quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Política do barulho


Restam quatro dias para as eleições e no município de Cachoeirinha a política está do barulho, ensurdecedora mesmo. Ânimos de correligionários exaltados, carros de som além dos decibéis permitidos por lei, entoamento de canções como “pula pula pro lado de cá”, “arruma a mala aê” e “tá desesperado?” são as mais tocadas na cidade, motocicletas com escapamentos retumbantes, uma miríade de queima de fogos de artifícios – talvez maior até do que no período junino – bandas marciais, é assim que se faz política na pequena e pacata cidade de Cachoeirinha.

                A política por aqui sofreu uma natimortalidade ou foi acometida por infanticídio de seus genitores, os débeis políticos! As pessoas que esperam representar o povo na Assembleia Legislativa Estadual e na Câmara dos Deputados em Brasília não fazem política, mas uma grande encenação (demagogia). Ah, que saudade dos tempos áureos nos quais os candidatos a pleitos públicos promoviam belíssimos debates com conteúdo sobre projetos e propostas que interessam ao povo. Era a existência da verdadeira política e não da falácia que, para a infelicidade geral, impera hoje.
                Cachoeirinha está sendo disputada por vários candidatos a Deputados Estaduais e Federais, os mais comentados na cidade são João Fernando (Água Preta), Augusto Coutinho (Belo Jardim, genro de Zé Mendonça), Esmeraldo Santos (São Caetano) e Roberto Teixeira (Recife?). Todos os cantinhos de nossa cidade e zona rural estão sendo disputados e esmiuçados voto a voto pelos “caçadores de eleitores” que diga-se, são muitos. Devia ser homologada essa nova profissão neste país! Já se foi o tempo cujos eleitores dispunham de liberdade para escolher seus candidatos (as), nestes tempos a política transformou-se em aconselhamento. Isso mesmo. O voto é uma mera mercadoria e, por aqui, muito barato. Houve casos, por exemplo, de famílias que convidaram os políticos para jantarem e leiloarem o valor de seus votos.
                Nos momentos que antecederam as palestras dos políticos mencionados a população foi chamada não por meio dos sinos da Igreja, mas pelo ribombar dos fogos de artifício, carros de som, veículos com reboque, e roncado dos motores de algumas motocicletas. Pelo menos nossos políticos possuem um grande estilo para enobrecer suas palestras. Após o toque das “trombetas” a população se aglomera nos comitês e saem em cortejo – não fúnebre – mas inebriante e ao som das músicas daqueles candidatos ao mero ritmo do axé da Bahia. Quem antes era tímido (a) perde a inocência e cai no maior carnaval pelas ruas de Cachoeirinha, é impressionante mesmo. Quando o destino enfim é percorrido, vem o desespero! Onde estão nossos políticos? Não vieram? Vieram claro, mas não haverá propostas e projetos hoje, para a felicidade geral, hoje será encenada uma peça teatral e, todos se abraçam e vão comemorar ingerindo muita bebida alcoólica nos botequins das imediações. Que política! No primeiro ato da encenação teatral os políticos sempre falam daquilo que fizeram e vão fazer – nesta vida e na pós-morte –, porém, quem é político está fazendo favor à população ou exercendo a sua obrigação? No segundo ato, virou baixaria – a ética se esconde por ruborização –, vamos falar mal do oponente que às vezes funciona. E vêm os xingamentos. E, por fim, após o célebre (?) discurso final tão aguardado, volta-se o desfile carnavalesco pelas principais ruas da cidade regressando ao comitê, nossos políticos viram heróis e são carregados nos ombros, pobres se abraçam com os ricos, é pura euforia, não há discriminação social, miséria, fome, desemprego, insegurança, tudo é perfeito e banal. Quando o destino enfim é alcançado às pessoas voltam para casa e devem se perguntar: o que eu fiz? Onde estava? Perdi a memória? Após essa letargia e estagnação racional, presumivelmente, algumas pessoas cuja consciência teve a capacidade e eficiência de auto-avaliar-se deve ter se questionado sobre o que fizeram de errado.
                No outro dia a noticia que circula na cidade é sobre o sucesso e a multidão de pessoas que compareceu a Grande palestra. Outros perguntam: havia quantas motocicletas? Quantos automóveis? Qual foi o tempo no medidor? Mas não devia ser assim. As indagações mais recorrentes deviam ser debatidas pelos eleitores sobre as propostas coerentes e plausíveis expostas por nossos futuros representantes e sua possível aplicabilidade em nosso município. A Compesa – Empresa Estatal de Pernambuco – por exemplo, perdeu sua área de atuação no Estado de Pernambuco, pois os políticos atribuem a si como responsáveis pelo abastecimento d’água em nossa cidade. A política por aqui está longe da sua significação, o que impera são os interesses privados e particulares, falsas ideologias, corrupção e ocultação da verdade. Há um candidato que se parece bastante com Sílvio Santos, “quem quer dinheiro?”. A política autêntica, aquela originada na Grécia Antiga, não teve – por aqui –, ainda, nenhuma manifestação até o momento. Os gregos discutiam em praça pública as ações cujos interesses atingiam a todas as pessoas da polis, não havia intenções de favorecimento pessoais, mas coletivos. Aqui os políticos que não fazem parte da nossa polis – Cachoeirinha – tentam auferir votos para sua eleição pessoal, depois dessa meta obtida, regressam para suas cidades-estados de origem e só reaparecem em quatro anos. Que política medíocre!

Um comentário:

  1. Uma bela critica sobre a ideologia politica de nossa cidade e de como ela foi sendo modifica em nosso Brasil de tantas raças, que no tempo da eleição é mascarado com a ideia onde todos querem mudar tudo, mas no fundo todos sabem que mais de 90% do q foi prometido nunca vai ser cumprido.
    Otimo texto professor.

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