plano de Cargos e Carreiras do Servidor Público, o atual Governador Eduardo Campos, que em campanha política pregava o resgate e revalorização de nossa categoria apenas reproduziu a política da desvalorização e promoveu políticas despóticas e ditatoriais calando e até mesmo ameaçando os professores que desejavam aderir à última greve por reajuste salarial.
            Ademais, nós professores de Pernambuco estamos entres os três piores salários pagos a profissionais da Educação no Brasil, segundo informações publicadas no site do próprio Ministério da Educação (MEC). O então Governador Eduardo Campos alega que paga o piso salarial estabelecido sob a forma de Lei, porém, isso não ocorre. Na cabeça do Governador o piso está sendo pago, mas o que acontece na verdade é que o governador incorporou a nossa gratificação que antes era de 60% aos vencimentos, noutras palavras, Eduardo Campos reduziu nossa gratificação de 60% para 20%, somando, nosso salário líquido não atinge o piso salarial. Se isso não bastasse, o ex-secretário de Educação do Estado de Pernambuco, Danilo Cabral, promoveu uma das piores gestões educacionais da história de Pernambuco, conferindo aos discentes o comodismo e desinteresse em estudar. Parece estranho culpar o Secretário de Educação pelo fracasso Escolar do aluno, mais, o aluno da rede pública pode passar de ano letivo mesmo que não tenha adquirido nota alguma em todo o ano letivo. Parece um absurdo, mas temos a Instrução Normativa que regulamenta essa prática abusiva. Imagine um aluno faltoso, que não comparece as aulas regulares nem tampouco participa do ano letivo pode passar de ano com apenas uma nota seis (6) adquirida na recuperação final. Não preciso nem comentar mais sobre isso! O Secretário ainda criou as Escolas de Referência, atualmente chamadas de Escolas Integrais, em outras palavras, Escolas Modelo, onde os profissionais de Educação recebem 150% a mais que os professores do Ensino Regular. Então, neste caso, deduz-se que no Estado de Pernambuco existe uma Escola que funciona e é boa e decente (Integral) e a que não serve (Regular) onde os professores recebem uma mixaria como salário e são os únicos responsáveis pelo fracasso escolar do discente. A segregação é promovida pela própria Secretaria de Educação que cria uma Escola com profissionais supervalorizados e outra com profissionais segregados. Para complicar ainda mais a desmoralização dos professores da rede pública, o atual Secretário de Educação Nilton Nunes, acrescentou ao ensino regular Professores Itinerantes que possuem a incumbência de ministrar aulas em caso de falta ou ausência dos professores efetivos. Esses professores recebem um salário quase idêntico aos dos professores efetivos, o que reforça a teoria de que a política do atual governo é muito paradoxal, contraditória. O Governo alega que não há dinheiro para reajuste salarial dos docentes, mas contrata servidores com um salário próximo aos dos servidores efetivos. Dá para acreditar? Vale salientar que não tenho nada contra os professores itinerantes, são profissionais como eu, porém minhas críticas são as políticas educacionais do atual governo.
            Os professores são fiscalizados por Técnicos (as) Educacionais, função criada no último concurso público (2008), se isso também não bastasse, os (as) referidos (as) funcionários (as) têm um salário quarenta por cento (40 %) acima dos professores efetivos! Os docentes que se aposentam após longínquas jornadas de trabalho se aposentam com salários inferiores aos dos (as) técnicos (as) educacionais (as) que são recentes no Estado, parece até brincadeira de mau gosto.
            Se os nossos problemas fossem apenas burocráticos e políticos seriam poucos aos que ainda enfrentamos no dia-a-dia escolar. Diariamente os professores são ofendidos por alunos (as) de todas as formas. Desde comentários como porque o senhor (a) veio hoje? Porque não ficou em casa? Lá vem aquele (a) chato (a), se as ofensas fossem apenas morais, ainda seria tênue, mais existem casos de ameaças e agressões físicas em todas as Escolas da Rede Pública Estadual. Nossas Escolas não possuem seguranças, nem tampouco vigilantes. Enfrentamos salas de aulas superlotadas, discentes desinteressados, descompromissados, indisciplinados, e em alguns casos sem perspectiva de vida. Isso não é uma regra geral, mas isso ocorre em todas as Escolas do nosso Estado. Uma das orientações e obrigações da própria Secretaria de Educação é que o número máximo de discentes por sala de aula são 40 para (Ensino Fundamental) e 45 (Ensino Médio), porém, estes números ficam apenas no papel. Tenho, por exemplo, salas de aula com 58 alunos!
            Para um professor que tem a função de professar ensinamentos a fim de se conceber algum saber fica muito difícil de trabalhar nestas condições. Além do mais, temos que lecionar 28 aulas por semana para completar nossa carga (que peso, hein) horária de 200 horas/aulas mensais, para se obter assim, um salário de menos de mil reais. Recebemos apenas seis (6) reais por hora/aula.
Não sou sociólogo, antropólogo, nem economista, mas não é preciso de graduação para se constatar que devido a esses dissabores, muitos docentes estão abandonando a sala de aula para obter meios mais amenos e menos desgastantes de sobrevivência ou então, continuar no exercício apenas cumprindo horário sem nenhum comprometimento pedagógico com seu ofício.
Portanto, enquanto houver políticos descomprometidos com a Educação Pública não apenas Estadual mais também brasileira estamos cada vez mais afundados na desvalorização, desmoralização e imbuídos a frustração profissional e pessoal.

2 comentários:

  1. Profº Francisco, sou aluno da rede pública de PE, e sei como está essa situação. Condiz com tudo dito por você.
    Quero lhe pedir que apesar dessa situação trágica que se encontra sua brilhante profissão, o Sr. não se desestimule de exerce-la. Ainda que poucos, há muitos alunos interessados e que estão sendo prejudicados pela falta de profissionais que ainda não abandonaram a causa.

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  2. Obrigado por participar da discussão, Alef.
    Me considero um profissional dedicado e esforçado, porém, está sendo muito difícil trabalhar em tais condições. Além disso, na semana passada, fui impelido, não apenas pelos pais de alunos mais também por colegas de trabalho a aprovar alunos que não compareciam as aulas, nem tampouco, possuiam conhecimento mínimo algum nas minhas disciplinas. Pelo que tenho percebido, mesmo aqueles professores mais dedicados, são forçados a entrar na graça do sistema que permite a aprovação sem qualidade. Estou pedindo remoção da Escola na qual trabalho e fui aluno devido a não aceitação de muitas práticas docentes reproduzidas por lá. Ainda acredito na Educação Pública, todavia, temos que sobreviver, e para isso, necessitamos de reconhecimento pessoal e social.
    Abraços...
    Recomendo-lhe a leitura da matéria: VALORES ÉTICOS NA ESCOLA PÚBLICA.

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