terça-feira, 23 de março de 2010

Brasil, o país sem prioridades!


O Brasil esta semana parou. Que notícia está mais em evidência no início desta semana? O caso Isabela. O que chama a atenção é que o brasileiro continua atribuindo valor a coisas fúteis e desnecessárias a construção da cidadania brasileira. Tenho visto as pessoas bastante apreensivas com o andamento do julgamento do caso Isabela, os alunos, por exemplo, não falam noutra coisa. O que há de interessante neste caso que mobilizou a atenção do todos os brasileiros? Será que foi devido à gravidade do possível crime do pai e da madrasta de Isabela? Ou será um efeito causado pelo sensacionalismo da mídia brasileira. Volto a ressaltar, alguns estudiosos dizem que os meios de comunicação de massa (MCM) são o quarto poder. Na semana passada, uma passeata, mobilizou os cariocas contra o Projeto de Lei que defendia o repartimento igualitário das tarifas de extração do petróleo a todos os Estados da República Federativa do Brasil, os chamados royalties. O que chama ainda mais a atenção é que participaram desta mobilização pessoas denominadas celebridades, políticos do Rio de Janeiro e outros Estados e a população sofrida e carente do mesmo Estado. O que me leva a crer que como foi possível reunir pessoas de classes sociais tão distintas numa mobilização que defendia interesses dos políticos locais em ampliar ou mesmo manter a arrecadação e receita do Estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo estável? Como isso foi possível? Será que a mídia tem alguma parcela de responsabilidade nisso? Não há dúvidas. Isso só reforça a teoria na qual o brasileiro é um ser que desvaloriza coisas mais relevantes para a sociedade. Por exemplo, porque as pessoas não fazem passeatas constantes em protestos à falta de segurança não só apenas do Rio de Janeiro, mas em todo o país? Porque os brasileiros não se mobilizam em reivindicar uma educação pública de maior qualidade? Porque os ditos cidadãos brasileiros não fazem protestos quanto à falta de médicos e postos de atendimento hospitalar? Porque os nossos irmãos não vão às ruas para cobrar punições igualitárias aos políticos corruptos que desviam verbas do erário público?

O que ocorre, infelizmente é o inverso. As coisas mais úteis e fundamentais a toda a sociedade brasileira fica ao relento, isso é culpa dos brasileiros ou será conseqüência de ações de outras pessoas que pretendem um abrandamento da índole e capacidade crítica da maioria dos brasileiros? Na semana passada, por exemplo, os alunos da Escola Estadual Corsina Braga estavam em disputa de pleito pela eleição da nova diretoria do Grêmio Estudantil, contudo, no momento da realização do debate entre as chapas concorrentes – que eram apenas duas – a maioria dos estudantes priorizaram a ida pra casa ante ver as propostas dos seus futuros representantes. Mais uma vez, a teoria de que o brasileiro é vítima de uma ideologia que pretende a letargia das pessoas pode ser confirmada.

As pessoas não conseguem perceber que estão sendo vítimas de enganação por propagandas falsas que são veiculadas diariamente. Voltando a passeata Pró royalties do Rio de Janeiro é interessante notar que os famosos foram às ruas, caminharam por quilômetros, levaram chuva, isso seria apenas uma manifestação da democracia brasileira? Ou aquelas pessoas foram contratadas por políticos que defendiam seus interesses? Basta lembrar que na época das eleições de governadores e Presidente da República, sempre pessoas famosas estão ao lado dos candidatos. Coincidência? Mero acaso? Puro exemplo de uma atitude democrática? Ou apenas exposição mediante um contrato firmado?

Não cabe a eu manifestar aqui a minha opinião sobre estes casos, o meu interesse é que as pessoas analisem estes fatos e acontecimentos rotineiros e saibam que a realidade é um pouco mais distante daquela veiculada pela mídia. Enquanto as pessoas assistem o caso Isabela, os professores do Estado de Pernambuco reivindicam um reajuste salarial que está sendo descompromissado pelo Governador Eduardo Campos. Contudo, esta notícia não é veiculada porque o Governo do Estado calou os três grandes jornais de circulação do Estado. Como isso foi possível? O Governo firmou um convênio com os jornais do Estado: Diário de Pernambuco, Jornal do Commércio e Folha concedendo assinaturas destes jornais aos 26 mil professores do Estado, porém, milhares de professores não recebem estes jornais. Esta notícia, por exemplo, não é veiculada. Ademais, qual destes jornais vai publicar denúncias contra o governador correndo o risco de perderem suas respectivas assinaturas e seus interesses pecuniários?

Cidadão é o indivíduo que goza de direitos e deveres assegurados pelo Estado, porém, como o brasileiro pode ser considerado um cidadão pleno se mal consegue priorizar ações benéficas e cruciais para toda a sociedade?

Reflita!

sábado, 20 de março de 2010

A cultura fomentada pela mídia e a globalização


Você possui cultura? Muitas pessoas acham que aquele que detém cultura é o ser culto, intelectual ou aquele que produz belos discursos. Isso não é verdade. Para muitos, cultura se refere a um nível educacional, sendo assim, culto é quem possui intelecto; inculto é aquele que não dispõe de uma inteligência básica (popular). Para a antropologia não existe o uso dos termos culto e inculto, pelo contrário, segundo os antropólogos não há culturas superiores e inferiores, existem variedades culturais. Desta maneira, fica mais fácil identificar que todo e qualquer ser vive e produz alguma variedade cultural. Por exemplo, um povo indígena é inferior culturalmente há uma sociedade urbana e tecnológica? Claro que não. Existem diferenças substanciais nessas duas organizações sociais, uma possui hábitos mais primários e tradicionais do que a outra, o que não transforma as pessoas que vivem nas cidades em seres majestosos, superiores ou mesmo soberbos. Deste modo, segundo Tylor (1871) Cultura [...] É aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Outro antropólogo, Herkovits (1948) define cultura como a parte do ambiente feita pelo homem. Apesar de estes conceitos terem sidos criados nos séculos XIX e XX os conceitos contemporâneos pouco diferem destes. Atualmente existem mais de 250 conceitos de cultura. Porém, a maioria deles são bem parecidos. O sociólogo Pedrinho Guareschi (2003) define que cultura é tudo o que o homem faz. [...] Assim, cultura é maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de se comunicar etc.
Portanto, ser culto é realizar qualquer variedade de sua cultura. Nós brasileiros, por exemplo, temos o português como língua, uma culinária à base de feijão com arroz enquanto noutros países como os asiáticos a culinária é regada principalmente ao arroz.

Essa idéia difundida de que a cultura é de poucos é falsa e enganosa, é necessário que as pessoas se libertem desses grilhões ideológicos que são produzidos pela mídia e principalmente pela globalização. O fenômeno da globalização apareceu no final da década de 1980 com a abertura econômica da Rússia, sob o Governo de Mikhail Gorbachev que abriu as portas da nação socialista para o sistema capitalista. Outra evidência da disseminação da globalização e do capitalismo foi a queda do muro de Berlim, efeito que solapou definitivamente a ruína do sistema socialista em toda a Europa. Então o que aconteceu com a cultura após estas alterações sócio-econômicas? Com a expansão da globalização vários povos foram atingidos por essa onda migratória de outras culturas, sobretudo através da internet, a qual tornou as fronteiras e limites geográficos transponíveis. Sendo assim, a maioria dos povos e nações do planeta sofreu e sofre diariamente o fenômeno da aculturação – assimilação de elementos culturais de outros grupos sociais a partir do contato constante e regular entre as diversas culturas. Isso favoreceu a fraqueza de algumas culturas. Desta maneira

Quando essa cultura é destruída o povo fica desprotegido e facilmente pode ser dominado e até destruído. Todo povo se afirma como povo na media em que consegue produzir essa fortificação, que fica sendo a razão mesma de seu existir. Por isso se diz que a cultura é a alma dum povo. Povo sem cultura é povo sem alma, sem identidade. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, as ações desencadeadas pela globalização produziram uma destruição massiva das culturas espalhadas pelo mundo. Atualmente, todas as pessoas têm acesso a informações as mais diversas possíveis, contudo muitas dessas informações escondem ideologias capitalistas e mercantilistas de empresas multinacionais que desejam tornar todo e qualquer ser humano num mero consumidor em potencial. Hoje nosso planeta é dominado pela indústria cultural.  Mas o que é essa indústria cultural?

A partir da segunda Revolução Industrial no século XIX e da predominância das regras do mercado capitalista, as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia da indústria cultural. Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens foram submetidos à idéia de consumo, como produtos fabricados em série. As obras de arte se transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, onde a maioria dos bens artísticos NÃO são criados para a contemplação, para a busca do belo, e, sim, para obtenção de lucros. (OLIVEIRA; COSTA, 2007. Grifo meu)


Diversos autores apontam que na verdade existe um quarto poder, a mídia. Além dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo aparece o mais forte de todos, os meios de comunicação de massa (MCM). Essa hipótese se sustenta e pode ser considerada plausível e admissível. No cenário político, por exemplo, Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores e demais parlamentares que são eleitos com freqüência, em geral, possuem algum meio de comunicação de massa: jornais impressos, rádios, revistas e principalmente, emissoras de TV. Esse aparato informativo tornasse numa ferramenta decisiva na formação da opinião pública. Quem assistiu ao documentário Muito Além do cidadão Kane, da BBC (1993), constatou que o poder da mídia é fortíssimo. Fernando Collor, por exemplo, foi uma campanha ardilosa de manipulação e alienação na qual a maioria dos brasileiros foram enganados pelas mensagens ocultas transmitidas pela Rede Globo. A Globo foi decisiva também na ascensão e queda do Regime Militar, boicotou por duas vezes a campanha de Lula, evitou que o grupo da Editora Abril fosse concedida uma licença de criação de uma nova emissora de TV, foi determinante na prática das discotecas no nosso país a partir das cenas exibidas pela novela Dancing Days, além disso, a Globo está entre as dez maiores emissoras de Televisão do planeta e tem uma cobertura nacional de 99,9% do território brasileiro. É muito domínio para apenas uma única emissora de TV, somado a tudo isso, diga-se que as Organizações Globo possuem 70% da receita em publicidade do país, possui jornais, revistas, editora, provedores de internet, uma TV por assinatura (SKY) e centenas de emissoras afiliadas espalhadas pelo Brasil.

A indústria cultural se manifesta dessa forma, os grandes empresários estão espalhados por toda parte, vendendo seus produtos através dos meios de comunicação massivos em detrimento da cultural local. Mas como se forma e expande a indústria cultural?

Quando se assiste a um filme, ou se vê uma novela, não é o roteiro, ou o enredo a única coisa a que se assiste ou se vê. Como pano de fundo está todo um conjunto cultural: um tipo de moradia, de decoração, uma maneira de comer, de vestir, de se relacionar, um tipo de carro, de casa, um tipo de diversão, em resumo, uma maneira diferente de se viver, isto é, um padrão cultural diferente. Esse pano de fundo é o que realmente fica na mente das pessoas e leva à mudança dos padrões culturais. É uma transmissão ou mudança de cultura que se dá quase inconscientemente. (GUARESCHI, 2003)

Com efeito, o fenômeno da globalização exporta costumes, hábitos e valores de outros lugares para fronteiras longínquas. Os brasileiros, por exemplo, ouvem numa estação de rádio com freqüência música americana, norueguesa, européia, asiática e etc. quando uma cantora ou cantor internacional realiza shows no Brasil os ingressos se esgotam em poucos dias, as pessoas tomam diariamente refrigerante americano, andam em carros americanos (Chevrolet, Ford), italianos (Fiat), Franceses (Peugeot, Renault), japoneses (Honda, Kia, Suzuki), alemães (Wolkswagen, Mercedez, BMW), nossos clubes de futebol vestem camisas confeccionas e desenhadas por empresas multinacionais: adidas e puma (alemãs), umbro (inglesa), lotto, diadora e kappa (italianas), reebok, nike e Wilson (americanas), nossa língua portuguesa sofre incrementos de palavras exógenas como pizza, hambúrguer, cheesebúrguer, web, cyber, download, MSN, Orkut,novas  Esses clubes perderam e perdem diariamente torcedores para equipes de outras regiões como o Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético MG e etc. esse é o autêntico fenômeno da indústria cultural. O que mais impressiona é que na medida que essas equipes exógenas são campeãs, no Nordeste, Norte e restante do país as pessoas realizam verdadeiras festas de comemoração a conquista de campeonatos. O mesmo não ocorre com os clubes locais! 

entre outras. Então, dá para notar que nossa cultura padece com o tempo, não há como resistir aos efeitos da globalização, principalmente, a partir dos meios de comunicação de massa. A cultura local deixa de lado suas canções e cultuam outras, as pessoas mudaram seus hábitos alimentares devido a propaganda de comidas, não existe no Brasil, infelizmente, um carro autêntico brasileiro, as pessoas perderam os valores familiares e afetivos devido ao uso com freqüência da internet, as vestimentas utilizadas por nós são cópias de tendências regadas à nova moda, os clubes locais perderam parte de sua torcida para os times do sul do país e também para equipes de outros países como: Real Madri, Barcelona, Manchester, Chelsea, Arsenal, Liverpol, Milan, Internazionale. Ainda ontem, no jornal da globo, passou uma matéria sobre torcedores do flamengo na Paraíba que foram as bares de João Pessoa assistir ao jogo. Isso não acontece com as equipes paraibanas como o Autoesporte, o Treze e o Campinense.

Mas, será que existe alguma maneira das pessoas evitarem os efeitos culturais impostos pela indústria cultural? Há sim. Para se evitar tais males é necessário que as pessoas evitem assistir TV com freqüência (o brasileiro assiste TV, em média, cinco horas por dia), ler livros comumente, debater com colegas sobre qual o interesse das propagandas que são veiculadas nos rádios, TV, jornais e revistas. Valorizar sua cultura de maneira proficiente, evitando-se assim, a alienação consumista que é a premissa crucial e fundamental dos meios de comunicação massivos e dos grandes empresários. Evitar os males causados pela indústria cultural, globalização e mídia é uma tarefa dificílima, mas existe um elixir capaz de sanar esse perigo eminente, a educação.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Exclusão religiosa


O Brasil é um país que se destaca hodiernamente no cenário nacional e internacional pela sua economia estável e forte. Além disso, o Brasil é reconhecido por outras culturas como o país do carnaval e futebol, como afirmou um jogador da Seleção da África do Sul que desembarcou no nosso território na segunda-feira. O Brasil também possui outras titulações nocivas a efígie dos brasileiros, país dos corruptos, da desigualdade social, segundo no mundo em má distribuição de renda e, principalmente, a nação dos preconceitos e da discriminação social. Uma forma de discriminação latente ou evidente praticada diariamente no nosso território é a exclusão religiosa. No Brasil, ser adepto de outra crença religiosa ou mesmo ser ateu, será vítima de manifestações preconceituosas. Nosso país é cristão, a maioria das pessoas segue a religião Católica Apostólica Romana ou são evangélicos, que em alguns casos, também são vítimas da maioria esmagadora dos Católicos. Os Evangélicos são comumente chamados pelos católicos de protestantes, essa definição é uma alcunha manifesta de discriminação religiosa. Esse preconceito é irrisório se comparado pelos ultrajes sofridos pelos negros que cultuam divindades africanas. Quando um negro estiver participando de algum ritual afro é denominado de catimbozeiro. Quem é prosélito da umbanda é praticante de vudu. Na verdade, os negros que seguem e cultuam suas divindades maternas africanas não realizam tais ritos com intenção de lançar feitiços, bruxarias ou qualquer cerimônia religiosa para fins maléficos. Isso é um preconceito que é cometido por aqueles que desconhecem a cultura afro. Quem já participou de um show de afoxé? Quem já viu uma cerimônia no terreiro? Quem já esteve numa cerimônia numa comunidade quilombola? As pessoas que participaram de tais rituais se encantam, além da beleza dos rituais, o expectador poderá desconstruir todos os estereótipos construídos por pessoas desinformadas e preconceituosas. As cerimônias mencionadas acima, não possuem a funcionalidade de fazer o mal as pessoas, mas é uma forma de manifestação religiosa, assim como que é católico e vai a Missa ou ao evangélico que vai ao culto.

Os adeptos da cultura afro são apenas algumas vítimas da ignorância, intolerância e preconceito religioso. Imaginem quem é muçulmano, judeu e espírita no Brasil o quão estas pessoas sofrem diariamente pela discriminação lhes auferida. Quem é muçulmano, em geral é terrorista; quem é judeu, possui a macula seguir a religião daqueles que condenaram e mataram Cristo; e quem é espírita acredita em entidades fantasmagóricas!
Essas práticas, evidentemente, não são comuns a todos brasileiros, mas infelizmente são muito freqüentes na nossa sociedade. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos está escrito:

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. (Artigo 2º; grifo meu)

Qualquer forma de discriminação, intolerância ou preconceito é condenada e considerada uma postura inaceitável internacionalmente. Esta Lei que foi proclamada em 1948 atinge a maioria dos países até então conhecidos, mas porque algumas pessoas são relutantes e intolerantes em alguns cultos religiosos diferentes dos seus? É uma pergunta difícil de se responder. Mas não impossível.

O calendário que a maioria dos países seguem é o calendário cristão. Este calendário foi formulado pelo Papa Gregório que em 1582 convocou um conjunto de astrônomos para ajustar o calendário definido pelo monge Dionísio. Já se passaram 428 anos desde a reforma gregoriana e alguns países, por isso, seguem os feriados definidos pela Igreja Católica. Mas o Estado não é laico? Sim. O Estado não deve seguir credo religioso algum, já que nem todos são iguais num mesmo Estado! Já pensou se todos seguissem a mesma religião? Onde estaria então a liberdade de pensar?

Minha preocupação é nesse sentido, a exclusão religiosa está se difundindo muito rápida e chegou às Escolas públicas. Como eu havia falado o Estado é laico, então a Escola também é laica! Em muitas escolas observa-se símbolos religiosos católicos em sua maioria em detrimento das demais religiões conhecidas e praticadas. Isso não devia ocorrer. Como as Escolas podem ser formadoras de cidadãos críticos se ferem um regimento Universal que é a liberdade religiosa e de culto? Quando não há aula devido a um feriado religioso, este feriado é católico. Como ficam os evangélicos, judeus, muçulmanos, espíritas e comunidades religiosas afro nesta situação? É isso que eu desejo mostrar, nosso país é um poço de exclusão religiosa. Imagine, por exemplo, um condenado por assalto que vai ao tribunal, ele deve realizar juramentos no livro cristão, a Bíblia. E se esse condenado fosse um muçulmano, espírita, quilombola ou judeu?
A lei que exalta a igualdade entre todos os seres humanos não é apenas internacional, na nossa Constituição de 1988 lê-se:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. (Artigo 5º; inciso VI; grifo meu)

Portanto, a liberdade de culto é aberta a todas as pessoas, desde que estas se sintam no seu direito de gozo religioso sem sofrer qualquer preconceito, discriminação ou intolerância por parte de outros. A maioria das religiões seguidas e cultuadas no Brasil é originária de outros continentes, não há uma religião puramente brasileira, sendo assim, se a religião que você cultua é exógena não há motivo algum para atos de repreensão.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Que é Filosofia?


Num bate papo de familiares, eu e meu pai, percebi que existe um grande paradoxo de gerações e compreensões do mundo no qual vivemos. Me pai havia me dito que a humanidade sofre uma grande “discórdia”, as pessoas não seguem mais a religião Católica como deveriam, existe muita descrença pela nova camada de jovens que forma a sociedade. Essa atitude do meu pai é compreensível. Dá década de 1950 aos tempos atuais jamais houve uma transformação equivalente em toda história da humanidade. Nos últimos cinqüenta anos os seres humanos vivem e respiram o maior processo mutável de toda a espécie humana. Revoluções tecnológicas, científicas, religiosas, políticas, econômicas, sociais e, principalmente, dos meios de comunicação de massa. Para voltar concisamente no tempo basta lembrar que na antiguidade os povos acreditavam apenas nos mitos, na Idade Média, havia mitos também, contudo, o domínio soberbo ficava nas mãos da Igreja Católica ou religião. Na Idade Moderna, surgem os primeiros esboços da ciência que impera de maneira majestosa até hoje. Mesmo assim, onde fica a filosofia neste caso?
Os seres humanos do mundo contemporâneo que habitam qualquer recanto do planeta recebem diariamente uma miríade de notícias, informações, definições, afirmações e conceitos diversos sem ao menos inquirir, duvidar, questionar, investigar as informações que lhe são repassadas diariamente, e isso não acontece apenas nos meios de comunicação, ocorrem também na família, no trabalho, no lazer, no encontro com amigos e etc.
Essa prática de conhecer as coisas de forma passiva é extremamente nociva e prejudicial a todo e qualquer cidadão. Assim como as informações são noticiadas e transmitidas essas informações podem trazer “ideologias” ocultas e interesses obscuros sobre a forma de informação. Esse é papel da filosofia. Sendo assim, filosofia é

A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.  (CHAUÍ, 2000)

Essa é a prática que deveria ser comum e rotineira em todos os seres humanos, mas, na verdade isso não ocorre com freqüência. Por exemplo, um Professor de História lecionando uma aula sobre pré-história, uma notícia veiculada pelo Jornal Nacional ou mesmo Jornal da Record, uma informação dada pelo melhor amigo (a) e alguma familiar, tem algo em comum. A maioria dessas informações não são questionadas, investigadas ou mesmo postas em dúvidas, esse é o papel da filosofia.
Segundo o Filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. Filosofia é a desbanalização do banal, o que Paulo quer mostrar com sua conceituação é que as pessoas perderam ou estão acostumadas demais com as coisas comuns, cotidianas e óbvias sem ao menos desenvolver uma postura crítica.

A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto. (CHAUÍ, 2000)

Por isso muitas pessoas odeiam, não gostam e acham muito chata filosofia, mas talvez essas pessoas “ainda” continuam imersas no desconhecimento de seu mundo, de sua sociedade, de sua religião, de seu próprio habitat. Não devia acontecer dessa maneira, mas a informação precisa necessita de um pouco de filosofia para se concretizar numa forma mais plausível de se obter respostas para os questionamentos do dia-a-dia.
Para ser filósofo ou mesmo desenvolver a atitude filosófica é necessário cursar alguma graduação? De maneira alguma. Muitas pessoas pensam que pensar filosoficamente ou exercer uma efetiva prática filosófica é uma tarefa difícil. Pensar de maneira racional, prudente, premeditada, deliberada depende, exclusivamente, da vontade própria das pessoas. Não é tão difícil assim. Difícil é não tentar. Para desvelar os fenômenos naturais e humanos, obviamente, basta a realização de exercícios como, por exemplo, ler com freqüência, assistir pouca TV, debater fatos e acontecimentos com mais freqüência, ouvir vários pontos de vistas de um mesmo tema ou assunto, ouvir músicas degustativas e não depreciativas, acessar sites da web que os conteúdos sejam confiáveis. Além disso, aperfeiçoar a capacidade de atenção e concentração, sem isto, não será possível almejar conhecer as coisas.

Por definição, filosofia é o conhecimento do absoluto, ainda que se tenha a consciência de que o absoluto é inexaurível e todo nosso conhecimento dele, incompleto. Mas a filosofia possui outro caráter especial: ela é saber crítico. Dissemos que a filosofia não possui objeto específico. Devemos dizer ainda mais: ela refuta todos os objetos, põe em crise toda certeza preestabelecida, não aceita nenhum dado diante de si. Todo filósofo, exatamente por isso, sempre recomeça do princípio. (MORRA, 2001)

Para a filosofia: nada é absoluto, concreto, imutável, inquestionável, incompreendido, indiscutível, desmedido. O objeto da filosofia é incomensurável, tudo que há no mundo pode ser medido, questionado e investigado, esse é o papel crucial e fundamental da filosofia.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Itaquatiaras: a arte rupestre mais intrigante no Nordeste do Brasil

Indubitavelmente o Brasil é um dos países onde se encontram as maiores concentrações de registros rupestres do mundo. De norte a sul, do Amazonas ao Rio Grande do Sul existem grafismos das formas e técnicas de elaboração mais variadas possíveis. Deve-se salientar que grafismos consistem em pinturas e gravuras em diversos suportes rochosos do relevo brasileiro. Os arqueólogos comumente utilizam alguns métodos de classificação para identificar os variados traços e estilos dos grafismos. Existem definições como tradições, sub-tradições, estilos, variedades, complexos, classes, etc., cada um destes elementos mencionados servem de catálogo do estilo empreendido pelos artistas autóctones que elaboraram os grafismos. Mas nosso enfoque são as itaquatiaras, que segundo Gabriela Martin (2005) em língua tupi, significa pedra pintada. Vanderley de Brito, Historiador, membro da Sociedade Paraibana de Arqueologia define como pedra lavrada ou petróglifos. Outros autores, como por exemplo, o Arqueólogo André Prous, da Universidade Federal de Minas Gerais chama de tradição Geométrica e sub-tradição Itacoatiara.



São exclusivamente sítios gravados nas imediações dos rios, e particularmente de cachoeiras, onde aproveitam o afloramento de rochas duras. Muitos dos blocos gravados costumam ser submersos pelas enchentes, fato este certamente desejado pelos autores pré-históricos. (PROUS, 1992)


Esta definição de tradição é típica do Nordeste brasileiro sendo característica pela sua predominância em leitos de rios, córregos, arroios, torrentes, cachoeiras, olhos d’água e em qualquer tipo de cursos d’água. Esses registros, comumente são gravados nas rochas, em alguns casos eram gravados e pintados, mas as gravuras são maioria em relação às pinturas.



Nessa tradição, típica da região nordestina, predominam grafismos puros, porém deve se registrar a presença de antropomorfos, alguns muito elaborados, inclusive com atributos, como os encontrados na beira do São Francisco, em Petrolândia/PE. Há marcas de pés, lagartos e pássaros em grandes paredões, sempre próximos d’água, e também desenhos muitos complexos, que, na imensa solidão dos sertões têm-se prestado, muitas vezes, às mais fantásticas interpretações. (MARTIN, 2005)





As itaquatiaras são indubitavelmente os registros rupestres mais enigmáticos e difíceis de interpretações devido à falta de sedimentos nos quais possam ser realizadas escavações que possibilitem uma associação das gravuras com os refugos da cultura material dos grupos que produziram tais grafismos. Suscitaram-se também, as mais fantásticas interpretações acerca das gravuras. Inferiu-se que as itaquatiaras eram obras de seres extra-terrestres, talvez a mais desvairada, de Fenícios, Egípcios, Hebreus, Incas e etc., Não há dúvida de que esta variação de arte rupestre impressiona pela sua laboriosidade em produzir sulcos em rochas duríssimas com instrumentos líticos rudimentares e talvez mais frágeis do que os próprios suportes rochosos. Muitos arqueólogos aventaram diversas teorias sobre o sentido e significado dessa arte rupestre. Teorias de reprodução do mundo mágico e simbólico, reproduções de astros, escrita e forma de comunicação daqueles povos. Niéde Guidon assinala, que o sentido da arte rupestre é a forma de descrever de maneira narrativa a vida daqueles grupos étnicos.



É evidente que a maioria dos petróglifos ou itaquatiaras do Nordeste do Brasil, estão relacionados com o culto das águas. Muitas dessas gravuras nos fazem pensar em cultos cosmogônicos das forças da natureza e do firmamento. Possíveis representações de astros são freqüentes, assim como a existência de linhas onduladas que parecem imitar o movimento das águas. É natural que nos sertões nordestinos, de terríveis estiagens, as fontes d’água fossem consideradas lugares sagrados, mas o significado dos petróglifos e o culto ao qual estavam destinados nos são desconhecidos. (MARTIN, 2005).





Talvez a explicação mais plausível para as itaquatiaras são as que Gabriela Martin defende, de uma espécie de culto as águas. Na maioria dos sítios com itaquatiaras encontra-se com bastante freqüência traços ou linhas onduladas que, amiúde, representam o movimento das águas. Parece absurdo, mais se analisarmos que as itaquatiaras estão em suportes rochosos de regiões bastante áridas, a água torna-se um elemento sagrado e fonte de subsistência de povos caçadores-coletores. Em alguns sítios com gravuras insculpidas é bastante comum, também, segundo Prous (1992) a presença de cupuliformes ou cupules, pequenos sulcos redondos gravados nos suportes rochosos. Não se sabe o significado, mais alguns arqueólogos sugerem que podem ser representações de astros, estrelas e corpos celestes. Jean Clottes, Diretor-geral do Patrimônio da França, afirma que em alguns sítios franceses observa-se muitos sítios com nuvens de pontos, que segundo Clottes são representações do imaginário daqueles povos após a ingestão de plantas alucinógenas em rituais e cerimônias. Em Iati, o sítio Boi Branco apresenta as mesmas cupules ou nuvens de pontos, ademais o próprio piso do lajedo está tomado por insculturas que lembram astros e estrelas. Na pedra de Ingá/PB, por exemplo, observa-se também a freqüência de nuvens de pontos e cupules presentes em todo o suporte rochoso. Francisco Carlos Pessoa Faria, em seu Livro Os astrônomos pré-históricos de Ingá defende que a pedra lavrada de Ingá é na verdade um grande calendário pré-histórico. Há grafismos de sáurios, antropomorfos, zoomorfos e talvez, fitomorfos, mas também inúmeras reproduções de astros e estrelas no piso do gnaisse.



A proximidade de cursos d’água ou qualquer fonte de abastecimento nas adjacências parece uma regra para a ocorrência de itaquatiaras, porém, em alguns sítios brasileiros observou-se gravuras sem qualquer curso d´água nas proximidades. Mila Simões de Abreu, Arqueóloga de Cambridge, Inglaterra, faz pesquisas na região de Valcamônica (Portugal) as gravuras são encontradas sem nenhuma relação com proximidade a água. O que parece ser uma regra no Nordeste do Brasil, noutros lugares não o é. Isso torna o estudo das itaquatiaras bastante tênue e preliminar, as interpretações são diversas mas o verdadeiro significado de tais registros se perderam com os povos que elaboraram.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cuide bem dos mestres!


Muitos economistas apontam o Brasil como um dos países emergentes economicamente e politicamente, não há dúvida disso, hoje o nosso país é uma potência mundial. Está entre as dez maiores potências do mundo. A crise econômica que neste ano afetou e até mesmo ruiu milhares de países que dependem do setor industrial e econômico, aqui, apenas aqueceu a economia brasileira. O nosso país com quase duas centenas de milhões de habitantes não está entre os primeiros do ranking mundial devido à ausência de políticas sociais. Economicamente falando, o Brasil desponta, no cenário social falta ainda muita coisa para tornar uma grande nação. Saúde pública, saneamento, segurança, infra-estrutura, moradia, rodovias, qualidade de vida e a mais importante de todas, a Educação, precisam emergencialmente de novas ações e políticas públicas. A educação no nosso país está precária, faltam ações políticas de valorização do Magistério. Apesar da Constituição Federal de 1988 enaltecer que uma das obrigações do Governo é fornecer uma Educação digna de qualidade. Na verdade não é isso que acontece. Ser Professor num país que não valoriza o magistério está sendo uma tarefa bastante difícil. Há décadas atrás um professor recebia mensalmente mais de três salários míninos em média, hoje o valor de uma hora aula não ultrapassa R$ 4,00. A qualidade do ensino público decaiu vertiginosamente, assim também como a valorização dos docentes é fútil.

Além desses índices negativos, o respeito aos mestres está declinando cada vez mais, porque isso ocorre no país que cresce economicamente e padece de políticas educativas? Segundo o Senador Cristovam Buarque, uma das ações primordiais para o crescimento de uma nação ou país é a educação. Essa asserção se cristaliza a partir da análise dos países que estão na dianteira como países desenvolvidos, a educação nestes países é uma prioridade. No nosso caso a Educação fica ao relento. Se a falta de ações políticas e a desvalorização do Magistério fossem os únicos fatores responsáveis pelo descrédito nas Escolas Públicas seria admissível, todavia, o desrespeito aos mestres está em ascensão. Viraram prática comum os professores de escolas públicas serem agredidos. Alguns anos atrás, a maior agressão desferida por alguns alunos aos professores era a agressão moral, através de ofensas e palavras encolerizadas. Comumente, ouve-se nos diversos meios de comunicação de massa que professores são agredidos fisicamente em todos os lugares do país, estes fatos suscitam um questionamento, qual o mal causado pelo ato de ensinar? Ensinar é difundir de alguma maneira a prática de desvelar o conhecimento, apreender quer dizer pegar os ensinamentos que são transmitidos pelos nossos mestres. Já se foi o tempo que o professor era reverenciado, aclamado, aplaudido, ovacionado, a prática apologética aos docentes está cada vez mais sendo esquecida. O que está acontecendo no cenário social que muitos alunos não respeitam seus mestres? Será que a sociedade, principalmente, sob a instituição da família está perdendo os valores mais pertinentes ao respeito? Respeitar é uma manifestação de consideração ao outro ser, também é uma forma de reconhecimento pela atuação profissional ou pessoal daquele ser, contudo, respeitar o próximo está sendo dirimido por alguns jovens alunos, porém, vale salientar que a prática de desrespeito não é comum a todos os discentes.


Tenho conversado com professores de várias regiões do Estado de Pernambuco, e desconheço algum docente que não tenha sofrido alguma agressão física ou moral proferida por alunos.

A situação é preocupante, houve casos de professores que foram baleados, esfaqueados, bofeteados em algumas partes do corpo e até mesmo assassinados quando saiam de seu local de trabalho. A impunidade, muitas vezes, impera de forma majestosa num país que cresce economicamente e recrudesce socialmente, principalmente educacionalmente. Os pais quando comparecem à Escola para atendimento de chamados de desvio de conduta de seus filhos, muitas vezes, mal ouvem o posicionamento dos professores, enaltecendo e defendendo a versão – muitas vezes distorcidas – dos filhos, nesses casos o “errado” é o professor. Ocorreram casos que os agressores foram os próprios pais! O que há de errado com a nossa educação pública? O bode expiatório hodierno é o professor. Se o ensino vai mal o responsável por tal fracasso é o docente. Se o aluno é evadido do ano letivo, onde estava o professor no momento da evasão do aluno. Se o aluno fracassar no desempenho escolar, o culpado é professor. Será que o responsável pelo índice de reprovação, evasão e desrespeito encadeados pelos alunos é do professor? Onde fica a atuação dos políticos e da família nesses casos?

Vamos aos dados:

No Estado de Pernambuco os docentes recebem os piores salários do nosso país, um professor Estadual recebe em média R$ 980,00, dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC – 2009). Inclusive estes dados estão equivocados, um professor estadual em início de carreira recebe apenas pouco mais de R$ 800,00. As salas de aulas estão superlotadas, em média 50 ou mais alunos por sala. É muito difícil administrar ou mesmo lecionar nestas condições de trabalho. Imagine-se um professor com 14 turmas de mais de 50 alunos, são mais de 700 alunos para repassar ensinamentos e lições. Evidentemente, não há como fornecer um ensino de qualidade em tais condições. A maioria das Escolas públicas do Estado de Pernambuco não dispõe de laboratório de informática, laboratório de ciências, sala de projeção, projetores – conhecidos popularmente como data show – professores efetivos, bibliotecas com acervos limitados e carência de profissionais de diversas funções. Quando dispõe a infra-estrutura é inadequada. Outro dado negativo, parte dos próprios alunos que possuem livros didáticos, que são os mesmos adotados em algumas escolas privadas, mas, muitas vezes, não o levam para as aulas ou até mesmo nem utilizam para fins didáticos.

Estas são apenas algumas evidências da situação das Escolas Públicas do Estado de Pernambuco. Ser professor num país que não valoriza o magistério está sendo um ofício cada vez mais escasso. Os docentes que resistem são aqueles intrépidos profissionais que enfrentam com destreza os desafios da profissão. O que me surpreende é que o ofício de professor é semear os alunos com ensinamentos, lições, conhecimentos e não promover o ensino do inadequado, prescindível ou mesmo de coisas nocivas aos estudantes.

Para encerrar, em alguns países asiáticos os alunos aguardam os professores sentados dentro das salas de aulas, não interrompem o decorrer do ensino, não viram as costas para os docentes, muito menos atrapalham a atenção dos demais alunos. Quando um aluno fracassa no ano letivo escolar, no Japão, por exemplo, a família é a responsável por tal fracasso!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Beber um pouco de filosofia é salutar

No mundo dominado pela ciência, técnica – filha da ciência – novas tecnologias, globalização e dinheiro é bastante comum várias pessoas valorizarem coisas inúteis e prescindíveis que não servem para a sociedade, de uma maneira geral. As pessoas estão sendo influenciadas peremptoriamente pelas mídias e outros meios de comunicação de massa que são aparatos reprodutores de ideologias de grandes multinacionais monopolistas, onde a verdadeira relevância do indivíduo consiste no seu potencial de consumo. Muitas pessoas não sabem, mas estão sendo manipuladas de forma inconsciente pela mídia e globalização. Isso pode parecer estranho, mas merece uma análise em dados plausíveis e verossímeis de nossa sociedade. Minha preocupação é fundamentada, principalmente, pela juventude que está sendo facilmente “moldada” pela TV e outras mídias. Perscrutando os estudantes das Escolas públicas e privadas percebe-se que a concepção de valor dos jovens brasileiros está atualmente bastante afetada. É freqüente ouvir nas salas de aulas os estudantes “preocupados” com os participantes de reality shows, como por exemplo, Big Brother Brasil ou A Fazenda, programas que não fornecem contribuição alguma, extasiados ainda com o itinerário e enredo das telenovelas, acompanham diariamente a vida de “famosos” ou “estrelas” como se auto-denominam e a importância prioritária, a educação e a perspectiva de vislumbrar o futuro, fica no plano secundário ou até mesmo terciário. Os adolescentes estão consumindo cada vez mais álcool, cigarros e outras drogas que afetam o desempenho mental e escolar. E não sabem desses riscos.

Mas, para que serve então a filosofia diante de todos estes fatos corriqueiros?


Os seres humanos, de modo geral, perderam a capacidade de se admirar com os acontecimentos banais, comuns e cotidianos. Para a maioria dos brasileiros os acontecimentos diários são normais e não há nada de errado na sociedade. Tudo vai bem! Em outras palavras, as pessoas estão se tornando todos “iguais”, apesar das diferenças culturais e geográficas. Os brasileiros – apesar do hibridismo cultural – estão se transformando em meros seres passivos e reprodutores de outros “valores” que são vendidos diariamente e assimilados de forma inconsciente a partir dos meios de comunicação. A filosofia se torna necessária e importante, neste caso, devido a sua insistência de explicação dos fatos e fenômenos ocorridos naquela sociedade. Conhecer o funcionamento dos fenômenos e acontecimentos naturais ou antrópicos é um dos interesses da filosofia e para conhecer algo é preciso delimitar um objeto que deseja ser conhecido. A curiosidade faz parte do instinto humano, assim também como a consciência define as ações e práticas humanas, contudo, na sociedade dominada pela ciência, novas tecnologias, globalização e capitalismo as pessoas estão perdendo a capacidade de se “admirar” e sensibilizar-se com as coisas mais banais. Do ponto de vista filosófico essa atitude reproducionista é perigosa e nociva aos humanos. Nós humanos recorremos a um “instrumento” que os demais animais do planeta não dispõem, a consciência. Essa capacidade de articular pensamentos torna os seres humanos soberbos no planeta Terra, mas na sociedade contemporânea algumas pessoas estão perdendo essa capacidade intrínseca humana. Pensar utilizando à lógica e a razão são meios imprescindíveis aos humanos, neste caso, a filosofia se torna utilitária porque fornece subsídios para uma compreensão da própria natureza humana.


O domínio pujante da internet, Orkut, MSN, twitter só reforça a supremacia das novas tecnologias em detrimento da cultura e valores humanos. Os jovens estão se tornando mais dependentes de tais plataformas virtuais e “esquecem” de conhecer o mundo no qual vivem. As pessoas estão perdendo essa postura de investigar o que ainda não foi explicado de forma plausível e satisfatória, tampouco se questionam sobre a natureza da verdade. O que interessa ao verdadeiro filósofo é a incapacidade de se acostumar com a realidade a sua volta. Para o filósofo, nada é comum, verdadeiro e indiscutível, o real e virtual não se confundem. O que importa é a postura de vê o que os outros não conseguem enxergar. Todavia, aqueles que não priorizam o hábito de ler, escrever, estudar, pesquisar, debater são facilmente influenciados pelas ideologias impositivas do capitalismo. Os brasileiros lêem em média dois livros anuais, bem abaixo dos americanos, cinco livros; e dos europeus, oito livros anuais. Isso corrobora e facilita a imposição de valores desnecessários que são imbuídos – principalmente – na juventude, que é mais facilmente penetrável.


Muitas vezes fico divagando em meus pensamentos sob as atitudes de alguns jovens que ficam priorizando festas de várias naturezas em detrimento de seu crescimento intelectual. O que é mais importante: delinear o futuro, seguir uma profissão ou curtir tênues e efêmeros momentos festivos que não contribuem em nada para a natureza humana. Platão há 24 séculos condenava as pessoas que valorizavam os “prazeres” em detrimento do enriquecimento cultural e filosófico. Platão tinha razão, qual a contribuição de se beber em demasia? Fumar cigarros amentolados? Se preocupar com a vida de pessoas teoricamente famosas que ganham milhares de salários mínimos, reforçando a má distribuição de renda no Brasil? Qual a relevância de reality shows que mostram apenas pessoas confinadas dentro de uma casa ou “curral”?


Beber filosofia pode evitar todos estes males mencionados acima. Não conheço pessoas que se dedicaram a estudar e desvelar conhecimentos que não obtiveram sucesso em suas vidas. Quando me refiro a sucesso não estou enaltecendo a valorização de aquisição de bens materiais, mas pertinente a realização profissional e pessoal. Os brasileiros, de modo geral, precisam ter “abertura” para visibilizar a sociedade na qual vivem e não simplesmente ser meros consumidores de valores culturais imbuídos pela globalização e o capitalismo. Para ser filósofo não é necessário cursar um curso superior, muito menos se submeter a aulas de filosofia, para desenvolver a prática filosófica cabe ao ser humano estimular a capacidade de se “espantar” com as coisas ou fenômenos mais comuns da sociedade.


Filosofia não faz mal, viver no mundo imerso no desconhecimento pode ser letal.

sábado, 10 de outubro de 2009

O grande macaco


Existem muitos questionamentos acerca da espécie humana, o principal e mais instigante deles é quem somos nós? De onde viemos? Quem criou o universo? Qual o destino da humanidade? Mas, existem também várias respostas e diversas teorias. A teoria do Criacionismo, por exemplo, defende que os seres humanos são na verdade uma criação divina, essa explicação se apóia na Bíblia de Judeus e Cristãos. No Evolucionismo, o ser humano passou por mudanças físicas e biológicas ao longo de milênios ou mesmo de milhões de anos, neste caso, evoluir significa transformar-se e não aprimorar como algumas pessoas imaginam. Existe a teoria do Big Bang (grande explosão) na qual o universo surgiu a partir de uma grande explosão, surgindo assim, o cosmos, nosso sistema solar e a vida no planeta terra. Para alguns biólogos, a vida no planeta pode ter surgido a partir de bactérias oriundas de outros planetas, transportadas por meteoritos. Alguns povos indígenas têm uma explicação própria fundamentada nos mitos sobre a origem da natureza, da vida e de suas divindades, cada povo indígena possui seus mitos sobre a origem do que se conhece como “mundo”. As ciências humanas, principalmente Antropologia, Arqueologia e História seguem a teoria do evolucionismo, de Charles Darwin, Naturalista Britânico. Esta teoria encontra-se no livro A origem das espécies de 1859. Segundo Darwin, as espécies se submetem a processos de mudanças físicas e biológicas gerando outras espécies ou novas espécies de seres vivos. Isso Darwin chamou de Seleção Natural. Muitos religiosos condenam a tese de Darwin, contudo com vistas da ciência e da razão é a teoria mais plausível que se conhece até o momento. Para Charles, os indivíduos mais aptos de cada espécie são os genitores ou promotores de novas linhagens de indivíduos mais seguros e fortes para enfrentar o ambiente no qual vivem. Várias ciências admitem a consistência da teoria de Darwin, porém isso não acontece com a religião, que vê essa teoria como uma heresia ao produto da criação divina.
Voltando a questão humana, principalmente sob a ótica da Antropologia, Arqueologia e História é bastante comum observar em alguns livros a teoria de que o homem vem ou descende do macaco, mas segundo André Langaney, geneticista do Museu do Homem de Paris, o homem é um macaco. Muitos manuais e livros de história alegam que o homem evoluiu do macaco, isso não é verdade. Homem e macaco são variações genéticas de um mesmo ancestral, em outras palavras, existiu uma espécie há cerca de 7 milhões de anos ou mais que promoveu o surgimento da espécie humana e dos macacos. Essa teoria é corroborada pela genética e outras ciências que analisaram os genes de humanos de várias regiões do nosso planeta comparando com o de chimpanzés, por exemplo, e o resultado 99% de semelhança entre as duas espécies. Todavia, mesmo assim algumas pessoas são relutantes em aceitar tais pesquisas e evidências, isso pode ser explicado pela variabilidade de formas de conhecimentos existentes, para alguns, nós humanos somos produtos da vontade divina, da fusão de bactérias, da criação espontânea do universo e a mais segura de todas até o momento, somos o resultado de um longo processo evolutivo até concluir no gênero homo sapiens sapiens. Por conseguinte, esta pesquisa que conclui que humanos e primatas são parentes muito próximos merece credibilidade? Charles Darwin poderia ser taxado de herege por promover uma explicação científica para as origens das espécies? Esses questionamentos suscitaram polêmicas no meio acadêmico e científico quando publicadas. Portanto, o debate permanece aberto para aqueles que possuem destreza e flexibilidade em analisar as diversas explicações existentes até o momento.  

O futuro da humanidade ainda é incerto, assim também como a própria origem da humanidade. O que se sabe até o momento sobre o gênero humano ainda é bastante preliminar e inconclusivo, porém, com os avanços tecnológicos e surgimento de novas ciências fica mais evidente e contundente a teoria nas quais seres humanos e macacos são parentes muito próximos, até que se prove o contrário.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Lagoa Santa – um apêndice sobre o povoamento das Américas

O município de Lagoa Santa fica localizado a pouco mais de 40 km de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, de nome simples e até desconhecido da maioria dos Brasileiros, mas para a comunidade científica, principalmente arqueólogos e paleontólogos, é uma região rica em vestígios materiais e imateriais dos primeiros americanos. A região que compreende a cidade de Lagoa Santa, assim como os municípios de Pedro Leopoldo, Matozinhos, Prudente de Morais, Vespasiano, Funilândia e Confins são repletos de serras e maciços rochosos, denominados localmente de carste. O carste de Lagoa Santa, como foi definido as formações rochosas locais são ricas em vestígios de cultura antrópica remotíssima e refugos de fósseis de animais extintos, principalmente megafauna. Vale ressaltar que nesta região existem mais de quinhentas cavernas catalogadas até o momento, não obstante, o carste é um cenário de uma vegetação exuberante e mista de cerrado, florestas, matas decíduas e semidecíduas, estas últimas são floras semelhantes à caatinga nordestina. Na primeira metade do século XIX, Lagoa Santa recebeu a visita do naturalista e paleontólogo Dinamarquês Peter Lund (1801 – 1880). Segundo alguns biógrafos de Lund o motivo de sua vinda ao Brasil foi devido a problemas de saúde, Lund estava muito vulnerável ao clima temperado e frio da Dinamarca. Sendo assim, Peter Lund veio para a região dos trópicos para estabilizar e restabelecer sua saúde. Todavia, Lund era um intrépido aventureiro e amante de arqueologia e paleontologia, não poderia deixar de conhecer a região do carste de Lagoa Santa. Lund fez incursões e prospecções nas cavernas de Lagoa Santa em meados da primeira metade do século XIX. No início foi muito difícil, não se achava vestígios nem artefatos, mas depois de algum tempo seu trabalho foi recompensado com a descoberta de fósseis de seres humanos e animais. Mais tarde sua descoberta tornou-se impar em toda comunidade científica mundial, Lund havia descoberto numa camada de sedimentos o que era inimaginável no século XIX, a possibilidade de coexistência de humanos e animais da megafauna. Em meados do século XIX a teoria aceita consistia na chegada do homem no continente americano em tempos recentes, não ultrapassando 6 mil anos, todavia, segundo a comunidade científica, principalmente européia, não havia a possibilidade de existência de megafauna na América do Sul. Lund através de suas escavações encontrou refugos fósseis de seres humanos e preguiça gigante além de um crânio de cavalo selvagem. Tais descobertas ecoaram em todo o mundo enaltecendo a região de Lagoa Santa como um cenário importantíssimo para desvendar o mistério sobre o povoamento das Américas. Muitos arqueólogos e paleontólogos europeus aventaram a possibilidade de que tais fragmentos ósseos (antrópicos e animais) poderiam de sido colocados in situ por intermédios de erosões naturais e enxurradas, no entanto, Peter Lund percebeu que em ambos fósseis o nível de fossilização era o mesmo, corroborando a sua teoria de contemporaneidade de homens e megafauna na América do Sul. Segundo Walter Neves, Bioantropólogo e Diretor do Centro de Estudos Evolutivos da USP, megafauna são animais que possuem mais de 44 kg. No entanto, a megafauna descoberta no carste de Lagoa Santa consistia em animais enormes, hoje extintos, como por exemplo, preguiça gigante (Eremoterium), tatu gigante (gliptodonte), tigre de dentes de sabre (smilodon) e etc. Essas descobertas são evidências plausíveis que permitiram recuar em mais de 7 mil anos a teoria do povoamento das Américas, a partir de tais achados a teoria anterior precisou ser reformulada em no mínimo 12 mil anos como o possível período de penetração humana no continente americano. Em resumo as descobertas de Peter Lund renderam vários fósseis de megafauna, mais de 250 amostras de esqueletos humanos os quais permitiram compreender como eram realizados os ritos fúnebres e o modo de vida daqueles antepassados. Sem dúvida, foram descobertas importantíssimas para a história da humanidade. Após anos de dedicação e pesquisas na região de Lagoa Santa, Peter Lund retornou a Dinamarca cessando momentaneamente as pesquisas naquela região, que só foram retomadas algumas décadas mais tarde. Um dos aspectos que contribuíram para a paralisação das pesquisas foram o esgotamento dos recursos financeiros e a debilitação da saúde de Lund. Muitos artefatos, ossos e vestígios coletados na região de Lagoa Santa estão no Museu Dinamarquês de Zoologia.

A arqueologia é uma ciência que surgiu na Europa e se espalhou para os demais continentes esporadicamente, sendo assim, a arqueologia só surgiu aqui no Brasil sob a forma de capacitação e mais tarde graduação em meados da década de 1960 através de uma parceria do Governo Francês e Brasileiro, denominada na época de Missão Franco-brasileira. Vários arqueólogos Franceses vieram ao Brasil capacitar os novos arqueólogos, dentre os franceses a arqueóloga Annette Laming Emperaire teve grande influência e destaque no mapeamento de novos sítios arqueológicos brasileiros. Em 1974/75 Annette Laming e sua equipe escavando a gruta Lapa vermelha IV, no município de Pedro Leopoldo, fizeram uma das descobertas mais importantes de toda humanidade, o fóssil de um esqueleto humano, na verdade de uma mulher, que mais tarde foi denominada de Luzia. A descoberta por si só pode soar simples para a comunidade científica, porém, amostras de ossos de Luzia foram enviadas para datação e o resultado “mexeu” com aqueles arqueólogos, Luzia havia morrido há pelo menos 11 mil anos! Além disso, Luzia foi posteriormente analisada por antropólogos especializados na craniometria, mais um choque: Luzia possuía um crânio com as características australo-melanésio, isso significa que Luzia não se parecia em nada com os índios brasileiros atuais, que possuem herança genética e morfológica dos povos mongolóides: chineses, japoneses, esquimós e etc. Luzia se parecia com os povos aborígenes da África e Austrália. Antes da datação e reconstituição da face de Luzia a arqueóloga Annette Emperaire havia falecido após pouco tempo da descoberta, na época foi uma perda lamentável desta intrépida arqueóloga que deu sua contribuição para expansão da arqueologia in loco e no Brasil. Devido a tais descobertas que abalaram toda a comunidade científica mundial Lagoa Santa passou de um mero município Brasileiro, para um epicentro de estudos sobre o povoamento do continente Americano.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Arte rupestre no Brasil pré-histórico

O território que atualmente é conhecido como Brasil, nosso país, abriga uma miríade de sítios arqueológicos com vários registros rupestres. Em praticamente todos os Estados brasileiros existem sítios arqueológicos e, mais especificamente, com artes rupestres. Arte rupestre consiste no registro de abstrações, como por exemplo, idéias, representações simbólicas, rituais, cerimoniais, lúdicas, cenas cotidianas de caça e pesca, coleta de frutos, raízes e tubérculos, cenas de execuções, cópula sexual e etc. sobre um determinado suporte rochoso. Alguns estudiosos do assunto contestam o conceito de “arte rupestre” preferindo o termo registro rupestre, contudo, embora exista tal discussão acadêmica sobre a nomenclatura mais adequada não há como negar o fascínio na execução dessas abstrações. Mas quem foram os autores de tais grafismos (pinturas e gravuras) nos suportes rochosos do nosso país? Já foram publicadas diversas teorias sobre o assunto, algumas inclusive, imprecisas e incoerentes, como as que atribuem a autoria dos grafismos a Egípcios, Fenícios, Gregos, Hebreus, Atlântidas e outros povos do Mediterrâneo e Oriente. Contudo, tais afirmações são questionáveis e facilmente refutadas pela arqueologia. Não há dúvidas sobre os autores dos grafismos no solo brasileiro, nossos ancestrais indígenas. Os índios que habitavam a região conhecida hoje como Brasil já pintavam as paredes de alguns suportes rochosos a mais de 12.000 AP. Todavia, as pesquisas ainda são preliminares e não conclusivas, digamos que os estudos sobre o assunto ainda são incipientes, em outras palavras, tal estudo encontra-se num estágio embrionário, falta muito para se descobrir sobre a verdadeira antiguidade dessa prática autóctone.

Na Europa há mais de 30 mil anos o homem já “decorava” as paredes de algumas cavernas, sobretudo Lascaux, na França e Altamira, na Espanha, entretanto, aqui no Brasil, a Arqueóloga Niéde Guidon, acredita que a prática de registrar nas paredes pode ser mais remota ainda, inclusive Niéde encontrou em São Raimundo Nonato, no Piauí, através de escavações, camadas estratigráficas com parte de painéis caídos contendo pinturas rupestres que foram datadas em 23 mil anos. No entanto, Enquanto na Europa, o homem pré-histórico apreciava representar zoomorfos (animais), aqui no Brasil, a preferência era a representação de antropomorfos (seres humanos), zoomorfos (animais) e fitomorfos (vegetais). As regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste se destacam pelas grandes concentrações de sítios arqueológicos com muitos registros rupestres. Os Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte são conhecidos pela arqueologia por sua variedade de grafismos. A região Amazônica também possui sítios com registros rupestres, todavia, é uma região vastíssima e de difícil acesso devido à floresta densa, sendo assim, as pesquisas ainda são tênues e preliminares.

No litoral brasileiro existem pouquíssimos registros rupestres, isso devido à ausência de suportes rochosos. Os poucos sítios conhecidos são chamados de sambaqui, que na língua Tupi significa amontoado de conchas. As regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste, interior do nosso país, são bastante conhecidas pelas inúmeras deformidades no relevo e acidentes geográficos, formando cânions, morros, vales, chapadas, matacões, planícies, planaltos, várzeas, cuestas e etc. Esses acidentes geográficos ou geomorfológicos serviam de abrigo para as comunidades nômades indígenas que, ocasionalmente, necessitavam de abrigo para descanso, realizar suas refeições, fabricar utensílios líticos, sepultar seus mortos e moradia. Onde há alguma caverna, furna, lapa, abrigo sob rocha, geralmente se encontra registros rupestres ou vestígios de cultura material de habitações remotas. Isso não é uma regra, mas a maioria das descobertas de sítios arqueológicos pré-históricos com pinturas rupestres são realizadas em cavernas ou abrigos sob rocha, no entanto, tem-se comprovado também que alguns indígenas levantavam acampamentos a céu aberto. O que torna o trabalho do arqueólogo bastante difícil pela exposição dos sítios aos efeitos do intemperismo.

Como os nativos fabricavam tais pigmentos e pintavam as paredes dos abrigos sob rocha? A resposta a esse questionamento varia bastante. O que se sabe até o momento é que os pigmentos eram obtidos de alguns minerais colhidos nos locais ou noutras regiões. A cor vermelha, por exemplo, o mais presente na arte rupestre brasileira era retirado da hematita que é um mineral que contém bastante ferro, este mineral, muitas vezes, era triturado ou dissolvido em água e acrescido de resinas vegetais formando uma pasta na tonalidade vermelha, também os índios usavam o óxido de ferro (conhecido popularmente como ferrugem) aplicando diretamente nos suportes rochosos com o uso dos dedos ou usando galhos e folhas como pincéis. Em alguns casos, esquentava-se o pigmento para obter uma tonalidade mais escura. Nos painéis com pinturas, em alguns sítios, observa-se uma policromia de pigmentos, várias cores utilizadas nas rochas. Brancas, amarelas e pretas são as mais destacadas. O branco e amarelo são obtidos de argilas, porém a cor preta era obtida por ossos queimados (calcinados) e triturados formando um pigmento escuro.

Como os arqueólogos afirmam que os registros rupestres são tão antigos? O que corroboras tais pesquisas? Alguns pigmentos, componentes de uma determinada pintura, podem ser datados através de um exame em laboratório, chamado pela comunidade científica de C-14, carbono 14. Este exame é realizado em laboratórios da França e em outros países. Segundo Walter Neves, um exame de C-14 custa em média $ 1.000 dólares. Tal exame consiste na retirada de um fragmento de matéria orgânica que será analisada em laboratório, concluindo, portanto, a antiguidade daquele determinado fragmento.

As pesquisas sobre a arte rupestre brasileira estão ainda no começo, existem poucas publicações do gênero, sobretudo registros rupestres. Além disso, nossos arqueólogos são poucos, proporcionalmente a dimensão de nosso país. A pesquisa arqueológica é bastante onerosa, faltando muitas vezes, investimento dos setores públicos e privados na consolidação das prospecções (escavações).

A arte rupestre é um documento do nosso passado, consistem na antiguidade de nossos ancestrais, os verdadeiros latifundiários dessas terras. Qualquer painel com pinturas e gravuras rupestres deve ser protegido e preservado. Todavia, o que se observa é um desrespeito enorme com tais registros da nossa história. É com bastante freqüência o uso de vandalismo e predatorismo praticados por pessoas que desconhecem o valor contido nos grafismos. A arte rupestre brasileira deve ser enaltecida como um registro do passado, um alfabeto autóctone que está paulatinamente caindo no esquecimento.

O problema é que o conhecimento sobre a pré-história brasileira e sua arte rupestre vem sendo construído a passo de formiga. A passo gigante, avançam sobre o patrimônio arqueológico as ameaças de destruição”.

(André Prous, Arqueólogo UFMG)