quarta-feira, 9 de março de 2011

O que é ateísmo?


O que é ser ateu? O que faz uma pessoa ser incrédula à existência de um Deus ou de deuses? É possível viver sem Deus? 

Todos esses questionamentos são muito frequentes no mundo atual e, em geral, levam alguns religiosos a atos extremos de preconceito, fanatismo, discriminação e até mesmo violência. Quem segue uma determinada religião não consegue imaginar a existência de pessoas vivendo neste mesmo mundo sem acreditar na sua religião. Geralmente, quem é contrário a alguma religião monoteísta ou politeísta, os religiosos denominam de ateus. Ateu deriva do grego e significa quem nega a Deus ou a existência de uma ou várias divindades ordenadoras do mundo. Os religiosos, com frequência enxergam os ateus como pessoas adeptas ou prosélitas de divindades maléficas, em geral, adoradores do demônio. Isso é um grave equívoco cometido por religiosos.
Creio que os religiosos, com frequência, só veem o mundo de uma forma maniqueísta: bem e mal; claro e escuro; feio e belo; Deus e Diabo. Essas visões de mundo ou cosmovisões são grosseiras e repletas de atos preconceituosos e levianos. Neste caso, para um religioso, quem não é Cristão, por exemplo, só pode ser ateu ou herege, e nesse sentido, quem é ateu é tomado por crença no mal, no sobrenatural, no demônio. É por isso que, comumente, quem é ateu sente-se o medo de assumir-se publicamente, isso mesmo, quem não acredita na existência de uma divindade onipotente, onipresente e onisciente tem muito medo de dizer que é ateu, não por suas crenças, mas pelo desprezo e reprovação social da maioria dos religiosos que são maioria.

Outro dia José Luiz Datena fez uma enquete no seu programa diário Brasil Urgente perguntando aos telespectadores para responderem por telefone quem era ateu. Após a o resultado da enquete Datena fez comentários irrefletidos e levianos sobre as crenças dos ateus, questionando os posicionamentos daqueles que não acreditam na existência de Deus. Datena corroborou o que mencionei no parágrafo anterior, a maioria dos religiosos não enxergam a possibilidade de se viver neste mundo sem acreditar na existência divina, isso soa como se o mundo fosse somente norteado pelas religiões e nada mais. Quem é contrário a qualquer religião sofre preconceitos e discriminações de todas as formas. O que há de comum na atitude de Datena e de muitos religiosos é que lhes faltam algumas posturas fundamentais aos seres humanos: reflexão, alteridade, empatia e conhecimentos de Ciência, história e filosofia.

A ausência de prudência entre alguns religiosos pode ser explicada pela visão unilateral de seu mundo. A sua religião específica é a única aceitável e verdadeira, não permitindo o diálogo, debate e discussão com a ciência, história, filosofia e outras formas de conhecimento. Esse é o maior pecado da religião. Os religiosos têm uma enorme dificuldade em ver o mundo dos outros, só percebem os seus próprios pontos de vistas, de opiniões e não se permitem o questionamento de suas nobres crenças. 

Quem é ateu, penso, consiste num ser que valoriza essencialmente o pensamento racional em detrimento do senso comum e da especulação religiosa. As pessoas que negam a existência divina se baseiam em crenças fundamentadas na ciência ou na filosofia, que são, a meu ver, formas de conhecimentos mais satisfatórias para nossas maiores dúvidas. O ateu possui uma fidelidade à razão e não à obscuridade, prefere uma explicação dos fatos e acontecimentos mais lógica do que explicações infundadas, como as mitológicas e religiosas. O ateu permite-se e é aberto ao debate e ao diálogo sobre muitos questionamentos que dizem respeito à espécie humana, sobretudo, concernente a origem dos seres humanos, coisa que não é permitida no mito e na religião. Para o ateu, a teoria do criacionismo é questionável, pois não foi tecida em dados indiscutíveis e inquestionáveis, mas repleta de contradições. Os ateus não seguem religião, pois sabem que as religiões são invenções humanas construídas ao longo da história da própria humanidade. Nenhuma religião atual é autêntica, pura, imaculada, todas elas sofreram e sofrem influências de variadas culturas atuais e pretéritas. Talvez a postura do ateu consista na sua sagacidade por respostas as muitas perguntas ainda não respondidas sobre os seres humanos, a explicação religiosa fica mais próxima das fantasias, mitos e lendas. Ser ateu não é cultuar ou acreditar na existência de seres maléficos, monstruosos, hediondos, cruéis ou qualquer personificação do mal. O ateu, por exemplo, sabe que o próprio diabo é uma invenção do período medieval (Idade Média), principalmente da Igreja.  A história enquanto ciência tem mostrado e demonstrado que as maiores religiões monoteístas tiveram origem no Oriente, além disso, possui uma provável data do seu advento, o que permite muitas indagações: se a religião tem início, presumivelmente o conceito de Deus também. Todas essas inferências foram demonstradas pela arqueologia e pela história, ciências que se fundamentam nos rigores dos métodos científicos, que são a meu ver, mais plausíveis e admissíveis.

Algumas pessoas acreditam na impossibilidade de se viver sem Deus, sem acreditar na existência de uma força divina que ordena o mundo e todos os seres vivos que nele habitam. Muitos povos que viveram no período tradicionalmente denominado pré-história viviam de acordo com imperativos da própria natureza e não segundo a moral religiosa. Alguém pode refutar tal premissa partindo do pressuposto de que na pré-história não havia religião, neste caso, confirma-se a teoria de que a religião é uma invenção dos humanos para explicar a sua realidade conforme sua época. O Budismo, por exemplo, que é uma religião oriental, não há um Deus ordenador, tampouco criador do mundo e os budistas são mais pacíficos do que a maioria dos judeus, muçulmanos e cristãos que vivem um mundo guiado por Deus. O budismo serve de exemplo que é possível viver sem acreditar na existência de seres superiores, os gregos já demonstraram isso há 2.400 anos, principalmente, através de Sócrates que questionava a crença religiosa dos demais gregos. Foi assim que surgiu a filosofia, um modo de explicar a realidade mais inerente à realidade do que na fantasia, do que no mito e na religião. Os Gregos questionavam as divindades teoricamente existentes através da formulação de perguntas que não eram respondidas pelos crentes, como por exemplo, se existe uma infinidade de deuses (como se suponha naquela época na Grécia antiga) onde eles estão? Se os deuses são onipotentes, oniscientes e onipresentes porque não estão entre nós (entre os gregos)? Essas indagações jamais foram respondidas de modo convincente pelos religiosos.

Para o ateu, segundo creio, a ciência tem uma maneira de descrever e explicar a realidade de um modo mais convincente que a religião. A ciência tem demonstrado isso por vários séculos e a cada dia surpreende ainda mais a todos os humanos, contudo, a ciência não explica o todo, assim como o todo não pode ser explicado pela ciência. A ciência é parcial, o que não quer dizer imprecisa nem tampouco contraditória. Religião e ciência não fazem as pazes mais por resistência da religião que é dogmática e não aceita o diálogo, discussão e debate sobre suas crenças, rejeita qualquer dúvida sobre a santidade de seus mártires e líderes espirituais. E, ultimamente, temos visto inúmeros atos de fanatismo cometidos por religiosos em todo o planeta. Judeus versus muçulmanos, católicos versus evangélicos, xiitas versus sunitas, os conflitos e muito pior: as mortes em nome de Deus estão se expandindo cada vez mais. Só como exemplo recente, 11 de setembro. O que os ateus não conseguem entender, em muitos casos é porque os religiosos estão matando a si próprios em nome de Deus? Se fizermos um levantamento historiográfico vamos constatar que as maiores atrocidades da humanidade foram em nome de Deus, a título de exemplo: o massacre de Massada, as Cruzadas, a Conquista da América, A Reforma e Contrarreforma, A Inquisição, a guerra árabe palestina, católicos e protestantes na Irlanda, diversos atentados terroristas, 11 de setembro e etc. É incomum ouvir-se nos noticiários que vários atentados terroristas foram gerados e idealizados pelos ateus.

Ser ateu num país demasiado religioso é sofrer os mesmos preconceitos vivenciados pelos homossexuais, negros, índios, pobres e etc., ainda mais se tratando de Brasil, um país que tem uma Constituição que coíbe o preconceito e repudia qualquer ato de discriminação religiosa, no entanto, não é isso que tenho observado nos últimos anos.

3 comentários:

  1. Ser ateu no país,mas cristão do mundo é dificíl mesmo. É ter que bater de frente com o preconceito todos os dias,assim como voçê relata no texto que é uma descriminação igual aos dos negros,homossexuais,pobres e etc.Tudo isso faz parte do grande mal que o ser humano carrega que é a falta do conhecimento.Parabéns,pois é uma grande abordagem e um tema que é muito descutido são várias visões.

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  2. Não penso que a Constituição coíba ou repudie atos de discriminação religiosa, pois o Art. 5º é bem claro quanto a isso. Ser ateu também é uma forma de pensar/crer, assim como ser cristão. O que acontece é que na prática maior parte de nossa população (se não todos) estão tomados dos mais variados tipos de preconceito e são reativos a propostas contrárias de pensamento.

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    1. A nossa Constituição permite a liberdade de culto e crença. Repudiar atos discriminatórios ela não tem essa força, mas oferece o suporte para nossas diversas escolhas, no entanto, o preconceito, atitudes racistas e intolerantes são manifestações de ordem humana e frear ou controlar tais insanidades é um dever do Estado enquanto aparato mantenedor da paz e da convivência social.

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