segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sítio arqueológico Alcobaça


Localizado na zona rural do município de Buíque, o sítio arqueológico Alcobaça impressiona a comunidade científica brasileira e até mesmo internacional por sua enorme concentração de registros rupestres, sobretudo pinturas. O sítio recebe este nome pela sua localização rural homônima, o acesso ao mesmo é por meio da Vila Carneiros, situada há doze quilômetros da cidade de Buique, no sentido Arcoverde – Buique, contudo, os turistas e estudiosos ainda percorrem seis quilômetros de estrada de terra até a residência da guia e protetora do sítio, Cida. Mas não pára por aí, após estacionar os veículos, todos devem realizar uma caminhada de mais ou menos quarenta minutos sobre um solo muito arenoso. O sítio é

Situado em um pé de monte, num vale fechado em forma de U a 800 metros sobre o nível do mar, tem um olho d’água perene situado a menos de 50 metros do abrigo. Com aproximadamente 50 metros de comprimento e 14 de largura, no ponto mais amplo, e uma altura de 8 a 10 metros, apresenta as paredes cobertas em grande parte, por grafismos puros e alguns antropomorfos típicos da tradição agreste. (MARTIN, 2005)

O local onde se encontram os painéis com pinturas rupestres é um enorme abrigo sob rocha, na verdade é um afloramento ou formação rochosa arenítica, denominada de matacão, com sulcos na base que proporcionam uma enorme proteção dos fortes raios solares daquela região. O sítio alcobaça é considerado o segundo maior sítio arqueológico com concentrações de pinturas rupestre do Brasil, perdendo apenas para o abrigo sob rocha Boqueirão da Pedra Furada de São Raimundo Nonato, Piauí. No sítio existem grafismos rupestres (pinturas e gravuras) decorados por mais de 50 metros do painel, inclusive, algumas pinturas encontram-se numa elevação de 08 a 10 metros do solo do abrigo.


As pinturas estão classificas na Tradição Agreste, que compreende uma prática estilística comum na região agreste do Estado de Pernambuco, por isso sua definição. A tradição agreste é muito complexa e de difícil interpretação, podemos até inferir que são as pinturas rupestres mais enigmáticas e incompreensíveis da pré-história brasileira. Nesta tradição é comum a representação de antropomorfos, zoomorfos e fitomorfos (seres humanos, animais e vegetais) de maneira estática, sem movimento, além dos grafismos puros, denominação da arqueóloga Anne Marie-Pessis do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, que consiste na reprodução de espirais, grades, bastões, nuvens de pontos, tridáctilos, linhas paralelas e sinuosas, sobretudo, representações geométricas. Estes sem dúvidas são os grafismos mais difíceis de interpretação, jamais se pode afirmar com segurança o que aqueles povos pré-históricos queriam reproduzir com seus grafismos. Vale salientar que os grafismos puros são encontrados com freqüência em todo o Nordeste do Brasil e igualmente em alguns sítios do restante do nosso país e noutros países também.


Para os arqueólogos fica muito difícil até mesmo inferir e supor sobre a intencionalidade, funcionalidade e representatividade destes grafismos, sobretudo, porque não podemos associar as pinturas geométricas com os nossos conceitos contemporâneos. Ademais, os autores dos grafismos do sítio alcobaça viviam num tempo muito recuado do nosso e conferiam uma representatividade e interpretação de mundo muito distinta da nossa. Como diz a arqueóloga Niède Guidon, não temos o código lingüístico, tampouco simbólico daqueles povos pré-históricos, o que a arqueologia pode concluir, não passa de apenas algumas inferências.


Em toda a extensão do paredão decorado por pinturas rupestres são poucas as representações humanas e animais, mesmo assim existem alguns grafismos que lembram figuras de seres humanos, apesar de algumas com apenas três dedos. Os animais representados são sáurios (lagartos) e outros répteis que são abundantes no bioma da caatinga. Não há dúvidas de que os animais representados nos painéis pintados faziam parte da dieta daqueles povos pré-históricos, sobretudo, para grupos humanos caçadores-coletores. Estes povos consumiam mais alimentos vegetais que animais, isso ocorria pela dificuldade encontrada na caça com êxito de pequenos roedores, aves, répteis e insetos. Os vegetais mais consumidos eram coquinhos, raízes, tubérculos e frutos encontrados nas imediações.

O sítio, provavelmente, não servia de habitação visto que aqueles povos eram caçadores-coletores, agrupamentos humanos que exigiam uma grande mobilidade em busca de sua própria sobrevivência, quando os alimentos cessavam num determinado local estes povos buscavam outras fontes alimentares noutros lugares.

O sítio não foi ocupado apenas por um único agrupamento humano, mas por diversos e distintos povos pré-históricos. A arqueologia comprovou esta teoria a partir dos vários estilos pintados no sítio, variando os grafismos em cores, sobreposição, estilos e objetos representados. A cor predominante é a ocre (óxido de ferro) que é obtida a partir da hematita, mineral muito comum na região, o preparo dos pigmentos exigia muita habilidade. As técnicas de pinturas no sítio são várias, com os próprios dedos, com pincéis naturais (galhos) e bastões de ocre (lápis). Existem grafismos na cor amarela, branca e preta. Os amarelos são obtidos a partir da argila amarela e também por hematita, a cor branca é obtida pelo Kaolin (argila branca) e a cor preta por meio de carvões e ossos queimados.

Em escavações realizadas no local, foram descobertos sepultamentos humanos de alguns indivíduos, logo abaixo dos painéis pintados, onde estes estavam acompanhados por pigmentos vermelhos (ocre), coquinhos, utensílios cerâmicos, cestaria e revestidas por esteiras trançadas. Estes ritos fúnebres são comuns no Nordeste do Brasil.


No abrigo sob rocha vários blocos desprenderam-se da formação arenítica original caindo no solo, inclusive, alguns painéis de pinturas rupestres também sofreram descamação e caíram no terreno do abrigo. É muito difícil realizar datações radiocarbônicas das pinturas rupestres, contudo, as datações de muitos sítios arqueológicos com registros rupestres são obtidos a partir de blocos decorados deslocados (caídos) para o chão formando uma camada estratigráfica (sedimentos) que pode, eventualmente, ser datada a partir dos refugos de materiais orgânicos encontrados no mesmo nível que os blocos. O Alcobaça tem diversas datações radiocarbônicas 1.766 e 1.785 anos antes do presente. Mais outros indícios sugerem que o sítio foi ocupado inicialmente a 4 mil anos atrás.


No sítio também foram encontradas várias fogueiras espalhadas pelo abrigo o que indica uma ocupação intermitente daquele abrigo. As fogueiras serviam para aquecer os agrupamentos pré-históricos, assim também como proteção de animais selvagens e picadas de insetos.


O sítio alcobaça impressiona a todos que o visitam pela sua magnitude, pelo enorme conforto do abrigo que encobre os raios solares, pela sutileza e requinte dos registros rupestres da tradição agreste, somado a tudo isso, destaca-se pela sua preservação, sobretudo, pelos cuidados da guia Cida, que não permite a entrada no abrigo de mais de dez pessoas por vez e fica sempre atenta quando os turistas, estudantes e curiosos se aproximam demais para tocar nas pinturas rupestres. Sem dúvida é um local que merecer ser estudado e admirado por aqueles que se encantam com a pré-história e arte rupestre brasileira.


terça-feira, 4 de maio de 2010

Avatar e a realidade




O filme Avatar entrou para a história do cinema como o filme mais assistido do planeta. Para o cinema foi um sucesso de bilheterias em todo o mundo, contudo, o que há de extraordinário neste filme produzido e dirigido por James Cameron? O mesmo Diretor de Titanic se superou nesta superprodução, mais o que impressionou a todos os povos do planeta neste filme? Será que os multivariados efeitos especiais foram suficientes para captar a atenção dos cinéfilos de todos os países? Foi o elenco? Será que foi a história ou romance bem elaborada e documentada do filme o seu macro sucesso? 



Segundo o dicionário Aurélio, avatar significa, transformação, transfiguração, desse modo, entende-se que James Cameron utilizou-se de crenças indígenas, sobretudo, mitologias de alguns povos indígenas da Amazônia para compor o enredo de seu filme. O mundo mágico e simbólico de algumas etnias indígenas é permeado por ritos e cerimônias que envolvem a transfiguração ou encarnação de seres mortos e divindades no corpo dos xamãs. Isso acontece com a ingestão de algumas plantas alucinógenas, no Nordeste, por exemplo, alguns povos indígenas entram em transe após o consumo da jurema. No filme a transfiguração ocorria por meio da tecnologia de ponta.

Na verdade, não há nada de extraordinário, pujante, fabuloso naquele filme que merecesse uma audiência e atenção de milhões de pessoas em todo o globo. A humanidade se deixa impressionar por coisas que são sensacionalizadas pela mídia sem direito a defesa, no filme não foi diferente. Quem faz apologias a filmes de faroeste americano deve ter percebido a analogia dos filmes sobre o velho oeste americano e Avatar. Quem assistiu a filmes de faroeste, decerto sempre ficava de lado dos mocinhos (cowboys) que atiravam sem pensar naqueles autóctones selvagens e brutos. O cinema norte-americano tem esse poder manipulador de dominar a mente e ideologia das pessoas, no caso do faroeste, os índios estavam apenas se defendendo e realizando uma contenda em proteção de suas terras. No caso de Avatar foi um pouco parecido, só que numa época bem tardia e noutro planeta. O cenário do filme reproduz diversas práticas sociais bem comuns na contemporaneidade: capitalismo, imperialismo, colonialismo, globalização, etnocentrismo, além da soberba supremacia política, econômica, militar e tecnológica norte-americana. O filme retrata a colonização de um novo planeta, chamado no filme de Pandora, a mesma prática que os Estados Unidos fizeram com os Mexicanos ao imporem uma condição intransigente de anexação dos Estados do Novo México e Texas, ademais, porque existem tantas ONG’s americanas instaladas na Floresta Amazônica? Seria uma política preservacionista da maior floresta do mundo? Ledo engano quem pensa dessa maneira. Os EUA são os maiores poluidores do planeta, são os soberanos na emissão de gazes nocivos a camada de ozônio e aceleradores do efeito estufa. Dessa maneira, qual a finalidade da NASA? É apenas um laboratório de pesquisas científicas que pretendem ampliar os seus conhecimentos sobre o nosso sistema solar? Ou, quem sabe, seria a consolidação do filme Avatar, visto que o planeta Terra na atual condição está fadado à destruição pela própria espécie humana, sobretudo, pelo consumismo incontrolável produzido pelo capitalismo.

O filme de James mostra uma política capitalista e imperialista por parte do Governo americano, os interesses são monetários numa reserva de um mineral muito precioso e mais valorizado do que os diamantes terráqueos. Isso é capitalismo. As destruições aceleradas das reservas naturais para atendimento das enormes demandas das indústrias e dos grandes empresários geram este esgotamento dos recursos naturais (matérias-primas) cuja utilidade é fabricar mais bens de consumos para abastecer o grande mercado consumidor dos grandes centros urbanos. A extração dos recursos naturais, sobretudo, a coleta de minério é semelhante no continente africano, quem assistiu ao filme Diamante de sangue viu a realidade do filme Avatar aqui no planeta Terra. Vários países africanos estão em guerra civil atualmente devido à extração de diamantes naquele continente, gerando fome, mortalidade infantil, doenças contagiosas, como a AIDS, e a morte de milhares de pessoas em nome da extração de diamantes.


O capitalismo é destruidor, avassalador, antropofágico, não respeita a cultura de outros povos, pelo contrário, destrói gerações de povos em nome da lucratividade, como no caso do filme, no Brasil temos o nosso próprio Avatar made in situ, é o caso polêmico de Belo Monte, no Pará. O que muitos capitalistas não se preocupam é que os povos de organizações sociais mais simples, primárias, como os indígenas, por exemplo, não dependem necessariamente de uma moeda para sobrevivência, muito menos de bolsa de valores, pelo contrário, o que rege a vida dessas pessoas (lembrando que também são seres humanos) é a bolsa natural, a mãe natureza. Para muitos índios, principalmente aqueles que ainda não foram influenciados pelo poder tentador do capitalismo, dinheiro não tem valor, para eles, o que importa é preservar a natureza, é esse ecossistema que lhes provém de recursos para sua própria sustentabilidade, carros, TV’s, motocicletas, jóias, isso não significa nada, o que vale realmente nesse sistema social é você respeitar a comunidade, se preocupar com o bem-estar do próximo, com a segurança de todos, não na individualidade como ocorre no filme e na vida real da maioria de todos os seres humanos que foram influenciados pelo sistema capitalista. Os índios não possuem espelhos, eles não precisam, do que vale os espelhos? Servem para embelezamento, vaidade, para os povos indígenas não servem para nada, quem se olha no espelho procura um embelezamento padrão e aceitável em toda a sociedade, mais uma prática capitalista, diga-se, para os índios sua identidade é construída pela coletividade. A identidade indígena é com a Terra e não com bens materiais. A concupiscência para os índios não serve para nada, nosso exemplo brasileiro reproduz essa prática, Belo Monte, é uma Terra que tem significado para aqueles povos indígenas, por isso que é difícil o entendimento pelos grandes empresários e multinacionais, para um adepto do capitalismo, qualquer lugar, recanto que lhe ofereça conforto e prazer é aprazível, para os índios sua identidade foi construída ao longo de gerações e suas características são fixadas a Terra, não ao dinheiro. Muitos povos indígenas são mais felizes do que moradores de Nova York, Tóquio ou São Paulo, eles não foram vítimas da falsa ilusão que é vendida pelo capitalismo. Possuir bens móveis e imóveis não é sinônimo de felicidade e sucesso profissional, pelo contrário, causa dependência, que mais tarde, segundo Frei Betto vai gerar depressão e frustração. E aqueles que não conseguem romper esta virtualidade promovida pelo capitalismo, decerto, vão procurar um analista.

No filme Avatar, pelo menos isso foi mostrado de maneira realista, o modo de vida de povos indígenas que quando ameaçados por seres extraterrestres, unem-se e juntam suas forças com várias etnias para se defender do invasor de suas terras. A grande recorrência é que o inimigo é o mesmo dos filmes de faroeste, o temível e destruidor povo norte-americano. 

terça-feira, 23 de março de 2010

Brasil, o país sem prioridades!


O Brasil esta semana parou. Que notícia está mais em evidência no início desta semana? O caso Isabela. O que chama a atenção é que o brasileiro continua atribuindo valor a coisas fúteis e desnecessárias a construção da cidadania brasileira. Tenho visto as pessoas bastante apreensivas com o andamento do julgamento do caso Isabela, os alunos, por exemplo, não falam noutra coisa. O que há de interessante neste caso que mobilizou a atenção do todos os brasileiros? Será que foi devido à gravidade do possível crime do pai e da madrasta de Isabela? Ou será um efeito causado pelo sensacionalismo da mídia brasileira. Volto a ressaltar, alguns estudiosos dizem que os meios de comunicação de massa (MCM) são o quarto poder. Na semana passada, uma passeata, mobilizou os cariocas contra o Projeto de Lei que defendia o repartimento igualitário das tarifas de extração do petróleo a todos os Estados da República Federativa do Brasil, os chamados royalties. O que chama ainda mais a atenção é que participaram desta mobilização pessoas denominadas celebridades, políticos do Rio de Janeiro e outros Estados e a população sofrida e carente do mesmo Estado. O que me leva a crer que como foi possível reunir pessoas de classes sociais tão distintas numa mobilização que defendia interesses dos políticos locais em ampliar ou mesmo manter a arrecadação e receita do Estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo estável? Como isso foi possível? Será que a mídia tem alguma parcela de responsabilidade nisso? Não há dúvidas. Isso só reforça a teoria na qual o brasileiro é um ser que desvaloriza coisas mais relevantes para a sociedade. Por exemplo, porque as pessoas não fazem passeatas constantes em protestos à falta de segurança não só apenas do Rio de Janeiro, mas em todo o país? Porque os brasileiros não se mobilizam em reivindicar uma educação pública de maior qualidade? Porque os ditos cidadãos brasileiros não fazem protestos quanto à falta de médicos e postos de atendimento hospitalar? Porque os nossos irmãos não vão às ruas para cobrar punições igualitárias aos políticos corruptos que desviam verbas do erário público?

O que ocorre, infelizmente é o inverso. As coisas mais úteis e fundamentais a toda a sociedade brasileira fica ao relento, isso é culpa dos brasileiros ou será conseqüência de ações de outras pessoas que pretendem um abrandamento da índole e capacidade crítica da maioria dos brasileiros? Na semana passada, por exemplo, os alunos da Escola Estadual Corsina Braga estavam em disputa de pleito pela eleição da nova diretoria do Grêmio Estudantil, contudo, no momento da realização do debate entre as chapas concorrentes – que eram apenas duas – a maioria dos estudantes priorizaram a ida pra casa ante ver as propostas dos seus futuros representantes. Mais uma vez, a teoria de que o brasileiro é vítima de uma ideologia que pretende a letargia das pessoas pode ser confirmada.

As pessoas não conseguem perceber que estão sendo vítimas de enganação por propagandas falsas que são veiculadas diariamente. Voltando a passeata Pró royalties do Rio de Janeiro é interessante notar que os famosos foram às ruas, caminharam por quilômetros, levaram chuva, isso seria apenas uma manifestação da democracia brasileira? Ou aquelas pessoas foram contratadas por políticos que defendiam seus interesses? Basta lembrar que na época das eleições de governadores e Presidente da República, sempre pessoas famosas estão ao lado dos candidatos. Coincidência? Mero acaso? Puro exemplo de uma atitude democrática? Ou apenas exposição mediante um contrato firmado?

Não cabe a eu manifestar aqui a minha opinião sobre estes casos, o meu interesse é que as pessoas analisem estes fatos e acontecimentos rotineiros e saibam que a realidade é um pouco mais distante daquela veiculada pela mídia. Enquanto as pessoas assistem o caso Isabela, os professores do Estado de Pernambuco reivindicam um reajuste salarial que está sendo descompromissado pelo Governador Eduardo Campos. Contudo, esta notícia não é veiculada porque o Governo do Estado calou os três grandes jornais de circulação do Estado. Como isso foi possível? O Governo firmou um convênio com os jornais do Estado: Diário de Pernambuco, Jornal do Commércio e Folha concedendo assinaturas destes jornais aos 26 mil professores do Estado, porém, milhares de professores não recebem estes jornais. Esta notícia, por exemplo, não é veiculada. Ademais, qual destes jornais vai publicar denúncias contra o governador correndo o risco de perderem suas respectivas assinaturas e seus interesses pecuniários?

Cidadão é o indivíduo que goza de direitos e deveres assegurados pelo Estado, porém, como o brasileiro pode ser considerado um cidadão pleno se mal consegue priorizar ações benéficas e cruciais para toda a sociedade?

Reflita!

sábado, 20 de março de 2010

A cultura fomentada pela mídia e a globalização


Você possui cultura? Muitas pessoas acham que aquele que detém cultura é o ser culto, intelectual ou aquele que produz belos discursos. Isso não é verdade. Para muitos, cultura se refere a um nível educacional, sendo assim, culto é quem possui intelecto; inculto é aquele que não dispõe de uma inteligência básica (popular). Para a antropologia não existe o uso dos termos culto e inculto, pelo contrário, segundo os antropólogos não há culturas superiores e inferiores, existem variedades culturais. Desta maneira, fica mais fácil identificar que todo e qualquer ser vive e produz alguma variedade cultural. Por exemplo, um povo indígena é inferior culturalmente há uma sociedade urbana e tecnológica? Claro que não. Existem diferenças substanciais nessas duas organizações sociais, uma possui hábitos mais primários e tradicionais do que a outra, o que não transforma as pessoas que vivem nas cidades em seres majestosos, superiores ou mesmo soberbos. Deste modo, segundo Tylor (1871) Cultura [...] É aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Outro antropólogo, Herkovits (1948) define cultura como a parte do ambiente feita pelo homem. Apesar de estes conceitos terem sidos criados nos séculos XIX e XX os conceitos contemporâneos pouco diferem destes. Atualmente existem mais de 250 conceitos de cultura. Porém, a maioria deles são bem parecidos. O sociólogo Pedrinho Guareschi (2003) define que cultura é tudo o que o homem faz. [...] Assim, cultura é maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de se comunicar etc.
Portanto, ser culto é realizar qualquer variedade de sua cultura. Nós brasileiros, por exemplo, temos o português como língua, uma culinária à base de feijão com arroz enquanto noutros países como os asiáticos a culinária é regada principalmente ao arroz.

Essa idéia difundida de que a cultura é de poucos é falsa e enganosa, é necessário que as pessoas se libertem desses grilhões ideológicos que são produzidos pela mídia e principalmente pela globalização. O fenômeno da globalização apareceu no final da década de 1980 com a abertura econômica da Rússia, sob o Governo de Mikhail Gorbachev que abriu as portas da nação socialista para o sistema capitalista. Outra evidência da disseminação da globalização e do capitalismo foi a queda do muro de Berlim, efeito que solapou definitivamente a ruína do sistema socialista em toda a Europa. Então o que aconteceu com a cultura após estas alterações sócio-econômicas? Com a expansão da globalização vários povos foram atingidos por essa onda migratória de outras culturas, sobretudo através da internet, a qual tornou as fronteiras e limites geográficos transponíveis. Sendo assim, a maioria dos povos e nações do planeta sofreu e sofre diariamente o fenômeno da aculturação – assimilação de elementos culturais de outros grupos sociais a partir do contato constante e regular entre as diversas culturas. Isso favoreceu a fraqueza de algumas culturas. Desta maneira

Quando essa cultura é destruída o povo fica desprotegido e facilmente pode ser dominado e até destruído. Todo povo se afirma como povo na media em que consegue produzir essa fortificação, que fica sendo a razão mesma de seu existir. Por isso se diz que a cultura é a alma dum povo. Povo sem cultura é povo sem alma, sem identidade. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, as ações desencadeadas pela globalização produziram uma destruição massiva das culturas espalhadas pelo mundo. Atualmente, todas as pessoas têm acesso a informações as mais diversas possíveis, contudo muitas dessas informações escondem ideologias capitalistas e mercantilistas de empresas multinacionais que desejam tornar todo e qualquer ser humano num mero consumidor em potencial. Hoje nosso planeta é dominado pela indústria cultural.  Mas o que é essa indústria cultural?

A partir da segunda Revolução Industrial no século XIX e da predominância das regras do mercado capitalista, as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia da indústria cultural. Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens foram submetidos à idéia de consumo, como produtos fabricados em série. As obras de arte se transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, onde a maioria dos bens artísticos NÃO são criados para a contemplação, para a busca do belo, e, sim, para obtenção de lucros. (OLIVEIRA; COSTA, 2007. Grifo meu)


Diversos autores apontam que na verdade existe um quarto poder, a mídia. Além dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo aparece o mais forte de todos, os meios de comunicação de massa (MCM). Essa hipótese se sustenta e pode ser considerada plausível e admissível. No cenário político, por exemplo, Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores e demais parlamentares que são eleitos com freqüência, em geral, possuem algum meio de comunicação de massa: jornais impressos, rádios, revistas e principalmente, emissoras de TV. Esse aparato informativo tornasse numa ferramenta decisiva na formação da opinião pública. Quem assistiu ao documentário Muito Além do cidadão Kane, da BBC (1993), constatou que o poder da mídia é fortíssimo. Fernando Collor, por exemplo, foi uma campanha ardilosa de manipulação e alienação na qual a maioria dos brasileiros foram enganados pelas mensagens ocultas transmitidas pela Rede Globo. A Globo foi decisiva também na ascensão e queda do Regime Militar, boicotou por duas vezes a campanha de Lula, evitou que o grupo da Editora Abril fosse concedida uma licença de criação de uma nova emissora de TV, foi determinante na prática das discotecas no nosso país a partir das cenas exibidas pela novela Dancing Days, além disso, a Globo está entre as dez maiores emissoras de Televisão do planeta e tem uma cobertura nacional de 99,9% do território brasileiro. É muito domínio para apenas uma única emissora de TV, somado a tudo isso, diga-se que as Organizações Globo possuem 70% da receita em publicidade do país, possui jornais, revistas, editora, provedores de internet, uma TV por assinatura (SKY) e centenas de emissoras afiliadas espalhadas pelo Brasil.

A indústria cultural se manifesta dessa forma, os grandes empresários estão espalhados por toda parte, vendendo seus produtos através dos meios de comunicação massivos em detrimento da cultural local. Mas como se forma e expande a indústria cultural?

Quando se assiste a um filme, ou se vê uma novela, não é o roteiro, ou o enredo a única coisa a que se assiste ou se vê. Como pano de fundo está todo um conjunto cultural: um tipo de moradia, de decoração, uma maneira de comer, de vestir, de se relacionar, um tipo de carro, de casa, um tipo de diversão, em resumo, uma maneira diferente de se viver, isto é, um padrão cultural diferente. Esse pano de fundo é o que realmente fica na mente das pessoas e leva à mudança dos padrões culturais. É uma transmissão ou mudança de cultura que se dá quase inconscientemente. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, o fenômeno da globalização exporta costumes, hábitos e valores de outros lugares para fronteiras longínquas. Os brasileiros, por exemplo, ouvem numa estação de rádio com freqüência música americana, norueguesa, européia, asiática e etc. quando uma cantora ou cantor internacional realiza shows no Brasil os ingressos se esgotam em poucos dias, as pessoas tomam diariamente refrigerante americano, andam em carros americanos (Chevrolet, Ford), italianos (Fiat), Franceses (Peugeot, Renault), japoneses (Honda, Kia, Suzuki), alemães (Wolkswagen, Mercedez, BMW), nossos clubes de futebol vestem camisas confeccionas e desenhadas por empresas multinacionais: adidas e puma (alemãs), umbro (inglesa), lotto, diadora e kappa (italianas), reebok, nike e Wilson (americanas), nossa língua portuguesa sofre incrementos de palavras exógenas como pizza, hambúrguer, cheesebúrguer, web, cyber, download, MSN, Orkut,novas  Esses clubes perderam e perdem diariamente torcedores para equipes de outras regiões como o Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético MG e etc. esse é o autêntico fenômeno da indústria cultural. O que mais impressiona é que na medida que essas equipes exógenas são campeãs, no Nordeste, Norte e restante do país as pessoas realizam verdadeiras festas de comemoração a conquista de campeonatos. O mesmo não ocorre com os clubes locais! 

entre outras. Então, dá para notar que nossa cultura padece com o tempo, não há como resistir aos efeitos da globalização, principalmente, a partir dos meios de comunicação de massa. A cultura local deixa de lado suas canções e cultuam outras, as pessoas mudaram seus hábitos alimentares devido a propaganda de comidas, não existe no Brasil, infelizmente, um carro autêntico brasileiro, as pessoas perderam os valores familiares e afetivos devido ao uso com freqüência da internet, as vestimentas utilizadas por nós são cópias de tendências regadas à nova moda, os clubes locais perderam parte de sua torcida para os times do sul do país e também para equipes de outros países como: Real Madri, Barcelona, Manchester, Chelsea, Arsenal, Liverpol, Milan, Internazionale. Ainda ontem, no jornal da globo, passou uma matéria sobre torcedores do flamengo na Paraíba que foram as bares de João Pessoa assistir ao jogo. Isso não acontece com as equipes paraibanas como o Autoesporte, o Treze e o Campinense.

Mas, será que existe alguma maneira das pessoas evitarem os efeitos culturais impostos pela indústria cultural? Há sim. Para se evitar tais males é necessário que as pessoas evitem assistir TV com freqüência (o brasileiro assiste TV, em média, cinco horas por dia), ler livros comumente, debater com colegas sobre qual o interesse das propagandas que são veiculadas nos rádios, TV, jornais e revistas. Valorizar sua cultura de maneira proficiente, evitando-se assim, a alienação consumista que é a premissa crucial e fundamental dos meios de comunicação massivos e dos grandes empresários. Evitar os males causados pela indústria cultural, globalização e mídia é uma tarefa dificílima, mas existe um elixir capaz de sanar esse perigo eminente, a educação.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Exclusão religiosa


O Brasil é um país que se destaca hodiernamente no cenário nacional e internacional pela sua economia estável e forte. Além disso, o Brasil é reconhecido por outras culturas como o país do carnaval e futebol, como afirmou um jogador da Seleção da África do Sul que desembarcou no nosso território na segunda-feira. O Brasil também possui outras titulações nocivas a efígie dos brasileiros, país dos corruptos, da desigualdade social, segundo no mundo em má distribuição de renda e, principalmente, a nação dos preconceitos e da discriminação social. Uma forma de discriminação latente ou evidente praticada diariamente no nosso território é a exclusão religiosa. No Brasil, ser adepto de outra crença religiosa ou mesmo ser ateu, será vítima de manifestações preconceituosas. Nosso país é cristão, a maioria das pessoas segue a religião Católica Apostólica Romana ou são evangélicos, que em alguns casos, também são vítimas da maioria esmagadora dos Católicos. Os Evangélicos são comumente chamados pelos católicos de protestantes, essa definição é uma alcunha manifesta de discriminação religiosa. Esse preconceito é irrisório se comparado pelos ultrajes sofridos pelos negros que cultuam divindades africanas. Quando um negro estiver participando de algum ritual afro é denominado de catimbozeiro. Quem é prosélito da umbanda é praticante de vudu. Na verdade, os negros que seguem e cultuam suas divindades maternas africanas não realizam tais ritos com intenção de lançar feitiços, bruxarias ou qualquer cerimônia religiosa para fins maléficos. Isso é um preconceito que é cometido por aqueles que desconhecem a cultura afro. Quem já participou de um show de afoxé? Quem já viu uma cerimônia no terreiro? Quem já esteve numa cerimônia numa comunidade quilombola? As pessoas que participaram de tais rituais se encantam, além da beleza dos rituais, o expectador poderá desconstruir todos os estereótipos construídos por pessoas desinformadas e preconceituosas. As cerimônias mencionadas acima, não possuem a funcionalidade de fazer o mal as pessoas, mas é uma forma de manifestação religiosa, assim como que é católico e vai a Missa ou ao evangélico que vai ao culto.

Os adeptos da cultura afro são apenas algumas vítimas da ignorância, intolerância e preconceito religioso. Imaginem quem é muçulmano, judeu e espírita no Brasil o quão estas pessoas sofrem diariamente pela discriminação lhes auferida. Quem é muçulmano, em geral é terrorista; quem é judeu, possui a macula seguir a religião daqueles que condenaram e mataram Cristo; e quem é espírita acredita em entidades fantasmagóricas!
Essas práticas, evidentemente, não são comuns a todos brasileiros, mas infelizmente são muito freqüentes na nossa sociedade. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos está escrito:

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. (Artigo 2º; grifo meu)

Qualquer forma de discriminação, intolerância ou preconceito é condenada e considerada uma postura inaceitável internacionalmente. Esta Lei que foi proclamada em 1948 atinge a maioria dos países até então conhecidos, mas porque algumas pessoas são relutantes e intolerantes em alguns cultos religiosos diferentes dos seus? É uma pergunta difícil de se responder. Mas não impossível.

O calendário que a maioria dos países seguem é o calendário cristão. Este calendário foi formulado pelo Papa Gregório que em 1582 convocou um conjunto de astrônomos para ajustar o calendário definido pelo monge Dionísio. Já se passaram 428 anos desde a reforma gregoriana e alguns países, por isso, seguem os feriados definidos pela Igreja Católica. Mas o Estado não é laico? Sim. O Estado não deve seguir credo religioso algum, já que nem todos são iguais num mesmo Estado! Já pensou se todos seguissem a mesma religião? Onde estaria então a liberdade de pensar?

Minha preocupação é nesse sentido, a exclusão religiosa está se difundindo muito rápida e chegou às Escolas públicas. Como eu havia falado o Estado é laico, então a Escola também é laica! Em muitas escolas observa-se símbolos religiosos católicos em sua maioria em detrimento das demais religiões conhecidas e praticadas. Isso não devia ocorrer. Como as Escolas podem ser formadoras de cidadãos críticos se ferem um regimento Universal que é a liberdade religiosa e de culto? Quando não há aula devido a um feriado religioso, este feriado é católico. Como ficam os evangélicos, judeus, muçulmanos, espíritas e comunidades religiosas afro nesta situação? É isso que eu desejo mostrar, nosso país é um poço de exclusão religiosa. Imagine, por exemplo, um condenado por assalto que vai ao tribunal, ele deve realizar juramentos no livro cristão, a Bíblia. E se esse condenado fosse um muçulmano, espírita, quilombola ou judeu?
A lei que exalta a igualdade entre todos os seres humanos não é apenas internacional, na nossa Constituição de 1988 lê-se:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. (Artigo 5º; inciso VI; grifo meu)

Portanto, a liberdade de culto é aberta a todas as pessoas, desde que estas se sintam no seu direito de gozo religioso sem sofrer qualquer preconceito, discriminação ou intolerância por parte de outros. A maioria das religiões seguidas e cultuadas no Brasil é originária de outros continentes, não há uma religião puramente brasileira, sendo assim, se a religião que você cultua é exógena não há motivo algum para atos de repreensão.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Que é Filosofia?


Num bate papo de familiares, eu e meu pai, percebi que existe um grande paradoxo de gerações e compreensões do mundo no qual vivemos. Me pai havia me dito que a humanidade sofre uma grande “discórdia”, as pessoas não seguem mais a religião Católica como deveriam, existe muita descrença pela nova camada de jovens que forma a sociedade. Essa atitude do meu pai é compreensível. Dá década de 1950 aos tempos atuais jamais houve uma transformação equivalente em toda história da humanidade. Nos últimos cinqüenta anos os seres humanos vivem e respiram o maior processo mutável de toda a espécie humana. Revoluções tecnológicas, científicas, religiosas, políticas, econômicas, sociais e, principalmente, dos meios de comunicação de massa. Para voltar concisamente no tempo basta lembrar que na antiguidade os povos acreditavam apenas nos mitos, na Idade Média, havia mitos também, contudo, o domínio soberbo ficava nas mãos da Igreja Católica ou religião. Na Idade Moderna, surgem os primeiros esboços da ciência que impera de maneira majestosa até hoje. Mesmo assim, onde fica a filosofia neste caso?
Os seres humanos do mundo contemporâneo que habitam qualquer recanto do planeta recebem diariamente uma miríade de notícias, informações, definições, afirmações e conceitos diversos sem ao menos inquirir, duvidar, questionar, investigar as informações que lhe são repassadas diariamente, e isso não acontece apenas nos meios de comunicação, ocorrem também na família, no trabalho, no lazer, no encontro com amigos e etc.
Essa prática de conhecer as coisas de forma passiva é extremamente nociva e prejudicial a todo e qualquer cidadão. Assim como as informações são noticiadas e transmitidas essas informações podem trazer “ideologias” ocultas e interesses obscuros sobre a forma de informação. Esse é papel da filosofia. Sendo assim, filosofia é

A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.  (CHAUÍ, 2000)

Essa é a prática que deveria ser comum e rotineira em todos os seres humanos, mas, na verdade isso não ocorre com freqüência. Por exemplo, um Professor de História lecionando uma aula sobre pré-história, uma notícia veiculada pelo Jornal Nacional ou mesmo Jornal da Record, uma informação dada pelo melhor amigo (a) e alguma familiar, tem algo em comum. A maioria dessas informações não são questionadas, investigadas ou mesmo postas em dúvidas, esse é o papel da filosofia.
Segundo o Filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. Filosofia é a desbanalização do banal, o que Paulo quer mostrar com sua conceituação é que as pessoas perderam ou estão acostumadas demais com as coisas comuns, cotidianas e óbvias sem ao menos desenvolver uma postura crítica.

A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto. (CHAUÍ, 2000)

Por isso muitas pessoas odeiam, não gostam e acham muito chata filosofia, mas talvez essas pessoas “ainda” continuam imersas no desconhecimento de seu mundo, de sua sociedade, de sua religião, de seu próprio habitat. Não devia acontecer dessa maneira, mas a informação precisa necessita de um pouco de filosofia para se concretizar numa forma mais plausível de se obter respostas para os questionamentos do dia-a-dia.
Para ser filósofo ou mesmo desenvolver a atitude filosófica é necessário cursar alguma graduação? De maneira alguma. Muitas pessoas pensam que pensar filosoficamente ou exercer uma efetiva prática filosófica é uma tarefa difícil. Pensar de maneira racional, prudente, premeditada, deliberada depende, exclusivamente, da vontade própria das pessoas. Não é tão difícil assim. Difícil é não tentar. Para desvelar os fenômenos naturais e humanos, obviamente, basta a realização de exercícios como, por exemplo, ler com freqüência, assistir pouca TV, debater fatos e acontecimentos com mais freqüência, ouvir vários pontos de vistas de um mesmo tema ou assunto, ouvir músicas degustativas e não depreciativas, acessar sites da web que os conteúdos sejam confiáveis. Além disso, aperfeiçoar a capacidade de atenção e concentração, sem isto, não será possível almejar conhecer as coisas.

Por definição, filosofia é o conhecimento do absoluto, ainda que se tenha a consciência de que o absoluto é inexaurível e todo nosso conhecimento dele, incompleto. Mas a filosofia possui outro caráter especial: ela é saber crítico. Dissemos que a filosofia não possui objeto específico. Devemos dizer ainda mais: ela refuta todos os objetos, põe em crise toda certeza preestabelecida, não aceita nenhum dado diante de si. Todo filósofo, exatamente por isso, sempre recomeça do princípio. (MORRA, 2001)

Para a filosofia: nada é absoluto, concreto, imutável, inquestionável, incompreendido, indiscutível, desmedido. O objeto da filosofia é incomensurável, tudo que há no mundo pode ser medido, questionado e investigado, esse é o papel crucial e fundamental da filosofia.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Itaquatiaras: a arte rupestre mais intrigante no Nordeste do Brasil

Indubitavelmente o Brasil é um dos países onde se encontram as maiores concentrações de registros rupestres do mundo. De norte a sul, do Amazonas ao Rio Grande do Sul existem grafismos das formas e técnicas de elaboração mais variadas possíveis. Deve-se salientar que grafismos consistem em pinturas e gravuras em diversos suportes rochosos do relevo brasileiro. Os arqueólogos comumente utilizam alguns métodos de classificação para identificar os variados traços e estilos dos grafismos. Existem definições como tradições, sub-tradições, estilos, variedades, complexos, classes, etc., cada um destes elementos mencionados servem de catálogo do estilo empreendido pelos artistas autóctones que elaboraram os grafismos. Mas nosso enfoque são as itaquatiaras, que segundo Gabriela Martin (2005) em língua tupi, significa pedra pintada. Vanderley de Brito, Historiador, membro da Sociedade Paraibana de Arqueologia define como pedra lavrada ou petróglifos. Outros autores, como por exemplo, o Arqueólogo André Prous, da Universidade Federal de Minas Gerais chama de tradição Geométrica e sub-tradição Itacoatiara.



São exclusivamente sítios gravados nas imediações dos rios, e particularmente de cachoeiras, onde aproveitam o afloramento de rochas duras. Muitos dos blocos gravados costumam ser submersos pelas enchentes, fato este certamente desejado pelos autores pré-históricos. (PROUS, 1992)


Esta definição de tradição é típica do Nordeste brasileiro sendo característica pela sua predominância em leitos de rios, córregos, arroios, torrentes, cachoeiras, olhos d’água e em qualquer tipo de cursos d’água. Esses registros, comumente são gravados nas rochas, em alguns casos eram gravados e pintados, mas as gravuras são maioria em relação às pinturas.



Nessa tradição, típica da região nordestina, predominam grafismos puros, porém deve se registrar a presença de antropomorfos, alguns muito elaborados, inclusive com atributos, como os encontrados na beira do São Francisco, em Petrolândia/PE. Há marcas de pés, lagartos e pássaros em grandes paredões, sempre próximos d’água, e também desenhos muitos complexos, que, na imensa solidão dos sertões têm-se prestado, muitas vezes, às mais fantásticas interpretações. (MARTIN, 2005)





As itaquatiaras são indubitavelmente os registros rupestres mais enigmáticos e difíceis de interpretações devido à falta de sedimentos nos quais possam ser realizadas escavações que possibilitem uma associação das gravuras com os refugos da cultura material dos grupos que produziram tais grafismos. Suscitaram-se também, as mais fantásticas interpretações acerca das gravuras. Inferiu-se que as itaquatiaras eram obras de seres extra-terrestres, talvez a mais desvairada, de Fenícios, Egípcios, Hebreus, Incas e etc., Não há dúvida de que esta variação de arte rupestre impressiona pela sua laboriosidade em produzir sulcos em rochas duríssimas com instrumentos líticos rudimentares e talvez mais frágeis do que os próprios suportes rochosos. Muitos arqueólogos aventaram diversas teorias sobre o sentido e significado dessa arte rupestre. Teorias de reprodução do mundo mágico e simbólico, reproduções de astros, escrita e forma de comunicação daqueles povos. Niéde Guidon assinala, que o sentido da arte rupestre é a forma de descrever de maneira narrativa a vida daqueles grupos étnicos.



É evidente que a maioria dos petróglifos ou itaquatiaras do Nordeste do Brasil, estão relacionados com o culto das águas. Muitas dessas gravuras nos fazem pensar em cultos cosmogônicos das forças da natureza e do firmamento. Possíveis representações de astros são freqüentes, assim como a existência de linhas onduladas que parecem imitar o movimento das águas. É natural que nos sertões nordestinos, de terríveis estiagens, as fontes d’água fossem consideradas lugares sagrados, mas o significado dos petróglifos e o culto ao qual estavam destinados nos são desconhecidos. (MARTIN, 2005).





Talvez a explicação mais plausível para as itaquatiaras são as que Gabriela Martin defende, de uma espécie de culto as águas. Na maioria dos sítios com itaquatiaras encontra-se com bastante freqüência traços ou linhas onduladas que, amiúde, representam o movimento das águas. Parece absurdo, mais se analisarmos que as itaquatiaras estão em suportes rochosos de regiões bastante áridas, a água torna-se um elemento sagrado e fonte de subsistência de povos caçadores-coletores. Em alguns sítios com gravuras insculpidas é bastante comum, também, segundo Prous (1992) a presença de cupuliformes ou cupules, pequenos sulcos redondos gravados nos suportes rochosos. Não se sabe o significado, mais alguns arqueólogos sugerem que podem ser representações de astros, estrelas e corpos celestes. Jean Clottes, Diretor-geral do Patrimônio da França, afirma que em alguns sítios franceses observa-se muitos sítios com nuvens de pontos, que segundo Clottes são representações do imaginário daqueles povos após a ingestão de plantas alucinógenas em rituais e cerimônias. Em Iati, o sítio Boi Branco apresenta as mesmas cupules ou nuvens de pontos, ademais o próprio piso do lajedo está tomado por insculturas que lembram astros e estrelas. Na pedra de Ingá/PB, por exemplo, observa-se também a freqüência de nuvens de pontos e cupules presentes em todo o suporte rochoso. Francisco Carlos Pessoa Faria, em seu Livro Os astrônomos pré-históricos de Ingá defende que a pedra lavrada de Ingá é na verdade um grande calendário pré-histórico. Há grafismos de sáurios, antropomorfos, zoomorfos e talvez, fitomorfos, mas também inúmeras reproduções de astros e estrelas no piso do gnaisse.



A proximidade de cursos d’água ou qualquer fonte de abastecimento nas adjacências parece uma regra para a ocorrência de itaquatiaras, porém, em alguns sítios brasileiros observou-se gravuras sem qualquer curso d´água nas proximidades. Mila Simões de Abreu, Arqueóloga de Cambridge, Inglaterra, faz pesquisas na região de Valcamônica (Portugal) as gravuras são encontradas sem nenhuma relação com proximidade a água. O que parece ser uma regra no Nordeste do Brasil, noutros lugares não o é. Isso torna o estudo das itaquatiaras bastante tênue e preliminar, as interpretações são diversas mas o verdadeiro significado de tais registros se perderam com os povos que elaboraram.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cuide bem dos mestres!


Muitos economistas apontam o Brasil como um dos países emergentes economicamente e politicamente, não há dúvida disso, hoje o nosso país é uma potência mundial. Está entre as dez maiores potências do mundo. A crise econômica que neste ano afetou e até mesmo ruiu milhares de países que dependem do setor industrial e econômico, aqui, apenas aqueceu a economia brasileira. O nosso país com quase duas centenas de milhões de habitantes não está entre os primeiros do ranking mundial devido à ausência de políticas sociais. Economicamente falando, o Brasil desponta, no cenário social falta ainda muita coisa para tornar uma grande nação. Saúde pública, saneamento, segurança, infra-estrutura, moradia, rodovias, qualidade de vida e a mais importante de todas, a Educação, precisam emergencialmente de novas ações e políticas públicas. A educação no nosso país está precária, faltam ações políticas de valorização do Magistério. Apesar da Constituição Federal de 1988 enaltecer que uma das obrigações do Governo é fornecer uma Educação digna de qualidade. Na verdade não é isso que acontece. Ser Professor num país que não valoriza o magistério está sendo uma tarefa bastante difícil. Há décadas atrás um professor recebia mensalmente mais de três salários míninos em média, hoje o valor de uma hora aula não ultrapassa R$ 4,00. A qualidade do ensino público decaiu vertiginosamente, assim também como a valorização dos docentes é fútil.

Além desses índices negativos, o respeito aos mestres está declinando cada vez mais, porque isso ocorre no país que cresce economicamente e padece de políticas educativas? Segundo o Senador Cristovam Buarque, uma das ações primordiais para o crescimento de uma nação ou país é a educação. Essa asserção se cristaliza a partir da análise dos países que estão na dianteira como países desenvolvidos, a educação nestes países é uma prioridade. No nosso caso a Educação fica ao relento. Se a falta de ações políticas e a desvalorização do Magistério fossem os únicos fatores responsáveis pelo descrédito nas Escolas Públicas seria admissível, todavia, o desrespeito aos mestres está em ascensão. Viraram prática comum os professores de escolas públicas serem agredidos. Alguns anos atrás, a maior agressão desferida por alguns alunos aos professores era a agressão moral, através de ofensas e palavras encolerizadas. Comumente, ouve-se nos diversos meios de comunicação de massa que professores são agredidos fisicamente em todos os lugares do país, estes fatos suscitam um questionamento, qual o mal causado pelo ato de ensinar? Ensinar é difundir de alguma maneira a prática de desvelar o conhecimento, apreender quer dizer pegar os ensinamentos que são transmitidos pelos nossos mestres. Já se foi o tempo que o professor era reverenciado, aclamado, aplaudido, ovacionado, a prática apologética aos docentes está cada vez mais sendo esquecida. O que está acontecendo no cenário social que muitos alunos não respeitam seus mestres? Será que a sociedade, principalmente, sob a instituição da família está perdendo os valores mais pertinentes ao respeito? Respeitar é uma manifestação de consideração ao outro ser, também é uma forma de reconhecimento pela atuação profissional ou pessoal daquele ser, contudo, respeitar o próximo está sendo dirimido por alguns jovens alunos, porém, vale salientar que a prática de desrespeito não é comum a todos os discentes.


Tenho conversado com professores de várias regiões do Estado de Pernambuco, e desconheço algum docente que não tenha sofrido alguma agressão física ou moral proferida por alunos.

A situação é preocupante, houve casos de professores que foram baleados, esfaqueados, bofeteados em algumas partes do corpo e até mesmo assassinados quando saiam de seu local de trabalho. A impunidade, muitas vezes, impera de forma majestosa num país que cresce economicamente e recrudesce socialmente, principalmente educacionalmente. Os pais quando comparecem à Escola para atendimento de chamados de desvio de conduta de seus filhos, muitas vezes, mal ouvem o posicionamento dos professores, enaltecendo e defendendo a versão – muitas vezes distorcidas – dos filhos, nesses casos o “errado” é o professor. Ocorreram casos que os agressores foram os próprios pais! O que há de errado com a nossa educação pública? O bode expiatório hodierno é o professor. Se o ensino vai mal o responsável por tal fracasso é o docente. Se o aluno é evadido do ano letivo, onde estava o professor no momento da evasão do aluno. Se o aluno fracassar no desempenho escolar, o culpado é professor. Será que o responsável pelo índice de reprovação, evasão e desrespeito encadeados pelos alunos é do professor? Onde fica a atuação dos políticos e da família nesses casos?

Vamos aos dados:

No Estado de Pernambuco os docentes recebem os piores salários do nosso país, um professor Estadual recebe em média R$ 980,00, dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC – 2009). Inclusive estes dados estão equivocados, um professor estadual em início de carreira recebe apenas pouco mais de R$ 800,00. As salas de aulas estão superlotadas, em média 50 ou mais alunos por sala. É muito difícil administrar ou mesmo lecionar nestas condições de trabalho. Imagine-se um professor com 14 turmas de mais de 50 alunos, são mais de 700 alunos para repassar ensinamentos e lições. Evidentemente, não há como fornecer um ensino de qualidade em tais condições. A maioria das Escolas públicas do Estado de Pernambuco não dispõe de laboratório de informática, laboratório de ciências, sala de projeção, projetores – conhecidos popularmente como data show – professores efetivos, bibliotecas com acervos limitados e carência de profissionais de diversas funções. Quando dispõe a infra-estrutura é inadequada. Outro dado negativo, parte dos próprios alunos que possuem livros didáticos, que são os mesmos adotados em algumas escolas privadas, mas, muitas vezes, não o levam para as aulas ou até mesmo nem utilizam para fins didáticos.

Estas são apenas algumas evidências da situação das Escolas Públicas do Estado de Pernambuco. Ser professor num país que não valoriza o magistério está sendo um ofício cada vez mais escasso. Os docentes que resistem são aqueles intrépidos profissionais que enfrentam com destreza os desafios da profissão. O que me surpreende é que o ofício de professor é semear os alunos com ensinamentos, lições, conhecimentos e não promover o ensino do inadequado, prescindível ou mesmo de coisas nocivas aos estudantes.

Para encerrar, em alguns países asiáticos os alunos aguardam os professores sentados dentro das salas de aulas, não interrompem o decorrer do ensino, não viram as costas para os docentes, muito menos atrapalham a atenção dos demais alunos. Quando um aluno fracassa no ano letivo escolar, no Japão, por exemplo, a família é a responsável por tal fracasso!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Beber um pouco de filosofia é salutar

No mundo dominado pela ciência, técnica – filha da ciência – novas tecnologias, globalização e dinheiro é bastante comum várias pessoas valorizarem coisas inúteis e prescindíveis que não servem para a sociedade, de uma maneira geral. As pessoas estão sendo influenciadas peremptoriamente pelas mídias e outros meios de comunicação de massa que são aparatos reprodutores de ideologias de grandes multinacionais monopolistas, onde a verdadeira relevância do indivíduo consiste no seu potencial de consumo. Muitas pessoas não sabem, mas estão sendo manipuladas de forma inconsciente pela mídia e globalização. Isso pode parecer estranho, mas merece uma análise em dados plausíveis e verossímeis de nossa sociedade. Minha preocupação é fundamentada, principalmente, pela juventude que está sendo facilmente “moldada” pela TV e outras mídias. Perscrutando os estudantes das Escolas públicas e privadas percebe-se que a concepção de valor dos jovens brasileiros está atualmente bastante afetada. É freqüente ouvir nas salas de aulas os estudantes “preocupados” com os participantes de reality shows, como por exemplo, Big Brother Brasil ou A Fazenda, programas que não fornecem contribuição alguma, extasiados ainda com o itinerário e enredo das telenovelas, acompanham diariamente a vida de “famosos” ou “estrelas” como se auto-denominam e a importância prioritária, a educação e a perspectiva de vislumbrar o futuro, fica no plano secundário ou até mesmo terciário. Os adolescentes estão consumindo cada vez mais álcool, cigarros e outras drogas que afetam o desempenho mental e escolar. E não sabem desses riscos.

Mas, para que serve então a filosofia diante de todos estes fatos corriqueiros?


Os seres humanos, de modo geral, perderam a capacidade de se admirar com os acontecimentos banais, comuns e cotidianos. Para a maioria dos brasileiros os acontecimentos diários são normais e não há nada de errado na sociedade. Tudo vai bem! Em outras palavras, as pessoas estão se tornando todos “iguais”, apesar das diferenças culturais e geográficas. Os brasileiros – apesar do hibridismo cultural – estão se transformando em meros seres passivos e reprodutores de outros “valores” que são vendidos diariamente e assimilados de forma inconsciente a partir dos meios de comunicação. A filosofia se torna necessária e importante, neste caso, devido a sua insistência de explicação dos fatos e fenômenos ocorridos naquela sociedade. Conhecer o funcionamento dos fenômenos e acontecimentos naturais ou antrópicos é um dos interesses da filosofia e para conhecer algo é preciso delimitar um objeto que deseja ser conhecido. A curiosidade faz parte do instinto humano, assim também como a consciência define as ações e práticas humanas, contudo, na sociedade dominada pela ciência, novas tecnologias, globalização e capitalismo as pessoas estão perdendo a capacidade de se “admirar” e sensibilizar-se com as coisas mais banais. Do ponto de vista filosófico essa atitude reproducionista é perigosa e nociva aos humanos. Nós humanos recorremos a um “instrumento” que os demais animais do planeta não dispõem, a consciência. Essa capacidade de articular pensamentos torna os seres humanos soberbos no planeta Terra, mas na sociedade contemporânea algumas pessoas estão perdendo essa capacidade intrínseca humana. Pensar utilizando à lógica e a razão são meios imprescindíveis aos humanos, neste caso, a filosofia se torna utilitária porque fornece subsídios para uma compreensão da própria natureza humana.


O domínio pujante da internet, Orkut, MSN, twitter só reforça a supremacia das novas tecnologias em detrimento da cultura e valores humanos. Os jovens estão se tornando mais dependentes de tais plataformas virtuais e “esquecem” de conhecer o mundo no qual vivem. As pessoas estão perdendo essa postura de investigar o que ainda não foi explicado de forma plausível e satisfatória, tampouco se questionam sobre a natureza da verdade. O que interessa ao verdadeiro filósofo é a incapacidade de se acostumar com a realidade a sua volta. Para o filósofo, nada é comum, verdadeiro e indiscutível, o real e virtual não se confundem. O que importa é a postura de vê o que os outros não conseguem enxergar. Todavia, aqueles que não priorizam o hábito de ler, escrever, estudar, pesquisar, debater são facilmente influenciados pelas ideologias impositivas do capitalismo. Os brasileiros lêem em média dois livros anuais, bem abaixo dos americanos, cinco livros; e dos europeus, oito livros anuais. Isso corrobora e facilita a imposição de valores desnecessários que são imbuídos – principalmente – na juventude, que é mais facilmente penetrável.


Muitas vezes fico divagando em meus pensamentos sob as atitudes de alguns jovens que ficam priorizando festas de várias naturezas em detrimento de seu crescimento intelectual. O que é mais importante: delinear o futuro, seguir uma profissão ou curtir tênues e efêmeros momentos festivos que não contribuem em nada para a natureza humana. Platão há 24 séculos condenava as pessoas que valorizavam os “prazeres” em detrimento do enriquecimento cultural e filosófico. Platão tinha razão, qual a contribuição de se beber em demasia? Fumar cigarros amentolados? Se preocupar com a vida de pessoas teoricamente famosas que ganham milhares de salários mínimos, reforçando a má distribuição de renda no Brasil? Qual a relevância de reality shows que mostram apenas pessoas confinadas dentro de uma casa ou “curral”?


Beber filosofia pode evitar todos estes males mencionados acima. Não conheço pessoas que se dedicaram a estudar e desvelar conhecimentos que não obtiveram sucesso em suas vidas. Quando me refiro a sucesso não estou enaltecendo a valorização de aquisição de bens materiais, mas pertinente a realização profissional e pessoal. Os brasileiros, de modo geral, precisam ter “abertura” para visibilizar a sociedade na qual vivem e não simplesmente ser meros consumidores de valores culturais imbuídos pela globalização e o capitalismo. Para ser filósofo não é necessário cursar um curso superior, muito menos se submeter a aulas de filosofia, para desenvolver a prática filosófica cabe ao ser humano estimular a capacidade de se “espantar” com as coisas ou fenômenos mais comuns da sociedade.


Filosofia não faz mal, viver no mundo imerso no desconhecimento pode ser letal.