quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dilma Rousseff, apologista do aborto e ateísmo?


Hoje recebi um e-mail e fiquei estarrecido com o seu teor. O e-mail está circulando por todo o país e trata-se de temas polêmicos da sociedade, como aborto e ateísmo; e envolve a candidata a presidência da República, Dilma Rousseff. Além disso, no mesmo e-mail, reproduz-se uma eventual entrevista da candidata a um jornal de Minas Gerais, que no decorrer da entrevista Dilma afirma que nem mesmo Jesus Cristo impediria a sua eleição, devido a sua frente segundo institutos de pesquisas. E, no final da mencionada entrevista o mediador do Jornal – que não foi citado o nome – afirma com veemência que a candidata Dilma é a favor da prática do aborto. Fato que não foi discutido em nenhum momento pela candidata. Ainda sobre o e-mail, como era esperado, a população de Minas Gerais ficou indignada, visto que a maioria são cristãos – católicos e evangélicos – , não aceitou tais afirmativas da candidata e repudiaram mudando de opção política para José Serra, que antes estava abaixo nas pesquisas e doravante superou a candidata colocando cinco pontos percentuais de vantagem.
A candidata Dilma Rousseff nega as acusações de apologista do aborto.
            Este e-mail suscita diversos questionamentos, um deles refere-se a qual mídia realizou tal entrevista? Se foi um Jornal de circulação mineira, então porque não foi citado o seu nome nem tampouco o nome do entrevistador? O que entendemos por ateísmo, comunismo e ideologia? Se após essa entrevista – que questionamos a autenticidade – então porque a candidata do PT continua crescendo nas pesquisas de intenção de votos em todo o país?
Propagandas pejorativas da Revista Lei e Polícia que reproduziam imagens distorcidas dos comunistas.

            Imagine um e-mail como este circulando por todo o país narrando esta eventual entrevista da candidata do PT contestando a fé dos brasileiros – o país mais cristão do planeta – e favorecendo o exercício do aborto? A repercussão será trágica e crudelíssima a candidata, ademais, favorecia a oposição política. Essa notícia circula com muito vigor devido a prática do senso comum que consiste na reprodução de notícias, informações, crenças, valores, idéias de outrem sem nenhuma investigação racional. É o que ocorre quando recebemos várias informações diariamente, sobretudo pelas diversas mídias – Rádio, TV, Jornais televisivos, impressos e revistas – e a reproduzimos sem nenhuma crítica, reflexão ou segurança de sua veracidade, eis o senso comum, um membro que favorece a difusão das ideologias.
Nenhum adepto ou proselitista do Partido Comunista impõe tortura aos seus correligionários. 
 
            Ideologia, etimologicamente, significa estudo ou conjunto de idéias, mas ela pode assumir um modelo extremamente nocivo e manipulador das pessoas desinformadas e que não agem de acordo com a razão ou pelo conhecimento racional. Para o Sociólogo Pedrinho Guareschi[1] (2003) Ideologia consiste em ideias erradas, incompletas, distorcidas, falsas sobre fatos e a realidade.
A realidade é aquilo que acontece ou aconteceu de fato, sem ilusões, distorções, deturpações, mentiras e falsidades. 
Os comunistas não eram ateus como se divulgava. 
Outra ideia que inerentemente brota a partir do suposto e-mail é que o modelo de denominar as pessoas de atéias, anticristos e comunistas ocorreram diversas vezes ao longo da história da humanidade. No próprio Brasil, nas décadas de 20 até o final da ditadura militar circulava a especulação de que os adeptos do partido comunista eram todos comedores de criancinhas, ateus, anticristos e outros pseudônimos pejorativos. E, apesar de vivenciarmos a Era da informação e comunicação tal prática persiste até hoje. Contudo, isso é apenas mais uma reprodução de ideologias daqueles que possuem o poder (proprietários do modo de produção) e não desejam perdê-lo, neste caso, os capitalistas. Mas então, o que é comunismo? Guareschi[2] define:

Para Marx, a sociedade comunista é o último estágio da história da humanidade. Nela não existirão mais exploradores e explorados, isto é, não existiriam mais classes sociais, a figura do Estado iria desaparecer. Mas esse estágio só seria atingido após a tomada do poder pela classe proletária, após a extinção do modo de produção capitalista, e após o advento do modo de produção socialista. [...] O que o comunismo quer, então, é fazer com que os meios de produção passem a ser de todos, comuns. No momento em que não houver mais meios de produção privados, conseqüentemente não haverá mais classes. (Grifo meu)

            Será que o fato de um partido político defender e desejar implementar políticas públicas igualitárias, altruístas e extinção das classes sociais devem ser repudiados dessa maneira? Qual o mal por trás de políticas que defendem a igualdade social das pessoas? Obviamente, os comunistas são combatidos e repelidos pelos dominadores dos modos de produção, os capitalistas, através de campanhas ideológicas que são reproduzidas pelos seus meios de comunicação de massa: TV, Jornais, Revistas e rádio. Dessa maneira fica fácil macular a imagem de qualquer pessoa que ofereça algum perigo ao seu domínio. Basta lembrar-se da passagem bíblica onde Jesus foi crucificado pela sua ameaça ao poder instituído dos Sacerdotes Hebreus e do Império Romano. Nada melhor do que cunhar uma imagem negativa de um concorrente (ideologia) para eliminá-lo. Virou rotina também chamar aqueles que ameaçam os interesses privados dos candidatos neoliberais de adeptos do aborto e ateus. Mais isso não passa de mais uma falsa ideologia. 
 Os comunistas não promoviam trabalhos forçados como mencionava esta propaganda.

            O aborto é condenado pelas três maiores religiões monoteísta do planeta:

Todas as autoridades rabínicas concordam em que o aborto é contrário à lei judaica. No entanto, se a vida da mulher que vai dar à luz corre perigo, o aborto passa a ser permitido. O Talmude afirma que o feto só está ‘formado’ depois de quarenta e um dias. A posição islâmica é sensivelmente idêntica. No catolicismo, a participação ativa em um aborto é um delito. Se o aborto for consumado, esta participação acarreta a excomunhão automática.[3]

            As maiores religiões monoteístas do planeta: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo têm posicionamentos parecidos a essa prática. Todas condenam a ação abortiva como uma atitude funesta e sombria onde o fiel deve ser banido daquela religião. Mas, em casos excepcionais, como em uma gravidez de risco, o aborto é permitido para preservar pelo menos uma vida. Neste caso, a ideologia tecida sobre se um candidato (a) é favorável ao aborto logicamente promove muita polêmica e repercussão nacional. Isso não seria mais uma ideologia imbuída pelos meios de comunicação para denegrir a imagem de alguma pessoa? 
 Imagem de uma propaganda do Partido Comunista em Recife contestando a ideologia de que os comunistas eram ateus.

Outro tema polêmico é sobre os ateus, que quando são indicados ou mesmo assumem que são ateus, comumente são denominados como seres adoradores de satã ou qualquer outra divindade maléfica. Os ateus não são assim. Acreditam que não há nenhum Deus ou divindade superior. Será que as pessoas não possuem a liberdade de acreditar em seus pensamentos ou devem pensar sempre igual à maioria? É insólito ouvir-se por aí que pessoas atéias cometeram atentados terroristas ou qualquer ato que prejudique a vida de outras pessoas.
Se utilizarmos a razão vamos concluir que muitos discursos possuem interesses latentes, neste caso do e-mail, basta inferir a quem favorece a circulação da mensagem da provável entrevista de Dilma Rousseff? Alguém ouviu a própria candidata dizer com suas palavras que é a favor do aborto e que ninguém, nem mesmo, Jesus Cristo impede a sua eleição? Cabe a você eleitor prudente avaliar essa situação, pois, cada um possui uma maneira de ver a realidade e buscar a verdade, portanto, reflita bastante sobre quem poderia obter êxito na suposta entrevista, se ao menos soubéssemos o nome do Jornal ou do jornalista!
 A filósofa Marilena Chauí[4] define assim a verdade:

[...] o conhecimento não pode ser ideologia, ou, em outras palavras, não pode ser máscara e véu para dissimular e ocultar a realidade servindo aos interesses da exploração e da dominação entre os homens. Assim como a verdade exige a liberdade de pensamento para o conhecimento, também exige que seus frutos propiciem a liberdade de todos e a emancipação de todos.


[1] GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia crítica. 54ª edição – Rio Grande do Sul: EDIPUCRS, 2003.
[2] Idem.
[3] REEBER, Michel. Religiões. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
[4] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cachoeirinha acolhe deputados que votaram contra a educação


            No pleito que se aproxima, a população de Cachoeirinha, aparentemente, acolheu de braços abertos deputados estaduais que votaram contrariamente a proposta de aumento salarial e valorização dos professores e Profissionais da Educação da Rede Pública Estadual. Os Deputados João Fernando Coutinho e Esmeraldo Santos, ambos de outras cidades. Os dois deputados juntamente com mais trinta e dois (total de 34) votaram na Assembléia Legislativa do nosso Estado a favor do Governador Eduardo Campos, vetando medidas que favoreciam o desenvolvimento e melhorias na Educação pública de Pernambuco. Os vencimentos dos professores que antes eram de 60% foram reduzidos para 20%, o Plano de Cargos e Carreiras (PCC) foi modificado implicando em perdas significativas para os Servidores Públicos e Profissionais da Educação de Pernambuco.
            Em Cachoeirinha, além do acolhimento de boa parte da população, os automóveis, casas residenciais e comerciais, bicicletas, e fachadas foram decoradas com propagandas político partidárias destes candidatos, inclusive, há casas que receberam dinheiro, ofertas de emprego e bens materiais pela propaganda de tais políticos. Os dois candidatos a reeleição em suas propagandas sonoras expõem obras e realizações que, coincidentemente só revelaram nestes meses que antecedem a eleição, obras como a construção de uma nova caixa d’água para aumentar o abastecimento e fornecimento de água, evitando assim o racionamento, a construção da Academia das cidades, obras que por mero acaso só apareceram e foram conferidas a tais deputados, neste período. O que chama a atenção também é que a maioria dos políticos quando realizam obras públicas, com financiamento de nossos impostos (verbas públicas, erário) anunciam como se fossem construções pessoais, faraônicas e não sociais e coletivas. Lembrando que as nossas cidades não dispõem de proprietários, mais apenas de regentes, governantes, intendentes, que de antemão, obedecem (em teoria) à vontade e interesses coletivos. A Compesa é uma empresa estatal, isso é notório, contudo, as obras são realizadas sem intermédio ou aval de qualquer deputado, depende apenas da administração interna, só em casos excepcionais (que não é o caso da construção de uma mera caixa d’água) é realizada uma plenária para discussão. O Deputado João Fernando Coutinho juntamente com o seu pai o Candidato a deputado federal Augusto Coutinho está anunciando que foi responsável pela pavimentação de várias ruas de bairros em Cachoeirinha. Outra coincidência, que só foi mencionada no período eleitoral. Vale ressaltar que tais deputados só apareceram em Cachoeirinha neste período eleitoral. No período de exercício de seus respectivos mandatos, os deputados e candidatos a reeleição praticamente não visitaram nossa cidade, aparecendo, fortuitamente somente agora. Coincidência?
            Cachoeirinha é uma cidade que tem um grande artesanato, sobretudo, produção e confecção de artefatos cunhados em couro e aço, além de uma crescente produção de queijos e derivados do leite, possui também, a segunda maior feira de gado do interior de Pernambuco, mesmo assim, as obras públicas que são realizadas por aqui se resumem a pavimentação de ruas. Isso é muito pouco para uma cidade que tem um crescimento econômico irrisório. Obras de maior relevância como Saneamento público, Segurança, melhorias na educação, capacitação de jovens, infra-estrutura, valorização e concessão de créditos aos artesãos locais são medidas políticas efêmeras ou mesmo inexistentes! Nossa cidade dispõe de provavelmente 20 mil habitantes e temos como prioridade pavimentação de ruas. Cachoeirinha não dispõe de creche, teatros, cinemas, quadras públicas, Projetos de desenvolvimento sustentáveis, estádio de futebol público, cooperativas para defesa de interesses de artesãos e produtores de queijo, resumindo, nossa cidade não cresce por insuficiência econômica, mas por políticas públicas nocivas ao desenvolvimento local.
            Se porventura tais deputados forem reeleitos não acredito que estes venham trazer benefícios para nossa cidade e demais cidades, pois, as expensas que estes deputados investem para reeleição não serão suprimidas pelos salários que irão receber na Assembléia Legislativa. O que esperar de um deputado que nada fez por sua cidade natal – Esmeraldo Santos – de São Caetano? Quais as perspectivas de um deputado egresso de cidades que foram gravemente atingidas pelas enchentes de 2010 – João Fernando – de Água Preta?
            Os dois deputados juntos tiveram pouco mais de sessenta (60) mil votos na última eleição, é uma votação muito expressiva, porém, perguntem aos moradores das cidades que auferiram votos a tais políticos sobre as obras, benefícios, investimentos e recursos públicos angariados por eles aos municípios visitados e apoiados, decerto, a resposta será negativa. O que é mais estarrecedor é que há profissionais da Educação que vão votar nesses respectivos candidatos!
            Devemos ter muita cautela na escolha dos nossos representantes públicos, pois, serão quatro  e oito anos de poder (deputados e senadores, respectivamente). Para não incorrer em erros, precisamos analisar com acuidade o currículo de cada candidato para assim evitarmos os políticos torpes que sempre aparecem no período eleitoral.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ficha limpa, política suja


O Projeto Ficha Limpa tem sido aclamado por muitos brasileiros como uma conquista da Democracia Nacional, porém, o Projeto em si não é suficiente para elucidar o problema da corrupção política em nosso país. Há décadas a política brasileira permanece a mesma, mudando apenas a roupagem, ademais, a prática hedionda é sempre a mesma. A política nacional se parece mais com um ritual lúgubre do que uma conquista democrática.
No próximo dia 03 de outubro serão escolhidos os novos (?) ou velhos conhecidos da República Brasileira, Deputados Estaduais, Deputados Federais, Senadores, Governadores e o (a) presidente do Brasil. Em média o salário dos Deputados Estaduais ultrapassa R$ 18.000, além de vários benefícios mensais; Deputados Federais recebem proventos acima de R$ 24.000, além de auxílio moradia, combustível, assessores e etc., que custam aos cofres públicos em média R$ 98.000 por cada Deputado Federal, somando isso às 513 cadeiras que são ocupadas! Um Senador recebe em média R$ 24.000. Governadores Estaduais e o Presidente da República recebem salários próximos aos dos deputados federais.
Será que o projeto Ficha Limpa vai solucionar o problema da corrupção política brasileira? Um projeto de Lei é suficiente para dirimir as ações ilícitas cometidas por nossos representantes públicos? Acho improvável que uma única medida seja necessária para extirpar fraudes, desvios e ações nocivas a democracia brasileira. Nosso país tem leis suficientes para combater e punir corruptos, contudo, nossa Justiça promove poucas punições aos verdadeiros culpados.
A solução caberia ao Poder Judiciário promover punições a todos àqueles que cometeram atos ilícitos contra o tesouro público (erário), só assim, pode-se aventar a possibilidade de construção de uma política pura, limpa e imaculada. Nos Estados Unidos, por exemplo, um político que exerça qualquer cargo público, caso cometa alguma irregularidade administrativa ou pessoal será condenado da mesma maneira que um civil. A Justiça Norte-americana não é sublime nem tampouco perfeita, mas ela é mais rígida e exemplar do que a nossa. Na Islândia, é muito raro encontrar nas manchetes diárias alguma notícia sobre corrupção política. Aqui no Brasil, por exemplo, existem leis protecionistas a deputados, senadores e outras esferas políticas que conferem armaduras a esses parlamentares, deduzindo-se a partir daí que são seres intocáveis. No Poder Judiciário, por exemplo, um juiz que for a litígio e julgado culpado, sofre como pena a aposentadoria compulsória cujo castigo é um mero salário de R$ 12.000.
Deixando a questão salarial de lado, quando menciono política suja me refiro às irregularidades rotineiras promovidas pelos nossos representantes públicos. O Ficha Limpa é uma exigência hodierna, todavia, as ações de compra de votos, troca de favores, manipulação de concursos públicos, desvios de verbas públicas são bastante banais. Em geral, nas 5.564 cidades brasileiras ocorrem ou ocorreram irregularidades administrativas promovidas pelos políticos. É muito freqüente os políticos pagarem aos cidadãos por seus votos, assim também como quitação de contas de água e eletricidade atrasadas de pessoas mais pobres e carentes, troca de votos por bens materiais como telhas, tijolos, cimento, cestas básicas, remédios, consultas médicas e etc., isso apenas reforça o desestímulo e descrédito no qual a política brasileira atravessa. Muitas pessoas dizem que todo político é ladrão ou corrupto. Não é bem assim, não devemos atribuir uma generalização a um grupo de pessoas que cometeram atos de corrupção em detrimento dos políticos honestos. Para se escolher bem um candidato é preciso adotar o mesmo critério que as empresas avaliam quando vão contratar seus funcionários, examinar a vida do indivíduo.
Tenho observado também que, em geral, os representantes públicos (Vereadores, prefeitos, Deputados estaduais e federais, governadores e etc.) descendem de famílias burguesas e ricas da cidade ou região. A maioria dos prefeitos do Estado de Pernambuco são pessoas egressas de famílias nobres ou são grandes empresários da região. Coincidência ou mero acaso? Porque então gasta-se tanto nas eleições brasileiras? Sabendo-se que o retorno é inferior ao valor no qual foi investido! Vale salientar que o Brasil possui uma das campanhas eleitorais mais dispendiosas do mundo. Tudo isso se consolida na manutenção de oligarquias políticas e empresariais com interesses semelhantes. Não é mero acaso que a maioria das mídias: impressa, radiofônica e audiovisual pertence a políticos, isso torna a legitimação de seus interesses mais fáceis de serem obtidos. Posso estar errado, equivocado ou mesmo enganado, mas não acredito que empresários e pessoas abastadas vão trabalhar em benefício das classes sociais mais pobres. A história tem mostrado o contrário, as nações desenvolvidas (países de primeiro mundo) têm crescido mediante a exploração dos países subdesenvolvidos. Existem empresas multinacionais ou brasileiras que realizam ações beneficentes, mais, em geral, há interessem latentes por trás de tais ações. Basta conferir o filme Quanto vale ou é por quilo.
Outra ação prejudicial ao conceito de democracia se realiza na maioria das cidades brasileiras, o voto por indicação. É muito freqüente as pessoas votarem em parlamentares mediante indicação de políticos locais. Nesta eleição que se aproxima, por exemplo, os prefeitos e vereadores assim como outros interessados, trabalham colhendo votos para seus deputados estaduais e federais. Isso é um absurdo. O povo, neste caso, não está exercendo a sua cidadania e democracia, pelo contrário, está negando-a. quem vota por indicação não vota por si próprio, mais conforme a vontade do político local, que, neste caso, recebe muito dinheiro em troca da eleição de seus candidatos.
            Em cidades com menos de 100 mil habitantes virou rotina as pessoas priorizarem os interesses individuais e familiares acima dos coletivos. A população pensa, em primeiro lugar, na realização pessoal, como por exemplo, galgar um emprego público, um cargo de confiança, uma direção de Escola, Hospital ou alguma Secretaria conferida pelo político local, isso, na verdade, se traduz na troca de favores políticos. A partir daí, o político pode (mas, não devia) dizer a quem você deve votar, estampar panfletos e propagandas de seu candidato em sua casa, automóvel, bicicleta e no próprio corpo e exigir que acompanhe as carreatas, passeatas e palestras dos referidos candidatos. Eis a corrupção na sua forma mais sublime. Em que essas ações podem prejudicar os interesses da sociedade em questão? Não me cabe a resposta, mais como vai a Educação, Saúde, Segurança, Saneamento, Emprego, Economia e outros segmentos de sua cidade? Se tudo acima flui bem, estou mais uma vez equivocado!
A política nacional só vai se libertar das correntes da corrupção para um modelo democrático e, sobretudo, promissor a partir do momento que o povo saber o significado da palavra ALTERIDADE e também: deixar de vender seu voto, não admitir dinheiro em troca de propagandas políticas, se negar a votar em deputados estaduais e federais por indicação de prefeitos, não aceitar presentes políticos, contestar ofertas duvidosas de empregos e cargos comissionados. Deste modo, pode-se construir uma sociedade de verdade, enobrecendo os valores éticos e morais.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Professores desvalorizados, desmoralizados e injustiçados


Nos últimos doze anos os Professores da Rede Pública Estadual de Pernambuco padecem economicamente, moralmente e politicamente. Jamais houve em todo o Estado de Pernambuco políticas públicas tão nocivas ao exercício da docência como as que vivenciamos nas últimas gestões governamentais. Os professores do nosso Estado sofreram diversas perdas políticas antes conquistadas pelo reconhecimento e valorização da profissão que exerciam, mas esse quadro mudou bastante nos últimos anos. A gestão do Governador Jarbas Vasconcelos (oito anos, diga-se) foi terrível para o funcionalismo público de modo geral, o qual cortou gratificações, congelou salários e reduziu o Plano de Cargos e Carreiras do Servidor Público, o atual Governador Eduardo Campos, que em campanha política pregava o resgate e revalorização de nossa categoria apenas reproduziu a política da desvalorização e promoveu políticas despóticas e ditatoriais calando e até mesmo ameaçando os professores que desejavam aderir à última greve por reajuste salarial.
            Ademais, nós professores de Pernambuco estamos entres os três piores salários pagos a profissionais da Educação no Brasil, segundo informações publicadas no site do próprio Ministério da Educação (MEC). O então Governador Eduardo Campos alega que paga o piso salarial estabelecido sob a forma de Lei, porém, isso não ocorre. Na cabeça do Governador o piso está sendo pago, mas o que acontece na verdade é que o governador incorporou a nossa gratificação que antes era de 60% aos vencimentos, noutras palavras, Eduardo Campos reduziu nossa gratificação de 60% para 20%, somando, nosso salário líquido não atinge o piso salarial. Se isso não bastasse, o ex-secretário de Educação do Estado de Pernambuco, Danilo Cabral, promoveu uma das piores gestões educacionais da história de Pernambuco, conferindo aos discentes o comodismo e desinteresse em estudar. Parece estranho culpar o Secretário de Educação pelo fracasso Escolar do aluno, mais, o aluno da rede pública pode passar de ano letivo mesmo que não tenha adquirido nota alguma em todo o ano letivo. Parece um absurdo, mas temos a Instrução Normativa que regulamenta essa prática abusiva. Imagine um aluno faltoso, que não comparece as aulas regulares nem tampouco participa do ano letivo pode passar de ano com apenas uma nota seis (6) adquirida na recuperação final. Não preciso nem comentar mais sobre isso! O Secretário ainda criou as Escolas de Referência, atualmente chamadas de Escolas Integrais, em outras palavras, Escolas Modelo, onde os profissionais de Educação recebem 150% a mais que os professores do Ensino Regular. Então, neste caso, deduz-se que no Estado de Pernambuco existe uma Escola que funciona e é boa e decente (Integral) e a que não serve (Regular) onde os professores recebem uma mixaria como salário e são os únicos responsáveis pelo fracasso escolar do discente. A segregação é promovida pela própria Secretaria de Educação que cria uma Escola com profissionais supervalorizados e outra com profissionais segregados. Para complicar ainda mais a desmoralização dos professores da rede pública, o atual Secretário de Educação Nilton Nunes, acrescentou ao ensino regular Professores Itinerantes que possuem a incumbência de ministrar aulas em caso de falta ou ausência dos professores efetivos. Esses professores recebem um salário quase idêntico aos dos professores efetivos, o que reforça a teoria de que a política do atual governo é muito paradoxal, contraditória. O Governo alega que não há dinheiro para reajuste salarial dos docentes, mas contrata servidores com um salário próximo aos dos servidores efetivos. Dá para acreditar? Vale salientar que não tenho nada contra os professores itinerantes, são profissionais como eu, porém minhas críticas são as políticas educacionais do atual governo.
            Os professores são fiscalizados por Técnicos (as) Educacionais, função criada no último concurso público (2008), se isso também não bastasse, os (as) referidos (as) funcionários (as) têm um salário quarenta por cento (40 %) acima dos professores efetivos! Os docentes que se aposentam após longínquas jornadas de trabalho se aposentam com salários inferiores aos dos (as) técnicos (as) educacionais (as) que são recentes no Estado, parece até brincadeira de mau gosto.
            Se os nossos problemas fossem apenas burocráticos e políticos seriam poucos aos que ainda enfrentamos no dia-a-dia escolar. Diariamente os professores são ofendidos por alunos (as) de todas as formas. Desde comentários como porque o senhor (a) veio hoje? Porque não ficou em casa? Lá vem aquele (a) chato (a), se as ofensas fossem apenas morais, ainda seria tênue, mais existem casos de ameaças e agressões físicas em todas as Escolas da Rede Pública Estadual. Nossas Escolas não possuem seguranças, nem tampouco vigilantes. Enfrentamos salas de aulas superlotadas, discentes desinteressados, descompromissados, indisciplinados, e em alguns casos sem perspectiva de vida. Isso não é uma regra geral, mas isso ocorre em todas as Escolas do nosso Estado. Uma das orientações e obrigações da própria Secretaria de Educação é que o número máximo de discentes por sala de aula são 40 para (Ensino Fundamental) e 45 (Ensino Médio), porém, estes números ficam apenas no papel. Tenho, por exemplo, salas de aula com 58 alunos!
            Para um professor que tem a função de professar ensinamentos a fim de se conceber algum saber fica muito difícil de trabalhar nestas condições. Além do mais, temos que lecionar 28 aulas por semana para completar nossa carga (que peso, hein) horária de 200 horas/aulas mensais, para se obter assim, um salário de menos de mil reais. Recebemos apenas seis (6) reais por hora/aula.
Não sou sociólogo, antropólogo, nem economista, mas não é preciso de graduação para se constatar que devido a esses dissabores, muitos docentes estão abandonando a sala de aula para obter meios mais amenos e menos desgastantes de sobrevivência ou então, continuar no exercício apenas cumprindo horário sem nenhum comprometimento pedagógico com seu ofício.
Portanto, enquanto houver políticos descomprometidos com a Educação Pública não apenas Estadual mais também brasileira estamos cada vez mais afundados na desvalorização, desmoralização e imbuídos a frustração profissional e pessoal.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

QUAL A UTILIDADE DA FILOSOFIA?


Não é fácil responder a esse questionamento. Para quem conhece, ou melhor, dizendo, pratica um pouco de filosofia deve saber que para a Filosofia não dá respostas concretas, definitivas, indissolúveis e inquestionáveis. Para solucionar esta indagação seria possível de antemão outra pergunta: o que é a utilidade?
            Promovi este debate mediante a posicionamentos e opiniões emitidas por muitos alunos do Ensino Médio que se perguntam com muita freqüência para que serve a filosofia? E muitos deles respondem: é uma disciplina chata; ninguém entende filosofia; é uma coisa de loucos (as); esses comentários são em decorrência do conceito de utilidade formulada pelos discentes. Útil é aquilo que tem uma finalidade prática; é aquilo que sabemos para que sirva. Ademais, para a maioria dos alunos do Ensino Médio a concepção de valor restringe-se a pergunta célebre: o que eu ganho com isso (filosofia)? Freqüentemente, os alunos só realizam as atividades do ano letivo mediante a seguinte pergunta: vale quantos pontos essa atividade? Ou vale nota? Porém, essas definições podem ser definidas como conceitos formulados pela sociedade capitalista, neoliberal e globalizada.

Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis. (CHAUÍ, 2000)

            Atualmente, as pessoas estão atribuindo valores a bens materiais em detrimento do espiritual, digo que, os indivíduos supervalorizam seus automóveis, motocicletas, celulares, casas, equipamentos eletrônicos e vestimentas de modo que a sabedoria, neste caso a espiritualidade, fica descartada. Para algumas pessoas é mais válido possuir riqueza do que saber o que é a sociedade; é mais importante ir ao Shopping Center do que conhecer de maneira sábia o que é o mundo? Quem somos nós? De onde viemos? Para muitos, esses questionamento são atitudes de pessoas loucas, diferentes, radicais ou comunistas!
            A filosofia quando surgia no século VI a. C., na Grécia antiga, tinha o propósito de desvelar questões antes e jamais imaginadas pelos indivíduos. A civilização grega naquele período era explicada pelos mitos, de modo que ninguém ousaria em questionar. Com o aparecimento dos primeiros filósofos novas indagações fluíram pondo dúvidas sobre as explicações mitológicas, nascendo assim a filosofia. A filosofia no cerne de seu nascimento era uma maneira nova de pensar a realidade, sobretudo, todos os fenômenos naturais e humanos a partir da razão, que naquele tempo era definida como lógica. Segundo Gianfranco Morra (2001) A lógica ensina as formas do raciocínio; a filosofia enquanto lógica ensina a bem raciocinar. Mas esta arte pode ser usada com fins benéficos ou maléficos.
            A concepção de utilidade da filosofia formulada pelos sofistas consistia no fornecimento de instrumentos persuasivos aos interessados em obter vitórias pessoais ou dos grupos nas assembléias. Lembrando que os ensinamentos dos sofistas aos iniciados ou alunos eram realizados mediante pagamentos de seus pais ou tutores. Esta definição de utilidade aplicada à filosofia não se encaixa na prática filosófica. Mas, porém ela persiste até os nossos dias. As pessoas pagam por aulas de auto-escola, judô, informática e diversos serviços, todavia, essa aplicabilidade está isenta de filosofia. Esta prática abusiva foi muito rebatida e combatida por muitos filósofos gregos:

Foi exatamente contra essa concepção utilitarista da filosofia que Sócrates e Platão reagiram. Eles não negam a utilidade lógica da filosofia, mas consideram que a filosofia é muito mais que um método de pensamento. Ela não é estudada com finalidade profissional, como quando se quer aprender um ofício, mas “por cultura, como convém a um homem livre”. (MORRA, 2001)

A filosofia de Sócrates era muito distinta daquela difundida pelos sofistas. Para Sócrates uma vida não examinada não valia à pena ser vivida, neste caso filosofia distingue-se bastante da concepção religiosa e mitológica de mundo, essa nova cosmologia formulada pelos primeiros filósofos definiu os novos pilares do saber racional. Pela primeira vez, temos informações através dos textos que nos foram legados de que a humanidade rompe ao saber religioso e mitológico priorizando um saber mais humano, refletido e acima de tudo racional, é o brotar da filosofia. Ainda Gianfranco Morra (2001) define que a filosofia mostra então sua utilidade enquanto é a capacidade especificamente humana de refletir sobre a vida.

“O homem – escreve Pascal – não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água bastam para matá-lo. Mas, ainda que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e conhece a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso. Toda a nossa dignidade, consiste, pois, no pensamento. [...]

Pela primeira vez, os gregos desenvolvem um método novo de iniciar investigações dos fenômenos naturais e humanos, isso torna a filosofia extremamente útil, visto que, ela desenvolve e constrói novos conceitos da realidade, embora nenhum desses conceitos seja definitivo ou indiscutível, mas ensina o homem a raciocinar e a sermos humanos. Àqueles que fazem da filosofia um saber prático destinado a algumas finalidades políticas, religiosas, econômicas e sociais estão cometendo o equívoco de atribuir uma utilidade específica a filosofia, neste caso filosofia deixa de útil para se tornar inútil.
            Muitos filósofos quando emitiram definições acerca da filosofia priorizaram que é um meio pelo qual se obtém a arte do bem-viver. Neste caso, filosofia torna-se um saber desinteressado do mundo seguindo critérios próprios de investigação que não podem ser comparados em hipótese alguma ao método científico desenvolvido e praticado pela ciência. As teorias sistematizadas pela ciência são concretizadas por realizações através da técnica, que cria um fim prático para sua utilização, isso não ocorre com a filosofia. Essa utilidade não se encaixa no perfil da prática filosófica.

Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não seriam os conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou ético. A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinarnos a virtude, que é o princípio do bem-viver. (CHAUÍ, 2000)

            A filósofa brasileira Marilena Chauí defende que a filosofia tem a finalidade de colocar a experiência cotidiana em questionamento, desenvolvendo uma reflexão filosófica sobre os acontecimentos mais corriqueiros que muitas vezes não indagamos, mas é preciso utilizar um método lógico de raciocínio evitando-se a formulação de opiniões como acho que e, priorizar afirmações do tipo eu penso que. Nesse sentido a filosofia se torna um instrumento de investigação crítico que consiste no exame minucioso das ações humanas. Em outras palavras nossas crenças e opiniões devem alcançar uma visão crítica de si mesmas.
            O filósofo de São Paulo, Paulo Ghiraldelli Jr., afirma com certa redundância que a filosofia é a desbanalização do banal, neste caso a filosofia é o saber crítico das práticas cotidianas que para a maioria dos humanos são comuns, inquestionáveis e normais demais para se contrariar ou mesmo examiná-las. Desse modo, a filosofia é muito útil para contemplarmos de maneira plausível a busca pela verdade, o que na verdade, falta a muitas pessoas.
            O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. Hegel dizia que a religião é para todos, mas a filosofia não. Neste caso, filosofia não é um saber soberbo, sublime, tampouco pujante, mas é uma maneira de encarar a realidade seguindo critérios rigorosos, racionais e, sobretudo reflexivos. Não discordo daquelas pessoas que ignoram a filosofia, mas vendo as ações humanas diariamente, fico muito preocupado com àqueles que ainda não conhecem a filosofia como deviam conhecer.
            Concluo, portanto, este texto com a reflexão de Marilena Chauí (2000) sobre a indagação da utilidade ou inutilidade da filosofia:

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.

sábado, 17 de julho de 2010

Sítio arqueológico Gaiola


Como já afirmamos no capítulo anterior, a região possui muitas formações rochosas que serviram num passado remoto de abrigo, habitação provisória e de acampamentos aos grupos pré-históricos que, na condição de nômades viviam nesta parte de Pernambuco.
Os locais são caracterizados pela existência de blocos rochosos, agrupados ou isolados, chamados de matacões. Normalmente, se forma um abrigo pelo processo de arrasto do sedimento que estava acumulado em suas bases.
Encontramos tais abrigos nas encostas das serras, nas colinas e até nas margens dos riachos. A região fica em média 500 metros acima do nível do mar, propiciando climas mais amenos, desenvolvendo o brejo de altitude, com várias plantas frutíferas nativas e, por isso, locais propícios a sobrevivência como pontos estratégicos, tendo em seu entorno ambientes bastante secos.
 Desde meados da década de 1980 foram realizadas inúmeras prospecções e catalogação de sítios arqueológicos no Agreste Pernambucano, porém as pesquisas na Bacia do Rio Una, praticamente não foram ainda realizadas. No entanto, recentemente tivemos notícias da existência de sítios com gravuras rupestres, denominadas itaquatiaras, nos municípios de Ibirajuba e Jurema que passou a fazer parte do nosso objeto de estudo.
A continuidade das pesquisas passa a ser uma exigência urgente e é isso que tenho em mente, para prosseguir na formação em um nível de Stricto Senso.
Com a ampliação dos estudos, se for comprovada o aumento do número de sítios com vestígios pré-históricos fica evidente um Enclave Arqueológico, naquela parte da bacia do rio Una. Em outras palavras, tem-se um caracterizador cultural de uma provável etnia pré-histórica dentro da região Agreste de Pernambuco que em sua maioria possui mais sítios com pinturas e/ou com gravuras. Sem descartar a possibilidade de outros testemunhos arqueológicos, como a cerâmica, o lítico, estruturas antrópicas, restos alimentares, entre outros.
 
1.    Localização Geográfica
  Nossas pesquisas estão voltadas para análises preliminares do sítio arqueológico, conhecido localmente como Gaiola, que fica na zona rural do município de Ibirajuba, PE.

Localização, obtida a partir do uso do Google, conforme se lê nas legendas dentro do gráfico.

A sede do município fica nas seguintes coordenadas geográficas: 08°34'51" Latitude Sul e 36°10'44" Longitude Oeste, mas o sítio está a 10,9 quilômetros do centro daquela cidade, próximo dos limites do município de Jurema (5,4 km) sendo mais perto desta, mas onde fica o sítio é território de Ibirajuba.
Recebeu este nome, provavelmente por está dentro do sítio rural homônimo. O Gaiola também é o nome do rio que corta aqueles municípios, sendo tributário do Rio Una. Geralmente passa o maior período do ano seco, sem movimentação fluvial nos períodos de estiagem. No entanto se pode observar vestígios da existência de água no pretérito, mas no presente existe sim um caldeirão (mais ou menos há 90 metros do sítio arqueológico) do leito rochoso do rio, que acumula água das chuvas e das cheias.
Toda a região é coberta por vegetação de caatinga, sobretudo, observa-se muitas cactáceas, arbustos e árvores retorcidas, mormente desse bioma árido. Numa de suas margens existe um enorme afloramento rochoso, denominado de lajedo de mais de duzentos metros de comprimento, fica em uma elevação de mais ou menos 590 metros acima do nível do mar, neste lajedo existem vários registros rupestres identificados como itaquatiaras, segundo a classificação das técnicas empregadas na produção de registros rupestres. 

Localização do sítio Gaiola, Ibirajuba/PE. O paredão com as gravuras está voltado para o Oeste.

O rio gaiola corta uma parte do lajedo granítico formando dois braços, sendo que num destes braços existe o painel principal[1] com várias gravuras rupestres, o local desses grafismos possui as coordenadas geográficas 8° 40’ 52” S; 36° 10’ 39” O. Há ainda mais dois locais com grafismos rupestres com poucas unidades de registros e ficando isolados um do outro. Este fato é de extrema importância, porque nos indica para uma ocupação mais intensa.
A localidade apresenta uma densa vegetação de caatinga, apesar de algumas faixas que fora desmatadas para plantio e o pastoreio de rebanhos bovinos. Mesmo assim, a observância de recursos hídricos é escassa. Do ponto de vista biológico poderíamos considerar o local como uma das poucas alternativas de acesso a recursos hídricos da região, alguns moradores locais denominam a área do lajedo de brejo. O estudo da pré-história brasileira tem fornecido algumas contribuições neste sentido visto que, a maioria dos sítios arqueológicos conhecido no Agreste pernambucano fica nas proximidades dos referidos brejos, ou seja, havia abundância de água em outros momentos.

A evidência do afloramento rochoso onde se encontra o sítio Gaiola. Outro ângulo do mapa.

Especial importância têm os brejos no “habitat” pré-histórico, espécie de oásis em regiões extremamente secas, ou “ilhas da umidade”, como as chama Aziz Ab’Saber, ou ainda “ilhas verdes”, segundo a definição do geógrafo pernambucano Mário Lacerda. Elas quebram a monotonia das condições físicas e ecológicas dos sertões secos, devendo-se registrar que, na linguagem popular, chama-se “brejo” qualquer setor úmido existente na área do domínio do semi-árido. Os brejos têm solos mais férteis, com filetes d’água, onde é possível o cultivo de quase todos os produtos e frutas típicas dos trópicos úmidos. O brejo é, portanto, um enclave tropical no semi-árido. Essas manchas úmidas que dominam as encostas serranas situadas em regiões semi-áridas, têm meso-climas ilhados entre áreas de grandes deficiências hídricas. (MARTIN, 2005)


2.    As Características do Sítio Gaiola

2.1.        As gravuras rupestres


Neste sítio são observadas gravuras rupestres, identificadas como itaquatiaras. Isso se torna o principal elemento identitário para caracterizar o local como um Sítio Pré-Histórico.
Vale reforçar o que já foi dito, que as itaquatiaras possuem técnicas de confecção muito distintas das pinturas rupestres, neste caso os registros rupestres eram gravados e não pintados. No painel principal existem muitos grafismos, sendo na sua maioria os grafismos puros, mais há também algumas gravuras que podem aludir a fitomorfos (representação de plantas, vegetais, frutos, etc.), porém não foram identificadas representações humanas, tampouco de zoomorfos, o que torna este sítio muito peculiar, se comparados com outros painéis do mesmo tipo de grafismo, conforme foto do painel da Pedra do Ingá, no capítulo II.
Painel principal com as Gravuras itaquatiaras, no Sítio Gaiola – Ibirajuba/PE.

No painel há um grafismo que pode parecer à representação de um zoomorfo. Que analisando a silhueta na qual foi insculpida na rocha, pode-se arriscar essa suposição, todavia, não temos como provar tal intencionalidade. No caso um peixe da espécie dos jundiás e/ou popularmente chamados de “Chupa-Pedra”. Existem duas gravuras que se destacam em todo o painel, dois braços humanos sobrepostos, isso desperta a curiosidade e aponta para um estudo mais profundo dessas gravuras.
 A importância do sítio como caracterizador cultural distinto da maioria dos sítios com itaquatiaras, pois em toda a arte rupestre brasileira a prática comum é a representação pictórica de mãos (chamadas de carimbos), contudo, neste sítio os dois braços se destacam no painel. O suporte/paredão, no qual foram talhadas tais gravuras rupestres tem 5,6 metros de comprimento por 2,65 de altura. Os dois braços possuem 52 cm de comprimento por 43 de altura.
Gabriela Martin (UFPE) e Paulo Tadeu (ex-UFRN) defendem que sítios dessa natureza provavelmente foram ocupados para fins cerimoniais, devido à presença da água no ambiente, locais com recursos hídricos deviam ser cultuados, exatamente para se opor a sua escassez.

Braços humanos sobrepostos. Tipos de grafismos muito incomuns na arte rupestre brasileira.


Além dos braços humanos insculpidos na rocha, não há nenhuma outra evidência de representações alusivas a seres humanos, o restante são os grafismos puros que jamais poderemos identificar seu significado devido à incompreensão do sentido místico, simbólico e sensível dos autores dos grafismos. Alguns grafismos puros lembram a Tradição Agreste, sobretudo, as pinturas rupestres do Sítio arqueológico Alcobaça, porém, as técnicas empregadas são distintas.


As insculturas que talvez sejam fitomorfas se parecem bastante com plantas cactáceas, como mandacaru, levando-se em consideração a semelhança morfológica de tal grafismo e a sua grande recorrência no bioma da caatinga, parece também com plantações de milho, porém, para esta semelhança é preciso bastante cautela pela ausência de vestígios materiais de prática de seu cultivo na pré-história da região e também pelo desenvolvimento preliminar das pesquisas nesta área. 

No mesmo painel vemos representações semelhantes à fitomorfas.
O sítio não oferece camadas estratigráficas que possam ser realizadas escavações, pois o solo do paredão onde fica as gravuras é continuidade do lajedo, complicando o trabalho arqueológico, por isso torna-se importante a procura de outros abrigos que possam ter sido utilizados pelo(s) grupo(s) que viveram naquela área. Outro aspecto que pode levado em consideração é a possibilidade de no entorno do sítio ser encontrados vestígios secundários que revelem mais informações dessa ocupação.
As itaquatiaras necessitam urgentemente de um trabalho de identificação e classificação visto que muitas partes do bloco com inscrições rupestres caíram, provocados provavelmente pelo intemperismo e pela lixiviação causada pelos períodos de cheia do rio Gaiola.
Outro sítio arqueológico, o Boi Branco, no município de Iati (Agreste Meridional), localizado a mais ou menos 90 quilômetros de distância do sítio gaiola. Lá tem algumas gravuras muito parecidas com as de cá, parece-me que as técnicas de elaboração empregadas nos dois sítios são análogas, levando-se em consideração que os dois sítios têm características semelhantes:  as margens de leitos de rios.
A hipótese de coincidência deve ser descartada pelo fato de que as técnicas e imagens representadas nos dois sítios são muito parecidas, porém, no Boi Branco observam-se muitos cúpules[2], enquanto no Sítio Gaiola apenas poucas unidades. Nos dois sítios existem linhas consecutivas e sinuosas que segundo Anne-Marie e Gabriela Martin, consideram que possam representar o curso do rio. No Sítio Gaiola essas linha tem 4,10 metros sendo uma das maiores representações de linhas sinuosas (grafismos puros) da pré-história brasileira.
 
Linhas sinuosas do Sítio Gaiola, em Ibirajuba à esquerda e, os mesmos grafismos, à direita do sítio Boi Branco, Iati.

Outros vestígios observados no Sítio Gaiola reforçam, para nós, que o grupo cultural que por ali passou era caçador-coletor. Assim podemos indicar partindo dos registros deixados por eles, onde não se percebe, por exemplo, nenhuma alusão a atividades específicas aos agricultores. Como coletores, observamos carapaças de moluscos (tipo caramujos), reunidos de forma que indica intencionalidade, foram colocados ou empurrados por enchentes para um local onde ficou difícil ser arrastados por uma segunda enxurrada. As duas ideias são possibilidades, mas não invalida a outra questão: ter sido abandonado ali como resto alimentar. Como o sítio não possui sedimento buscamos nesses detalhes indicativos de atividades antrópicas.
Nas imediações da cidade de Jurema, temos notícias da existência de muitos sítios com gravuras e pinturas. As pesquisas ainda são muito tênues e preliminares, mais no decorrer dos estudos que estão (uns nas intenções, outros em andamento) sendo realizados espera-se uma maior riqueza de dados e possa confirmar a classificação de Enclave Arqueológico e que aumenta de importância por está dentro da já definida Área Arqueológica dos Cariris Velhos, corroborando com as pesquisas da UFPE, da UNICAP e outros centros.


[1] Utilizei tal expressão pela constatação de mais dois locais com gravuras rupestres, contudo, neste painel existe a maior concentração de grafismos.
[2] Segundo o arqueólogo Andre Prous, cúpules são representações de pequenas esferas gravadas nas rochas.